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quarta-feira, agosto 25, 2010

Panelinha

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Lendo "Memórias de um cafajeste" (Geração Editorial, 1996), do emblemático, polêmico e recém-falecido ator/diretor Jece Valadão, encontrei considerações curiosas sobre o chamado Cinema Novo, movimento vanguardista dos anos 1960 que trouxe uma leva de novos cineastas. Valadão teve um pé nessa história, quando idealizou, financiou e produziu, com direção de Ruy Guerra, o clássico "Os cafajestes" (foto), com Daniel Filho e Norma Bengel, que conquistou a admiração mundial a partir de um festival na Alemanha.

Mas, depois disso, se sentiu excluído por uma "panelinha" que passou a dar as cartas no cinema brasileiro. Algo parecido com o que aconteceu com muitos cantores e compositores após o Tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, figuras que ainda "organizam o movimento e orientam o Carnaval" no mercado pop do país. Tal postura, algo como "somos gênios, o resto não presta", me remete à figura patética de Arnaldo Jabor comentando política na Rede Globo, como um "iluminado", um "farol", um "sábio", um "especial". Pela análise de Jece Valadão, parece que foi sempre assim:

Exclusão
Surgiram diretores como o Bruno Barreto, o Cacá Diegues, o Jabor, o Domingos de Oliveira, entre vários outros. Eles fizeram uma panelinha e eu simplesmente fui excluído por não concordar com o tipo de filme que eles faziam: um cinema político, de protesto, de contestação. Eu sempre quis fazer cinema-arte, cinema-cultura; ou então, um cinema para ganhar dinheiro.

Cu de touro
Depois dos "Cafajestes", enquanto eu produzia filmes como "Boca de Ouro", "Navalha na Carne" e "Dois Perdidos Numa Noite Suja", o pessoal do Cinema Novo fazia um cinema que mais parecia o Cu do Touro. Mais sério que cu de touro não existe.

Atuação
A minha exclusão da panelinha do Cinema Novo tinha um lado engraçado, porque eu atuava, ao lado deles, no meio político cinematográfico, mas não era aceito no meio cultural. E cultural, aqui, eu coloco entre aspas...

Discriminação
Fui discriminado por toda a panelinha do Cinema Novo durante muito tempo, apesar de ter feito filmes como "Rio, Zona Norte", com o Nelson Pereira dos Santos; um filme respeitado pelos intelectuais até hoje. O que havia realmente era uma desinformação, pontos de vista políticos diferentes; mas puramente políticos. Eles não entendiam a minha postura de não querer fazer política e eu não entendia a postura deles de fazer política através do cinema.


Pois é. Que Jece Valadão não era santo, parece óbvio. Mas, pelo menos, ele assumia a intenção de fazer cinema "para ganhar dinheiro", o mesmo que todos os "iluminados", "políticos" e "intelectuais" do Cinema Novo passaram a fazer assim que ganharam notoriedade com o movimento. E um deles ganha dinheiro até para distribuir sua "sapiência" e "iluminação" como "comentarista político", em rede nacional. Eu preferia a cafajestice assumida e sincera do Jece...

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