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terça-feira, abril 14, 2009

Em busca do marafo perdido - Capítulo 7

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Festa de metalúrgicos, show do Zé Geraldo. Quatro e quinze da madrugada e eu com o boné azul marinho de uma das duas meninas que havia beijado naquela bebedeira. Ela entrou num Fusca bem velho e abarrotado, com umas oito pessoas. Queria que eu fosse com ela para Nova Odessa, Estiva Gérbi - ou algo semelhante. Declinei. Uma turba de bêbados jorrava pelas escadarias do ginásio de esportes. Ainda não havia ônibus circulando. "Hora de tomar a saideira", pensei. Mas aonde? Como? Sem um puto sequer, completamente embriagado e perdido, o que fazer? Meu cérebro latejava.

Os três companheiros que chegaram comigo ao recinto, no início da noite, haviam desaparecido há horas, cada um com uma mulher. Olhei ao redor: tudo deserto. Nisso, outra moça apareceu, como que por encanto, e me deu um beijo de cinco minutos. Pegou o boné azul marinho e simplesmente sumiu. Fiquei ali, meio aéreo, na mais completa solidão. Para onde ir num horário desses, sozinho? Foi aí que me lembrei do convite para almoçar na casa de uma amiga de faculdade, quase namorada. Não sabia como ir, mas ia.

Andei, andei, andei e, aturdido, percebi que havia contornado o ginásio de esportes e retornado ao mesmo lugar. Decidi que precisava ir para o Norte, como se soubesse onde ele ficava. Andei mais, muito mais. Completamente entorpecido, a boca grudada, as narinas ardendo. O sol nasceu. Me lembro que um ônibus parou e o motorista perguntou para onde eu ia. Respondi que não fazia a mínima ideia e continuei andando, na contramão. Andei mais e cheguei ao bairro onde morava minha amiga.

Oito e meia da manhã - ou coisa do gênero. "A casa tá fechada, todo mundo dormindo", refleti. Reparei que não havia ninguém na rua e me sentei na calçada, escorado no muro. A única opção era aguardar que alguém, na casa da minha amiga, acordasse. "Umas três ou quatro horas de espera", calculei. Bati a mão no bolso: a carteira ainda estava ali. Para não ser assaltado, joguei a dita cuja na varanda da casa, por sobre o muro. Desabei. E dormi o sono mais profundo de todos os 19 anos que tinha vivido até aquele dia.

Acordei com alguém me cutucando. Deitado na calçada, olhei pra cima, contra o sol forte, e vi três ou quatro velhinhos, curiosos e assustados. Dei um pulo e todos se afastaram. Tentei explicar alguma coisa, mas raciocinei (com muita dificuldade) que a minha longa saga etílica só espantaria ainda mais a vizinhança. Inventei qualquer besteira, que havia perdido o ônibus, que tinha passado três dias sem dormir, acompanhando minha tia no hospital, uma lorota dessas. Fingiram que acreditaram. Eu também - e sorri.

Naquele exato momento, a mãe da minha amiga abriu o portão e começou a varrer folhas secas para a rua, junto com a minha carteira. Me abaixei, peguei a dita cuja, botei no bolso e me apresentei: eu era o amigo da filha dela e estava convidado para o almoço. Ela me avaliou de cima abaixo, bem séria, fechou o portão com um cadeado e correu para dentro da casa. Os velhinhos olharam todos para mim, muito tensos e raivosos. Vi um ônibus saindo do ponto final. Consegui correr e alcançá-lo. Sorte de principiante...

(Continua quando o autor estiver sóbrio o suficiente para escrever...)