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quarta-feira, dezembro 30, 2015

Para a ressaca, 'Minha enxada, minha vida'

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No meio da esbórnia gastronômica e etílica de fim de ano, a manchete do caderno "Comida", da FAlha de S.Paulo de hoje, me chamou a atenção: "X-ressaca". Na hora, meu pensamento, meu estômago e meus intestinos relembraram, entre espasmos e engulhos, iguarias da estirpe do X-Elvis (do Bar do Vavá), da salsicha com molho de tomate (do bar Moskão, em Pinheiros), do Cala-Frango (da Avenida Antonio Emerich, em São Vicente) ou da temível dobradinha com cenoura (do buteco Tom Cat, no Terminal Jabaquara). Mas a proposta do jornal, claro, é "coxinha" (no mau sentido): "Comida light ou detox para curar os exageros das festas? Cozinheiros e comilões preferem 'aliviar' o estômago com guloseimas, de chocolate a bacon". Buenas, depois dos quatro "frutos do bar" que descrevi acima, gostaria de saber o que eles batizam como "detox"... Mas passei o olho pelas "dicas" do tal caderno e algo chamou a atenção de minhas retinas tão fatigadas:


Ah, que fófis! "Faz carinho na barriga"! E eu pensando no meu tradicional método "cura-ressaca", o caldo de cana (afinal, a cana estraga mas cura também). Daqui da minha trincheira, ogro, bebum e ranzinza, fiquei matutando sobre esse mundinho "coxinha", "gourmet", "detox", "vilamadalena" e "folhadesãopaulo" que vem, cada vez mais, assolando a humanidade. E lembrei dos irmão Daniel e Nicolau, que, como eu, costumam recomendar, em situações de especial FRESCURA e FALTA DO QUE FAZER, uma boa enxada pra carpir um mato. "Carinho na barriga?!? Ah, vai carpir um terreno!". Há variantes mais urbanas: "vai lavar um banheiro", "vai encarar um tanque atolado de roupa", "vai lavar uma pia cheia de louça" etc etc. Mas "vai pegar na enxada e carpir um mato" me parece mais apropriado. Por isso lanço, aqui, na esteira do "Serviço conscientizador obrigatório" proposto pelo Nikolaos Papadopoulos, o programa "Minha enxada, minha vida".

Porque o que faz "carinho na barriga" é uma costela com cynar, um pingado com resto de cachaça e carne de porco, uma dose de Zvonka ou qualquer outra beberagem vagabunda. Uma Feliz Páscoa - ou o que quer que seja - pra todos. Saravá! E um gole pro santo.

(Crédito: André Dahmer, 'Revoluções em Curso')



quinta-feira, dezembro 10, 2015

Que desperdício (de vinho)!

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Pensei que a notícia de que um dirigente do São Paulo F.C. deu um soco na cara do outro fosse imbatível para faturar o prêmio "Vale-Tudo do Poder" de 2015, mas eis que abro a inFernet e leio a sensacional, inacreditável e maravilhosa manchete:


Pois é - ou melhor, pois ZÉ (Serra). Segundo Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, durante jantar na casa do Eunício Oliveira, seu colega de Senado José Serra "simplesmente chegou numa roda em que não tinha sido chamado, sem mais nem menos" e falou para a ministra da agricultura: "Kátia, dizem por aí que você é muito namoradeira". Kátia - que, aliás, é apelido para cachaça ("kátiaça") - descascou na hora: "Você é um homem deselegante, descortês, arrogante, prepotente. É por isso que você nunca chegará à Presidência da República. Nunca lhe dei esse direito nem essa ousadia. Por favor, saia dessa roda, saia daqui imediatamente". E tascou-lhe o vinho no meio da fuça (leia detalhes aqui).

Taça da discórdia: Kátia Abreu bota o desengraçadinho José Serra em seu devido lugar

O mais divertido é que, apesar de ser do mesmo partido do nefasto senador (ambos fincam trincheiras no nefasto PSDB), Kátia Abreu ainda fez questão de salgar a terra, gritando pra quem quisesse ouvir: "De mais a mais, nunca traí ninguém na minha vida". Pô, aí já é vandalismo! Geraldo Alckmin deve estar rindo sozinho até agora. E isso me lembrou uma célebre máxima do - falecido e também tucano - Mário Covas: "Em banco que José Serra se senta, todo mundo se levanta". Se levanta ou joga na cara dele o que tiver à mão! Afinal, José Serra é conhecido há décadas por ter um senso de "humor" nada invejável. Diante de tanta baixaria, só me resta lamentar o vinho derramado. Será que não tinha uma Skol pra jogar na cara dele? No mais, Deus me livre de festa que junta tucanos...




"Kátia, afasta de mim esse cálice..."


 

segunda-feira, outubro 05, 2015

Qualquer semelhança é mera reincidência

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"A escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do trabalho livremente assalariado." - George Bernard Shaw


quinta-feira, julho 16, 2015

O último desejo da falecida...

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...deve ter sido que a família enviasse um texto pra seção de obituário com sacanagem contra o próprio jornal nas iniciais de cada parágrafo:


Ps.: Pra quem duvida, as mesmas iniciais de cada parágrafo estão aqui na versão da internet.


segunda-feira, março 31, 2014

'Tudo é possível'

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Veículo da Folha incendiado: acusado de transportar presos políticos
Risível, para não dizer desaforado, o editorial da Folha de S.Paulo no domingo, 30 de março. O embaraço ao fazer um mea culpa nos 50 anos do golpe militar começa logo pelo título: "1964" - apenas o ano do acontecimento, tentando uma "neutralidade" que beira (ou alcança) o tucanismo. Todo esse cuidado, esse pisar nas pontas dos pés, sobre ovos, se reflete ainda mais na linha fina que apresenta o texto (o grifo é nosso): "Aos olhos de hoje, apoiar a ditadura militar foi um erro, mas as opções de então se deram em condições bem mais adversas que as atuais". Ou seja: sim, nós apoiamos os militares; e sim, isso foi ruim; mas, "veja bem, não é o que você está pensando, sejamos razoáveis..."

Depois das necessárias - ainda que tardias - críticas à ditadura, nos quatro primeiros parágrafos, pra tentar "ganhar" a simpatia daqueles que a condenam, a Folha desliza na argumentação (o grifo é nosso): "Parte da esquerda forçou os limites da legalidade na urgência de realizar, no começo dos anos 60, reformas que tinham muito de demagógico". Como assim?!? "Forçou os limites da legalidade"?!? O governo de João Goulart não teve tempo - nem força - para tomar uma medida sequer, legal ou "ilegal", a favor ou contra qualquer coisa. Pelo contrário: assim que Jânio Quadros renunciou, Jango sofreu o primeiro golpe, ao ser obrigado a aceitar um regime temporário de parlamentarismo. Isso sim "forçou os limites da legalidade". Aliás, quando os militares tentaram impedir a posse LEGAL de Jango como presidente, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, conseguiu garanti-la justamente com uma campanha de resistência batizada de "Corrente da Legalidade".

Jornal chama ditadura de 'ditabranda' e gera protesto popular
Mas o editorial da Folha omite tudo isso e prossegue derrapando: "Logo após 1964, quando a ditadura militar se continha em certas balizas, grupos militarizados desencadearam uma luta armada dedicada a instalar, precisamente como eram acusados pelos adversários, uma ditadura comunista no país". Ah, mas que boazinha essa ditadura! Que esforço ela fazia para se conter, coitada! Tanto que, ANTES de qualquer pessoa pegar em armas contra ela, os militares cassaram centenas de políticos democraticamente eleitos, prenderam arbitrariamente milhares de pessoas, institucionalizaram a tortura, proibiram eleições, alçaram a "linha dura" ao poder, censuraram a imprensa, amordaçaram o Congresso e "estupraram" o país ao impor o AI-5. Isso é ser "contida"?

Pois foi justamente por toda essa violência que muitos (ainda que equivocadamente) partiram para a luta armada. Não contente, porém, o editoral emenda cinco parágrafos de exaltação ao "milagre econômico" do início dos anos 1970, como sendo o lado "benéfico" e "justificável" do golpe militar. E aí vem o grand finale, quando o jornal assume o apoio que deu ao regime de exceção - e procura nos convencer de que, na época, foi uma atitude "correta": "Às vezes se cobra, desta Folha, ter apoiado a ditadura durante a primeira metade de sua vigência, tornando-se um dos veículos mais críticos na metade seguinte. Não há dúvida de que, aos olhos de hoje, aquele apoio foi um erro". Somente "aos olhos de hoje"?!?? Vá dizer isso a alguém que foi barbaramente torturado naqueles tempos! E que talvez, como registram várias denúncias, tenha sido transportado para cárceres clandestinos em veículos da própria Folha de S.Paulo. A mesma Folha que já chamou a ditadura de "ditabranda"...

Abril de 1964: Folha defende o 'regime'
É isso, minha gente. O jornal que insuflou o golpe em quase todo o período do curto - mas legítimo - governo João Goulart, e que saudou a tomada de poder pelos militares como a salvação do país, diz agora que "errou", mas termina o editorial em tom de "sermão" contra possíveis detratores. Só que tem um lance curioso: quando pensei em fazer esse post, imaginei os comentários que faria para encerrá-lo. Mas foi aí que eu reparei em outros três textos publicados na mesma página 2 da Folha de domingo (assinados por Eliane Cantanhêde, Henrique Mirelles e Carlos Heitor Cony) e notei que, por uma "coincidência semiótica", os títulos de cada um resumiam - ou comentavam - o descarado editorial: 'Desastres nada naturais', 'O que não foi feito' e 'Tudo é possível'. Impressionante como, sem querer, qualquer um desses títulos poderia nominar o editorial, em vez do anódino "1964". Por isso, me sinto à vontade para terminar o texto com uma definição do Dicionário Informal: "CARA DE PAU: Pessoa descarada, sem vergonha. Atrevido. Sinônimos: atrevido, sem vergonha, safado, mentiroso, descarado, sem escrúpulos, cara lisa". Sem mais. 

segunda-feira, novembro 18, 2013

No processo kafkiano, delação é premiada com prisão

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Jefferson em 2005 e hoje: delação levou à prisão, mas ele parece tranquilo e satisfeito

A prisão dos condenados pelo chamado "esquema do mensalão" é o desfecho de um processo kafkiano que tem a imprensa como principal condutora dos fatos - e uma "delação premiada" que, curiosamente, teve como "prêmio" a prisão. Voltemos no tempo: dois anos e cinco meses após o início do governo Lula, em maio de 2005, a revista Veja finalmente encontrava um porrete para bater com força no presidente petista, ainda que indiretamente. O alvo da matéria era um partido aliado da base do governo federal (ainda que de menor importância) mas a chamada de capa já prenunciava o chumbo grosso que viria naquele ano pré-eleitoral: "O vídeo da corrupção em Brasília". A reportagem denunciava um suposto esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e, já a partir do título, "O homem-chave do PTB", apontava o dedo inquisidor com a chancela "corrupto" para o deputado federal Roberto Jefferson, presidente do partido. Ato contínuo, toda a imprensa partiu para cima de Jefferson. E o que ele fez? Tudo o que a mídia estava louca para que algum "delator" fizesse: desviou o dedo apontado para ele diretamente para o braço direito de Lula até então, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

No dia 6 de junho daquele ano, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista exclusiva com o deputado petebista, concedida à então editora da coluna "Painel", Renata Lo Prete. Jefferson tirou da cartola a denúncia de que Delúbio Soares, tesoureiro do PT, pagava, a mando de Zé Dirceu, mensalidade de R$ 30 mil a alguns deputados do Congresso Nacional, para que eles votassem junto com o bloco governista, e referiu-se ao pagamento como "mensalão", cunhando o mote que os jornais (e os oposicionistas) tanto precisavam para carimbar a testa do governo Lula e emporcalhá-lo diariamente como "corrupto" e "ladrão", com violência e virulência dignas da imprensa mais udenista e lacerdista dos anos 1950, por todos anos seguintes. Pergunta que ninguém fez: por que a denúncia-bomba foi feita como entrevista, e não em forma de reportagem? Porque o entrevistador não precisa apresentar provas ou dados que confirmem o que o acusador está falando. É só uma entrevista, quem está dizendo é Jefferson, a jornalista e o jornal não têm nada com isso - o que também não os impede de dar manchete e trombetear a denúncia (sem provas) para todo o Brasil. Foi assim que estourou a maior crise do governo Lula, baseada em acusações, ilações, suposições e teorias de conspirações, sempre chanceladas como "verdades absolutas" pela imprensa.

A forçação de barra contra o PT ficou evidente por dois motivos: 1) Jefferson nunca apresentou provas do que disse (o que colaborou para que tivesse o mandato de deputado federal cassado - afinal, "cabe ao acusador o ônus da prova") e contradisse vários pontos de suas denúncias ao depor ao Conselho de Ética da Câmara e em outras ocasiões em que foi questionado sobre o assunto; 2) As investigações caíram no que de fato existe no Brasil, caixa 2 (doações não contabilizadas) em campanhas eleitorais, lavagem desse dinheiro e seus acertos posteriores - coisa que TODOS os partidos fazem, o que a mídia escondeu (o episódio mais constrangedor foi o de Paulo Markun no programa Roda Viva, da TV Cultura) e o que não tem NADA a ver com a denúncia - nunca comprovada - de que o governo federal estivesse dando dinheiro à parlamentares em troca de votos. Bom, o resto, como se diz, "é história". Não há nem espaço para relembrar, aqui, a avalanche de episódios bombásticos do tal "mensalão" que atordoou a população naquele ano de 2005 e que alimentou manchetes diariamente até o julgamento do caso, em 2012, e a ordem de prisão para vários dos acusados agora, no presente mês. Incluindo o "delator" Roberto Jefferson, que está aguardando a Polícia Federal em sua casa. Sim, ele, o "herói" da mídia golpista.

Jefferson diz que aguarda a prisão "com serenidade". Desde o início, ele sempre pareceu satisfeito ao deixar de ser o alvo principal das denúncias de corrupção da mídia e, em troca (talvez num acordo "negociado"), topar ser a voz "em on" da delação contra o governo federal. Pode ser que, se as investigações tivessem focado o esquema nos Correios, muito mais coisa tivesse sido descoberta contra ele, contra o PTB e os governos anteriores de Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor, dos quais Jefferson e seu partido também participaram. Ou seja, tudo leva a crer que o esquema nos Correios vinha de longe. Mas, numa cobertura "jornalística" (e bota aspas nisso!) que sequer se preocupou em checar e confirmar com provas a denúncia central de Jefferson sobre o pagamento de "mensalão", cobrar perguntas racionais e básicas parece tão absurdo quanto o próprio teor das toneladas de matérias sobre o caso. Nem Franz Kafka, em "O processo", chegou a tais requintes de nonsense quanto a imprensa brasileira. E agora temos milhões de pessoas comemorando a prisão dos tais "mensaleiros" como se fosse título de Copa do Mundo. Roberto Jefferson, personagem central dessa ficção, que de acusado passou a "herói nacional" por delatar a "corrupção", hoje já não tem utilidade alguma para a imprensa, nem defensores.

Foi usado e descartado, como tantos outros "inocentes úteis". Porém, nunca foi inocente. E sua "utilidade" à imprensa provocou uma das mais graves distorções jurídicas do planeta, criando um precedente - condenar sem provas - extremamente perigoso, um feitiço que, um dia, pode muito bem virar contra os feiticeiros. De caixa 2 e financiamento público de campanha ninguém fala nada. O que importa é o triunfo do ódio. Viva a imprensa nacional, baluarte da "moral", da "ética" e da "virtude"! E quem falar em controle da mídia também será "esquartejado" exemplarmente.

terça-feira, outubro 01, 2013

Mais do jornalismo "fófis": precisa "dar"?

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Trecho de notícia do caderno Poder, da Folha de S.Paulo, nesta terça-feira:


sexta-feira, agosto 02, 2013

Corrupção do PSDB, saia justa e ginástica dos jornais

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Capa que expôs o PSDB nas bancas do país
Como as acusações de corrupção e outras irregularidades contra os governos estaduais do PSDB em São Paulo estão repercutindo até lá na Alemanha, a "grande" imprensa brasileira bem que hesitou, mas não teve como esconder o megaescândalo de seus adorados tucanos. A revista IstoÉ foi a primeira a dar destaque como matéria de capa (leia aqui), resumindo que "em troca de imunidade civil e criminal para si e seus executivos, a empresa [Siemens] revelou como ela e outras companhias se articularam na formação de cartéis para avançar sobre licitações públicas na área de transporte sobre trilhos" e que isso "lançou luz sobre um milionário propinoduto mantido há quase 20 anos por sucessivos governos do PSDB em São Paulo para desviar dinheiro das obras do Metrô e dos trens metropolitanos".

Em resumo, segundo a publicação, "desde que foram feitas as primeiras investigações, tanto na Europa quanto no Brasil, as empresas envolvidas continuaram a vencer licitações e a assinar contratos com o governo do PSDB em São Paulo. O Ministério Público da Suíça identificou pagamentos a personagens relacionados ao PSDB realizados pela francesa Alstom – que compete com a Siemens na área de maquinários de transporte e energia – em contrapartida a contratos obtidos. Somente o Ministério Público de São Paulo abriu 15 inquéritos sobre o tema." Com base nos inquéritos, a revista observou ainda que "só em contratos com os governos comandados pelo PSDB em São Paulo, duas importantes integrantes do cartel apurado pelo Cade, Siemens e Alstom, faturaram juntas até 2008 R$ 12,6 bilhões."

Sem saída, os jornalões, tradicionalmente preocupados em poupar os peessedebistas (vide silêncio orquestrado e constrangedor no episódio Privataria Tucana), se viram na saia justa de também ter que noticiar o escândalo internacional. Mas, claro, fazendo ginásticas para amenizar ou evitar dar nome aos bois - ou ao partido envolvido. O Estadão deu uma primeira materinha (leia a versão online aqui) citando o PSDB somente na última frase do pé do texto. E, até hoje, a versão impressa do jornal dos Mesquita não deu manchete de capa sobre o assunto. Já a Folha, da família Frias, noticiou pela primeira vez de forma ainda mais generosa (leia aqui), sem citar uma única vez nem o PSDB nem Covas, Serra ou Alckmin. Hoje, dez dias após a publicação gritante da IstoÉ, cuja capa expôs o "tucanato paulista" nas bancas de todo o país, a Folha de S.Paulo se dignou a dar uma manchete sobre o caso.

'Mensalão mineiro': saída para 'do PSDB'
Porém, a notícia bombástica de que a "multinacional alemã Siemens apresentou às autoridades brasileiras documentos nos quais afirma que o governo de São Paulo soube e deu aval à formação de um cartel para licitações de obras do metrô no Estado" (acesse a versão online aqui) aparece na capa da Folha sob a manchete "Governo paulista deu aval a cartel do metrô, diz Siemens" (o grifo é nosso). Ou seja, o mesmo expediente de quando se veem obrigados a noticiar o Mensalão do PSDB, como já observou o Glauco aqui nesse post: escondem o nome do partido e usam "mensalão mineiro" nos títulos e manchetes - como exemplo, clique aqui para ver materinha sobre mais esse assunto espinhoso ao PSDB publicada pela mesma Folha de S.Paulo. Aliás, a artimanha "mensalão mineiro" já foi utilizada em uma capa da mesma revista IstoÉ que agora decidiu escancarar os termos explícitos "propinoduto do tucanato" e expor as caras de Covas, Serra e Alckmin nas bancas (certa música dos Titãs comentaria: "Alguma coisa aconteceu/ Inevitável, acidente...").

É óbvio que, se o partido fosse outro, a manchete diria que o aval para o cartel teria sido dado pelo "governo do PT", "governo petista", "governo Lula", "governo Dilma" etc. Como eu já disse aqui, é dessa forma que se constroem "bandidos" e "mocinhos" para o público consumidor de informações. Ou, como já dizia Malcom X, "se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas - e amar as pessoas que estão oprimindo." E é curioso como essa frase se aplica perfeitamente à notícia publicada ontem pelo Estadão: "Alckmin rebate críticas de Dilma e cobra investimentos federais em metrô"...

Só no 'Dia de São Nunca' essa manchete diria 'Governo DO PSDB deu aval a cartel...'

PÓS SCRITPTUM - Tava demorando: a mesma Folha de S.Paulo, agora, já cumpre o habitual papel de "assessoria de imprensa" tucana e, impossibilitada de rotular o caso de "trololó petista", denuncia que o megaescândalo envolvendo o PSDB (farto de provas no Brasil e no exterior) não passa, na verdade, de um "trololó Cadista"...

Os jornalões nunca dizem que tem alguém querendo 'prejudicar' quando o rolo é do PT

terça-feira, junho 21, 2011

Patrões continuam escravocratas - e a mídia apoia

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Relacionando o post que a Thalita fez sobre o tratamento humilhante dado às trabalhadoras domésticas no Brasil e outro post em que questionei os interesses mal dissimulados de nossa imprensa, recupero aqui uma inacreditável materinha da Folha de S.Paulo (aaarrgghhh...), publicada na última sexta-feira: "Empregadas domésticas já têm direitos demais, dizem patrões". Pois é. Parece que ainda vivemos nos tempos em que empregados eram tratados como animais (foto ao lado). Não sei o que é mais absurdo e agressivo: se a coragem da classe patronal de assumir essa postura escravocrata publicamente, em pleno século XXI, ou do jornal, ao abrir espaço, dar voz e amplificar a "reclamação". Mais um exemplo de quem são os "senhores" da subserviente "grande" imprensa.

"As empregadas têm mais direitos que as outras categorias: já comem, bebem e dormem nas casas dos patrões", disse à Folha Margareth Galvão Carbinato, presidente do Sindicato dos Empregadores Domésticos do Estado de São Paulo (Sedesp). Além do fato de que receber alimentação é um direito do trabalhador, faltou observar que, na imensa maioria das vezes, as empregadas que aceitam residir ou dormir na residência dos patrões fazem isso A PEDIDO DELES, para que tenham sempre alguém em casa, à disposição, e não precisem gastar com transporte delas. E é mais prático, pois eliminam a hipótese de a trabalhadora faltar ao serviço. Geralmente, por morarem ali, as empregadas acabam trabalhando muito mais, pois estão à mão todo momento. E não ganham NADA a mais por isso. Fora que, comendo a mesma comida preparada para a família, os patrões se isentam de dar vale alimentação, para ela escolher como, onde e quando comer, nem cesta básica. Ou seja: não é direito, É ABUSO!

E a tal "senhora de engenho" Margareth Cabinato ainda reclama que a aprovação na Organização Internacional do Trabalho (OIT) da convenção que amplia os direitos dos empregados domésticos vai causar desemprego porque tende a aumentar os salários! Para ela, também há problema em conceder horas extras para a categoria: "Você nunca sabe se a doméstica está trabalhando. Não existe controle do trabalho delas porque o patrão não fica fiscalizando. Não há como comprovar que elas trabalharam por um determinado período de tempo". Sim, há como comprovar: é só ver o tanto de serviço feito. Qualquer pessoa que não tem empregada doméstica sabe o quanto esse trabalho é volumoso e desgastante. Não por outro motivo, os patrões recorrem a elas, ora bolas! Quando morei na Irlanda, NINGUÉM tinha empregados em casa. Porque lá existem direitos trabalhistas e, se você quiser empregado, paga MUITO caro. Aqui, os patrões ainda pensam que podem resolver na base do chicote. Que são "superiores" e que têm o direito de se servir dos "inferiores". Basta!

segunda-feira, maio 02, 2011

Osama Bin Laden ou Emmanuel Goldstein - tanto faz

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"Mais um instante e um guincho horrendo, áspero, como de uma máquina monstruosa funcionando sem óleo, saiu do grande televisor. Era um barulho de ranger os dentes e arrepiar os cabelos da nuca. O ódio começara. Como de hábito, a face de Emmanuel Goldstein, o Inimigo do Povo, surgira na tela. Aqui e ali houve assobios entre o público. (...) O programa dos Dois Minutos de Ódio variava de dia a dia, sem que porém Goldstein deixasse de ser o personagem central cotidiano. (...) Nalguma parte do mundo ele continuava vivo e tramando suas conspirações: talvez no além-mar, sob proteção dos seus patrões estrangeiros; talvez até mesmo - de vez em quando corria o boato - nalgum esconderijo na própria Oceania.

No mesmo momento, porém, arrancando um fundo suspiro de alívio de todos, a figura hostil fundiu-se na fisionomia do Grande Irmão, de cabelos e bigodes negros, cheio de força e de misteriosa calma, e tão vasta que tomava quase toda a tela. Ninguém ouviu o que o Grande Irmão disse. Eram apenas palavras de incitamento, o tipo de palavras que se pronunciam no calor do combate, palavras que não se distinguem individualmente mas que restauram a confiança pelo fato de serem ditas. Então o rosto do Grande Irmão desapareceu de novo e no seu lugar apareceram as três divisas do Partido, em maiúsculas, em negrito: GUERRA É PAZ; LIBERDADE É ESCRAVIDÃO; IGNORÂNCIA É FORÇA."

Trechos extraídos do livro "1984", de George Orwell (Inglaterra, 1949).

"Os ataques de 11 de setembro deram não só credibilidade e legitimidade ao presidente como também permitiram a ele renascer politicamente sem sofrer o custo político da mudança. 'Bush tornou-se um presidente integralmente legítimo, não só para governar, mas também para reinventar-se como político', afirmou Andrew Kohut, diretor do instituto de pesquisas Pew Research Center for the People. (...) Depois dos atentados, Bush definiu o terrorismo como principal inimigo da humanidade e condicionou qualquer apoio financeiro e diplomático dos EUA ao engajamento de outros países à guerra contra o terror. Bush propôs a substituição da 'contenção' e da 'dissuasão', princípios da Guerra Fria, pela realização de ataques preventivos, inclusive com armas nucleares, contra grupos terroristas ou Estados hostis aos EUA."

Matéria da Folha de S.Paulo de 8 de setembro de 2002, um ano após os atentados em Nova York (a íntegra está aqui).

"O anúncio da morte do fundador da rede extremista Al Qaeda, Osama Bin Laden, em uma operação das forças americanas, deverá fortalecer a imagem do presidente Barack Obama como líder, diz a imprensa dos Estados Unidos. (...) A morte de Bin Laden também poderá dar novo fôlego à popularidade de Obama, neste início de campanha para um segundo mandato na Casa Branca e no momento que enfrenta uma oposição acirrada do Partido Republicano, desde novembro passado no comando da Câmara dos Representantes (deputados federais). Analistas já preveem que as divergências partidárias no Congresso sejam colocadas de lado diante da vitória, assim como ocorreu logo após os atentados de 11 de setembro de 2001."

Matéria da BBC Brasil de 2 de maio de 2011 replicada pela Folha de S.Paulo (a íntegra aqui).

Lembrem-se todos vocês: "O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI!".

Foto divulgada de Osama Bin Laden morto e outra dele vivo. Photoshop?

sábado, março 19, 2011

A cachaça na prosa de Voltaire de Souza

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Imagine-se abrindo um jornal e encontrando o seguinte texto:

O FRIO CASTIGA
Faz frio em São Paulo. Osvaldo tinha uma solução. "-A caninha. A cachaça". Ele tomava todas. A mulher reclamava. "-Pára, Osvaldo". "-A pinga. É meu cobertor". Ele caía na cama. Na maior inconsciência. Foi quando Osvaldo teve um pesadelo. Ele estava no pólo Norte. Um urso branco dava urros. Osvaldo viu um disco voador. Saiu do disco o falecido presidente Castelo Branco. "-Pára de beber, Osvaldo". "-Sim, senhor presidente. Sim, marechal". Osvaldo nunca mais bebeu cachaça. Mas faz frio em São Paulo. Osvaldo foi encontrado na rua. Morto. Caído no chão. De frio. Durinho. Foi levado para o IML. Onde faz mais frio ainda.


Esse é apenas um entre centenas de textos que foram publicados diariamente, entre os anos 1980 e 1990, pelos jornais Notícias Populares e Folha de S.Paulo, e assinados por um fictício Voltaire de Souza. O livro "Nada mais que a verdade - A extraordinária história do jornal Notícias Populares", de Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima (Summus Editorial, 2ª edição, 2011), conta que, quando o jornalista Leão Serva (foto) assumiu como novo diretor de redação do Notícias Populares, teve a ideia de publicar uma coluna com sexo e sangue em forma de ficção, na linha de Nelson Rodrigues. Foi aí que "um famoso colaborador" da Folha topou a empreitada, desde que assinasse com pseudônimo. Serva criou a alcunha Voltaire de Souza. "Definido como 'um imbecil' por seu próprio criador, Voltaire destilaria uma preciosa mistura entre as sandices do universo rodriguiano (sic) e as sinédoques de Dalton Trevisan, sempre coroada com uma desconcertante moral no fim da história". Como no texto a seguir:

A CULPA DE UM ÉBRIO
Osvaldo bebia bastante. E tinha o mau hábito de dirigir o carro quando estava embriagado. Uma noite, ele estava com seu Monza na 23 de maio. Completamente alcoolizado. Sentiu um baque no carro. Uma coisa voou na avenida. Osvaldo levou o maior susto. "-Atropelei alguém. Puta merda". Acelerou o Monza. E foi-se embora do local. No dia seguinte, Osvaldo acordou de ressaca. Lembrou-se da noite anterior. "-Puxa, atropelei um cara". Osvaldo ficou muito assustado. "-E agora? Matei um homem". A culpa de Osvaldo era grande. "-Sou um assassino. Sou um bêbado. Sou um canalha". Osvaldo abriu uma garrafa de uísque. Na terceira dose, ele estava chorando. "Não mereço viver. Sou um assassino". Pegou uma faca de cozinha e enterrou-a no peito. Morte instantânea. Só que ele não tinha atropelado ninguém. O Monza só tinha batido num saco de lixo. Deviam manter as ruas de São Paulo limpas.


O livro sobre o Notícias Populares conta ainda que, para manter o anonimato do autor, a coluna recebeu a foto de um cúmplice, o repórter Manoel Victal, que usou óculos escuros. Mais tarde, outra foto de Victal seria usada, mostrando o "dublê" diante de um computador. "O sucesso foi tão grande que o escrachado Voltaire de Souza ganharia, no final da década de 1990, um lugar no caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo (...). Ainda que seus textos acabassem saindo de lá algum tempo depois, em virtude de um corte de gastos da empresa, aquela promoção só alimentaria a já inflamada discussão a respeito da verdadeira identidade do literato", conta o livro "Nada mais que a verdade". As suspeitas recaem sobre o colunista Marcelo Coelho (foto), integrante do Conselho Editorial da Folha: "Publicamente (...), o respeitado jornalista prefere não confirmar nem desmentir a informação. Em conversas reservadas, entretanto, Coelho assume com orgulho a paternidade do escriba". Se é ele ou não, pouco importa. Fiquemos com mais um texto sobre cachaça, publicado no livro "Vida bandida - Voltaire de Souza" (Editora Escuta, 1995):

CACHAÇA E CASAMENTO
Estava começando a chover. Um friozinho de abril. Túlio esfregou as mãos. "-Tempo bom para uma cachaça". A mulher suspirou. "-Quando faz calor, você diz que é sede. No frio, é para esquentar". Túlio não ligou. Foi ao bar da esquina. Duas horas depois, estava completamente bêbado. A mulher foi procurá-lo. "-Túlio. Que é isso". O homem já não dizia coisa com coisa. "-Bruff... arrh... muorm...". Elizete começou a chorar. "-Você não era assim, Túlio. Você mudou". "-Wai a merza. À budza gui o bariu". Elizete gritava. Tremia toda. Estava tendo um treco. Alguém teve a idéia. "-Dá um cinzano para ela se acalmar". Elizete tomou o primeiro. E outro logo em seguida. Ficou bêbada como o marido. Deitados na sarjeta, os dois se deram um longo abraço de amor.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Por que formar universitários pobres?

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Editorial do Estadão é sempre peça cômica. Ontem bradavam o "Colapso do ENEM", o exame nacional que agora, com o SISU, se tornou a ponte direta do estudante pobre à universidade. Na Folha, com seus truques de estilo, usaram o mesmo trocadilho que o Boris Casói (aquele!) para acusar de "Inépcia" o INEP, órgão responsável pelo exame; pro Casói, é "Uma verrrrgonha" o anúncio de que seria criado um órgão para cuidar apenas do ENEM, não vendo nisso o reconhecimento de sua importância e provável crescimento ao longo dos próximos anos.

Tenho folheado esses dois jornalões diariamente durante todo o último ano e não me lembro de neles ter lido qualquer análise sobre o significado do ENEM, o que ele representa para a educação no país. Não apenas porque agora, com o SISU, integra a rede universitária federal, que cresceu enormemente nos anos Lula, com a rede pública de ensino médio, dando materialidade ao discurso do excelente Fernando Haddad de que educação tem que ser pensada de forma sistêmica, envolvendo a valorização de todas as idades e todos os atores do processo (alunos e professores; gestores e financiadores; acesso e qualidade). Mas também pela qualidade mesma do sistema de avaliação, que é o maior exame de ensino médio do mundo, com 4 milhões de estudantes avaliados em 1.700 cidades.

Ao contrário, só se veem críticas, e pesadas, à aplicação dos testes ou ao sistema eletrônico de inscrições. O site do SISU ficou lento por três dias (mas o número de servidores foram dobrados e o problema solucionado), os candidatos podiam ver as notas de outros durante vinte minutos (vinte minutos!!!, e o problema foi solucionado), houve erro na prova do ENEM (em 0,25% das provas!!!!) e pedem que o exame inteiro seja refeito. Hoje, com a divulgação da lista de aprovados no SISU, a manchete focava nas 176 vagas (de um total de 83.125!!!!) que não despertaram interesse dos mais de 2 milhões de inscritos.

Tudo parece um grande fracasso quando numa geladeira cheia de Serra Malte o míope investigador só vê as três latinhas de Belco batendo nelas com o nariz. A educação no Brasil está, de fato, e os números mostram isso, encontrando um caminho de crescimento consistente, ampliando e democratizando o acesso e focando em qualidade, com valorização do professor e da infraestrutura.

Fernando Haddad, esse é o cara.

Nada a ver com o que ocorreu mais ou menos uma década atrás, quando o MEC, para turbinar índices de aumento de vagas no ensino superior, tornou-se um balcão de licenciamento de armadilhas universitárias privadas, muitas das quais fecharam as portas pouco depois (por não ter qualidade para cumprir exigências acadêmicas) deixando alunos a ver navios, sem diploma e com um débito considerável pelas mensalidades pagas durante alguns anos.

Tem que melhorar o site do SISU? Sim, mas esse é o menor dos problemas. O engraçado é que os jornalões não percebem que as consecutivas derrotas políticas que colecionam têm a ver, também, com essa incapacidade de enxergar a realidade. Conseguem, no máximo, e a custo de muito ódio, manter fiéis aqueles que só sabem do mundo por meio desses mesmos jornais, sem qualquer contato com a realidade vivida por outras classes sociais, ou em outros lugares do país. Outro dia, na Folha disseram que o Haddad estava "sob observação", pois Dilma teria se reunido com ele para que explicasse os tais problemas do SISU. Uma interpretação no mínimo exótica de um fato totalmente dentro da normalidade, mas que denota o teor das notícias: a virtualidade que gostariam que existisse, não a realidade. Ainda mais lembrando que a Dilma, logo que foi eleita, declarou que concentraria a atenção em saúde e segurança pública, pois a educação, segundo ela, "estava encaminhada".

Mas o mundo não está de todo perdido, ainda existe sinceridade e pureza de coração. O filósofo Luiz Felipe Pondé, em sua coluna na "Ilustrada", declara peremptoriamente: "Para alguns, universidade é coisa de elite e pronto, e só assim realiza bem sua função. Sou um desses.". Aí desfila um discurso confuso, que eu não sei bem o que quer dizer, sobre o fato de que a democratização do ensino vem com o "barateamento do produto", referindo-se às más faculdades privadas, ou "a abertura de universidades às centenas e em quase toda esquina, quase sempre com qualidade duvidosa. 'Universidades a R$ 399,90 por mês'". Não que todas essas instituições tenham deixado de existir, mas não é mais o boom de outros tempos. E, não custa lembrar, o investimento em pesquisa (a elite da universidade, por assim dizer) cresceu mais de dez vezes no governo Lula, com resultados comprovados.

O colunista não leva em conta que o Brasil já dá sinais de que para um desenvolvimento sustentável precisa formar milhares de engenheiros, médicos, etc. etc. Por que não ter médicos e engenheiros (e outros profissionais de nível superior) de "origem humilde"? Desconfio que essa resposta não leremos nem na Folha nem no Estado.

quarta-feira, novembro 03, 2010

A piada do dia OU fala mais, FHC, fala mais!

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Na Folha de S.Paulo, materinha surreal: "FHC diz não endossar mais PSDB que não defenda a sua história" (uma pausa para o espanto: !!!!!!!!!! e outra para a gargalhada incontida: kkkkkkkkkkkk!). Minha nossa senhora, será que não tem um assessor, um parente, um amigo ou alguma outra alma caridosa pra poupar o homem de tanto vexame? Eu, sinceramente, estou ficando com vergonha alheia do Fernando Henrique Cardoso. Um ex-presidente do Brasil! Quanta papagaiada sai da boca do cidadão, Deus pai! Porém, no meio de tantos disparates, pelo menos uma verdade o tucano disse: "(Serra) Não fez diferente do que se esperaria de Serra como um candidato". Exatamente! Mas vamos aos melhores - ou piores - momentos de sua nova sequência de patacoadas estapafúrdias (os grifos são nossos):

"Não estou disposto mais a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história. Tem limites para isso, porque não dá certo. Tem de defender o que nós fizemos. A privatização das teles foi bom para o povo, para o Tesouro e para o país. A privatização da Vale foi um gol importante, porque, além do mais, a Vale é uma empresa nacional. A privatização da Embraer foi ótima. Então por que não dizer isso? Por que não defender? Privatizar não é entregar o país ao adversário, pegar o dinheiro do povo e jogar fora. Não. É valorizar o dinheiro do país. Tudo isso criou mais emprego, deu mais renda para o Estado." (Deu mais renda para o Estado?!!??? Como assim?!?)

"O presidente Lula desrespeitou a lei abundantemente. Do ponto de vista da cultura política, nós regredimos. Não digo do lado da mecânica institucional - a eleição foi limpa, livre. Mas na cultura política, demos um passo para trás, no caso do comportamento [de Lula] e da aceitação da transgressão, como se fosse banal." (Então o Serra avacalha vergonhosamente a campanha e, pra variar, a culpa é do Lula...)

"Aqui está havendo outra confusão. Pensar que a democracia é simplesmente fazer com que as condições de vida melhorem. Ela é também, mas não se esqueça que as ditaduras fazem isso mais depressa." (Ah, entendi: melhorar as condições de vida é só um detalhe, nada de muito essencial ou indispensável.)

"O Estado é laico, e trazer a questão religiosa para primeiro plano de uma discussão política não ajuda. Todas as religiões têm o direito de pensar o que queiram e de pregar até o comportamento eleitoral de seus fieis. Mas trazer a questão como se fosse um debate importante, não acho que ajude." (Ué, então o Serra errou? Isso não seria um bom título, senhor editor?)

"A pesquisa é útil não para você repetir o que ela disse, mas para você tentar influenciar no comportamento, a partir de seus valores. Suponha uma pesquisa sobre privatização em que a maioria é contra. A posição do líder político é tentar convencer a população [do contrário]." (Outro momento de sinceridade: pesquisa só serve para influenciar votação. Na cara larga!)

"Aqui, fora da campanha, só o governo fala. Quando fala sem parar, o caso atual, e sob forma de propaganda, fica difícil de controlar. No meu tempo, também era o governo que falava. Como não tenho o mesmo estilo e não usava uma visão eleitoreira o tempo todo, não aparecia tanto." (Nossa, o maior pavão de nossa política diz que não gostava de aparecer! Cara larga hors concours!)

"O que a mídia em geral transmitiu ao longo desses oito anos? Lula, violência e futebol." (Bom título para um blog. Aliás, trocando violência por cachaça, fica bem parecido com o nosso. O que você tem contra a gente, Fernandinho?)

"Esses 44 milhões [votação de Serra no domingo] não são do PSDB. É uma parte da sociedade brasileira que pensa de outra maneira. E não se pode aceitar a ideia de que são os mais pobres contra os mais ricos. Nunca vi uma elite tão grande: 44 milhões de pessoas." (Como se a elite, a mídia e o extremismo político de direita não influenciassem ninguém...)

"No tempo que cheguei lá, eu escrevi o que ia fazer e fiz. Nunca mudei o rumo. O Lula mudou o rumo." (Sim, não mudou "nada". Só disse, ao assumir o cargo: esqueçam tudo o que eu escrevi".)

"O Lula deixou de falar em trabalhador para falar em pobre. Mudou. Nós descobrimos uma tecnologia de lidar com a pobreza, mas estamos por enquanto mitigando a pobreza." (Mas qual o problema de o pobre ser o foco do governo? Tirar 28 milhões da linha da miséria é "mitigar" a pobreza?)

"Está se perfilando, no PT e adjacências, uma predominância do olhar do Estado, como se o Estado fosse a solução das coisas." (Mas se não for o Estado, quem vai olhar por nós? Os empresários?)

"A nossa tradição é de corporativismo estatizante, e isso está voltando. É uma mistura fina, uma mistura de Getúlio, Geisel e Lula. O Lula é mais complicado que isso, porque é isso e o contrário disso. Como é a metamorfose ambulante, faz a mediação de tudo com tudo." (Hã?!!?)

"A crise global deu a desculpa para o Estado gastar mais." (Sim, qual o problema disso? Foram os bancos públicos e o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, que nos protegeram da crise, os Estados Unidos estão tentando criar um BNDES para sair do caos.)

"Veja o discurso da Dilma de ontem [domingo]. Ela beijou a cruz." (Ah, tá: Serra desenterra a pauta medieval do aborto, dá voz aos piores e mais obscuros setores da sociedade, manda fazer santinho escrito "Jesus é a verdade", envolve a CNBB e até o Papa na campanha mais suja, pérfida e nojenta das últimas décadas e, para o FHC, o problema é a Dilma! Inacreditável.)

segunda-feira, outubro 25, 2010

Folha de S.Paulo diferencia o PT, que 'paga' militantes, do PSDB, que só 'dá ajuda de custo'. Ah, tá...

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Sempre disse e continuarei observando que, involuntariamente, o governo Lula acabou fazendo outro enorme benefício para o Brasil: o de desmascarar completamente a mídia elitista, retrógrada e golpista. Veículos de comunidação que tempos atrás - mesmo pendendo para uma posição política de situação e/ou de centro-direita - já foram considerados "progressistas" ou minimamente "sérios" e "equilibrados" na hora de bater ou elogiar, tiraram a máscara e revelaram-se de forma nua e crua com suas essências mais execráveis e grotescas. Exemplo maior é a revista Veja, capaz de armações, distorções e calúnias de proporções nunca publicadas antes de Lula subir a rampa do Palácio do Planalto. Tirando os conservadores, fascistas e demo-tucanos mais empedernidos, a maioria dos antigos leitores hoje têm indisfarçável vergonha de assumir que leem ou já leram essa nojenta publicação.

Mesmo o Jornal Nacional, que surgiu há 41 anos como "boletim oficial" da ditadura militar, passou a ser ainda mais explícito em suas manipulações de pauta e edições vergonhosas de matérias nos últimos sete anos (só pra lembrar de cabeça, a campanha golpista e insistente sobre o "mensalão" do PT, a tentativa de incriminar o governo Lula com "caos aéreo" no acidente da Gol e, agora, o carnaval que envolveu até perito para justificar a falácia da agressão de bolinha de papel contra José Serra). Entre os jornais impressos, o Estadão também teve momentos constrangedores, mas não chega a surpreender porque sempre foi uma voz assumida dos ricos e poderosos. Porém, seu concorrente direto, a Folha de S.Paulo, revelou-se de forma espantosa como o maior libelo de tudo o que não presta e não se deve fazer em termos de "jornalismo".

Depois de esconder o mensalão do PSDB como "mensalão mineiro", de tentar amenizar a ditadura brasileira apelidando-a de "ditabranda", de dizer que Dilma Rousseff seria uma das cabeças do sequestro de Delfim Netto (que não houve!), de publicar um artigo impublicável com a insinuação de que Lula teria tentado violentar (!) um companheiro de cela quando foi preso pelo governo militar, e de responsabilizar Dilma pelo prejuízo que os brasileiros tiveram com o apagão elétrico do governo Fernando Henrique Cardoso (!!), o jornal da família Frias foi descendo ladeira abaixo até quase o mesmo (ou o mesmo) patamar de ridículo e de descredibilidade da Veja. E hoje temos mais uma prova de que, no governo Lula, a Folha, que antes tentava se vender como tendo "rabo preso com o leitor", assumiu o lado político onde prendeu seu rabo e perdeu de vez sua vergonha.

Hoje temos mais um exemplo da cara-de-pau e da canalhice desse "jornal". Em materinha sobre a campanha eleitoral do PT, o título já entrega a maldade: "Idolatria por Lula e militância paga motivam petistas" (o grifo é nosso). Além de apresentar os petistas como "fanáticos", ou seja, sem razão e facilmente manipuláveis, a Folha força a mão na tecla de que trata-se de uma militância que só funciona a base de dinheiro. "Na ausência do presidente, a campanha precisou recorrer a militantes pagos ou de movimentos sociais amigos para encher o salão de festas onde a candidata discursou (no Iate Clube, em Belo Horizonte)". Já a materinha espelhada sobre a campanha pró-Serra é um elogio só, a começar pelo título: "Ideal, antipetismo e ajuda de custo movem tucanos".

E o que seria essa "ajuda" dos "bondosos" tucanos? O mesmo "maldito pagamento" do PT: "Entre tantos militantes 'ideológicos', ainda se vê, no meio das hostes serristas, o velho cabo eleitoral remunerado, aquele sujeito que, em troca de R$ 50, agita durante seis horas consecutivas as bandeiras do PSDB", diz um trecho do texto.

Com licença, vou ali vomitar e nem sei se volto...

sexta-feira, outubro 08, 2010

Terremoto abala a Folha/UOL

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Não vou falar de cobertura de eleições. Mas notem o nível da reportagem da Folha/UOL.


Esse é o problema de fundo. Além das escolhas políticas, é a incompetência mesmo.

Nem no tempo de faculdade sairia uma coisa dessa publicada. Vejas as aspas da assessora da OAB. E cabe a pergunta, por que ligar para a OAB para perguntar sobre terremoto????

Terremoto de 5 pontos atinge Centro-Oeste do Brasil; Brasília sentiu tremor

Do UOL Notícias
Em São Paulo

Um terremoto de 5 pontos na escala Richter foi registrado no Centro-Oeste brasileiro, segundo o instituto norte-americano USGS, que presta serviço ao Departamento do Interior dos Estados Unidos.

Pelas informações iniciais, o tremor foi registrado às 17h. O epicentro do terremoto foi na divisa de Goiás e Tocantins, mas o tremor foi sentido em Brasília (a 254 km). Pelos dados do USGS, o epicentro foi a 14 km de profundidade.

A reportagem ligou para a assessoria de imprensa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para confirmar o terremoto e uma funcionária, apesar de ter sentido o tremor, foi pega de surpresa. “Sim, eu senti um leve tremor que deve ter durado um segundo, nada mais. Agora que você está me perguntando até fiquei assustada. Não sabia que aquilo que senti tinha sido um tremor de terra”, disse a assessora de imprensa, afirmando que o edifício não foi evacuado.

O maior terremoto documentado no país ocorreu em 1955, em Porto dos Gaúchos, na Serra do Tombador (MT), e teve magnitude 6,6 na escala Richter. Os terremotos mais destrutivos deste ano aconteceram no Haiti (magnitude 7, em 12 de janeiro) e no Chile (magnitude 8,8, em 27 fevereiro). Mais de 226 mil pessoas morreram em 2010 vítimas de terremotos

quarta-feira, setembro 29, 2010

Fontes da Folha são Datafolha e... repórter da Folha

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Todo mundo sabe que a credibilidade da Folha de S.Paulo está tão baixa quanto a do Fernando Henrique Cardoso, que disse à Reuters que vencer no 1º turno não será bom para Dilma Rousseff (!!!). Pois, agora há pouco, a Folha On Line publicou uma materinha intitulada "Mercadante aposta em popularidade de Lula na reta final da campanha" (coisa mais óbvia!), em que a cara de pau conhece novos patamares. Além de usar os números do não menos desacreditado Datafolha (desmentido sistematicamente pelos resultados do Ibope, Sensus e Vox Populi), o texto ainda usa aspas de apenas uma fonte. Sabem de quem? Daniela Lima, repórter do caderno "Poder", da... Folha de S.Paulo (!!!!). Está inaugurado o auto-jornalismo.

Ps.: Há dois anos, em setembro de 2008, às vésperas da eleição municipal em São Paulo, o Datafolha apontava empate entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, com 22%, atrás de Marta Suplicy, que tinha 37% (reprodução abaixo). Poucos dias depois, em 5 de outubro, Kassab teve 33,6% dos votos válidos, contra 32,8% de Marta e 22,5% de Alckmin, que ficou fora do 2º turno.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Datafalha acerta pela primeira vez

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Não é que até o Frias assumiu.... A liderança da Dilma nas eleições presidenciais, claro.

Assumiu envergonhadamente, dando como novidade algo que até os manguaças do Futepoca já sabiam: Dilma 41%, Serra 33%.

Mas vale um capítulo à parte a manchete do UOL.

Com 41%, Dilma passa Serra pela primeira vez no Datafolha.

O correto não seria, pela primeira vez Datafolha acerta na pesquisa?




quinta-feira, agosto 12, 2010

Vestal da 'ética' agora vigia a 'moralidade'

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A Folha de S.Paulo (argh!), aquela empresa que publicou artigo dizendo que o presidente Lula tentou violentar um companheiro, quando esteve preso, e que tratou os 21 anos de selvageria militar no Brasil como ditabranda, além de outros absurdos, volta agora a prestar seu triste papel de "sentinela vigilante" da moral e dos bons costumes para a sociedade brasileira. Credo.

Falando sobre o livro "Teresa, que esperava as uvas" (de Monique Revillion, Geração Editorial), que integra o pacote do governo federal para equipar bibliotecas de colégios públicos, atenta para os "escandalosos" trechos de sexo e violência na obra fictícia: "arriou as calças dela, levantou a blusa e comeu ela duas vezes" e "deu um tiro no olho dele (...) ele ficou lá meio dependurado, com um furo na cabeça". E o "jornal" ressalta, por fim, que "o governo Lula, a autora da obra e a editora defendem a escolha (do livro)".

Ou seja, pra variar, a culpa é do Lula! Dai-me estômago, oh, Senhor...

quinta-feira, agosto 05, 2010

A manchete é a que convém

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Saiu a última pesquisa CNT/Sensus. Pelos manuais de jornalismo, a notícia é que Dilma abriu dez pontos de vantagem sobre Serra: 41,6% e contra 31,6% do tucano e 8,5% de Marina Silva (PV). Poderia ser destaque ainda o fato de que a eleição estaria perto de ser decidida no primeiro turno com esses números. Mas a Folha achou por bem tascar a manchete abaixo em sua seção Eleições 2010.



quarta-feira, junho 23, 2010

Ajuda mais, FHC!

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Dando prosseguimento à nossa campanha "Fala mais, FHC!", a coluna da Mônica Bergamo de hoje, na Folha de S.Paulo, traz a piada do ano. Segundo ela, "Fernando Henrique Cardoso confidenciou a interlocutor de sua mais absoluta confiança recentemente que tem sérias dúvidas sobre a possibilidade de José Serra vencer a eleição presidencial". O arremate é espetacular:

"E olha que estou tentando ajudar", disse o ex-presidente, atualmente em tour pelo exterior.