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Destaques
quarta-feira, dezembro 02, 2015
Expressões populares do império resistem ao tempo
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quinta-feira, fevereiro 12, 2015
'Bebidas espirituosas'
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O 3º volume da coleção 'Terra Brasilis' |
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Marco de Touros, exposto em Natal |
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Manguaça Vasco Fernandes Coutinho |
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Mapa de Vila Velha do século XVI |
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Gravura de índio 'bebendo fumo' |
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Estátua de Pero Fernandes Sardinha |
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O governador-geral Mem de Sá |
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A 'Medalha Vasco Fernandes Coutinho' |
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Cachaça foi estopim da Revolta da Chibata
História dos nossos gestos manguaças
Bebia-se no Rio de Janeiro de 1900
Revolta da Cachaça: nosso primeiro exercício de democracia
quarta-feira, julho 03, 2013
'Chutão pro centroavante brigar'
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(Declarações a Bruno Rodrigues e Lui Spolador, do jornal Lance!)
terça-feira, julho 02, 2013
Recopa tem clássico regional brasileiro pela 1ª vez
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Boca e a Recopa de 2005 |
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1ª Recopa, do Nacional-URU |
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LDU levanta o troféu de 2009 |
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Neymar e a Recopa de 2012 |
quarta-feira, março 27, 2013
Tem meia dúzia de coisas que só acontecem com o... Palmeiras?
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Comemora, Mirassol, que não é todo dia! (Foto: Caio Messias/Lance!Press) |
Em sua atual fase, o Palmeiras tem perdido muita coisa, como mostra o sacode que levou do portentoso Mirassol na noite desta quarta-feira. Mas pelo menos uma coisa ele ganhou, e do Botafogo: nos últimos tempos, tem coisas que só acontecem com o Palmeiras.
É válido questionar se o Mirassol algum dia já marcou meia dúzia de tentos em uma única partida como profissional. Imagine então cumprir a conta logo no primeiro tempo? Tá certo que o primeiro foi obra do jovem zagueiro palmeirense Marcos Vinícius, de 21 anos, e logo aos 32 segundos de partida. Mas ainda assim...
No finalzinho, o Palmeiras ainda corria, Wesley forçou o goleiro Gustavo a duas defesas complicadas. Mas era nítido que ninguém dentro de campo acreditava no empate. Nem a torcida alviverde, que se dividia entre os que abandonavam o estádio e aqueles que ficavam para xingar o time e o técnico Gilson Kleina – que corre sério risco de não passar o Dia do Trabalho no Parque Antártica.
Já o lado mirassolense era só alegria, justificada pelo feito histórico. Dá pra imaginar, daqui uns 30 anos, quando o Paulistão não for mais que uma lembrança, o centroavante Caion contando para seus netos e vizinhos a respeito da noite em que marcou dois dos seis gols do Mirassol em cima do poderoso Palmeiras.
PS.: Na sequência da rodada, o Corinthians empatou em 1 a 1 com o Penapolense, em mais uma partida pra lá de chata. Mas quem se importa?
(Atualizado às 23h50)
sábado, março 23, 2013
Alguns jogos memoráveis entre Santos e Palmeiras, o "clássico da saudade"
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Mas o clássico tem história, e é nela que se pode confiar para que um bom jogo aconteça amanhã. A primeira partida entre os dois data de 3 de outubro de 1915 e foi realizada no Velódromo de São Paulo. Goleada alvinegra sobre o então Palestra Itália por 7 a 0, com três gols de Ary Patusca, dois de Anacleto Ferramenta, um de Aranha e outro de Arnaldo Silveira, autor do primeiro gol oficial da história do Santos. O Verdão devolveria a humilhante goleada em 1932, com um 8 a 0 em uma peleja na qual o Peixe terminou com nove jogadores, com dois gols de Romeu Pelliciari, dois de Imparato III, além de anotações de Lara, Sandro, Avelino e Golliardo.
- Santos 7 X 6 Palmeiras (Rio-São Paulo de 1958)
- Palmeiras 2 X 1 Santos (Campeonato Paulista de 1959)
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O campeão Américo delira com o peixe (Palestrinos) |
- Santos 2 X 2 Palmeiras (Copa do Brasil 1998)
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A conquista que geraria outra |
- Palmeiras 2 X 3 Santos (Campeonato Paulista de 2000)
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Gol não tão bonito, mas precioso |
- Santos 2 X 1 Palmeiras (Campeonato Paulista de 2009)
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Fez a diferença o baixinho (Nilton Fukuda/AE) |
- Santos 3 X 4 Palmeiras (Campeonato Paulista de 2010)
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O coreógrafo Pablo Armero |
terça-feira, fevereiro 26, 2013
O jogo duro da União Soviética
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sexta-feira, maio 25, 2012
Libertadores 2012: semifinal, teu nome é Léo
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A partida valia pelas
oitavas de final da Libertadores de 2003. O Santos havia saído na
frente na Vila Belmiro, contra o Nacional de Montevidéu, mas sofrera
o empate aos 38 do primeiro tempo. Três minutos depois, uma falta
pelo lado direito do ataque uruguaio, daquelas que pedem um
chuveirinho na área. Mas O'Neill chuta direto e Fábio Costa falha.
Silêncio na torcida. O arqueiro peixeiro, minutos depois do lance,
ainda sente e permanece estático, semi-ajoelhado no gramado. Quando
a bola pára, o lateral esquerdo Léo vê a cena, atravessa o campo,
estende as mãos para o goleiro (que, diga-se, não costumava ter
atitude similar com companheiros de time) e o ergue, incentivando o
atleta a voltar à partida. A torcida vai junto com Léo, carrega o
goleiro no colo e, na decisão por penalidades, Fábio Costa, que
nunca foi pegador de pênaltis, defende três e o Peixe se classifica
para as quartas.
A História vai dizer
que Léo foi coadjuvante nessa peleja, mas a cena dele apoiando seu
companheiro nunca me saiu da cabeça. Não é só o atleta, é o tal
do caráter, aquela coisa de você olhar a atitude do cara e pensar
que poderia ter alguém assim do lado quando pisou na bola naquela
vez... E justamente ele, que penou pra chegar lá, foi dispensado por
Felipão no Palmeiras em 1999. O técnico não aprovaria um atleta de
1,66 m de altura e Léo, por destino, fez carreira no Alvinegro a
partir do ano 2000.
Tornou-se campeão
brasileiro pelo Santos em 2002, fez o gol de empate do time contra o
São Paulo, na segunda partida das quartas de final, e marcou o tento
da vitória contra o Corinthians, na peleja derradeira da
finalíssima. E de pé direito. Foi para a seleção brasileira,
venceu a Copa das Confederações de 2005 e partiu para o Benfica.
Voltou em 2009. Guerreiro, para a torcida. Deus, para o amigo Olavo.
Quem diria que seria o personagem decisivo da vitória peixeira
contra o Vélez Sarsfield, na partida desta quinta, siando da
reserva.
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Os três e os do fundo eram um só (Foto Santosfc) |
Quando Muricy substituiu Juan por Léo, já havia colocado em campo o semi-atacante Rentería, o único disponível na suplência, já que a outra opção, Borges, se contundiu antes do jogo. Precisando furar a retranca dos argentinos, que se protegiam com as famosas duas linhas de quatro (ainda mais postadas no fundo depois da expulsão de seu goleiro no fim do primeiro tempo), o treinador resolver investir nos lados do campo. A retranca era das mais eficientes, mas o ataque portenho pouco produzia. Rafael só viu a bola ser finalizada ao seu gol nas cobranças de pênaltis.
Ganso fazia um pouco mais do que fez no jogo de ida, mas ainda assim era muito pouco. Neymar se mexia de lá pra cá, buscava a bola, chamava a responsabilidade. Conseguiu expulsar o arqueiro rival no fim da primeira etapa. Na segunda, em um lance, atravessou o campo de lado a lado e conseguiu criar uma oportunidade para o time. Mas o gol não saía. E voltamos à entrada de Léo, que, como mostraram as imagens, logo em sua entrada motivou os companheiros a buscar o resultado.
O lateral entrou para fazer a diagonal, para se aproximar da área, algo que Juan não estava conseguindo fazer. E foi em um desses lances que ele tocou para Ganso, que devolveu – um dos únicos passes certos do meia que não foram de lado ou pra trás. E Léo, mesmo caindo, conseguiu assistir Alan Kardec, que finalizou de primeira para o gol. Indefensável. O atacante, que quase entrou pra súmula da partida como o Diego Souza da vez ao perder um gol quase feito minutos antes, se redimiu. Segundo ele, o “profeta” Neymar o avisou que marcaria o gol, depois que perdeu a outra oportunidade. Acertou.
Com 1 a 0, decisão por pênaltis. O Santos já havia passado por outras duas em Libertadores. Aquela, contra o Nacional, em 2003; e contra a LDU, em 2004. Venceu as duas, sem desperdiçar nenhum pênalti. E ontem, não foi diferente.
Coube a Léo, como por destino, fazer o gol da classificação alvinegra, após Canteros – que entrou só para as penalidades – finalizar pra fora, e Rafael defender outro pênalti. Classificação sofrida, mas que a ela pode-se atribuir um nome. Às vezes, o futebol faz justiça.
Adendo
E para o tonto do assessor do Vélez que quis fazer galhofa com a morte do mestre Chico Formiga:
domingo, maio 13, 2012
Santos tricampeão - quando a História vem ao nosso encontro
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Por que um título como o de hoje, um Estadual que muitos dizem desprezar
(embora seja fato que, se seus times ganhassem, a história seria
outra), consegue me emocionar? Não foram dois jogos parelhos na
final, o Santos mostrou sua superioridade técnica diante de um
Guarani valente, brioso, mas inferior. Mas não são só as duas
partidas que contam o que foi esse título. Trata-se de história,
história... O Santos se tornou hoje tricampeão (três vezes campeão
de forma consecutiva) do campeonato estadual mais disputado do país.
Um feito que, da última vez que foi conseguido, os donos da bola
eram Pelé, Edu, Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Lima, Rildo,
Toninho Guerreiro, Ramos Delgado... De lá pra cá, nenhum rival
conseguiu tal feito.
Quando o tri vem, e remete àquele esquadrão sessentista, lembro de Eduardo
Galeano, que disse, em
uma entrevista concedida a mim e ao amigo Nicolau: “Mas
a história é uma senhora que caminha devagar. É preciso ter
paciência. O resultado dessa articulação de vozes não aparece em
um ou nem mesmo em dez anos.” Essa tal de História, que caminha às
vezes em passos muito mais curtos do que desejamos, pesava e chegava
a assombrar quando eu era adolescente e vivia um jejum de títulos.
Mas ela andou, lentamente, deu as caras com aquele Giovanni mágico
de 1995, saiu um pouco mais da penumbra quando saímos da fila com
Diego e Robinho em 2002, e chegou a seu apogeu com esse espetacular
Neymar, que comanda um elenco valoroso que tem em Ganso outra estrela
que brilha de forma irregular, mas que faz sonhar quando traz luz aos
gramados.
Esse elenco que não tem medo de cara feia e nem de nenhum tabu. Não houve para o Santos a tal “maldição do centenário”, que se fez presente nos clubes que completaram a marca nos últimos vinte anos. O título está aí, e com Neymar como goleador máximo do campeonato paulista, com 20 gols, em um total de 108 com o manto santista, o que lhe garante a 16ª colocação entre os maiores artilheiros da história alvinegra. Também garantiu ao Peixe a marca de ter o maior número de artilheiros no Estadual. Em 23 vezes o Santos teve o goleador do Paulista.
Foram 58 gols em 23 partidas no campeonato paulista de 2012, média de 2,52 por peleja, fazendo jus à equipe profissional que mais fez gols no mundo. Mas dados e números dizem pouco quando se vê futebol bem jogado como aquele desenhado no primeiro gol peixeiro, em que Neymar serviu Elano que, de primeira, tocou para Allan Kardec fazer. Ou o retratado no tento de Neymar, que veio da direita do ataque para servir Juan, que deu um lindo drible da vaca no rival e serviu, em meio a seis defensores bugrinos, quem lhe deu o passe.
A bela história do Santos de ontem veio ao encontro do Santos de hoje. Que bom que eu pude esperar. Que bom que posso testemunhar.
sábado, julho 30, 2011
Bebia-se no Rio de Janeiro de 1900
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O título do post faz referência ao capítulo 17 de Antologia da Alimentação no Brasil, livro de Câmara Cascudo que trata dos hábitos, rituais, receitas, pratos e quetais que ajudaram a constituir a identidade brasileira. Como já comentou o Anselmo aqui, o trabalho do historiador e antropólogo, resgatava aspectos da cultura brasileira que nem sempre eram destacados por estudiosos das Ciências Humanas à época, e mesmo hoje. Aliás, Cascudo morreu há exatos 25 anos...
Voltando ao capítulo da obra, trata-se de uma excerto publicado originalmente em O Rio de Janeiro do meu tempo, de autoria do também historiador Luís Edmundo, um apaixonado pela terra de Estácio de Sá, nascido em 1878 e falecido em 1961. Ele descreve de forma saudosista o início do século XX na cidade, em especial da vida noturna daquele já longínquo 1900:
Só os ricos podiam criar, para viver, ambientes agradáveis em matéria de conforto, a grande massa da população vivia mal, sobretudo durante o estio, quando a casa de residência se transformava numa verdadeira estufa, sem os naturais recursos de defesa que em outras partes do mundo já então se empregavam para suavizar os rigores da estação.
Assim, segundo Edmundo, as mulheres e crianças ficavam em casa, enquanto os homens saíam para “espairecer” e diminuir os efeitos deletérios do calor carioca.
Somente, por essas noites de espairecimento e alívio, em qualquer desses lugares, diga-se de passagem, bebia-se muito, bebia-se demais, bebia-se como talvez não haja ideia de se haver bebido no Brasil. Bebia-se pelas compoteiras!
Mas por que a população não tinha desenvolvido ainda o hábito de tomar uma cervejinha? Um dos motivos era o boicote e a campanha difamatória dirigida por negociantes de vinho, que também atuavam contra produtores nacionais de vinho no Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Essa explicação, na verdade, não consta do trecho do livro de Cascudo, mas do original de Edmundo.
Se não era cerveja a bebida mais consumida, o vinho, principalmente o português, era quem dominava o cenário etílico do Rio. Também se fazia campanha contra a bebida de outros países como França, Espanha, Alemanha, Itália e Áustria, tanto que se criou a expressão “de dar azia em caixa de bicarbonato” para esses vinhos, exaltando-se a qualidade supostamente superior do exemplar lusitano.
As estatísticas oficiais de 1900 dão uma mostra do quanto se bebia no país (e no Rio) naquela época. Com 22 milhões de habitantes, importávamos de Portugal 43,4 milhões litros de vinho só de Portugal. Isso é mais do que o Brasil importou, levando-se em conta vinhos e espumantes, em 2005.
Bebida gelada
Havia outra dificuldade para a popularização da cerveja como bebida nacional no Brasil do século XIX e início do XX. O gelo industrializado só chegou ao Rio em 1835 (e a primeira geladeira doméstica veio apenas em 1913), como lembra Câmara Cascudo no capítulo Esfriando Bebidas e havia um preconceito contra as bebidas geladas. Ainda vigorava entre as pessoas a noção difundida pelo médico judeu Isaac Cardoso, que em Madri publicou, em 1637, contra-indicando a ingestão de líquidos frios. Aliás, tal noção de que isso “faz mal” ainda é bastante popular nos dias que correm...
Para “esfriar” (não se falava em “gelar”) as bebidas, as técnicas eram várias, de acordo com o lugar. A garrafa de vinho era metida numa meia grossa ou pano úmido e borrifava-se de novo quando secava, ficando ao relento da noite e depois coberta com areia molhada ou serragem. Outra estratégia era deitar em grandes bacias de alumínio ou enterrá-la na beira de córregos e rios (com certeza em áreas montanhosas isso funciona). Já em locais onde ocorrem geadas e chuvas de granizo, a solução era armazenar e usar sal de cozinha para conservar por mais tempo a garrafa em baixas temperaturas.
Quando for tomar uma gelada, agradeça – e muito – pela geladeira existir...
segunda-feira, maio 23, 2011
E terminou em cerveja na Praia Grande...
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Ontem, na TV Bandeirantes, vi uma bem humorada entrevista com os históricos Pepe e Coutinho (foto), em pleno gramado da Vila Belmiro. Eles relembraram "causos" da época em que o Santos dominou o mundo, nos anos 1960. Pepe recordou um clássico com o São Paulo, na Vila, em que cobrou uma falta com a tradicional violência e nocauteou Alfredo, na barreira. "O Alfredo desmaiou e foi retirado de campo. Depois disse que tinha visto borboletas voando", riu o ex-ponta direita. Segundo ele, uma medição de seu chute calculou 122 km/hora nos anos 1960. "Aquela bomba do Roberto Carlos, na França, chegou a 109 km/hora. Daí, você calcula (a potência do meu chute)", disse Pepe, orgulhoso.
Já Coutinho lembrou da guerra que o Santos interrompeu, no Congo Belga, em 1969. "A gente tava tomando banho no vestiário quando o empresário chegou e mandou tomo mundo se apressar, pois o povo de lá tava doido pra recomeçar a guerra. O avião subiu e o tiroteio começou, lá embaixo", contou, às gargalhadas. Ele disse que os defensores do Santos costumavam jogar a bola pra ele gritando a seguinte ordem: "-Joga a carne pro leão" - um sinal de que Pelé estava partindo com tudo para o ataque. "Eu jogava e virava as costas, nem precisava ver. Sempre era gol, já ia me posicionar pra saída de bola". Coutinho revelou também que, quando algum zagueiro batia muito, ele esperava uma cobrança de escanteio pra cabecear as costas ou a cabeça dele. Isso aconteceu com o defensor Valdemar Carabina, do Palmeiras (já falecido).
"Num clássico, ele tinha me dado duas entradas violentas. Eu disse pra ele parar e ele perguntou se eu era valente. Eu disse que ele não ia jogar mais. Num escanteio, eu subi e cabeceei com força a cabeça dele, que caiu, ensanguentado. Quando ele ia sendo retirado de campo, eu cheguei e disse: '-Tá vendo, eu não disse que você não ia jogar mais?'. Mas depois eu encontrei ele na Praia Grande e fomos tomar cerveja", relembrou Coutinho, rindo.
terça-feira, maio 17, 2011
Cachaça foi estopim da Revolta da Chibata
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Lendo "João Cândido, o Almirante Negro", de Alcy Cheuiche (Editora L&PM, 2010), reparei em um detalhe pouco conhecido da Revolta da Chibata, conflito desencadeado em novembro de 1910, quando marinheiros tomaram os dois maiores e mais potentes navios da Marinha brasileira, exigindo a extinção dos castigos com chicotadas na corporação - sob pena de arrasarem o Rio de Janeiro, então capital do país, a tiros de canhão. O segundo capítulo do livro conta que o marujo baiano Marcelino Rodrigues Menezes (foto) foi flagrado tentando embarcar com duas garrafas de cachaça no navio "Minas Gerais". Acuado, agrediu levemente, com uma navalha, o cabo Valdemar, que o havia surpreendido. Na hora, foi preso e amarrado a uma argola de ferro.
No dia 21 de novembro, centenas de marinheiros foram perfilados na embarcação para presenciar o castigo físico de Marcelino. O hábito era dar 25 chibatadas com um relho feito de linho, que era encharcado na água e, depois, cravado com inúmeras agulhas de aço. Assim, quando a chibata atingia a pele do marinheiro, grudava as agulhas e, ao sair, arrancava carne. Mas o carrasco não parou no 25º açoite. Nem no centésimo. João Cândido Felisberto (foto), marinheiro gaúcho que lideraria a revolta, deixou registrado: "Aqui neste convés, o nosso colega Marcelino recebeu 250 chibatadas, e nós fomos obrigados a assistir a esse espetáculo degradante. O baiano ainda se encontra recolhido ao seu beliche, com muitas dores e febres". No dia seguinte, os marinheiros rendereram os oficiais, mataram alguns, tomaram o navio - com o apoio de outro navio idêntico, o "São Paulo" - e exigiram do presidente da República, Hermes da Fonseca, o fim dos castigos físicos.
O mestre-sala dos mares
Os marinheiros foram atendidos e terminaram a revolta, sendo todos anistiados. Porém, depois de um outro motim de fuzileiros navais no quartel da Ilha das Cobras, no início de dezembro (que nada tinha a ver com os motivos da Revolta da Chibata), o governo federal aproveitou para decretar estado de sítio e prender centenas de oficiais, arbitrariamente. Entre eles, João Cândido, que não tinha nada a ver com essa rebelião, mas acabou expulso da Marinha. Em uma masmorra na Ilha Grande, 16 de seus 17 companheiros de cela morreram asfixiados com cal. Cândido sobreviveu, mas com alucinações que o levaram, em 1911, a um manicômio. Voltaria à prisão da Ilha das Cobras e seria solto definitivamente em 1912. Viveu em grande dificuldade (foto) até sua morte, aos 89 anos, em 1969.
Apesar disso, sua memória chegou a ser resgatada em vida, em 1959, com o lançamento do célebre livro "A Revolta da Chibata", de Edmar Morel - jornalista cearense que, por causa disso, seria duramente perseguido pela Marinha nacional, perdendo seus direitos políticos em 1964 e sendo exonerado do cargo público que havia conquistado em concurso. Na década de 1970, João Cândido seria imortalizado pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc no samba "O mestre-sala dos mares", magistralmente gravado por Elis Regina. E os versos não esqueceram de glorificar a cachaça, que gerou o castigo de Marcelino Menezes, o último marinheiro brasileiro que sofreu com a chibata, motivo da revolta de 1910:
O MESTRE-SALA DOS MARES
(Aldir Blanc/ João Bosco)
Há muito tempo, nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a História não esqueceu
Conhecido como o Navegante Negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E, ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então:
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa História não esquecemos jamais
Salve o Navegante Negro que tem por monumento
As pedras pisadas do cais - mas salve
Salve o Navegante Negro que tem por monumento
as pedras pisadas do cais - mas faz muito tempo...