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domingo, julho 15, 2007

Uma tarde no Engenhão

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"O senhor conhece Jesus?". A resposta a essa pergunta poderia ensejar alguma galhofa ou coisa do gênero, mas o respeito à liberdade religiosa e o desejo de não prolongar a abordagem fazem com que o diálogo se encerre ali. "Seu amigo já me deu o panfleto". Nas filas de eventos do Pan, o que impressiona não são apenas marcas de produtos e alguns políticos querendo fazer seu nome, mas os seguidores das religiões neopentecostais, que acabam por dominar totalmente o cenário, tentando ganhar mais fiéis em meio aos torcedores.

São dez mil torcedores para assistir Brasil e Jamaica, partida válida pelo futebol feminino. O estádio João Havelange tem capacidade para mais de 40 mil, mesmo assim, as filas são mais extensas do que o necessário. O motivo é a tão importante segurança. O esquema para entrar é similar ao dos aeroportos: check in pra quem tem "bagagem" (bolsas, mochilas etc), e uma fila separada pra quem tem somente celulares, chaves e outros tipos de metais "pequenos". O detector é o vilão das filas.

Uma vez dentro do estádio, a sensação é a mesma de quando se vê o Engenhão do lado de fora. É monumental. Mas, ao contrário de outros estádios, pode-se enxergar bem a partida de qualquer ponto do estádio. Que maravilha, fizeram de verdade algum aparelho esportivo pensando no pobre espectador pois...

A partida? Ah, sim. Marta chegou na sexta-feira à noite da Europa. Ela tem 21 anos. Joga como gente grande. Corre, dribla, lança, chuta, assiste, pedala... É uma covardia contra as jamaicanas. Não é a única, as volantes brasileiras sabem organizar o jogo e marcar ao mesmo tempo. A Jamaica não é grande coisa? Pode até não ser. Mas pra quem gosta de cobrar "espetáculo" (alô, alô, cassandras do Dunga), sai satisfeito da partida.

A torcida também é um espetáculo à parte. Sem organizadas, quando um grupo tenta puxar o coro para alguma equipe do Rio, toma uma senhora vaia. Os estereótipos quando não se conhece o rival são muito importantes. Jamaica lembra Bob Marley e o compositor lembra... Pois é, não eram poucos os gritos de "larica" quando uma jamaicana pegava na bola. "Tá maconhada?", gritavam alguns a cada erro da adversária.

O ponto alto para o torcedor foi quando a delegação da Argentina chegou ao estádio para assistir ao final da peleja. Os xingamentos, diversos. Uma jogadora da seleção portenha ainda teve a presença de espírito de acenar pra torcida. Nenhuma tentativa de agressão, só vaias e ufanismos que marcam esse tipo de momento. Bastante saudável.

Na saída, um pastel grotescamente grande no bar que está à frente do local e que atende pela alcunha "Havelanche". Trocadalho com motivo comercial. É de se admirar a criatividade brasileira...

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