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segunda-feira, janeiro 11, 2010

Deu liberdade, dançou

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Vi ontem, no programa "Grandes momentos do esporte", da TV Cultura (não sei se era reprise), um trecho de uma recente entrevista que fizeram com o ex-jogador Careca, titular da seleção brasileira nas Copas de 1986 e 1990. Falando sobre a eliminação contra a Argentina no mundial italiano, com gol de Gannigia (acima) após jogada sensacional de Maradona, Careca revelou um detalhe da preleção com o técnico brasileiro, Sebastião Lazaroni:

- Eu e o Alemão, que jogávamos com o Maradona no Napoli, sabíamos que ele estava acima do peso e numa fase difícil. Mas, mesmo assim, ainda decidia partidas sozinho. Daí, falamos para o Lazaroni que era preciso botar alguém pra fazer marcação homem a homem, pra grudar no Maradona os 90 minutos. Ele disse que não era preciso, que íamos marcar por zona e que o Dunga e o Alemão iam se revezar na marcação. Acatamos, pois ele era o técnico. Fizemos nossa melhor partida na Copa e perdemos uma chuva de gols. Depois, sem marcação individual, Maradona aproveitou uma bobeira e puxou sozinho o contra-ataque para o gol de Cannigia.

O lamento de Careca remete ao que aconteceria 16 anos depois, na Copa da Alemanha, quando muitos criticaram a ausência de marcação homem a homem em Zidane quando o Brasil foi eliminado pela França. No elenco da época, teve quem apoiou e quem questionou a postura do técnico Carlos Alberto Parreira. Mas é fato que o francês dominou a partida e fez o que quis, com total liberdade. Com os gênios, todo cuidado sempre será pouco.

terça-feira, maio 19, 2009

Os conceitos atemporais de Gramsci

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Recentemente, terminei de ler Americanismo e Fordismo, de Antonio Gramsci. Foi minha primeira experiência com o célebre escritor marxista italiano.

Na obra, Gramsci discute as relações sociais que fizeram com que esses dois sistemas de produção acabassem por triunfar em termos globais no início do século passado. O livro foi escrito durante 1926 e 1937, período em que Gramsci esteve na cadeia, onde foi parar justamente por ter ideias "subversivas".

Talvez a maior das "subversões" que Gramsci comete na obra é falar o quanto a classe dominante europeia é composta por "preguiçosos" - gente que ainda tenta ostentar caducos títulos de nobreza para justificar uma suposta superioridade sobre outros extratos sociais. E enquanto os europeus se deslumbram com essa condição, os americanos, segundo Gramsci, trabalham duro e espalham pelo mundo os tentáculos de seu bom modo de produzir.

De certo modo, as previsões de Gramsci se confirmaram. Após a Segunda Guerra Mundial, os EUA iniciaram um período de hegemonia econômica avassaladora, cujo auge foi vivenciado na década de 1990, após o fim da União Soviética - quando a superioridade econômica foi endossada por uma hegemonia também política.

Além das boas análises sociais, o que me chamou a atenção na obra foi um termo que Gramsci cita logo nas páginas iniciais do livro. Ao falar sobre o preconceito que os italianos do norte nutriam em relação ao seus compatriotas do sul, Gramsci diz que repousava sobre os sulistas o mito do lazzaronismo. Tal termo tem como origem a história de Lázaro, contada na Bíblia. O Lázaro em questão era um mendigo leproso que, após sua morte, foi ressucitado por Jesus. Pela dádiva recebida pelo Filho de Deus, Lázaro tornou-se uma espécie de estereótipo de quem fica no aguardo de providências divinas.

Acredito que não tenha sido a intenção de Gramsci, mas o uso por ele da palavra lazzaronismo me fez pensar em um universo completamente diferente. E não só a mim, aposto. Ou tem como não ler a palavra lazzaronismo e pensar em Sebastião Lazaroni, o técnico da seleção brasileira na Copa de 1990? Enquanto lia as ideias de Gramsci, fiquei pensando como seria o lazzaronismo brasileiro. Um sistema marcado pela insistência no uso do líbero? Por uma seleção desunida e que tapava o logotipo do patrocinador em sua foto oficial? Talvez um sistema caracterizado por não aproveitar jovens e ágeis jogadores que se consagravam à época? Ou, em mão completamente oposta, um sistema marcado pelo triunfo em continentes distantes, como o que Sebastião Lazzaroni recentemente conseguiu, sendo eleito o melhor técnico do Qatar?

Deixo a resposta para os leitores. E, para ilustrar o post, nada melhor do que uma peça publicitária que, como nenhuma outra, uniu lazzaronismo (à brasileira), italianismo e indústria automobilística, até com um quê de crítica à ostentação das instituições católicas.