Destaques

sábado, setembro 01, 2012

Paradoxo: esperança de Serra em ir ao segundo turno pode estar no crescimento de Haddad

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Não é novidade pra ninguém que a semana foi péssima para o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra. Primeiro, a pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira, mostrava uma queda de cinco pontos de sua candidatura e, dois dias depois, o Ibope já apontava um empate técnico do tucano com Fernando Haddad na segunda colocação. Agora, a campanha serrista tem como objetivo garantir a ida do eterno presidenciável ao segundo turno, ainda que o tom agressivo possa prejudicá-lo – e muito – em uma eventual segunda volta.


Pesquisas não têm deixado Serra feliz
Mas, a essa altura, as opções de estratégia para o PSDB são poucas. Junto com o petista, Serra tem o maior tempo no horário eleitoral e, mesmo assim, minguou nas pesquisas. Analisando os dados do Datafolha, ele perdeu votos em quase todos os estratos da população, exceção feita àqueles que ganham entre 5 e 10 salários mínimos, onde cresceu três pontos. Mesmo assim, nessa faixa Russomano cresceu seis, enquanto Haddad e Chalita oscilaram positivamente dois pontos cada.

Embora o crescimento de Haddad e a queda de Serra possam sugerir que o petista cresceu em cima do provável eleitorado tucano, isso pode ser verdade apenas em parte. Na faixa daqueles que ganham até dois salários mínimos, por exemplo, o Datafolha mostra Haddad crescendo nove pontos, exatamente a soma do que perderam Russomano (2) e Serra (7). Entre aqueles que se declaram simpatizantes do PT (25% dos entrevistados), Haddad cresceu 15 pontos, enquanto Russomano perdeu quatro, e Serra, seis. Já entre tucanos (9% dos pesquisados), Serra perdeu 15 pontos e Russomano ganhou 16, enquanto o petista perdeu 3 pontos. Ou seja, os dados podem indicar que Haddad tem, sim, tirado votos do candidato do PRB, que tem compensado essa perda ao tirar votos do pessedebista, mantendo-se estável.

O Ibope vai no mesmo sentido, mostrando que Serra estaria cada vez mais confinado eleitoralmente em seu reduto, o centro expandido de São Paulo. Antes do horário eleitoral, 59% de seus eleitores estavam nessa região e, agora, são 69%. Ele perde votos e vê sua rejeição aumentar no resto da cidade e, com Haddad crescendo e Russomano com um eleitorado que parece consolidado, sua estratégia para ir ao segundo turno é se firmar como o “anti-PT”, explorando a rejeição do partido em São Paulo e tentando mostrar ao eleitorado conservador ser a melhor opção para derrotar os petistas. Não é à toa que os ataques contra a campanha de Haddad começaram cedo demais nas hostes tucanas, destoando dos programas de rádio e TV dos rivais.

No entanto, as estratégias dos adversários não favorecem o estilo agressivo de Serra. Chalita, por exemplo, bate na tecla da “terceira via”, condenando o suposto Fla/Flu entre PT e PSDB (o que tem favorecido mais Russomano do que o próprio peemedebista, como lembra Rodrigo Vianna). Enquanto isso, Haddad prega o “novo”, mostrando realizações suas como ministro, mas o “novo” permeia também outras candidaturas. Assim, nada parece mais antigo aos olhos do eleitor do que a candidatura tucana, que carrega ainda o ônus de uma administração mal avaliada como a de Kassab. O jeitão da campanha tucana na TV e no rádio também cheira a mofo.

A esperança de Serra pode ser Haddad

Como Maluf, um candidato competitivo de outras épocas, Serra desfila uma série de realizações (“obras”) na televisão. Usando, aliás, um método semelhante, bastante criticado pelos adversários em tempos idos, a tal “apropriação” de feitos alheios: obra que ele iniciou, projetos pegos no meio do caminho ou finalizados em sua gestão, tudo passa a ficar no mesmo bolo e figura como realização exclusivamente sua. Até os CEUs, obra da ex-prefeita Marta Suplicy, viraram “CEUs do Serra”, um jogo duplo que pode significar que os “seus” CEUs são melhores que os originais (difícil dizer, já que ele não finalizou nenhum em seu curto período como prefeito) ou que podem ter sua criação vinculados a sua obra e graça. Vendo a propaganda tucana, tem-se a impressão que Serra governou a cidade por oito anos, participando ao mesmo tempo do governo do estado. Um político “onipresente” mas que, aos olhos do eleitor, parece bastante ausente...

Assim, a grande esperança de Serra ir ao segundo turno pode estar justamente no crescimento de Haddad. Caso o petista continue avançando, vai tirar votos do atual líder das pequisas, principalmente nas franjas da cidade, e as pesquisas mostram que esse espaço de crescimento existe. Se o tucano conseguir estancar a sua queda, é possível que o crescimento do petista desidrate o desempenho de Russomano e mantenha os dois candidatos, do PRB e do PSDB, em patamares mais próximos, dando chances de Serra ir à rodada final. 

E, com um Haddad mais "robusto" nas pesquisas, o discurso antipetista faria mais sentido para parte do eleitorado paulistano que rejeita o partido. Novamente, o medo seria a mola propulsora do tucano. Obviamente, o cenário idílico para Serra seria Haddad não ultrapassá-lo, mas o histórico das eleições paulistanas, já citado aqui, e o andar da carruagem mostram essa possibilidade bem distante. Diante disso, restaria ao tucano se credenciar como o mais indicado para bater o PT.

Mesmo indo desgastado para o segundo turno, o tucano provavelmente apostaria no vale-tudo já usado em outras ocasiões e, ao menos, evitaria repetir o vexame de Geraldo Alckmin em 2008. A propósito, outra aposta do PSDB reside justamente nas aparições de Alckmin. Para quem não lembra, sua presença foi decisiva na vitória de Serra em 2000, quando o tucano disputava a ida para o segundo turno com Marta e Maluf. No entanto, a recíproca não foi verdadeira nas eleições de 2008, ocasião em que os serristas não se esforçaram pelo candidato do seu partido e Kassab deixou o atual governador de São Paulo fora do segundo turno. Ali, Alckmin teve 22,48% dos votosválidos, enquanto Serra tem atualmente 26,5% (descontando indecisos, brancos e nulos, segundo o Datafolha). Será esse o piso eleitoral tucano em São Paulo ou o buraco seria mais embaixo?

2 comentários:

Nicolau disse...

Minha mãe chamou a campanha de Serra de "demodê" e "boco-moco":
http://www.dicionarioinformal.com.br/boco-moco/

Mauricio disse...

Boa analise, da pra entender o que esta "dentro" dos percentuais de cada candidato. A ver quais serao os proximos movimentos.