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quinta-feira, agosto 17, 2006

Derrubando mitos

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A derrota do São Paulo serve como uma baita lição para a imprensa. Não por causa da tradicional falta de atenção da mídia a clubes de fora do eixo Rio-São Paulo - o despreparo de muitos comentaristas ao falar do Colorado beirou o rídiculo - mas porque o bom desempenho do São Paulo no ano passado e nesse ano (sim, vice é um bom desempenho) mais uma vez levantou o irritante mito da "organização e planejamento".

Os comentaristas adoram falar sobre isso. Segundo eles, os times brasileiros só não são grandes porque não querem. O mantra "falta planejamento e organização" é repetido à exaustão. Claro que não discordo de que, sim, falta organização e planejamento aos clubes brasileiros. Meu Santos é um grande exemplo disso.

A questão é que uma análise mais rigorosa sobre o São Paulo mostra que o clube do Morumbi também tem as suas falhas.

Se fosse o Corinthians que não pudesse escalar seu centroavante-referência na decisão, veríamos por aí inúmeras críticas contra a "falta de planejamento e a diretoria dividida com a MSI".

Caso o Santos entrasse na Libertadores com um jogador improvisado na ala direita por toda a competição, choveriam os ataques contra a administração do clube.

Se o Flamengo contratasse um zagueiro do Goiás e na hora H não pudesse colocá-lo em campo... "só podia ser o futebol carioca mesmo".

Mas como é o São Paulo...

Na necessidade de se justificar o bom São Paulo, até mentiras foram ditas. Vi uns três comentaristas elogiando até o fato de que "o São Paulo não demite técnicos, eles saem porque querem dos times". Bem, digam isso pra Oswaldo de Oliveira, Cuca e principalmente pro Roberto Rojas.

Assusta mais ainda essa ode à organização do São Paulo se pensarmos que outros exemplos já deveriam ter alertado a imprensa. Por exemplo, o Cruzeiro. Em 2003, o time azul de MG ganhou tudo. Ergueram-se estátuas virtuais à família Perrela e a Vanderlei Luxemburgo, os comandantes do "profissionalismo" ímpar que Minas Gerais ensinava a todo o país. Bem, acabado o ano, o castelo de areia azul ruiu em cerca de dois meses, após a furada contratação de Rivaldo e a demissão de Luxa. Hoje o Cruzeiro ainda briga pelas primeiras posições, mas aquele superprofissionalismo a longo prazo dá seguidas mostras que era fogo de palha - é só ver que o técnico deles hoje é o Oswaldo...

Outro exemplo? Vamos mais ao sul do país, ao Paraná. Em 2004, o Atlético-PR brigou cabeça-a-cabeça com o Santos pelo título brasileiro. Ficou com o vice, um ótimo resultado para um clube mediano e que três anos antes havia conquistado o primeiro brasileirão da sua história. Mais uma vez encheu-se a bola de mais um clube "organizado e com planejamento", citando o estádio do clube como maior bastião disso.

Pois bem, o que virou o Atlético depois disso? A despeito do vice da Libertadores do ano passado, um time como todos os outros do Brasil, com as sucessivas trocas de técnicos (quem tá no comando hoje é o Vadão), contratações estranhas de jogadores e outros episódios não recomendáveis - sem contar o furacão Lothar Mattaus. Arrisco a dizer que o Atlético deve figurar entre os rebaixados desse ano.

Pode ser que o São Paulo conquiste o Brasileirão desse ano. É o maior favorito, ainda mais com a inevitável "tirada de pé" que o Internacional deve dar. Mas também pode ser que o clube do Morumbi acabe o ano sem títulos e até mesmo sem a vaga na Libertadores. Se isso acontecer, quero ver o que vai ser dito sobre o super exemplo de "organização e planejamento".

2 comentários:

Glauco disse...

Acho que a questão do profissionalismo vai além de escolha de técnicos e jogadores. E, se um time ganha ou perde um título, não é por isso que ele é mais ou menos profissional, até pq, como diria Nélson Rodrigues, "o mistério pertence ao futebol". O São Paulo pode ter pecado em alguns aspectos, mas sua diretoria tem se destacado na manutenção da espinha dorsal de uma equipe e também em negociações - este último aspecto, com claras jogadas anti-éticas, o que pode prejudicá-lo a médio prazo. Mas, dentro da mediocridade e do pântano que é a cartolagem brasileira, sem dúvida o São Paulo se destaca.

Marcão disse...

Pô, Glauco, entrei aqui com a intenção de postar quase que a mesma coisa que você escreveu. Ou seja: "em terra de cego, quem tem um olho é rei".
Concordo com quase tudo o que o Olavo escreveu, todos os meus amigos sabem que também condeno essa farofa e oba-oba da mídia em cima do São Paulo - que existe, sim, mas é só porque o time está por cima. Espera o time cair do pedestal que a pauta diária será, novamente, "pipoqueiros", "amarelões" etc etc.
Essa putaria de negociações "na mão grande" realmente ainda vão dar muita dor de cabeça ao clube. Mas que os atletas (e seus empresários) também são uns putas de uns safados, não resta a menor dúvida. Boleiro deslumbrado com empresário malandro e cartola velhaco é juntar a fome com a vontade de comer.
Mas no caso do Ricardo Oliveira não vejo "falta de planejamento", pelo menos por parte do São Paulo. Quando o contrato foi firmado até 10 de agosto, é porque, inicialmente, o segundo jogo decisivo estava marcado para o dia 9. A trapalhada foi da Conmebol.
No mais, mesmo que o São Paulo não ganhe nada este ano, creio eu que o Muricy não cai. Ou, pelo menos, não deveria cair. Se o time seguir nessa toada, está é muito bom!