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quarta-feira, dezembro 23, 2015

Bicuda na canela

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Mas com toda a elegância. Quando Chico Buarque foi importunado por filhinhos-de-papai num restaurante do Leblon, no Rio de Janeiro (entre eles, Alvarinho, filho do empresário Álvaro Garnero), que se sentiram no direito de criticar seu apoio ao PT, o artista rebateu: "Acho que o PSDB é bandido, e agora? Procure se informar mais, porque com base na revista ‘Veja’ você não vai chegar muito longe". E depois, passado o bate-boca, Chico faz, sutil e magistralmente, a seguinte postagem numa rede social:


Afinal, o partido é dos trabalhadores. E, falando nisso (trabalho), voltemos ao Chico, num vídeo em que conta o seu despertar político (e que, por isso mesmo, explica totalmente suas escolhas políticas): "Pra mim, o lixeiro era o sujeito que mais trabalhava, era a pior profissão do mundo. E uma das melhores profissões do mundo, que eu achava muito folgada, era a profissão do meu pai, que ficava lá no escritório batendo a máquina, clec-clec-clec-clec. Isso é moleza. Duro é ser lixeiro. Como é que meu pai, que ficava sentado, [fazendo] clec-clec-clec-clec, pôde se casar, e ter sete filhos, e o lixeiro, que trabalha muito mais, carregando aquelas latas e se sujando todo, não tem dinheiro para constituir família? Aí, foi a primeira revolta, assim. [Pensei:] Esse mundo é injusto". Confira:


LEIA TAMBÉM:


quinta-feira, dezembro 10, 2015

Que desperdício (de vinho)!

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Pensei que a notícia de que um dirigente do São Paulo F.C. deu um soco na cara do outro fosse imbatível para faturar o prêmio "Vale-Tudo do Poder" de 2015, mas eis que abro a inFernet e leio a sensacional, inacreditável e maravilhosa manchete:


Pois é - ou melhor, pois ZÉ (Serra). Segundo Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, durante jantar na casa do Eunício Oliveira, seu colega de Senado José Serra "simplesmente chegou numa roda em que não tinha sido chamado, sem mais nem menos" e falou para a ministra da agricultura: "Kátia, dizem por aí que você é muito namoradeira". Kátia - que, aliás, é apelido para cachaça ("kátiaça") - descascou na hora: "Você é um homem deselegante, descortês, arrogante, prepotente. É por isso que você nunca chegará à Presidência da República. Nunca lhe dei esse direito nem essa ousadia. Por favor, saia dessa roda, saia daqui imediatamente". E tascou-lhe o vinho no meio da fuça (leia detalhes aqui).

Taça da discórdia: Kátia Abreu bota o desengraçadinho José Serra em seu devido lugar

O mais divertido é que, apesar de ser do mesmo partido do nefasto senador (ambos fincam trincheiras no nefasto PSDB), Kátia Abreu ainda fez questão de salgar a terra, gritando pra quem quisesse ouvir: "De mais a mais, nunca traí ninguém na minha vida". Pô, aí já é vandalismo! Geraldo Alckmin deve estar rindo sozinho até agora. E isso me lembrou uma célebre máxima do - falecido e também tucano - Mário Covas: "Em banco que José Serra se senta, todo mundo se levanta". Se levanta ou joga na cara dele o que tiver à mão! Afinal, José Serra é conhecido há décadas por ter um senso de "humor" nada invejável. Diante de tanta baixaria, só me resta lamentar o vinho derramado. Será que não tinha uma Skol pra jogar na cara dele? No mais, Deus me livre de festa que junta tucanos...




"Kátia, afasta de mim esse cálice..."


 

quarta-feira, dezembro 02, 2015

Os pingos nos is OU carmelita descalça no puteiro

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FHC, herói da Veja: Delcídio estaria em seus diários?
Ninguém aqui quer defender o PT, o governo Dilma, o Lula ou nunseiquelá, nunseiquelá, nunseiquelá. Não integramos suas assessorias de imprensa e, para esse tipo de defesa, sempre existem advogados bem dispostos - e (muito) bem remunerados. Mas, como observou meu colega jornalista Lobão (Rogério Castro), sobre as cobranças do "santo" Aécio Neves (PSDB) à presidente Dilma em relação à prisão do senador Delcídio Amaral (PT), "sei que não adianta explicar para quem não quer entender, mas não custa nada encher o saco dos cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais: com a prisão de André Esteves, um ex-presidente do Banco Central de FHC assumiu o comando do BTG Pactual. Pô, parem de bancar a carmelita descalça dentro do puteiro!".

Exatamente. A esses "cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais" e saem nas ruas com camisa da seleção brasileira, louvando militares, Bolsonaros e Malafaias, complemento o lembrete do Lobão com um belo texto que circula pela internet e é assinado por Maria Fernanda Arruda:


Está claro para vocês o desenrolar dos acontecimentos recentes ou querem que eu desenhe o fato óbvio de que o caso de corrupção que está sendo investigado na Lava-Jato não começou em 2003 e não se encerra na Petrobras!? [OBS: por favor, compartilhem até chegar ao Sr. Moro, porque parece que ele está por fora disso tudo aí.]"

Por hoje é só.


quarta-feira, novembro 18, 2015

Da série: vale a pena ler de novo

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No momento em que o governo do Estado de São Paulo (do PSDB, é bom frisar) fecha 94 escolas e bota sua Polícia Militar pra cima dos alunos que protestam pacificamente contra essa medida arbitrária, inclusive prendendo professores, vale recordar essa notícia aqui, dos tempos da campanha presidencial de 2006 (os grifos são meus):


CLARICE SPITZ
da Folha Online, no Rio de Janeiro (07/09/2006)

A 24 dias das eleições, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, lançou nesta quinta-feira sua proposta de governo para a educação, com a promessa de aumentar o número de horas-aula. Em visita à favela de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, Alckmin disse que seu plano também prevê o reequipamento de escolas e a melhoria do acesso as creches.

O candidato afirmou que sua meta é de [sic] estabelecer um padrão de 5 horas aula para o ensino fundamental em todo o país e disse que, em alguns lugares, as crianças ainda permanecem somente 3 horas na escola. O tucano ainda afirmou que vai trabalhar para melhorar a qualidade da educação básica e universalizar o ensino médio. "Hoje, o grande gargalo é o ensino médio: não deixar o aluno terminar a oitava série e parar de estudar", disse ele.

No programa de governo, o comitê de campanha afirma que a oferta de vagas no ensino médio ainda é insuficiente aos 10 milhões de jovens nessa idade escolar.


CLIQUE AQUI para ler a íntegra da notícia



SÓ UMA FRASE, PRA REFRESCAR AINDA MAIS A MEMÓRIA:

LEIA TAMBÉM, SOBRE O DISCURSO E A PRÁTICA DO PSDB:

 

quinta-feira, setembro 24, 2015

O cúmulo do escárnio

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Tempos atrás fiz uma postagem intitulada "Escárnio", a partir da notícia de que uma rádio FM paulista iria dar 1.000 litros de água para o ouvinte que enviasse o melhor vídeo fazendo "dança da chuva", para resolver a falta de água no Estado. "Como observou um colega, o racionamento de água poderia ter uma solução bem simples: cortar o fornecimento para os 57% que votaram em Geraldo Alckmin e garantir o abastecimento normal para os restantes. Seria apenas justo", eu relatava, naquele post. Ou então, como bem observou alguém numa dessas redes (anti)sociais (leia aqui), "São Paulo elege o PSDB cinco vezes seguidas para o governo e agora fica sem água. Sabe o nome disso? Meritocracia". Exatamente.

Pois bem, hoje chego para trabalhar e fico sabendo, de orelhada, que o (des)governador Geraldo Alckmin, DO PSDB (é sempre bom frisar isso), ganhou um prêmio. Até aí, por mais grotesco que seja, não é nenhuma novidade. Todo político, de qualquer partido, vive recebendo homenagens, prêmios e honrarias - que, na maioria das vezes, não significam absolutamente nada. São apenas confetes, bajulações, troca ou retribuição de favores, isca para holofotes, propaganda eleitoral disfarçada etc etc etc. Nada de novo no front. Quando soube que a indicação para o prêmio foi feita pelo deputado federal paulista João Paulo Papa, DO PSDB, aí me pareceu ainda mais irrelevante, apenas rapapé de um subordinado.

Mas não. A coisa é séria. O tal prêmio será entregue pela Câmara dos Deputados, em Brasília, pela "gestão da crise hídrica" no Estado de São Paulo. Pausa para o espanto. Pausa para a perplexidade. Outra pausa, para a incredulidade. Alckmin será premiado pelo que faz (ou melhor, não faz; ou melhor ainda: nunca fez!) em relação à falta de água em São Paulo?!? É isso?!??? Se for, é o cúmulo do escárnio, elevado à enésima potência... Como se o governo tucano não tivesse sido advertido por um estudo há 6 (SEIS!) anos sobre a crise de desabastecimento e CAGADO pra isso, sem fazer absolutamente nada! Como se não tivesse sido exatamente Alckmin o governador a cortar R$ 900 milhões do orçamento da Sabesp!

E o prêmio dá a entender que a falta de água foi resolvida (!). Hoje mesmo recebi minha conta de água e lá está multa de R$ 73 por ter ultrapassado a meta de consumo imposta pela Sabesp. Detalhe: o gasto maior ocorreu porque tivemos que pagar alguém para consertar a caixa d'água, que teve que ser esvaziada completamente. E sabem por que fomos obrigados a fazer isso? Por causa dos mosquitos da dengue, que me levaram ao hospital em março deste ano, e que já infectaram quase 600 mil pessoas no Estado de São Paulo. Será que o Alckmin vai ganhar algum prêmio da área de saúde por esse recorde? Ou então prêmio de segurança pública, pelas chacinas de sua PM ou pelos maus tratos e fugas na Fundação Casa?

Claro que não. Mas, em resumo, fui multado pelo governo tucano porque ele me obriga a gastar dinheiro para combater um problema de saúde que deveria ser evitado por ele. E a falta de água continua: todo dia, às 14 horas, a água da rua seca lá em casa, e só retorna às 6 da manhã do dia seguinte. E ainda sou multado pela Sabesp! E o Alckmin ainda ganha um prêmio por isso! Pior, pior: ao comentar a premiação, o (des)governador DO PSDB afirmou, na maior cara larga do universo: "Modéstia à parte, é merecido". Vou repetir o que ele disse: "Modéstia à parte, é merecido". E é capaz de ter sido aplaudido (e, se bobear, pelos próprios repórteres). Ninguém bateu panela, ninguém mandou ele tomar no c*. Mundo, acabe.



segunda-feira, abril 13, 2015

Vamos conversar? (mas não conta pra ninguém!)

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sexta-feira, março 27, 2015

Imprensa tucana (até no exterior!)

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FHC: fomos surpreendidos novamente!
O constrangedor episódio em que a sucursal brasileira da agência de notícias britânica Reuters deixou escapar, no meio de um texto publicado na internet, um recado do editor para alguém, consultando se uma informação desfavorável a Fernando Henrique Cardoso deveria ser suprimida (veja reprodução do texto publicado no fim desse post), confirmou aquilo que todos - pelo menos todos os jornalistas - já sabiam: o dedo do PSDB pesa na pauta, no conteúdo e na edição final do que é produzido por muitos meios de comunicação. Não, não é delírio de petista, mania de perseguição ou teoria da conspiração. Pra começar, o dito texto é uma entrevista com o citado morto-vivo FHC, que nada influi na política nacional (e nem mesmo em seu partido) desde que saiu da presidência da República para o lixo da História - e a publicação de (dispensáveis e inúteis) declarações suas na imprensa corrobora a influência tucana sobre a mídia. Segundo, a tal entrevista foi feita por Brian Winter, coautor de um livro exatamente com o entrevistado (!). E, por fim, o vazamento do comentário, que dá ideia do nível de vassalagem de nossa mídia ao PSDB e que atinge até (financeiramente?) uma sucursal de agência estrangeira. Delírio? Paranoia? Mistificação?

Goebbels: 'mentor' da mídia tucana
Com 21 anos de profissão, ao bater o olho no recado esquecido no meio da entrevista ("Podemos tirar, se achar melhor"), referindo-se a possível e "apropriado" corte da informação de que "o esquema de pagamento de propinas na Petrobras começou em 1997, no governo tucano [de FHC]", me pareceu um caso clássico de "acordo" em matéria "encomendada". Comecemos assim: um veículo de comunicação toma a iniciativa ou é pautado por "instâncias superiores" (PSDB?) a publicar textos/reportagens/entrevistas/notícias/notinhas maldosas/entrevistas insinuando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (provável e temido candidato em 2018) é o principal responsável pela roubalheira na Petrobras. A ordem é bater nessa tecla diariamente, por meses (ou anos) a fio, até que se concretize a máxima de Joseph Goebbels, ministro da propaganda no regime nazista de Adolph Hitler, de que "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". Para estrear a série, fica acertada uma entrevista com FHC - até porque, inativo e pouco lembrado em seu ostracismo eterno, ele está sempre a postos e disponível para se prestar a esse tipo de coisa (disparar acusações sem provas). Mas há condições pré-combinadas num "negócio" desses.

Livro de Winter, 'submetido' a FHC
Uma delas é a escolha, a dedo, do entrevistador. Nada mais garantido, amigável e confortável do que um jornalista que escreveu, em coautoria com FHC, um (obviamente favorável!) livro sobre as memórias do ex-presidente tucano. Aliás, o método de produção dessa obra nos remete diretamente ao episódio grotesco do recado que escapou na edição da Reuters (o grifo é meu): "O autor da versão original, Brian Winter, entrevistou, pesquisou e submeteu o texto a Fernando Henrique" - de acordo com revelador texto de David Hulak, da Revista Será, que tem o mais do que sugestivo slogan "Penso, logo duvido". Então retornemos ao que eu disse sobre "acordo" em matéria "encomendada". É simples: você ouve o "cliente", digo, o entrevistado, e se compromete a só publicar o texto depois que ele leia a versão editada, ordene alterações ou não, e autorize a publicação. Nas redações, num código informal entre os profissionais, isso é totalmente proibido e, caso aconteça e seja flagrado, geralmente causa a demissão do jornalista. Porém, se os proprietários do veículo de comunicação têm interesse no "negócio" e autorizam tal "acordo" (tucanamente falando), resta apenas aos subordinados o cumprimento das ordens. Mas sem vazar recadinhos, de preferência!

PSDB manda e desmanda na mídia
A empresa britância tentou justificar dizendo que a frase, "publicada acidentalmente", é uma "pergunta" de um dos editores do serviço brasileiro da agência "ao jornalista que escreveu a versão original da matéria em inglês". Não convence ninguém - pelo menos entre os que têm décadas de experiência em redações. Porém, mesmo aceitando essa desculpa, o procedimento continua sendo aviltante e injustificável. Porque a consulta (seja lá de quem pra quem) é se uma informação negativa e comprometedora contra FHC e o PSDB deve ser suprimida da versão publicada para o leitor. E, não por acaso, a única informação ruim contra os tucanos num texto que detona o Lula e o PT pela mesmíssima denúncia da Petrobras. Agora, pra encerrar, deixo minha opinião: o tom do recado, com o verbo no plural ("Podemos tirar"), e com o destinatário no singular ("se [você] achar melhor"), me sugere fortemente que os editores finais do "trabalho sujo", digo, da entrevista, estavam cumprindo o acordo de submeter o texto ao "cliente" - FHC ou alguém do PSDB incumbido de resolver o assunto. Assim como Brian Winter, como observei no parágrafo acima, "submeteu o texto [do livro sobre FHC] a Fernando Henique". A gafe da Reuters taí, pra que não restem quaisquer dúvidas.

Mas, como diria Rita Lee, "quando a gente fala mal/ a turma toda cai de pau/ dizendo que esse papo é besteira". No que Raul Seixas complementaria: "eu não preciso ler jornais/ mentir sozinho sou capaz/ não quero ir de encontro ao azar". Nem eu!

P.S.: Antes que alguém me acuse de "paranoia, delírio e mistificação", adianto que as imagens acima não foram publicadas à direita por acaso, nem por mera coincidência.


A 'prova do crime': editores consultam alguém (FHC? PSDB?) sobre informação negativa e comprometedora

quarta-feira, março 11, 2015

Me engana que eu NÃO gosto

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LEIA:

A Democracia Particular de Aécio Neves


terça-feira, fevereiro 24, 2015

Política - definições básicas

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sexta-feira, novembro 07, 2014

PSDB torna ficção realidade muito antes do imaginado

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Em 1981, Ignácio de Loyola Brandão publicou seu livro "Não verás país nenhum", ficção na qual descreve uma megalópole brasileira (São Paulo?) no futuro. O autor conta a vida de Souza, que vive no meio do caos da cidade, destruída pelos avanços tecnológicos, onde não há água, verde, vida saudável e muito menos liberdade. O livro dá a entender que tudo piorou após a "Época da Grande Locupletação", alusão à ditadura militar brasileira - aquela mesma que muitos, agora, vão às ruas para pedir que volte (!). "Essa época de locupletação não existiu. Foi calúnia", garantia a direção da escola em que Souza dava aula, na ficção. "Fala-se muito, mas onde os documentos? Invenções, mitos", acrescentavam, de forma idêntica aos que negam que o regime militar tenha praticado torturas no Brasil. Mas vamos a alguns trechos literais do (incômodo) livro:
"Abro a porta, o bafo quente vem do corredor. Já estou melado, quando chegar ao centro estarei em sopa. Como todo mundo. A vizinha varre o chão, furiosamente. Como se fosse possível lutar contra a poeira negra, a imundície. Não fornecem água para lavar as partes comuns. (...)

[Souza vai ao trabalho mas, antes, encontra um amigo]
Através dos vidros encardidos, mal se percebe o salão. Cumprimento com um aceno, Prata me faz um sinal, gosta de uma prosinha. Inevitável, indolor.
— Tem água esta semana?
— E eu sei? Pergunte ao distribuidor.
— É que você tem aquele sobrinho.
— Não faço a mínima idéia.
— Desorganizaram as entregas, ou aumentaram os prazos.
— Ou os dois juntos.
— Vê se descobre. (...)

[Souza encontra o sobrinho, que é um soldado, ou "civiltar"]
— Tem comida?
— O normal.
— Vou tentar algo na Subsistência. Ah, quer fichas para água?
— Sempre é bom, jamais consegui me controlar, gasto mesmo.
— E não é para gastar?
— Mas tem o racionamento, para dividir melhor.
— Racionamento, tio? Pensa que é para todo mundo?
No fundo, não gosto dele. Uso suas facilidades. Penso que tenho direito a elas, contribuo para que o Novo Exército exista com todos os seus privilégios. Devo explorá-lo. (...)

A sua urina é comercializada. Com a falta de água, aparelhos recolhem os mijos saudáveis numa caixa central, onde se procede à reciclagem. Há mistura, tratamento químico intenso, filtragem, purificação, refinamento, transformação. A urina retorna branca, pura, sem cheiro, esterilizada. Dizem que dá para beber. Eu é que não vou experimentar. Nem o mijo meu, quanto mais o dos outros. Mas os Postos Apropriados têm uma capacidade limitada de recolhimento. Daí também a seleção apurada e o bom ambiente que se encontra nestes banheiros especiais, de luxo, para pessoas de fino trato. (...)"

Pois bem (ou melhor, pois MAL): procurei rever esses trechos do livro depois de ler mais uma notícia sobre o (des)governo de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo:


E outra notícia me lembrou a ficcional "Época da Grande Locupletação":


É isso. E enquanto o índice de roubos aumenta vertiginosamente no Estado de São Paulo, as pessoas vão para a Avenida Paulista pedir intervenção militar no... governo federal (!). Enquanto o governo do PSDB leva a USP à falência e tem o pior nível do Ensino Médio público dos últimos seis anos, as pessoas culpam Dilma Rousseff pela "situação da educação" (!!). Enquanto a epidemia de dengue no Estado de São Paulo já alcança quase 20 mil casos, as pessoas estão mais preocupadas com o Ebola (!!!). E enquanto observo essas pessoas babando e espumando de raiva e ódio contra o PT, concluo que o PSDB, infelizmente, vai tornando a ficção de Ignácio de Loyola Brandão uma trágica realidade em terras paulistas. Muito antes do que sequer poderíamos imaginar...


quarta-feira, outubro 22, 2014

Quando acabar o maluco sou eu!

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'Eu não preciso ler jornais/ Mentir sozinho eu sou capaz/ Não quero ir de encontro ao azar'

Faço no título desse post, o mesmo da música do saudoso Raul Seixas (ouça clicando aqui), o meu comentário sobre a seguinte notícia publicada hoje pelo portal Gazeta Esportiva: "Hipnólogo se desliga da Portuguesa após quebra da 'regra de ouro'" (!). Para além da bizarrice de a diretoria da Lusa ter contratado esse tipo de profissional para tentar se salvar do rebaixamento na Série B do Brasileirão, fato que já era de conhecimento público, ficamos sabendo agora que o tal hipnólogo, o ex-goleiro (!!) Olimar Tesser, resolveu encerrar seu trabalho no clube declarando:

“Então, coloca aí: regra de ouro. Motivado pela sua regra de ouro, o Olimar Tesser declinou do seu trabalho na Portuguesa. A regra de ouro é simples: você vai ganhar, eu vou ganhar. Os dois lados têm que colaborar e vencer. Acho que ficou bem claro o que aconteceu, não é?”

Sim, ficou bem claro. Tanto Olimar não recebeu dinheiro pelo "serviço prestado" quanto a Portuguesa, que era a penúltima colocada quando ele chegou, caiu para a lanterna da tabela, 14 pontos atrás do primeiro time fora da zona de rebaixamento, faltando apenas sete jogos para o fim da competição. Talvez os métodos do hipnólogo tenham prejudicado um pouco o "condicionamento físico" do elenco da Lusa. Segundo a notícia, ele fez "os jogadores andarem sobre cacos de vidro, brasas e até entortarem barras de ferro com o pescoço" (!!!).

Jogadores da Portuguesa foram submetidos a alguns métodos, digamos, 'pouco ortodoxos'

Mas o melhor da notícia foi a "justificativa" que Olimar usou para dizer que não ganhou fama somente a partir deste seu (efêmero e polêmico) trabalho na Lusa:

“Ouvi de alguém que eu estava ficando famoso. Mas sempre tive mídia. Já hipnotizei o governador de São Paulo."

E é verdade! É verdade! Tem a foto (abaixo) para comprovar! Tá aí o Geraldo Alckmin sendo hipnotizado pelo "ex-goleiro"! Quando acabar o maluco sou eu!

Anestesista Alckmin e hipnólogo Tesser anestesiaram e hipnotizaram os eleitores paulistas

Provavelmente, o que o tucano queria era ter aula com o hipnólogo. E foi bom aluno: com o método, convenceu a população paulista de que o (des)governo do PSDB não tinha culpa nenhuma na falta de água e foi reeleito com o voto de 12.230.807 hipnotizados... 

 

sexta-feira, outubro 17, 2014

Escárnio

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Recentemente, fiz aqui um post registrando o episódio em que as telinhas da TV Minuto, nos vagões do metrô da Linha Azul, em São Paulo, ficaram congeladas por mais de 15 minutos exibindo a notícia "A cidade de Los Angeles criou a 'polícia da água' para fiscalizar os esbanjadores". Ou seja, centenas (ou milhares) de passageiros, que acabavam de sair do expediente de trabalho e ansiavam por chegar em casa e tomar um belo - e merecido - banho, ficaram espremidos dentro dos vagões olhando aquela "advertência" intimidadora. Quem usa água, em São Paulo, é quase um criminoso.

Dias atrás, o guia "Divirta-se", do jornal Estadão, publicou em sua coluna sobre fatos passados da capital paulista um textinho "inocente" e "despretensioso" sobre as casas de banho que existiam antigamente na cidade. Eram locais onde a pessoa pagava para tomar banho. O texto ressaltava que só os mais abastados alcançavam esse "direito". Me veio na lembrança, de imediato, o camarada DeMassad comentando: "Não dá ideia! Não dá ideia!" O recado está dado para a população: água é um privilégio, não é pra qualquer um. E repare no nome da publicação: "Divirta-se" (!!!).

Mas é assim, com essas pequenas pílulas de "informação", que as pessoas vão sendo convencidas de que a - inacreditável - falta de água no Estado mais rico do país é uma "fatalidade", e que é responsabilidade delas, "esbanjadoras", fazer economia. Ser um "guardião da água" (supremo escárnio, comparável aos "Fiscais da Sunab" nos nada saudosos tempos de José Sarney). Como sempre, o governo do Estado não tem nada a ver com isso, "coitado". As pessoas que se virem pra ganhar dinheiro e investir na compra e estoque de água. É cada um por si! Os pobres que se danem.  

O escárnio chega às raias do absurdo. As advertências têm tom de "sermão", de "passa-moleque". Veja a pérola que uma colega registrou e postou numa rede social:



Assim, além de "esbanjadores", estamos sendo chamados de "sujos"! Enquanto isso, NINGUÉM fica indignado com o fato de o governo do Estado (leia-se: Geraldo Alckmin, PSDB) ter sido advertido por várias vezes, anos atrás, sobre a ameaça de racionamento e a urgência de medidas preventivas. Em dezembro de 2009, um relatório do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, feito pela Fundação de Apoio à USP, alertou para a vulnerabilidade do sistema Cantareira e sugeriu medidas cabíveis a serem tomadas pela Sabesp a fim de garantir uma melhor gestão da água (leia aqui). E não venham falar em falta de dinheiro! Alckmin gastou R$ 238 milhões com publicidade!

Mas a população votou maciçamente nele e o reelegeu governador. E agora (escárnio dos escárnios) é convidada a fazer "dancinha da chuva" pra ganhar água na "promoção" de uma rádio FM (!!!). Cliquem na imagem para ver com mais detalhes:


Como observou um outro colega, o racionamento de água poderia ter uma solução bem simples: cortar o fornecimento para os 57% que votaram em Geraldo Alckmin e garantir o abastecimento normal para os restantes. Seria apenas justo.



segunda-feira, outubro 13, 2014

Surto coletivo

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Ontem ouvi a melhor e mais precisa explicação sobre o sucesso de José Serra, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e outros tucanos nas urnas paulistas:

"Os eleitores de São Paulo sofrem de Síndrome de Estocolmo."


segunda-feira, outubro 06, 2014

Show de horrores - Parte II

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Mayara: 'mate um nordestino!'
Alguém aí se lembra da Mayara Petruso, aquela internauta que destilou publicamente todo o seu preconceito contra nordestinos, após a vitória de Dilma Rousseff, em 2010? "Nordestino não é gente, faça uma favor a SP, mate um nordestino afogado!", postou a moça numa rede social, naquela época. "Deem direito de voto para os nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar o bolsa 171", acrescentou. Pois é, show de horrores. Em 2013, ela recebeu uma punição de 1 ano, 5 meses e 15 dias de prisão, pena convertida em prestação de serviço comunitário e pagamento de multa, e declarou estar "arrependida".

E depois de tudo isso, o que acontece? A mesma coisa. "Se Dilma ganhar, vou inclusive concordar com os sulistas quando eles xingarem os nordestinos como fizeram em 2010", posta a internauta Luiza Neves. "Não queria ter preconceito regional não, mas nordestinos e nortistas não abrem mão de bolsa (tudo)... tão fodendo essa eleição", emenda Lorenzzo Warrak. "Esses nordestinos desgraçados parecem que não sabem que a culpa da falta de água é da lazarenta da Dilma", acusa Bruno Santiago. "Só aqueles nordestinos malditos que votam na dilma nossa espero chova la seca pra sempre", completa Lovato. A prova:



Não bastasse a inconsequência desses jovens, tem gente que deveria ter muito mais responsabilidade espalhando o preconceito explícito. Em Minas Gerais, um colunista social do jornal O Tempo, Paulinho Navarro, postou um comentário (também em rede social) propondo a divisão do País. E diz que a presidente Dilma Rousseff ficaria no Norte/Nordeste com "seus preguiçosos eleitores bolsistas", enquanto que "na banda de baixo" ficaria Aécio Neves e "demais trabalhadores esclarecidos", "continuando a botar lenha na produção deste país..." Pra quem duvida, segue a reprodução da postagem:


Mas o pior eu guardei para o fim: nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de triste memória, resolveu endossar o preconceito e declarou aos blogueiros Josias de Souza e Mário Magalhães, do UOL:

"O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados." 

"Essa caminhada do PT dos centros urbanos para os grotões é um sinal preocupante do ponto de vista do PT porque é um sinal de perda de seiva ele estar apoiado em setores da sociedade que são, sobretudo, menos informados."

"Geralmente é uma coincidência entre os mais pobres e os menos qualificados."

Bom, eu ia tecer algum comentário final. Mas confesso que, depois de ler todas essas declarações, não tenho nem vontade de escrever mais nada. Elas falam por si.

Antipetismo crava dois terços do eleitorado em SP

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No início de junho, às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, o Datafolha soltou uma pesquisa que, talvez, tenha sido a mais "lúcida" (ou próxima da realidade) entre todas as que foram feitas na campanha eleitoral deste ano: dos três principais pré-candidatos à Presidência da República naquela ocasião (incluindo Eduardo Campos, que faleceria tragicamente em agosto), Dilma Rousseff era a que apresentava, disparada, a maior rejeição no estado de São Paulo: 61% dos eleitores paulistas entrevistados naquele período não votariam na petista “de jeito nenhum”.

Passados quatros meses, mesmo com a reviravolta que representou a saída de Campos e a entrada de Marina Silva na disputa, o resultado do 1º turno das eleições em terras paulistas registrou apenas 25,75% dos votos válidos para Dilma, o que significa, em outras palavras, que 74,25% não votaram nela. Ou, mais precisamente, que 69,38% dos eleitores locais preferiram votar nos dois principais concorrentes, se somarmos os votos válidos de Aécio Neves, do PSDB (44,47%), e de Marina, do PSB (24,91%). Assim, a rejeição à Dilma na casa dos 60% confirmou-se.

E esse percentual também foi espelhado, sintomaticamente, nas votações vitoriosas de dois caciques tucanos em São Paulo: José Serra, eleito senador com 58,49% dos votos válidos, e Geraldo Alckmin, reeleito governador com 57,31%. De forma simplória, portanto, podemos afirmar que o antipetismo, em território paulista, está cravado em quase dois terços do eleitorado. É significativo, pois, em 2010, Dilma teve 37% dos votos válidos no 1º turno, em São Paulo. E Aloizio Mercadante somou 35,2% como candidato a governador, contra os 18,2 de Alexandre Padilha, agora.

O que vai acontecer no 2º turno, na disputa presidencial, é difícil prever. Mas São Paulo, com 22,4% dos eleitores brasileiros, já se posta como principal trincheira do antipetismo. Muito mais, curiosamente, do que quando os paulistas Serra e Alckmin disputaram a presidência da República, em 2002, 2006 e 2010. Se Aécio perde para Dilma em seu estado, Minas Gerais, em São Paulo conta com uma adesão maciça, muito mais "explicável" pelo crescente e ostensivo antipetismo local do que pelo voto convicto num candidato tão pouco identificado com o estado.

Uma dúvida: se Alckmin tem a pretensão de se candidatar à presidência da República novamente, em 2018, será que ele está mesmo empenhado na vitória de Aécio Neves?


sexta-feira, setembro 26, 2014

Governo Alckmin: 'gestão', 'eficiência', 'competência'

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Alckmin vê o Sistema Cantareira e canta: 'Tudo em volta está DESERTO, tudo certo/ Tudo certo como 2 e 2 são 5'


Depois de acompanhar o violento despejo de sem-teto no Centro de São Paulo no início deste mês, vejo hoje uma notícia que comprova que a Polícia Militar do governo estadual não tem mais nada de útil pra fazer, além de espancar pobres, grevistas, estudantes ou manifestantes:


Alta foi de 11,7% na comparação entre oitavo mês de 2013 e deste ano. Homicídios caíram 12,6% no mesmo período de comparação. Na capital, roubos cresceram 13,6% e homicídios subiram 6,3%.


Realmente, é mais uma notícia "edificante" sobre o (des)governo do PSDB em São Paulo, que já beira 20 anos seguidos. E o povo quer mais: Geraldo Alckmin lidera as pesquisas e pode ser reeleito já no 1º turno. Esses eleitores parecem contentes com o ensino público estadual:

São Paulo tem o pior nível no Ensino Médio dos últimos 6 anos

Os resultados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, revelados mostram que os desempenhos dos estudantes dos alunos do Ensino Médio nas escolas estaduais pioraram em relação ao ano de 2013 e acabaram sendo os mais baixos desde o ano de 2008.

A satisfação também deve refletir as "boas" notícias da saúde pública paulista:

São Paulo registra 17.088 casos de dengue neste ano

O número de casos de dengue neste ano na cidade de São Paulo chegou a 17.088 nesta quarta-feira, dia 23. Na comparação com os 15.969 registrados até a última semana de julho, o aumento foi de 7%.

Ou então o "primoroso" transporte público gerido pelo governo de Geraldo Alckmin:

Metrô de São Paulo tem uma pane grave a cada 3 dias

Estatísticas do Metrô de São Paulo revelam que número de falhas graves no sistema dobrou nos últimos cinco anos. Em 2013, ocorreu uma pane grave a cada três dias, com grande transtorno aos passageiros. Foram 113 falhas de mais de 6 minutos de duração no ano. Os números indicam aumento de 105% das panes em relação a 2009.

Mas ninguém supera o PSDB na "excelência" do fornecimento de serviços básicos:


O nível dos reservatórios do sistema tem registrado quedas consecutivas e chegou nesta sexta-feira a 7,2% da capacidade. Em nota, a secretaria estadual de Saneamento e Recursos Hídricos informou que o esgotamento da primeira cota da reserva técnica só aconteceria "no pior dos cenários". São Paulo enfrenta a maior crise hídrica da história.
E pra quem acha que o "mérito" é de São Pedro ou dos usuários gastadores, preste atenção:


Faz pelo menos quatro anos que o Estado de São Paulo está a par dos riscos de desabastecimento de água na Região Metropolitana. Em dezembro de 2009, um estudo não só alertou para a vulnerabilidade do sistema Cantareira como sugeriu medidas cabíveis a serem tomadas pela Sabesp a fim de garantir uma melhor gestão da água. O aviso veio do relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, feito pela Fundação de Apoio à USP.

Show de bola. Essas notícias sintetizam a "gestão", "competência" e "eficiência" (principalmente "eficiência"!) que os tucanos enchem a boca para pronunciar quando lambem as próprias crias. E para a população não interessa se todos estes serviços públicos são de competência do governo estadual. O problema da segurança, educação, saúde, transporte e até da falta de água é culpa única e exclusiva da Dilma e do partido dela. No estado de São Paulo, tudo segue "às mil maravilhas".

SÓ QUE NÃO.


terça-feira, setembro 23, 2014

A 'nova' política de Marina Silva

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RECORDAR É VIVER:

Em nota divulgada no sábado, 7 de junho de 2014, Marina Silva criticou a decisão do PSB de apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo:
“Para nós, isso é um equívoco. Consideramos necessário manter independência e lançar uma candidatura própria, que dê suporte ao projeto de mudança para o Brasil liderado por Eduardo Campos, e que dê ao povo de São Paulo a chance de fazer essa mudança também no âmbito estadual”, disse Marina Silva.

Para o PSDB, a culpa da falta de água é... do usuário (!)

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Estação Sé do metrô: símbolo da 'gestão' e da 'eficiência' tucanas
Segunda-feira, 18h30, e me preparo para enfrentar a (hiper-mega-ultra) abarrotada estação Sé do metrô paulistano. A aglomeração começa na escada rolante e, até conseguir me aproximar dos vagões, vejo seis ou sete trens chegarem (lotados) e partirem (mais lotados ainda), enquanto tento manter o equilíbrio espremido no meio da (conformada) multidão. Será possível que ninguém, neste momento, fica com raiva do governo estadual (do PSDB)? Ninguém?!? Não, nada. Todo mundo permanece em silêncio, arrastando os pés, digitando o celular, ouvindo qualquer coisa no fone de ouvido e acotovelando o(s) próximo(s). Outro dia, um amigo me deu uma explicação plausível: Geraldo Alckmin é médico anestesista. Faz sentido.

Buenas, piadas a parte, vamos à mais uma delas. Quando finalmente consigo entrar num - ou ser literalmente empurrado para dentro de um - vagão, noto que aquelas telinhas que reproduzem a tal "TV Minuto", mídia exclusiva contratada pelo governo estadual para o metrô, estão travadas, com a  a imagem congelada na última notícia transmitida: "A cidade de Los Angeles criou a 'polícia da água' para fiscalizar os esbanjadores" (veja foto abaixo). Não sei desde quando a imagem estava travada nesta notícia, mas permaneceu assim até a estação Paraíso, 15 minutos depois. E todo mundo calado, espremido e olhando aquele alerta acusador, que pode muito bem ser traduzido como: "Olha aí, vagabundo, sem essa de tomar banho quando chegar em casa! Tamo de olho em você, fica esperto!"

Mídia contratada pelo PSDB mostra 'polícia da água'. Como diz o Massad, 'não dá ideia!'
Notem que, no título da tal notícia, está presente a "delicadeza" habitual com que o governo tucano costuma tratar quem o contraria: "esbanjadores". Exatamente como grevistas, manifestantes de rua, sem-terra ou sem-teto são tratados como "baderneiros", "agitadores", "vândalos". Fico imaginando se o governo Alckmin criasse uma "polícia da água". Ia sobrar porrada e bala de borracha pra cima de todo "esbanjador"! E essa tentativa de jogar a culpa da falta de água sobre os usuários (!) nos remete a outras desculpinhas que o PSDB já usou para tirar o dele da reta: a culpa pelo aumento da criminalidade é da crise econômica mundial; a culpa pelas enchentes é da natureza; a culpa do surto de dengue é do clima; a culpa do péssimo ensino público é da migração nordestina etc etc etc etc etc.

Sistema Cantareira: outro símbolo da 'gestão' e 'eficiência' tucanas
Normal, se tivermos em conta, como lembrou o camarada Glauco, que o maior axioma do PSDB é: "a culpa da pobreza é do pobre". Mas, no caso da (inédita e absurda) falta de água, a imprensa já escancarou (leia aqui) que, "em dezembro de 2009, um estudo não só alertou para a vulnerabilidade do sistema Cantareira como sugeriu medidas cabíveis a serem tomadas pela Sabesp a fim de garantir uma melhor gestão da água. (...) O aviso veio do relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, feito pela Fundação de Apoio à USP. (...) Entre as recomendações feitas pelo relatório, estavam a instauração de processos de monitoramento de chuvas e vazões do reservatório e implementação de postos pluviométricos". Isso mesmo: 2009, há CINCO ANOS, quando o (des)governador era José Serra (PSDB), que devolveu o comando para Alckmin (PSDB).

A imprensa frisou que "o relatório apontava a necessidade de regras de operação do sistema 'que evitem o colapso de abastecimento das regiões envolvidas e minimizem a influência política nas decisões'". Como sabemos, NADA foi feito. O próprio Ministério Público está acusando o governo de Geraldo Alckmin de negligência. E agora a culpa é jogada sobre a população, obrigada a economizar água e a suportar tanto o racionamento não-declarado pelo governo estadual quanto as (inaceitáveis) multas para quem ultrapassasse determinado nível de consumo (canceladas quando o governador entrou em campanha para reeleição). E enquanto o Sistema Cantareira baixa para 8% do volume, o candidato Alckmin prossegue negando que haja crise de abastecimento de água. Ué, então pra quê economizá-la?!??

Alheias a tudo isso, milhares de pessoas se espremem nas (hiper-mega-ultra) abarrotadas estações do metrô, que dá pane quase todo dia. Caladas, arrastando os pés, acotovelando o próximo, ligando música alta no fone de ouvido, mexendo no celular. Anestesiadas. Muitas delas, senão a maioria, vão votar no Alckmin. No Serra. E, ao chegarem em casa, vão se lembrar da "polícia da água" na telinha do metrô. E vão cancelar o banho. Se houver água.

quinta-feira, setembro 11, 2014

Luz no fim do turno

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Em 29 de agosto, quando o Datafolha divulgou pesquisa apontando que Marina Silva bateria Dilma Rousseff por 10 pontos em eventual 2º turno disputado por ambas (leia aqui), um conhecido comentou comigo que políticos do PT haviam confirmado em off, pra ele, que pesquisas internas do próprio partido, naquele mesmo período, davam resultado idêntico. "Então ferrou", me lembro de ter comentado. Porém, contra todas as minhas (ultra-pessimistas) expectativas, a explosão da boiada pró-Marina parece estar sofrendo, agora, um refluxo. Ontem, o Datafolha soltou nova pesquisa (leia aqui) mostrando que agora, num 2º turno disputado entre Marina e Dilma, a primeira alcançaria 47% e a segunda, 43% - o que, num levantamento com margem de erro de dois pontos para cima ou para baixo, configura empate técnico. Parece que, após o fluxo de rejeição contra a atual presidente da República ter atingido a crista da onda no mês passado, há um refluxo também significativo dos que estão considerando com mais atenção o que seria um governo de Marina Silva. E, como bem observou o camarada Nicolau em seu excelente texto postado ontem (leia aqui), se cristaliza "a chance, cada vez mais uma certeza, de Aécio Neves ser o primeiro tucano fora da disputa desde 1989, o que é ainda mais interessante". Oremos ao Senhor!

quarta-feira, setembro 10, 2014

Eleições, bancos e jogadas pelas pontas

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Ficou assim: Dilma à esquerda, Aécio à direita e
Marina no meio, piscando pro eleitorado dos dois
Incorrendo orgulhosamente no vício das metáforas futebolísticas, o cenário político no Brasil hoje está parecendo um Corinthians e Palmeiras em final de campeonato. O santista e o são-paulino podem se refestelar no sofá de casa, apreciar a partida e secar qualquer dos lados, enquanto os envolvidos diretamente roem as unhas e mal conseguem entender o que se passa em campo.

É minha sensação: se eu morasse no Uruguai, estaria tomando uma Nortenha e me preparando para apertar um legalizado baseado com ávido interesse pela política do gigante vizinho. Como analista político, temos uma eleição bem jogada, com novidades interessantes, reviravoltas, suspense até o final – e temperada duas vezes por um plebiscito popular pela reforma política que rearticula e mostra a força do campo progressista. Como brasileiro de esquerda (e eleitor de Dilma, digo logo para evitar mal-entendidos), bate um enorme medo de retrocessos.

A eleição presidencial começou se mostrando um passeio no campo para a candidatura petista. A presidenta Dilma Rousseff enfrentava níveis de aprovação perigosos, mas liderava com folga sobre dois concorrentes que não empolgavam. Aécio Neves e Eduardo Campos não conseguiam galvanizar a aparente insatisfação do eleitorado, que não é bem com o governo ou com o PT, mas um reflexo do grito “contra tudo que está aí” que esteve entre os inúmeros brados de Junho de 2013. Havia um eleitor em busca de uma saída para mudar sem retroceder no que já conquistou com os governos petistas.

A trágica morte de Campos trouxe a opção que faltava: Marina Silva, a única política de projeção nacional que teve seus índices nas pesquisas elevados após as Jornadas de Junho. Com uma linda história pessoal de superação, trajetória de esquerda e uma aura de outsider da política que construiu nos últimos anos (mesmo estando toda a vida adulta a fazer política, vai entender...), ela apareceu como uma opção para empunhar o discurso do “novo” que as ruas cobram.

A linha condutora do discurso é o fim da polarização entre PT e PSDB, carta que já foi usada por Celso Russomanno e Gabriel Chalita em São Paulo. Acena com um governo dos “bons”, sem o intermédio dos partidos políticos, corruptos por excelência no entender geral. Assim, acabaria com as negociatas ao escolher os melhores de cada partido, de cada campo social. Na prática, ela precisaria também acabar com os conflitos inerentes a qualquer sociedade: patrões e empregados decidiriam de bom grado sobre aumentos salariais, latifundiários e sem-terra estariam de acordo sobre a reforma agrária, PM e moradores das favelas entrariam em paz automaticamente, brancos e negros fechariam questão sobre as cotas nas universidades.

O discurso esconde os conflitos sociais, o que permite a Marina não se posicionar sobre eles. É despolitizante e enganoso, pois restringe esses conflitos aos partidos, como se as divisões partidárias não existissem para representar as divisões da própria sociedade – e eu nem citei o Marx aqui ainda pra falar em luta de classes. Nesse sentido, é interessante que muitos dos eleitores de esquerda de Marina sejam aqueles que criticam o PT por flexibilizar (eles talvez dissessem vender) bandeiras históricas e fazer alianças com partidos de direita em nome da governabilidade. A fala de Marina não é um recuo no processo de peemedebização dos partidos brasileiros, mas antes um passo adiante nesse caminho.

E no meio da geleia, apresenta propostas de esquerda ao lado da direita mais perigosa. Fala em aumentar gastos com segurança, com saúde, com o meio ambiente. E fala em aumentar o superávit primário (grana que o governo separa antes de qualquer outra despesa para pagar juros da dívida), em independência para o Banco Central (leia-se terceirização aos banqueiros) e medidas drásticas para conter a inflação. É uma conta que não fecha, não dá pra cortar e aumentar gastos ao mesmo tempo. 

Os marineiros chamam esse tipo de denúncia sobre as posições econômicas da candidata de “discurso do medo”, mas não estamos falando do desconhecido aqui. Essas medidas foram usadas no Brasil e em toda a América Latina durante os anos 1990, a era de ouro neoliberal, e tiveram sempre o mesmo resultado: recessão econômica, menor crescimento, desemprego, queda nos salários. Se não lembra, basta olhar a situação de países europeus como Espanha e Grécia, todos vítimas do mesmo receituário. Dá medo sim, mas não é um mero discurso, é uma análise histórica.

Pelas pontas

Bom, mas o fato é que a entrada de Marina foi o fato novo que chacoalhou a eleição. A partir daí, a possibilidade de Dilma descer a rampa do Planalto tornou-se extremamente concreta. E também se cristalizou a chance, cada vez mais uma certeza, de Aécio Neves ser o primeiro tucano fora da disputa final desde 1989, o que é ainda mais interessante.

As duas candidaturas começaram a se mexer em busca do eleitorado perdido, cada uma a seu modo. Aécio falou em “mudança segura”, chamou FHC e outros tucanos para seu programa eleitoral, garantiu Armínio Fraga, queridinho do tal “mercado”, esse deus hoje já sem tantos adoradores, no ministério da Fazenda em seu governo, declarou que há “exageros” no seguro-desemprego brasileiro. Ou seja, quis mostrar ao eleitorado conservador que a opção correta é ele, um direitista de carteirinha e tradição. Não aceite imitações.

De sua parte, Dilma também aumentou o tom, mas pela esquerda: falou em regulação econômica da mídia (saída encontrada contra as ridículas acusações de “censura”), defendeu claramente plebiscito e constituinte para a reforma política, a criminalização da homofobia. Em seu programa de TV, atacou duramente as medidas neoliberais da economia prometidas por Marina e Aécio e contrapôs claramente os interesses dos bancos e da população. Uma agenda de esquerda, buscando os votos progressistas que apoiam Marina – em especial os dos trabalhadores mais pobres.

Ou seja, a entrada de Marina empurrou a eleiçaõ para as pontas: Aécio para a direita e Dilma para a esquerda. E estamos falando aqui das propagandas eleitorais, que costumam ser muito pouco sinceras. Se olharmos as publicidades do PT e do PSDB em eleições passadas, na maior parte do tempo elas falam de platitudes por educação, saúde e sei lá mais o que. Consensos, sem dizer com muita clareza onde querem chegar. É na prática dos governos que as diferenças aparecem, que os apoios sociais de desnudam e fica claro o caráter programático e ideológico dos dois partidos, PT mais para a esquerda, PSDB mais para a direita. O discurso político – no melhor sentido da palavra, o das opções e alianças para governar – só apareceu em momentos chave, em geral no segundo turno, como na eleição de 2006, quando Lula jogou as privatizações no colo de Alckmin.

É um efeito muito positivo de uma candidatura muito perigosa, principalmente por suas opções econômicas, que podem por a perder os ganhos sociais que tivemos nos últimos 12 anos. Além dos investimentos em infraestrutura, que Dilma ampliou muito, e das políticas de desenvolvimento, como a opção por compras nacionais no pré-sal e os juros subsidiados para certos setores – que Eduardo Gianetti, um dos gurus de Marina, já disse que devem sumir, o que significaria na prática o fim do Minha Casa Minha Vida, dos financiamentos via BNDES, do Pronaf e outros programas na mesma linha.

Mas deixando de lado as críticas, há fatores muito interessantes na candidatura Marina, a maioria trazidos pelo movimento original da Rede Sustentabilidade. Incluir a questão ambiental no modelo de desenvolvimento inclusivo que queremos é importante. Mais ainda, a Rede congrega pessoas que têm uma visão interessante sobre as demandas por maior participação popular nas decisões públicas. Fortalecer essa parcela da base marinista é um avanço para o país. Sem falar na escanteada que o PSDB - logo, a direita neoliberal orgânica - está levando nessas eleições. Que a Rede (ou pelo menos essa parte central dela, que prescinde de Marina) cresça e encontre uma voz própria na economia, e que não seja tão atrelada aos bancos.