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sexta-feira, julho 20, 2007

De gestos e desrespeito

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Não deve ter mesmo nada acontecendo nesse país que valha a para noticiar. Caso contrário, o que explica que Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo, Jornal do Brasil e Jornal da Tarde, ou seja, os maiores jornais do país, tenham dado destaque em suas primeiras páginas ao vídeo que “flagra” os “gestos obscenos” feitos por marco Aurélio Garcia e seu assessor Bruno Gaspar em seu escritório em Brasília? O JB colocou o fato na chamada da manchete. O Globo fez uma montagem de fotos acima, da manchete. Estadão e seu filhote, JT, publicaram fotos mais discretas. A Veja, claro, também bateu, em sua edição on-line. Vamos ver o que sai na próxima capa.

As notícias tratam o fato como escandalosa comemoração, um absurdo desrespeito às vítimas. Mas muito mais desrespeitosa é a leviandade com que a grande mídia tem tratado o tema do acidente. Na mesma noite, minutos após o ocorrido, todos os jornais culpavam o “apagão aéreo” e, em conseqüência, o governo federal. Eu não vi, mas o Paulo Henrique Amorim destacou, que no Bom Dia Brasil do dia seguinte Miriam Leitão e Alexandre Garcia vaticinavam a falta de comando e de investimentos do governo como grande culpada pelo acidente, por conta da ausência das ranhuras na pista de pouso, o chamado grooving, equipamento que auxiliaria o escoamento de água na pista.

Pois no dia seguinte, diversos especialistas, insistentemente questionados a respeito do equipamento, negaram a necessidade de sua instalação. O próprio presidente da TAM, obviamente interessado em atirar para longe a possibilidade de falha do avião ou de sua equipe, disse que a pista é segura, pelo simples fato de que, se houver água demais, os aviões não pousam. Mais tarde, aparecem evidências de que o avião não derrapou, até porque não parece tentar frear. E onde estão os iluminados da imprensa par a me explicar o que o governo tem a ver com isso?

Existe sim uma situação ra lá de complicada na gestão do setor aéreo, mas dizer que o acidente é culpa dessa crise, especialmente sem provas, sem nem ter dado tempo de começar a recolher provas, é leviandade. Leviandade muito maior que o gesto de Garcia, feito em âmbito privado, flagrado por câmeras espiãs da Globo (por que diabos tinha uma câmera apontada para a janela do escritório de alguém?), que parece imaginar seu direito expandir seu importado Big Brother para fora de seus estúdios. Tentarei lembrar de manter minhas janelas fechadas.

A explicação do assessor Bruno Garcia à Folha, quando acusado de ter comemorado a notícia, foi a seguinte: "Não aceito dizer que a gente comemorou. Foi um momento de extravasamento com a conclusão de que o acidente pode ter sido mais complexo do que em princípio chegaram a levantar. Foi uma reação de "poxa, tá vendo?"... Porque houve precipitação. Alguns setores tentaram atingir o governo politicamente e nos culpar. Agora está visto que não é bem assim". Para mim, é razoável.

PS.: Curiosamente, as versões populares dos jornalões, Agora Sp, Diário de São Paulo e Extra (a exceção é o JT, primo pobre do Estadão), não deram destaque para a notícia, que me parece talhada para o estilo mais sensacionalista que os colegas de profissão acham interessante adotar em veículos mais baratos (“popular” é basicamente mais barato, certo?). Alguns argumentarão que fatos da “política” não interessam ao povão, no que discordo. Com meus botões, divago que a notícia talvez fosse mais interessante, ou ainda, atraísse exclusivamente a classe média anti-lulista, anti-petista, conservadora e reacionária que consome os veículos tradicionais da mídia golpista, como diz Paulo Henrique Amorim. Mas meus botões às vezes viajam.

7 comentários:

maurício disse...

É realmente incrível a falta de vergonha dessa nossa mídia. Já usam de qualqyer recurso. Mas o que será que eles mais temem?
Ver de fato o Brasil fortalecer um caminho de transformação social?
Fico imaginando a alegria no peito que deve ter dado nessa turma quando viram esse acidente, vendo nele a chance de achincalhar o governo.

Olavo Soares disse...

Assino embaixo.

Nicolau disse...

Vi agora outro negócio, matéria da Agência Brasil: O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antônio Carlos Pannunzio, pediu a saída de Marco Aurélio Garcia do governo. Citação da matéria (grifos meus): "Segundo Pannunzio, a gesticulação de Marco Aurélio Garcia – gravada pela TV Globo de fora do gabinete do assessor, no Palácio do Planalto – representa a primeira manifestação pública do governo a respeito do acidente com o avião da TAM em que morreram mais de 180 pessoas."
Pública? Do governo? Do que ele está falando?

Thalita disse...

olha, pra ser sincera acho q a oposição tá fazendo o que é esperado dela: bate pra ver se cola.

Em relação à cobertura, aos comentaristas políticos, à parcialidade, é tudo verdade. Filmar da janela do gabinete pra ver a reação do cara ao JN é de uma mesquinharia sem limites.

Glauco disse...

Vão associar daqui a pouco os gestos com o infeliz "relaxa e goza" e taí o discurso da oposição com a classe média e alta, únicas afetadas pelo "apagão aéreo". Algum beócio desses analistas políticos comenta o "apagão do trânsito" de SP ou o "apagão do transporte público"? A notícia só saiu em jornal de classe média porque interessa a eles uma "estruturação de discurso". A dita "opinião pública" da qual, para muitos, o "povão" está excluído. Mais do mesmo.

Thalita disse...

e vc não acha q já teve gente juntando o relaxa e goza ao gesto do Marco Aurélio Cunha?

Anônimo disse...

O legal é notar que a imprensa parece mostrar um discurso de que está interessada em "reformar" o país. Ser "propositiva" e coisa e tal.
A "imprensa" funciona como nós. Cata o assunto que dá audiência e manda ver.
A diferença para nós,é que temos um pouquinho de auto-crítica, provavelmente porque a maioria de nossos leitores nos conhecem pessoalmente, e ainda temos um pouco de pudor e vergonha de fazer isso.
Apurar, esperar, reduzir o fato a um extravasamento, um alívio de tensão? Pra que? Isso não repercurte, não vende jornal, não dá margens a continuações durante a semana.