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segunda-feira, janeiro 24, 2011

Por que formar universitários pobres?

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Editorial do Estadão é sempre peça cômica. Ontem bradavam o "Colapso do ENEM", o exame nacional que agora, com o SISU, se tornou a ponte direta do estudante pobre à universidade. Na Folha, com seus truques de estilo, usaram o mesmo trocadilho que o Boris Casói (aquele!) para acusar de "Inépcia" o INEP, órgão responsável pelo exame; pro Casói, é "Uma verrrrgonha" o anúncio de que seria criado um órgão para cuidar apenas do ENEM, não vendo nisso o reconhecimento de sua importância e provável crescimento ao longo dos próximos anos.

Tenho folheado esses dois jornalões diariamente durante todo o último ano e não me lembro de neles ter lido qualquer análise sobre o significado do ENEM, o que ele representa para a educação no país. Não apenas porque agora, com o SISU, integra a rede universitária federal, que cresceu enormemente nos anos Lula, com a rede pública de ensino médio, dando materialidade ao discurso do excelente Fernando Haddad de que educação tem que ser pensada de forma sistêmica, envolvendo a valorização de todas as idades e todos os atores do processo (alunos e professores; gestores e financiadores; acesso e qualidade). Mas também pela qualidade mesma do sistema de avaliação, que é o maior exame de ensino médio do mundo, com 4 milhões de estudantes avaliados em 1.700 cidades.

Ao contrário, só se veem críticas, e pesadas, à aplicação dos testes ou ao sistema eletrônico de inscrições. O site do SISU ficou lento por três dias (mas o número de servidores foram dobrados e o problema solucionado), os candidatos podiam ver as notas de outros durante vinte minutos (vinte minutos!!!, e o problema foi solucionado), houve erro na prova do ENEM (em 0,25% das provas!!!!) e pedem que o exame inteiro seja refeito. Hoje, com a divulgação da lista de aprovados no SISU, a manchete focava nas 176 vagas (de um total de 83.125!!!!) que não despertaram interesse dos mais de 2 milhões de inscritos.

Tudo parece um grande fracasso quando numa geladeira cheia de Serra Malte o míope investigador só vê as três latinhas de Belco batendo nelas com o nariz. A educação no Brasil está, de fato, e os números mostram isso, encontrando um caminho de crescimento consistente, ampliando e democratizando o acesso e focando em qualidade, com valorização do professor e da infraestrutura.

Fernando Haddad, esse é o cara.

Nada a ver com o que ocorreu mais ou menos uma década atrás, quando o MEC, para turbinar índices de aumento de vagas no ensino superior, tornou-se um balcão de licenciamento de armadilhas universitárias privadas, muitas das quais fecharam as portas pouco depois (por não ter qualidade para cumprir exigências acadêmicas) deixando alunos a ver navios, sem diploma e com um débito considerável pelas mensalidades pagas durante alguns anos.

Tem que melhorar o site do SISU? Sim, mas esse é o menor dos problemas. O engraçado é que os jornalões não percebem que as consecutivas derrotas políticas que colecionam têm a ver, também, com essa incapacidade de enxergar a realidade. Conseguem, no máximo, e a custo de muito ódio, manter fiéis aqueles que só sabem do mundo por meio desses mesmos jornais, sem qualquer contato com a realidade vivida por outras classes sociais, ou em outros lugares do país. Outro dia, na Folha disseram que o Haddad estava "sob observação", pois Dilma teria se reunido com ele para que explicasse os tais problemas do SISU. Uma interpretação no mínimo exótica de um fato totalmente dentro da normalidade, mas que denota o teor das notícias: a virtualidade que gostariam que existisse, não a realidade. Ainda mais lembrando que a Dilma, logo que foi eleita, declarou que concentraria a atenção em saúde e segurança pública, pois a educação, segundo ela, "estava encaminhada".

Mas o mundo não está de todo perdido, ainda existe sinceridade e pureza de coração. O filósofo Luiz Felipe Pondé, em sua coluna na "Ilustrada", declara peremptoriamente: "Para alguns, universidade é coisa de elite e pronto, e só assim realiza bem sua função. Sou um desses.". Aí desfila um discurso confuso, que eu não sei bem o que quer dizer, sobre o fato de que a democratização do ensino vem com o "barateamento do produto", referindo-se às más faculdades privadas, ou "a abertura de universidades às centenas e em quase toda esquina, quase sempre com qualidade duvidosa. 'Universidades a R$ 399,90 por mês'". Não que todas essas instituições tenham deixado de existir, mas não é mais o boom de outros tempos. E, não custa lembrar, o investimento em pesquisa (a elite da universidade, por assim dizer) cresceu mais de dez vezes no governo Lula, com resultados comprovados.

O colunista não leva em conta que o Brasil já dá sinais de que para um desenvolvimento sustentável precisa formar milhares de engenheiros, médicos, etc. etc. Por que não ter médicos e engenheiros (e outros profissionais de nível superior) de "origem humilde"? Desconfio que essa resposta não leremos nem na Folha nem no Estado.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Velha mídia: a diferença entre a chuva tucana e a petista

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Há três anos a Thalita fez, neste espaço, a comparação entre dois editoriais do jornal O Estado de S. Paulo. Cada um dos textos tratava de uma obra então realizada pelo poder público e ambas tiveram tratamento bem distinto: o alagamento do túnel da Avenida Rebouças no início do mandato (incompleto) de José Serra na prefeitura paulistana e o episódio do "buraco do metrô", que fez sete vítimas fatais, também na capital do estado.

Lembrei desse post por conta do editorial desta quarta-feira, 12, do mesmo Estadão, intitulado "São Paulo pode conter as enchentes". O otimismo do título já é louvável e merecedor de elogios. Trata-se de um periódico que torce e acredita na terra bandeirante no mais entusiasmado estilo "yes, we can". Mas é interessante ler o texto, na íntegra, abaixo:

São Paulo pode conter as enchentes
O Estado de S. Paulo - 12/01/2011



A forte chuva que caiu na noite de segunda-feira e início da madrugada de ontem traz mais uma vez à discussão o renitente problema das enchentes que todos os anos castigam São Paulo e cidades próximas, e para o qual até agora as autoridades municipais e estaduais, que dividem as responsabilidades nesse caso, não conseguiram oferecer qualquer esperança de solução satisfatória. Solução, aqui, significa minorar significativamente os seus efeitos, já que eliminá-los é praticamente impossível tendo em vista as peculiaridades da capital paulista.
Repetiu-se o cenário desolador já bem conhecido dos paulistanos: quatro mortos na capital e outros quatro em municípios vizinhos; centenas de desabrigados que tiveram suas casas, construídas em áreas de risco, destruídas e perderam tudo; e ruas, avenidas e túneis alagados, com lixo e carros boiando e passageiros desesperados.
O transbordamento dos Rios Tietê e Pinheiros, em vários pontos das marginais, e de córregos, como o Cabuçu de Baixo, na zona norte, o Jaguaré, na zona oeste, e o Morro do S, na zona sul, paralisou boa parte da cidade até as 10 horas da manhã. Foram registrados 135 pontos de alagamento, e 58 deles ficaram intransitáveis por várias horas. Nos próximos dias, as avaliações da Defesa Civil, das administrações municipal e estadual e de entidades empresariais darão uma ideia mais precisa dos prejuízos para a população e a economia da capital.
É verdade que a topografia de São Paulo, em cuja área se alternam violentas ondulações e várzeas, não ajuda. Essa fatalidade geográfica é uma limitação importante. Apesar disso, o poder público pode fazer muito para reduzir os efeitos das enchentes, como sabem os estudiosos da questão. Elas nunca deixarão de ser um problema, mas podem deixar de ser um desastre periódico, como acontece hoje. As medidas para chegar a esse resultado são bem conhecidas, há muito tempo, e a maior parte delas já está sendo executada, mas infelizmente não de maneira satisfatória.
Os melhores exemplos disso são a limpeza do Rio Tietê, a construção de piscinões e a canalização de córregos. Bilhões já foram gastos no Projeto Tietê, destinado à recuperação desse rio, boa parte dos quais para o seu desassoreamento, com a retirada da sujeira acumulada durante décadas em seu leito, que possibilitou o aprofundamento da calha, o alargamento das margens e o aumento considerável da vazão. O resultado disso foi uma sensível redução do risco de transbordamento.
Desde que se concluiu essa etapa do projeto, todos sabiam que, sem um trabalho de manutenção adequado, com a limpeza constante do leito, essa importante conquista estaria ameaçada. Infelizmente, foi o que aconteceu. Mas, ainda que a vazão do Tietê não seja a mesma de quatro anos atrás, ela é suficiente para evitar um mal maior. Sem ela, a situação teria sido muito pior nas últimas enchentes. O governador Geraldo Alckmin já anunciou um remanejamento de verbas destinado a garantir recursos para acelerar a limpeza da calha do rio, que deve estar concluída em dois anos.
Quanto aos piscinões, destinados a reter a água das chuvas em pontos estratégicos, há dois problemas a resolver. Em primeiro lugar, seu número - hoje são 49 na Grande São Paulo - é insuficiente. Para completar o sistema, o governo do Estado deve contar com colaboração maior das prefeituras da região metropolitana. Até agora, só a capital deu contribuição significativa. Em segundo lugar, sua limpeza tem deixado a desejar.
A canalização dos córregos e a execução de outras medidas importantes cabem à Prefeitura da capital. Entre estas, a conservação, a limpeza e ampliação do sistema de drenagem, em especial de bueiros e galerias pluviais, que não têm sido satisfatórias, e o mapeamento das áreas de risco, a retirada dos que nelas se instalaram e ações para coibir novas ocupações.
É verdade que todas essas obras e serviços de manutenção, que podem minorar de forma significativa os efeitos das enchentes, custam caro. Mas é igualmente verdade que a sua ausência tem um custo ainda maior para a cidade. Elas são, portanto, altamente compensadoras.
Todos os negritos são meus e estão aí para realçar o quanto o escriba se esforçou para dizer que o problema da enchentes numa metrópole como São Paulo é complexo, o que seria até acaciano dizer. O texto afirma ainda que o governo paulista de fato agiu para evitar o pior por meio do Projeto Tietê. "Só" faltou manutenção, a limpeza do leito que não foi feita. Nas linhas, não se mostra o nome do responsável pelo malfeito, mas foi o mesmo gestor público que o jornal apoiou em outro editorial para a presidência da República.

Enfim, é tocante a compreensão do Estadão para com os problemas urbanos e como ele de fato enxerga o esforço do poder público e confia nos investimentos futuros para evitar que novas tragédias ocorram novamente. Curiosamente, disposição parecida não houve há quase seis anos:
Pressa e inépcia se uniram para tornar precário o Túnel Rebouças 
O Estado de S.Paulo - 15/01/05 
Quem errou vai pagar, avisou o prefeito José Serra durante visita, na semana passada, ao Túnel Jornalista Fernando Vieira de Mello, na Avenida Rebouças, construído às pressas pela administração Marta Suplicy para ser inaugurado às vésperas das eleições. Na primeira chuva intensa de novembro, a passagem foi invadida pelas águas e se transformou num piscinão. De lá para cá, a cada precipitação forte, o acesso ao túnel – construído para dar maior fluidez ao tráfego no cruzamento com a Avenida Faria Lima, ao custo de R$ 97,4 milhões – é fechado e o trânsito se torna pior do que antes da obra.
Agora, atendendo a pedido do prefeito, engenheiros do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Escola Politécnica da USP, do Instituto de Engenharia e da Secretaria de Infra-Estrutura e Obras apresentaram relatório sobre os problemas de execução do túnel. O secretário municipal de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz e Silva, afirmou que a pressa foi inimiga da qualidade. A galeria de águas pluviais, construída ao lado da passagem subterrânea, foi feita com tubos de PVC e areia em vez de concreto, material muito mais resistente.
A análise dos técnicos do IPT aponta para deformações, rachaduras, remendos, assoreamento e infiltrações na galeria. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o vice-presidente da Construcap, contratada pela empreiteira Queiroz Galvão para executar as obras, admitiu que “a técnica construtiva foi escolhida por causa da exigüidade do prazo imposto pela Queiroz Galvão”. Segundo ele, tudo foi feito em menos de 40 dias, com os operários trabalhando de madrugada para não atrapalhar o tráfego. Capobianco lembra que a Emurb autorizou o uso do material.
Identificadas as falhas de execução, o prefeito José Serra quer agora que os responsáveis pela obra realizem as reformas imediatamente, sem que a administração municipal desembolse um único centavo.
O contrato firmado entre a Prefeitura e a construtora Queiroz Galvão, em 2003, estabelecia o prazo de 18 meses para a entrega do túnel. No primeiro semestre de 2004, o governo petista alterou os planos para inaugurar a obra em novembro. Alegando dificuldades técnicas, mudou o padrão de construção. A decisão elevou em 47% o preço da obra, cujo ritmo foi acelerado, permitindo que fosse inaugurada em setembro.
Tanta correria numa construção complexa, a poucos metros do Rio Pinheiros, não poderia ter outro resultado. Há décadas, nas ocorrências de chuvas fortes, as ruas próximas do túnel apresentam alagamentos por causa das galerias subdimensionadas e da impermeabilização do solo, que leva as enxurradas em grande velocidade em direção ao Rio Pinheiros, onde não conseguem desaguar e há o refluxo pelas bocas-de-lobo.
O prefeito acerta ao cobrar o trabalho bem-feito dos responsáveis pela obra. Além dos riscos trazidos pela inundação do túnel, as falhas na execução da obra comprometem a segurança do corredor de ônibus. Segundo o secretário de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz Filho, a deformação excessiva da tubulação pode provocar o solapamento do piso do corredor.
A administração Marta Suplicy prometeu fazer da Rebouças uma avenida-modelo, com o corredor do Passa-Rápido, um belo projeto paisagístico e a passagem subterrânea, que acabaria com um dos principais gargalos do trânsito na região.
Ocorreu, de fato, grande mudança na avenida que, atualmente, parece um cenário de guerra. Um dos mais nobres corredores da cidade está sem calçadas e tomado por entulhos. O projeto paisagístico se perdeu, com as plantas emaranhadas, sem os cuidados necessários, e o trânsito continua complicado. E assim ficará por bom tempo. Afinal, as reformas do que foi feito às pressas vão ser iniciadas, haverá bloqueio de duas faixas da Rebouças e carros e ônibus terão de se espremer em apenas 5,7 metros de via. O fechamento das pistas permitirá que 3,5 mil veículos trafeguem por hora na Rebouças, quando o movimento normal é de 4,5 mil.
Por conta dos caprichos e da irresponsabilidade da administração passada, os moradores de São Paulo voltarão a enfrentar transtornos ainda maiores no trânsito.

Estão mantidos os negritos na Thalita no texto original porque eles refletem, primeiro, a condenação sem rodeios da administração petista que realizou a obra, pautada por declarações do prefeito e do secretário tucanos. Segundo, evidencia o diagnóstico do jornal: pressa e inépcia. Mas, no editorial de hoje, não se questiona o que deixou de ser feito tampouco os erros repetidos da falta de planejamento urbano de São Paulo. Como é o caso da ampliação da marginal do Tietê, obra bilionária que conta com uma duvidosa compensação ambiental e reforça um modelo viário que ajuda a tornar a cidade inviável em breve. Sobre isso, comenta Raquel Rolnik em seu blog:
Me parece, e tenho repetido isso, que evidentemente não é a obra de ampliação da marginal que causou enchentes, pois isso não faz nenhum sentido. A questão é que esta é uma área sujeita a enchentes e alagamentos, porque está na beira do rio. Sempre podem ocorrer chuvas excepcionais e a beira do rio está sujeita a enchentes e alagamentos. O problema é colocar o sistema viário estrutural da cidade em um lugar dessa vulnerabilidade, significa claramente expor o sistema de mobilidade principal a essa situação.
Na terça-feira, 11, também foi curioso assistir ao Jornal das Dez na Globo News. A única menção ao poder público na escalada (abertura) do noticiário foi relativa às verbas para prevenção de desastres do Ministério da Integração teriam diminuído de R$ 168 milhões em 2010 para R$ 137 milhões em 2011. Ou seja, a culpa é do Lula, claro! Essa foi a primeira pergunta feita ao urbanista João Whitaker, que colocou os pingos nos is de forma diferente da imaginada pela pauta (veja aqui).

É bom ressaltar que o montante reservado no orçamento do governo federal para prevenir desastres em todo o país, e que é irrelevante para São Paulo, é um pouco maior do que os R$ 100 milhões obtidos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na gestão Marta Suplicy para a construção de dois piscinões na capital paulista. As obras foram canceladas por seu sucessor, José Serra, e os recursos estão intocados para que o atual alcaide possa usar. Mas talvez a cidade não precise de obras contra enchentes, por isso a demora.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Cancelamento do Enem, êta história mal contada

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Foi cancelado hoje o exame do Enem por conta de um suposto vazamento que teria ocorrido. Alguém teria ligado para a redação de O Estado de S.Paulo e oferecido as duas versões da prova em troca do pagamento de R$ 500 mil.


Estranho, por que alguém que quer vazar uma coisa dessas ligaria para um jornal? Seria para que esperasse o resultado e depois divulgasse a fraude?

Se é assim, louve-se a postura do jornal, que avisou ao ministro da Educação antecipadamente para que pudesse cancelar o exame. Mas mais uma vez a pergunta, por que alguém que tem isso em mãos vai oferecer a um jornal? Não sabe que jornal não paga por matérias, ainda mais esses valores? Ou paga e eu estou sendo muito ingênuo.

Uma segunda questão, a gráfica que imprimiu, a Plural, pertence ao Grupo Folha. Não dá para ser leviano e acusar a ninguém sem provas de nada, mas que essa história está muito estranha está...

Não acredito numa conspiração do chamado PIG a esse ponto, mas repito a pergunta, será que estou sendo ingênuo demais????