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quinta-feira, setembro 03, 2015

Abraço no algoz, juiz substituído, chapéus no campo, bandeirinha jogando, expulsão nula: bizarros anos 30

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Comprei neste ano o "Almanaque do São Paulo", publicação independente de José Renato Sátiro Santiago Júnior e Raul Snell Júnior (foto à esquerda), e só agora tive tempo de esmiuçar as fichas das mais de 5 mil partidas do Tricolor compiladas pelos autores, do período de 1930 a 2013. Sim, porque, ao contrário do "Almanaque do São Paulo" publicado em 2005 pela Placar, da Editora Abril, de autoria de Alexandre da Costa, Sátiro e Snell consideram o primeiro São Paulo, existente entre 1930 e 1935, e o atual, como uma coisa só (clique aqui para entender a eterna polêmica). O novo Almanaque também difere daquele da Placar porque tem o cuidado de publicar também as escalações dos adversários e de dar detalhes sobre os gols (se foram de pênalti, de falta, de cabeça etc) e informar curiosidades sobre as partidas. Entre elas, bizarrices que hoje seriam inimagináveis num jogo de futebol, mas que na década de 1930, num período de pré e de recém-profissionalização desse esporte no Brasil, aconteciam sem que ninguém se espantasse. Listei oito das que estão no Almanaque escrito por Sátiro e Snell (os grifos são meus):

20/04/1930 - América (da Capital) 1 x 6 São Paulo - Campeonato Paulista
"Friedenreich marcou um tento tão belo que dois jogadores do América correram para abraçá-lo" (Fried, "El Tigre", fez três gols neste jogo).

17/05/1930 - São Paulo 2 x 2 Syrio - Campeonato Paulista
"O árbitro Nestor Pedroso negou-se a retornar para a etapa final, sendo substituído por Thomaz Cicarelli" (todos os gols aconteceram no 1º tempo).

29/03/1931 - Santos 2 x 2 São Paulo - Campeonato Paulista
"O juiz C. Rustichelli negou-se a continuar apitando, por conta de ameaças das duas torcidas, sendo substituído por Wenceslau de Souza no 2º tempo" (o 1º tempo terminou com vitória do Santos por 1 x 0).

16/05/1931 - São Paulo 4 x 1 Germânia - Campeonato Paulista
"Impedido pelo Germânia, o juiz Domingos Nicollelli não voltou no 2º tempo, sendo substituído por Manoel F. Pinto Júnior" (o 1º tempo terminou com vitória do São Paulo por 2 x 1).

15/11/1931 - Portuguesa 1 x 3 São Paulo - Campeonato Paulista
"Por conta da grande quantidade de chapéus jogados pelos torcedores, o árbitro precisou interromper a partida para limpar o campo".

02/04/1933 - São Paulo 4 x 2 Corinthians - Amistoso
"Iracino [do São Paulo] saiu aos 30 minutos do 1º tempo, entrou Barthô em seu lugar. Posteriormente, após o intervalo, Iracino voltou".

21/05/1933 - São Paulo 7 x 1 Ypiranga - Campeonato Paulista
"Friedenreich estava atuando como juiz de linha (bandeirinha), quando foi chamado para substituir Armandinho".

24/06/1934 - São Paulo 3 x 3 Syrio - Campeonato Paulista
"[Zarzur e Zago foram expulsos e Celeste e Mamá, respectivamente, os substituíram] Na época era permitida a substituição do jogador expulso".


domingo, julho 13, 2008

Onde repousa nosso primeiro ídolo

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Há 75 anos, em março de 1933, o chamado São Paulo "da Floresta" (antecessor do atual) venceu o Santos por 5 a 1, na Vila Belmiro, no primeiro jogo profissional disputado no país. E, simbolicamente, o gol de estréia do profissionalismo foi marcado por Arthur Friedenreich (à direita), o primeiro ídolo do futebol brasileiro, considerado o "Pelé do amadorismo". Filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra, o mulato Fried jogou por 16 clubes entre 1909 e 1935, além da seleção brasileira, pela qual participou de sua histórica primeira partida, em 1914, contra o clube inglês Exeter City. E foi ele, também, que deu o primeiro título para o Brasil, o sul-americano de 1919, com um gol na prorrogação - sendo homenageado por Pixinguinha e Benedito de Lacerda com o chôro "1x0". Na época, os uruguaios, derrotados naquela decisão, batizaram Friedenreich de "El Tigre".

No Guiness Book of Records, ele é apontado como o maior artilheiro do futebol mundial em todos os tempos, com 1.329 gols. Essa informação foi publicada pela primeira vez por João Máximo no livro "Gigantes do futebol brasileiro", de 1965, baseado em relatos de amigos e familiares do atleta. Porém, há 9 anos, ao pesquisar os gols de Fried para o livro "O tigre do futebol", Alexandre Costa contabilizou apenas 556. Pelé confirmou sua coroa mas, como consolo, Fried apresenta uma média de gols superior: 0,99 (556 gols em 561 jogos) contra 0,93 do Rei (1.282 gols em 1.375 jogos). Na foto acima, vemos reunidos três de nossos maiores ídolos, cada qual em uma geração: Leônidas da Silva (décadas de 1930 e 1940), Friedenreich (dos anos 1910 e 1920) e o maior de todos, Pelé, (décadas de 1950, 1960 e 1970).

Pois então, além da data redonda de 75 anos do primeiro gol do profissionalismo no Brasil, registro nesse post uma descoberta que fiz há pouco tempo no cemitério de Pinheiros, bairro onde moro, em São Paulo: o túmulo desse herói nacional tão esquecido nos dias de hoje (veja abaixo).

Detalhe do local onde repousa "El tigre" (Fotos: Marcão Palhares/ Futepoca)

Trata-se de um mausoléu coletivo da Associação Atlética Veteranos de São Paulo (vista geral abaixo), que está encostado no muro que dá para a calçada da rua Cardeal Arcoverde. Além de várias plaquinhas indicando o nome e datas de nascimento e morte de quem foi enterrado ali, há uma placa maior informando que a obra foi "iniciada em 1956 e terminada em 1963" pela associação, mais o nome dos sete integrantes da "Comissão de Ereção" (não é sacanagem, tenho a foto para comprovar!): Arnaldo Andreucci, José Centofanti, Paschoal Ferreti, Miguel Cury Jacob, Roque de Abreu, Candido Cortez e Cesar del Lucchese. Outra placa diz que os idealizadores foram José Centofanti e Candido Cortez, e que a imponente escultura de metal (um atleta segurando uma tocha) foi projeto de J.A.Zampol. Na lápide, ao fundo, há desenhos e os símbolos de federações paulistas de vários esportes, como a de futebol (à direita). No mausoléu também está enterrado Lorival Ponce de Leon (1927-1965), atacante do São Paulo entre 1948 e 1951, período em que conquistou dois títulos paulistas, disputou 107 partidas e fez 52 gols. O "Almanaque do São Paulo", publicado pela Placar em 2005, sequer registra a data de seu falecimento.

Curioso é que, enquanto escrevia esse post, no intervalo de São Paulo x Palmeiras, a Globo exibiu cenas raras de um confronto entre Paulistano e Palestra Itália de junho de 1925. E mostrou uma foto de Friedenreich, um dos maiores ídolos do antigo Paulistano, que, naquele mesmo ano, foi o primeiro clube brasileiro a excursionar pela Europa. Após uma goleada de 7 a 2 sobre a seleção da França, em plena Paris, a imprensa local passou a chamá-los de "os reis do futebol". Foram 9 vitórias em 10 jogos, com 30 gols marcados - 11 deles por Fried. Depois que o clube alvirrubro acabou, em 1929, parte de seus jogadores ("El Tigre" entre eles) se uniu aos atletas do também extinto alvinegro A.A.das Palmeiras para formar o primeiro São Paulo Futebol Clube, que misturou as cores dos dois, adotando o branco, vermelho e preto, e existiu entre 1930 e 1935. Mais tarde, uma brecha jurídica da época permitiu que o atual São Paulo fosse fundado com o mesmo nome, herdando também o escudo e as duas versões do uniforme. Interessante é que a FPF contabiliza o título paulista de 1931 para o Tricolor do Morumbi, mas sua própria diretoria não. Um "descende" do outro, mas são clubes distintos.