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terça-feira, novembro 09, 2010

Adílson Batista e a possível volta do futebol pra frente

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A contratação de Adílson Batista como novo treinador do Santos é daquelas que deixa o torcedor algo ressabiado. Não que não seja um bom técnico, montou um Cruzeiro bastante interessante nos últimos dois anos, mas, por outro lado, não conseguiu impor seu estilo ao Corinthians. Como dito no post abaixo, sua escolha é fruto de uma má avaliação e de uma frustração: a diretoria santista empurrou o Brasileiro com a barriga, pois o julgou perdido cedo demais, e não conseguiu fechar com Abel Braga, nome tido como o melhor para a Libertadores 2011 (a velha ansiedade besta pelo torneio continental que tanto maltrata alguns clubes brasileiros).

Mas, na prática, Adílson tem um currículo pior do que o do demitido Dorival Júnior. O que pode ser um fator a mais para estimular o técnico. Assim como o atual treinador do Atlético-MG, ele tem a chance de conquistar títulos relevantes, que possam ser mais significativos do que alguns dos estaduais menos cotados que traz no currículo.

O técnico nunca caiu totalmente nas graças do torcedor do Cruzeiro e sua última passagem pelo Corinthians também não deixou saudades. Como lembra o Edu aqui, foram 7 vitórias, 4 empates e 6 derrotas. Mas, como diria Ortega y Gasset, eu sou eu e minhas circunstâncias. No Timão, sucedeu Mano Menezes, treinador vitorioso no clube, com um estilo defensivo – ora retomado por Tite - bem distinto daquele que Adílson gosta. Com as contusões de jogadores importantes em seu período como treinador (e talvez o Corinthians tenha um elenco em que a distância entre titulares e reservas seja bem mais significativa do que em outros clubes), sofreu mais do que esperava, mas conseguiu mudar um pouco o estilo de atuar, como mostram as estatísticas: a equipe passou a driblar mais, 14,5 contra 10,35 da era Mano e a média de passes aumentou, 399,64 contra 311,2. Contudo, a média de gols feitos aumentou pouco, 1,88 X 1,80 e a de gols sofridos aumentou bem: 1,41 contra 1,09.

O que ficou evidente na passagem de Adílson no Parque São Jorge é que os jogadores não assimilarem seu estilo mais ofensivo, tanto que Tite retomou em parte o estilo Mano. No Santos, os atuais atletas se deram bem justamente com uma forma de jogar mais ofensiva, alternando o toque de bola e a velocidade, e aí a balança pesa a favor do novo comandante. Ao mesmo tempo, o ponto que talvez seja o principal de qualquer trabalho de técnico é o relacionamento com atletas e aí o atual comandante santista se deu mal no Corinthians. Mas novamente é bom ressaltar as diferenças: o perfil dos atletas era bem diferente do que ele vai encontrar no Santos, principalmente no que diz respeito à idade.

Adílson é uma aposta, como foi Dorival e como são quase todos (ou todos?) os técnicos brasileiros hoje em dia. Pode-se ter a garantia de bons trabalhos, nunca de títulos. Mas a possibilidade de se resgatar o futebol ofensivo que faz parte da história santista pode compensar a sensação de tempo perdido por parte do torcedor. Como disse o próprio treinador em entrevista na semana passada: "O Santos (de 2010, com Dorival Júnior) provou ser possível jogar com três jogadores na frente, o Barcelona não deixa de vencer por causa disso, o Manchester (United) joga com dois abertos e dois na frente. Não vejo problema". Também não vejo problema, mas as contratações que o Santos fizer, sob os auspícios de Adílson, é que terão um peso decisivo para saber se a possível ofensividade irá se traduzir em títulos.

6 comentários:

fredi disse...

Glauco, conheço o Adilson mais ou menos bem por conta de seu tempo no Cruzeiro.

Pelo menos lá, seu maior mérito foi levar os jogadores que formam até hoje a base do meio campo dos azuis, que são os três volantes Marquinhos Paraná, Fabrício e Henrique. Marcam e saem jogando.

Nunca vi nele essa disposição toda de ir ao ataque, mas costuma formar times consistentes, que defendem bem e saem em contra-ataques, filosofia bem diferente da do Dorival.

Falta ainda ganhar algum título de expressão... Mas acho que dentre as opções possíveis era a melhor que o Santos tinha.

Para mim, a chave para o santos ganhar ou não algo importante no ano que vem é a permanência de Ganso (recuperado) e Neymar e reforços para a defesa, mais que qualquer técnico.

Glauco disse...

Concordo, Frédi, por isso digo no final que as contratações vão pesar mais do que um técnico em si, já que hoje em dia superestima-se demais o papel dos treinadores no futebol.

Quando fala da questão da ofensividade, é porque Dorival teve sensibilidade de, quando chegou ao Santos, perceber que as características dos jogadores era mais ofensiva, com disposição para se deslocar e mesmo voltar para a marcação. Dorival também não era "super-ofensivo" com o Vasco. Por isso acho que o Adílson pode encontrar um ambiente propício para implantar um estilo que é mais afeito ao Santos de hoje do que ao Corinthians que ele comandou. Um misto de torcida e análise, claro, mas espero que dê certo.

Eduardo Maretti disse...

Valeu a citação, Glauco.

Acho que a perspectiva de termos "o futebol ofensivo que faz parte da história santista" é importante. Vamos ver. Ainda sobre Dorival: nada me tira da cabeça que o Santos ganhou o Paulista e a Copa do Brasil... apesar de Dorival. Aquela final com o Santo André (apesar do lindo futebol, não perdemos o título porque a trave foi nossa mãe, o episódio de Ganso se recusando a sair etc) e a incrível quantidade de gols sofridos nos mata-matas da CB... Um time pode ser ofensivo sem ser muito frágil atrás.

Pra terminar: a diretoria ficou viajando na do Abelão quando poderia ter contratado o Adilson antes (ele saiu do Corinthians em 11 de outubro) e ainda brigar pelo título brasileiro...

Nicolau disse...

Sobre o Adilson no Corinthians, não culpo totalmente o treinador por seu desempenho fraco, os desfalques obviamente atrapalharam bem. Mas pensando exclusivamente no trabalho dele, as mudanças propostas ao time não casavam com as características de alguns atletas. Bruno Cesar era artilheiro do Brasileiro jogando centralizado e vindo de trás. Adilson colocou ele jogando pelas beiradas do campo e o cara caiu barbaridade de produção. A ofensividade de fato chegou e eu até gostei. Mas a zaga alvinegra naõ tem velocidade para jogar adiantada como pede um time em que volantes e laterais descem o tempo todo. Com a contusão de Chicão, então, piorou. Aqui, a única contratação indicada pelo tecnico no Timão: Thiago Heleno, zagueiro jovem e mais rápido, o que explica a intenção, mas que fez partidáveis horriveis com a camisa do Corinthians - e pelo que ouvi, já era bastante criticado no Cruzeiro. Sobre os laterais, lembremos que se tratam de um Roberto Carlos já veterano e Alessandro, que só funcionou bem quando Mano Menezes o posicionou mais defensivamente, descendo só na boa (você mesmo me falou isso um dia, comparando com a função que ele desempenhava no Santos). Quando soltou os dois, desgastou Roberto pra caramba fisicamente e criou uma avenida nas costas de Alessandro. Quer dizer, Adilson fez mudanças no estilo e posicionamento do Corinthians que não respeitaram as características do elenco - o que é um erro complicado pra um técnico. Talvez com mais tempo e mais possibilidade de interferir no elenco conseguisse resultados melhores. E mais sorte, sem dúvida. Ele tem ideias boas, mas talvez deixe seu estilo nnublar sua visão sobre o elenco, o que eu acho problemático em teinadores. E que todos fazem, na verdade. Talvez case melhor com o elenco do Santos também. Enfim, vai saber, hehe.

Leandro disse...

Também concordo que as concepções do Adilson coadunam com o estilo mais técnico e ágil do atual elenco do Santos.
Nesta visão, antes ele que Murici ou Abel, por exemplo. São bons técnicos, mas cultivam um estilo mais conservador, menos vistoso. Quase brucutu.
Eu mesmo cheguei a elogiar o Adilson aqui, e concordo com o PVC que ele, além de não ter tido sorte, também não teve sabedoria e paciência para esperar e formar o time que pensava ideal só no em 2011, já convencido da desastrada experiência com o Tiago Heleno e já livre das heranças malditas de Mano, que atendem pelo nome de William, Paulinho, Castan, Moacir...
E foi mesmo uma pena o Santos ter desistido da competição tão cedo, como foi uma pena o Corinthians ter feito isso no ano passado. Estes dois campeonatos teriam ainda mais brilho com um sério concorrente a mais.
Razões não faltam ao Xico Sá quando ele denuncia este oba-oba todo feito em torno da tal Libertadores de uns anos para cá. Um campeonato como o Brasileirão jamais poderia servir como mero “entreposto” de times para aquela competição, que, não faz muito tempo, era solenemente esnobada por muitos times brasileiros.

Eduardo Maretti disse...

Assino embaixo o último parágrafo do comentário de Leandro.