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sexta-feira, dezembro 11, 2015

'Por causa do chope'

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'Você entra num bar'... e vê Paulinho da Viola, Chico Buarque e Toquinho
Se a maconha é de esquerda e a cocaína é de direita, a cerveja é cultura. Ou melhor: favorece a cultura, a criatividade e as produções artísticas. Relendo "Eis aqui os Bossa Nova", de Zuza Homem de Mello (Editora Martins Fontes, 2008), reparei no seguinte depoimento de Chico Buarque (os grifos são meus):
"Eu acho que o Rio até hoje ainda é o lugar onde há a maior confraternização de pessoas de diferentes atividades, com grande diferença de idade, talvez por causa da praia, por causa do chope, não sei explicar direito, mas o Rio permite esse trabalho de solidariedade entre as pessoas e os artistas principalmente. Você entra num bar, tem um cineasta conversando com um músico, um poeta e um cara do teatro, há um clima que favorece a criação de grupos abertos para uma porção de novidades."
Miriam Matos liberou cerveja pros irmão - e também entorna no trampo
Faz sentido: o próprio Futepoca nasceu dos encontros e das conversas no bar. Só que, pra fugir dessa apologia chicobuarqueana ao Rio de Janeiro, mas ainda falando sobre bebida e ideias criativas, encerro o post recuperando a notícia (já velha - leia aqui) sobre uma agência de comunicação de São Paulo que permite que seus funcionários bebam cerveja durante o expediente (!). "Desde que esses hábitos foram acrescentados à rotina da agência, coisas maravilhosas têm acontecido. Os colaboradores estão mais soltos, muito mais criativos e empenhados em traçar estratégias para colocar nossos clientes. Nunca houve nenhum problema quanto a isso", garantiu, ao jornal Extra (RJ), a dona da empresa, Miriam Matos. Difícil ou fácil? Esse é o emprego - e a classe patronal - que o Brasil precisa! E manda mais uma dúzia no 170!


quarta-feira, dezembro 18, 2013

100 anos de perdão

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Biggs, na época do crime famoso
Morreu hoje na Inglaterra o ladrão confesso Ronald Biggs, que participou com 16 comparsas do célebre "assalto ao trem pagador", há 50 anos. Tratava-se de um trem postal que fazia o trajeto entre Glasgow, na Escócia, e Londres. Naquele 8 de agosto de 1963, exatamente o dia em que Biggs completou 34 anos, a quadrilha dividiu um butim de 2,6 milhões de libras, uma montanha de 120 sacolas com 2,5 toneladas de dinheiro em espécie. Dizem que o valor nunca foi recuperado, mas isso tem toda pinta de ser aquela conversinha clássica da polícia... Além do roubo, Biggs era acusado de ter ferido gravemente o maquinista Jack Mills, que morreria seis anos depois. Concluído o assalto, os bandidos se reuniram em seu esconderijo, uma fazenda, para dividir a grana e planejar o futuro.

Tabuleiro que está no museu
Lá, eles comemoraram o sucesso e o aniversário de Biggs com charutos, bebidas e uma partida de Banco Imobiliário com as notas recém-roubadas. Mas os caras deixaram uma "brecha" comparável com a da Portuguesa no Brasileirão de 2013 (que escalou jogador irregular e, por isso, pode ir pra Série B): na manhã seguinte, deixaram o local após pagarem 28 mil libras a um cúmplice, para que limpasse qualquer vestígio, mas o manguaça fez um serviço beeeem porco. Assim, a polícia encontrou digitais de quase todos eles nas peças do jogo, em revistas e talheres utilizados no local (o tabuleiro do Banco Imobiliário usado por eles virou peça de arte no Museu Thames Valley Police). Preso rapidamente e condenado a 30 anos de reclusão, Biggs escapou do presídio de Wandsworth em 1965, ao pular o muro com uma corda de pano e fugir em uma caminhonete. Depois, fugiu para Paris, comprou um passaporte falso e fez uma cirurgia plástica - o que indica explicitamente que, para conseguir fazer tudo isso, ele ainda detinha (boa) parte do dinheiro roubado e meios para movimentá-lo.

Biggs e Mike, o filho brasileiro
Dizem que, nesse meio tempo, passou ainda por Bélgica e Panamá. Em 1970, mudou-se para Adelaide, na Austrália, com a família que havia formado antes do assalto - mulher e três filhos. Tranquilamente, trabalhou na montagem de cenários no Channel 10, até que um repórter o reconheceu. Daí, fugiu para Melbourne, permanecendo ali por algum tempo antes de escapulir para o Brasil no mesmo ano - e deixando toda a família para trás (em 1971, seu filho Nicholas, de 10 anos, morreria em um acidente de carro). Em 1974, Biggs foi flagrado por um repórter do jornal Daily Express no Rio de Janeiro, a partir de informações da Scotland Yard. Porém, não havia compromissos ou tratados de extradição firmados entre Brasil e Inglaterra e a então namorada do assaltante, Raimunda de Castro, estava grávida, situação que impedia a expulsão, segundo nossa legislação. O filho brasileiro, Michael, ficaria famoso no início da década seguinte como Mike, um dos integrantes do grupo musical infantil Balão Mágico, junto com Simony, Tob e Jairzinho.

Compacto dos Pistols gravado no Brasil
Até 2001, Biggs viveu incólume em terras brasileiras, até que, aos 72 anos, resolveu viajar voluntariamente à Inglaterra e se entregar à polícia (dizem que estava gravemente doente e não tinha recursos para se tratar). Porém, nos 30 anos de exílio em nosso país, o ex-assaltante se tornou uma "celebridade", temperando ainda mais sua biografia digna de enredo fictício. Proibido de trabalhar legalmente, ganhava a vida no Rio, nos anos 1970, vendendo xícaras e camisetas com sua foto e cobrando alguns dólares para almoçar e bater papo com turistas. Em 1978, foi visitado por dois dos Sex Pistols, Steve Jones e Paul Cook, que gravaram aqui uma música com letra e vocais de Biggs, a hilária "No one is innocent" - "Ninguém é inocente". O vídeo abaixo mostra os punks ingleses batendo na porta do famoso assaltante, no Rio, que sai da casa sem camisa e com uma garrafa na mão. Na sequência, sempre enchendo a cara, eles vão ao Cristo Redentor, a um bar, ao estúdio de gravação, à praia e a um baile repleto de mulatas seminuas sambando:


Bebendo, no clipe dos alemães
Mas nem tudo foi farra: em 1981, Biggs foi sequestrado e levado até Barbados por um grupo que esperava alguma recompensa da polícia britânica. Porém, o assaltante fez uso de artifícios na lei para ser mandado de volta ao Brasil. Voltou à vida de "artista", formou uma banda e gravou o disco "Mailbag Blues" (novo sarcasmo: "Blues da Mala Postal") e participou ainda, em 1991, da gravação da faixa "Carnival In Rio (Punk Was)", da banda alemã Die Toten Hosen. No vídeo abaixo, também gravado no Rio de Janeiro, Biggs canta e, no final, aparece rapidamente tomando cerveja (o inglês era manguaça!). Além de aproveitar muito bem a boa vida tupiniquim, o inglês também defendeu uns trocos no livro que conta a história do assalto, autorizado mediante pagamento pelos criminosos, "The great train robbery", e com seu próprio livro, "Odd man out" - "Um estranho no ninho".


Drake: 'queridinho' da realeza
OSSOS DO ORIFÍCIO - Apesar da vida fantástica e inacreditável, Ronnie Biggs foi um criminoso e, como tal, não deve ser louvado. Mas é engraçado que tenha sido uma das maiores e mais famosas pedras no sapato da polícia inglesa. Sua prisão era vista como "justiçamento moral". E é engraçado porque a própria Inglaterra, no século 16, adotou oficialmente uma política que incentivava a pirataria marítima (invasão, roubo e pilhagem) para engordar suas divisas, tendo como principais vítimas os espanhóis - que, aliás, saqueavam os índios e as terras latino-americanas. Naquele tempo, o roubo (o grifo é nosso) de navios, com incentivo oficial da rainha Elizabeth I, era prática corriqueira. Francis Drake, o pirata mais famoso, ganhou da realeza os títulos de capitão e vice-almirante, depois de saques espetaculares, violentos e muito lucrativos. Por essa ótica, visto como um inglês entre os ingleses, Ronald Biggs poderia até justificar o dito popular de que "ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão". Ou, no mínimo, como diz o título de sua música gravada com os Sex Pistols, "ninguém é inocente"...


quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Com Neymar e Muricy, Santos entra na campanha #VemSeanPenn

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Há oito dias no YouTube, o vídeo #VemSeanPenn teve mais de 1,15 milhão de visualizações e já é um dos virais mais bem sucedidos de 2013 no Brasil. A peça promocional, bolada pela Agência Click, serve para divulgar o filme Colegas, que será lançado no dia 1º de março no circuito comercial, e também para promover o sonho de um dos protagonistas do longa, Ariel Goldenberg. Ele, assim como os outros dois atores que estrelam a película, tem síndrome de Down, e sonha encontrar o seu grande ídolo, o ator estadunidense Sean Penn.

Para realizar o sonho de Ariel, muitas pessoas estão divulgando nas redes sociais o vídeo, para que o ator e militante, chavista de carteirinha, venha ao Brasil assistir à estreia do filme com Ariel. E, hoje, a campanha ganhou reforços de peso. O Santos Futebol Clube gravou depoimentos de seus atletas, como Neymar, Montillo, Rafael e Miralles, além do treinador Muricy Ramalho e de Edinho, filho de Pelé, o único que arrisca o inglês para convidar com mais ênfase Sean Penn (o ex-goleiro cresceu nos EUA).
Veja o vídeo produzido pelo Santos abaixo:

terça-feira, janeiro 29, 2013

O Mestre: Cachaça não é tíner não

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Quando ouvia a clássica marchinha de Mirabeau Pinheiro, Lúcio de Castro, Héber Lobato e Marinósio Filho, imortalizada no Som na Caixa Manguaça nº 51", "Você pensa que cachaça é água", sempre entendi, na letra, um teor de um "pres'tenção". Uma dose de toque amigo para manguaças profissionais buscarem uma hidratação mais convencional.

Ao assistir a "O Mestre", de Paul Thomas Anderson, ocorreu-me uma leitura um pouco diferente. Em vez de uma crítica a hábitos etílicos exacerbados do interlocutor, imaginei que para a marchinha um diálogo em grau mais professoral, um ensinamento para explicar a diferença entre cachaça e água. A distinção, entendam, está praticamente dada por uma questão de fonte dos recursos (alambique versus ribeirão), quase uma denominação de origem controlada (DOC, como em vinhos, espumantes, queijos e quetais).

O devaneio, inspirado pela aspiração de chegar ao bar, decorre de algumas das sequências do referido longa-metragem. A produção mostra a relação peculiar (lá de onde eu venho, o nome disso seria "doida de pedra") entre Freddie Queuel (Joaquin Phoenix) e Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffmann), livremente inspirado em Lafayete Ron Hubbard, fundador da Cientologia -- ideário que teve repetidos quinze minutos de fama em 2001, quando o galã Tom Cruise trocou sua então esposa Nicole Kidmann pela doutrina -- não foi assim tão simples, mas me falta informação para redator de coluna de celebridades.

Foto: Divulgação

No filme "O Mestre", Freddie Quell (e seu fígado) é interpretado por Joaquin Phoenix. C
oquetéis com itens como reveladores e fixadores de
filme. Espera-se que dublês tenham participado de cenas como as da foto


Ao caracterizar os personagens, o filme destila Dodd como um intelectual com talento para autoritário e ambição para messianismo. Queuel começa como um marinheiro traumatizado da Segunda Guerra Mundial, alcoólatra e viciado em sexo que perdeu um parafuso antes ou depois de cruzar o Atlântico dos Estados Unidos para a Europa. Ao voltar, exercita hábitos de adicto de estágio avançado -- de beber perfume e daí para baixo. Bem para baixo.

Em quatro sequências diferentes, a personagem manufatura coquetéis peculiares. No primeiro, em meio a um laboratório de revelação fotográfica de poses preto e branco, ele parece misturar sais de revelação com fixador, além de limão. E bebe. Depois, seu elixir vira suspeito de ser veneno, quando um camponês, colega na colheita de repolhos, não tolera a mistura não identificada e sucumbe.

Em outro trecho, antes de simular relações sexuais com uma escultura de areia na praia, o preparado leva água de coco e... tíner (!). Em outra, além de uísque e vodca, novos toques de tiner, agora filtrado (?!?!) em pão velho. E a mistura é apreciada pela dupla, embora o marinheiro indique que é capaz de fazer outras variações da verdadeiramente marvada, embora não repita a receita.


Foto: Divulgação

Na praia, a espera da volta para os Estados Unidos, um drinks (sic) de
água de coco e tíner, para rebater o calor. 

Assustado, fui ao Google.

Se o Sulfito de Sódio, componente principal de um dos principais reveladores P&B do mercado, também é usado como antioxidante e conservante de alimentos (não é tão tóxico, exceto para alérgicos ao produto). Tíner, por sua vez, que contém acetona ou butanona ou outros hidrocarbonetos, é solvente peculiar que pode produzir efeitos alucinógenos quando inalado, a exemplo do que acontece na cola de sapateiro. Não à toa, é vendido apenas a maiores de 18 no Brasil.

Não consegui ir além de referências a inalantes em fontes em português.

No caso do filme, vale ressaltar que, embora Lancaster Dodd tenha elementos claros de L. Ron Hubbard, há dúvidas sobre a existência de uma inspiração única para Quell, colocado como um anti-alterego do "Mestre", uma sombra impulsiva, animalesca e caricata. Mas uma corruptela reveladora do caráter...

Com essa informação, fiquei mais satisfeito de saber que, talvez, ninguém tenha chegado a degustar esse tipo de coquetel.

Ao mesmo tempo, e voltando ao clássico do cancioneiro popular brasileiro, foi a comparação a drinks com tíner e desinfetante que revi minha interpretação. Nessa perspectiva, talvez cachaça fique parecendo quase água. Na dúvida, melhor não arriscar.

sexta-feira, outubro 19, 2012

Daniel Craig é o James Bond mais manguaça da série 007

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Da série Estatísticas Nonsense: segundo levantamento publicado no Facebook da The Economist, fazendo-se uma comparação entre cada um dos James Bonds encarnados no cinema por seis atores diferentes, o que mais entornou Martinis (a bebida predileta do agente britânico) foi o atual, Daniel Craig. O gráfico abaixo mostra também quem são os campeões no quesito conquistas amorosas e assassinatos. O mais "afetuoso" foi o Bond vivido pelo ator australiano George Lazenby, que fez um único 007, "A Serviço Secreto de Sua Majestade", já o mais mortal foi Pierce Brosnan.

Confira a diferença considerável entre o consumo alcoólico do Bond de Craig para os demais. Estaria o agente da Rainha descontando o estresse da profissão no copo?


(Via @marinalang)

domingo, outubro 14, 2012

O "peixe grande" Miralles marca dois e Santos supera o Vasco

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"O maior peixe do rio fica desse tamanho porque nunca é pego", diz uma mulher misteriosa a Edward Bloom, personagem de Ewan McGregor, quando ele se aventura a sair de sua cidade natal na fábula de Tim Burton Peixe Grande e suas histórias maravilhosas. A mensagem era de que, às vezes, você pode ser um peixe grande em um rio menor, mas ser grande em um maior, ou no oceano, exige muito mais destreza e perícia, além de outros tantos atributos como personalidade.

O generoso Miralles homenageia Felipe Anderson (Santos FC)
Ezequiel Miralles é argentino, mas só teve poucas chances em uma equipe grande de seu país, o Racing. Em passagem nada memorável, foi para o Everton, do Chile, e foi parar no Colo Colo, onde finalmente apareceu como um jogador capaz de decidir. Ídolo de um grande sul-americano, chamou a atenção de outros clubes e foi parar em outro grande do continente, o Grêmio. Durante um ano, não conseguiu fazer seu futebol fluir. Pediu para nadar em outras plagas, e foi atendido.

Chegou à Vila Belmiro, lugar por vezes milagrosos, onde se multiplicam meninos... e peixes. Finalmente conseguiu aquilo que os jogadores tantos pedem (embora alguns nem sempre mereçam), uma sequência de partidas. Contra o Vasco, hoje, o argentino fez sua terceira partida seguida como titular, feito obtido graças à ausência de Neymar. Contra o Botafogo, marcou um gol e, contra outro carioca na tarde deste domingo, fez dois.

Miralles fez um pouco antes dos dez da primeira etapa, após assistência de Rosimar Amancio, também conhecido como Bill, o que muitos de forma maldosa julgaram ser um milagre relacionado ao feriado religioso de sexta-feira. A etapa inicial do Santos foi muito boa e o Peixe poderia ter ido para o intervalo com uma vantagem ainda maior. Com dois laterais de ofício novamente no lugar de meias improvisados, houve triangulações dos dois lados do campo, com velocidade na saída de bola e objetividade ofensiva.

Logo no início da etapa final, vem o segundo gol. Felipe Anderson dá a assistência, Bill puxa a marcação e a bola chega limpa para Miralles, de primeira, finalizar como só um atacante com confiança faz. O dois a zero, na prática, determinou o fim do jogo, já que o Santos passa a segurar os laterais e o Vasco, mesmo com mudanças feitas por Marcelo Oliveira para levar o time adiante, tem a posse de bola, mas não chega lá. Os passes errados, em especial na hora da definição, predominam e a falta de assertividade do Vasco e a falta de capricho do Peixe na hora de chegar lá confirmaram a vitória dos donos da casa.

Com 41 pontos, o Santos está a onze da zona da Libertadores e catorze à frente da zona do rebaixamento, ou seja, deve permanecer na intermediária da tabela. Mas o fato de a equipe finalmente conseguir um relativo padrão de jogo, se livrando um pouco da dependência de Neymar, que disputou somente dez das 30 partidas do Peixe no Brasileirão (cadê a CBF para pagar parte do salário?), é animador. E o peixe argentino Miralles cresce, junto com “peixinhos” como Felipe Anderson. Mas o cardume precisa engrossar para 2013... 

sexta-feira, março 02, 2012

A versatilidade do cinema nacional

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(Via Thiago Balbi)

quarta-feira, novembro 09, 2011

Meme dos Filmes 08 – Filme cebola (o mais triste de todos)

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O Futepoca está entrando, com algum atraso, no Meme dos Filmes proposto pelo Borboletas nos Olhos. A ideia é fazer 31 posts sobre filmes, cada um com um tema específico. Já perdemos uma meia dúzia (e é bem capaz que deixemos outros pelo caminho também), mas garantimos presença no tema 8, o Filme Cebola (O mais triste de todos), e logo com três filmes. Aguardamos ansiosos os comentários – e os filmes tristes de cada leitor.

(Atualização: Confira também o Filme Cebola do Borboleta, o próprio cinema italiano, do Lágrimas de Crocodilo, do Will You Do The Fandango, do Hugo Avelar - Menina de Ouro bem cotado - e do Pergunte ao Pixel.)


Sobre Meninos e Lobos (Por Nicolau)

É interessante que um dos diretores com os pés mais fincados na realidade em nossos dias tenha nascido em 1930, uns quase 50 anos antes da internet. Não que Clint Eastwood fale de tecnologia em seus filmes. É que ele fala de pessoas, de relações, de mentiras, de pequenas tragédias cotidianas. Daí a maior parte de sua obra recente ser, além de tão boa, tão triste. Dois filmes mostram esses elementos se misturando com mais acidez e foram por isso os escolhidos deste fórum de manguaças como os mais tristes.


Um deles é Sobre Meninos e Lobos (Mystic River), que conta várias histórias. A mais imediata é a das investigações sobre o assassinato de uma jovem na cidade de Mystic River. Ela é filha de Jimmy Markum, interpretado por um magistral Sean Penn, um delinquente aposentado. A investigação oficial é conduzida por Sean Devine (Kevin Bacon). E as suspeitas recém sobre Dave Boyle (Tim Robbins, também impressionante). Os três, porém, compartilham uma história anterior. É a história de três garotos, um dos quais foi sequestrado e abusado. Os outros dois presenciaram, mas não impediram o fato. As duas trajetórias se chocam e nada de bom se tira daí.

A condução do filme por Eastwood é simples e direta. Sua câmera não tenta chocar ninguém, apenas apresenta os fatos e os personagens e deixa espaço para as interpretações viscerais dos excelentes atores. A sensação no final do filme é de que não havia como escapar daquilo. Não havia opção para aquelas pessoas desde o momento em que tudo começou, quando eram crianças. Tudo estava determinado não por uma força superior, mas pela simples natureza das pessoas.

É também de pessoas que fala o segundo colocado da lista, também de Eastwood. A segunda metade de Menina de Ouro deve ser de fato a coisa mais objetivamente triste que eu já vi. A história traz Frankie Dunn (o próprio Clint), treinador de boxe veterano e turrão, que faz o maior esforço possível para se afastar de todo mundo ao seu redor. O único próximo é o amigo de longa data Eddie “Scrap-Iron” Dupris (Morgan Freeman, excelente), ex-lutador que cuida do ginásio de Frankie. Surge então a boxeadora Maggie Fitzgerald (Hillary Swank, perfeita) que insiste até se tornar discípula de Dunn e sensação do circuito de boxe feminino.

Essa é a primeira metade do filme. Eastwood faz você se envolver na relação entre os dois personagens, a lutadora obstinada que resgata o velho de seu ostracismo auto-imposto após se afastar da única filha. O veterano que dá a uma mulher pobre e sem grandes perspectivas a chance que ela precisava para mostrar seu talento. Uma jornada de perdedores, tão ao gosto de Hollywood e de todos nós. Ele faz você gostar desses personagens, desejar o melhor para eles.

Então, ele os quebra.

Literalmente, no caso de Maggie, que fica tetraplégica da forma mais imbecil e desgraçada possível. O filme passa então a ser a luta da moça para conseguir o direito de morrer – e do velho para aceitar o destino da filha adotiva e seu papel nele. Destaque para a escrota família de Maggie e para as discussões teológicas de Frankie com o padre de sua paróquia – traço comum nos filmes do diretor, o olhar ácido sobre a instituição familiar e religiosa. Porque, no final, nada na história tem um sentido maior. “Não tem nada a ver com merecer”, citando Will Munny, também personagem de Eastwood. É tudo apenas muito, muito triste.

O Homem Elefante (Por Glauco)

Em 1982, pela primeira vez chorei pro causa de futebol, em uma derrota que muitos devem ter derramado suas primeiras lágrimas em função de um time. Mas não foi só a seleção que me emocionou naquele ano. Aos 7 anos, também não resisti ao drama de E.T e seu amigo terrestre, Elliot, e chorei no extinto Alhambra, cinema de Santos. Lembro do meu pai dizendo que era pra eu não ter vergonha pois muito marmanjo da idade dele também chorava por ali.

Claro que a intenção de Spielberg era emocionar em alguns momentos da história mas, convenhamos, E.T não é propriamente um filme triste. Assim como há outros filmes que não são tristes mas tem momentos que fazem a gente verter algumas lágrimas. Lembro de ter sucumbido em mais de uma cena de O Filho da Noiva, por exemplo, que equilibra a comédia e o drama de uma forma que parece ser toda própria do cinema argentino (ou do argentino em geral, quem sabe). Mas nem toda película triste causa o tal “efeito cebola”.

Pra mim, o filme mais triste que me lembro ter assistido não me fez derramar uma lágrima. Não durante a exibição, ao menos. O Homem Elefante, de David Lynch, tem alguns dos elementos que fazem uma história ser triste. Mesmo. O protagonista é alguém que tem uma doença grave. Não um mal qualquer, mas uma enfermidade que o faz ter deformações em 90% do corpo, sendo o rosto especialmente afetado. Além disso, a película é baseada numa história real, John Merrick de fato existiu, foi figurante em um circo e morreu aos 27 anos de idade.


Já seria uma história suficientemente triste por si só, mas o diretor é David Lynch. Durante boa parte do filme (todo em preto e branco) não se vê o rosto do homem-elefante, coberto por um saco roto ou ocultado na penumbra quando ele apanha do seu “dono”. O foco são os personagens que interagem com ele nessa parte da narrativa. Desnecessário dizer que ele sofre horrores não apenas nas mãos do seu “agente”, como descrito no parágrafo anterior, mas com a repulsa estampada no rosto e nos atos de outros personagens. O médico que tenta ajudá-lo, vivido pelo brilhante Anthony Hopkins, é uma das exceções, e uma das cenas inesquecíveis do filme são seus olhos marejados quando ele contempla a figura de John Merrick (grande atuação de John Hurt).

Quando o rosto do protagonista se mostra ao espectador, quem vê o filme já nem chega a estranhar tanto as deformidades, cativado que está pela figura dócil e pelas agruras pelas quais passa o personagem. A partir daí, a dor que se sente pelo destino (previsível e aparentemente inexorável) do personagem é constante.

“Os outros é que são os monstros, não ele”, sintetizou uma pessoa que viu o filme comigo uma vez. É um dos modos de ver, mas não o único. A forma como o espectador é inserido no filme faz com que ele conheça primeiro o digamos, “espírito” de Merrick e depois seu fenótipo. Mas, no dia a dia, não é o que acontece. E se reconhecer um pouco naqueles personagens que rejeitam o homem elefante ou admitir nos preconceitos e rejeições preconcebidas que acalentamos às vezes sem saber ou querer, é perturbador. Nós também somos um pouco (ou muito) “monstros” e, como disse o Nicolau acima citando Os Imperdoáveis, “não tem nada a ver com merecer”. Os gritos de Merrick em uma das cenas altas do filme ecoam muito tempo depois dele terminado: "Eu sou um ser humano! Sou um homem!". E a fé na humanidade se esvai mais um pouquinho...

sexta-feira, setembro 16, 2011

A Beleza Americana e o Uno primordial: o bar

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por Maurício Ayer

A poeira da pedra filosofal, o éter onde as esferas navegam em perfeita harmonia. Que elemento mágico permeia esses dois filmes, tão distintos para um observador que se apegue a detalhes inócuos, mas que qualquer ser dotado de sensibilidade poderá identificar como emanações de um mesmo princípio, desdobramentos da Ideia, do Uno universal, ou, por que não?, o que parece óbvio, o amor que move o sol e outras estrelas?

American Beauty - Flying Bag


O mais bebado de todos - bebado caindo - olha o que a cachaça faz


O emo que chora diante da dança do saco plástico não se comoveria diante do balé deste inocente cowboy de Boituva (ou de outra paragem, que importa, falamos aqui da essência), bom selvagem que se entrega de corpo e alma ao movimento do universo, que corporifica em si mesmo o ponto de mutação, seguidor involuntário de Confúcio ou Lao Tsé?

Se o princípio do belo é um só, será que ao presenciar o emotivo discurso de seu vizinho enquanto assistem às brutas mas profundamente belas imagens da dança do manguaça a menina iria com igual ternura tomar-lhe a mão como sinal do amor nascente e beijá-lo, para aplacar qualquer dúvida que pudesse macular a pureza desse instante?

Somente um garçom pode fornecer imediatamente os elementos necessários para encontrar essas respostas.

quarta-feira, julho 20, 2011

Manguaças no cinema: Cantona, Ken Loach e um belo filme

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Em meados da década de 2000, o polêmico ex-jogador francês Eric Cantona rodou a França com um uma ideia na cabeça e um roteiro embaixo do braço. Procurava um diretor para sua autobiografia. Depois de penar um tempo, um produtor amigo deu um toque pra ele: na Inglaterra seria bem mais fácil achar quem topasse. Razoável o conselho, uma vez que no Manchester United ele é Eric, the King, uma lenda, considerado um dos principais responsáveis por levar o time a sua condição de potencia global do esporte. Cantona pesquisou e encontrou o diretor esquerdista e fã de futebol Ken Loach. Ele pegou o roteiro, deu uma lida e, bem, mudou praticamente tudo.

Essa é a história que eu ouvi para o nascimento de À Procura de Eric, belo e sensível filme que fala, sim, da biografia do grande Cantona. Mas coloca sob o foco outro Eric, um carteiro torcedor do Manchester e fã do atacante, membro da classe trabalhadora que Loach sempre faz questão de retratar.

Eric está há anos numa espécie de piloto automático na vida, vivendo numa casa bagunçada e dominada pelos dois difíceis garotos, filhos de seu segundo casamento. Do primeiro casório vem seu maior fantasma: a ex-mulher, Lily, a quem ele abandonou com uma filha pequena.

No meio dessa vida cinza, Eric resolve aliviar em casa com um pouco de maconha roubada do filho mais velho. Em seu quarto, começa um diálogo com o pôster em tamanho natural que tem de seu xará centroavante até que... Cantona responde. Não só: divide o baseado e dá conselhos e força para o carteiro recolocar sua vida nos eixos.

O filme varia entre momentos de drama e comédia (na maioria protagonizados pelos companheiros de trabalho e Eric, também irmanados pela cerveja e a paixão pelo Manchester), numa trama muito bem conduzida e um desfecho emocionante. Os impasses são resolvidos, como preza Ken Loach, coletivamente. Numa cena particularmente interessante, Eric questiona Cantona sobre qual foi o maior momento de sua carreira, enumerando vários gols – que o diretor faz questão de mostrar para nosso êxtase. Cantona então o corrige, dizendo “não foi um gol, foi um passe”. E o ídolo completa: “You must always trust your team mates”.


PS.: Vendo as jogadas de Cantona, pensei no que seria aquela França de 1998 com ele no ataque...

sábado, junho 04, 2011

Mais cinema e futebol

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Até este domingo, 5, São Paulo recebe o 2° Cinefoot - Festival de Cinema de Futebol. A etapa paulistana não é competitiva, diferentemente do que aconteceu no Rio de Janeiro na última semana. As exibições serão no Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu.

Os vencedores, que se tornam pedidas relevantes, foram Copa Vidigal, de Luciano Vidigal, na categoria melhor longa-metragem. Entre os curtas, o caneco foi para o espanhol Porque há coisas que nunca se esquecem.

O primeiro conta a história de um campeonato de futebol de favelas promovido no morro que dá nome à produção. O objetivo da disputa era colocar as comunidades para disputar em um campo que constrói, e não em batalhas entre facções do crime organizado.

Foto: Divulgação
 Copa Vidigal, disputa relevante entre comunidades

O segundo entrou para o livro dos recordes como o filme mais premiado da história, com pra lá de 300 agraciações. Quatro meninos jogam bola em uma arena inigualável: a rua onde moram. Aí, o atacante se empolga e dá uma de Palermo (ou de Baggio) e isola a redonda para a casa da velha má. O drama é se a gorduchina poderá ser resgatada e sobre as revanches maquinadas pela molecada.


Porque hay cosas que nunca se olvidan por laorilla

Além desses, há um que especialmente me interessa, "Primeiro Tempo", de Rogério Zagallo. O documentário conta como foi a despedida da torcida palmeirense do Estádio Palestra Itália, que, demolido, dará lugar à Arena homônima. O documentário é curto mas mostra torcedores e funcionários na hora do "até breve" para a casa alviverde.

Até uma persona non grata no Futepoca, o ex-governador José Serra, concordou que vale a pena: "Bela dica!!!!! Futebol e Cinema é tudo de bom!!! Abraços palestrinos!!!" (cá entre nós, não sei o que achar pior: o excesso de pontos de exclação ou a lembrança de que se trata de um palmeirense...)

Mas tem produções sobre São Paulo, Corinthians e por aí vai. A programação está aqui.

sexta-feira, junho 03, 2011

Deus e o diabo no bar de sinuca

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Ao assistir à disputa entre filósofos alemães e gregos, na versão do Monty Python, e ao Coríntios contra Apocalipse, da TV Pirata, me lembrei de um post que está na gaveta há um tempão.

Assisti mês passado ao episódio sobre a evolução das espécies da série A Espiritualidade e a Sinuca, dirigida por Lírio Ferreira (de Baile Perfumado, Cartola - Música Para os Olhos e O homem que engarrafava nuvens).

Embora a definição de "documentário" não seja perfeita – pelo menos não em strito sensu – a produção da Somos 1 Só é bem interessante até nas experimentações de misturar depoimentos reais com atuações e muito humor.

Ao que consta, a série foi ao ar na Sesc TV e na TV Cultura, onde assisti ao trem. Há outros episódios sobre outros temas dirigidos por outros diretores. Mas vamos logo ao que vi.

De um lado, eles entrevistam para lá de 20 religiosos de profissões de fé variadas sobre temas diversos, com ênfase para a evolução em oposição à visão criacionista do mundo e do ser humano. O teólogo, filósofo (e salva-repórter que precisa de aspa) Mário Sérgio Cortella é quem costura, com linha-dura, as idas e vindas.

A coisa já vai bem demais porque os depoimentos são intercalados por um hipotético diálogo entre Deus e o diabo, hereticamente irmanados na cachaça. Tudo se passa, como sugere o título, em torno de uma mesa de sinuca. Melhora ainda porque a figura de Deus é desempenhada por ninguém menos do que José Mojica Marins, consagrado como Zé do Caixão. Mário Bortolotto, igualmente divertido, é o diabo.

A conexão com o bar já mereceria a menção no Futepoca. Mas o que o post do Marcão me lembrou foi de um trecho da produção, em que o escritor, jornalista e genial manguaça Xico Sá aparece como repórter de campo em uma partida de futebol.

No gramado estão os evolucionistas do Big Bang contra os criacionistas do Fiat Lux. O treinador dos primeiros é ninguém menos do que Charles Darwin (Joça Reiners Terron).

Em meio a um monte de trocadalhos ("o time está evoluindo bem" e "faltou mais criação no meio"), a peleja ludopédica é o instrumento para tratar das duas visões antagônicas em grande medida.

Como não achei o trecho em questão, fica só o vídeo com o início de A Espiritualidade e a Sinuca - Demografia, de Lírio Ferreira, para sentir o clima.

domingo, março 27, 2011

Você é o Pelé?!?

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Do filme "Os trombadinhas", 1979.

quarta-feira, março 16, 2011

Cachaça influenciou o canto 'suave' da Bossa Nova

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Lendo "Mário Reis - O fino do samba", de Luís Antônio Giron (Editora 34, de 2001), mergulhei no universo musical da década de 1920, quando as gravadoras começaram a contratar cantores brancos e orquestras regidas por europeus para "domesticar" e popularizar o samba que negros como Sinhô, Ismael Silva, Cartola e Nilton Bastos produziam nos morros cariocas. Entre esses cantores estavam Francisco Alves, Jonjoca e, principalmente, o biografado por Giron, Mário Reis (foto), que sintetizou um novo jeito de cantar, de forma "falada" e sussurrante (ou crooner), antecipando em 30 anos o estilo Bossa Nova de João Gilberto e criando uma contraposição aos vocais "gritados" e operísticos de cantores como Vicente Celestino. Dessa forma, o sotaque malandro do morro pôde ficar palatável para os ouvidos aristocráticos do público consumidor de discos.

Curioso é que a cachaça deu sua contribuição para a modernização de nossa música popular. O livro conta que foi o violonista e compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, quem orientou Reis na nova maneira de cantar e quem escreveu as canções adaptadas para suas primeiras gravações no estilo vocal (ouça o sucesso "Jura", de 1928, no vídeo abaixo). "Sinhô vivia em grandes dificuldades", contou, em 1971, o jornalista Brício Abreu. "Ria constantemente e isso era uma aflição para mim: ele tinha um único dente, grandalhão, na boca. Os outros, dizia que a cachaça tinha levado", acrescenta. Além de ter ficado banguela, Sinhô ainda teve, como consequência da bebida e da boemia, uma tuberculose que encurtava seu fôlego. Assim, preferia "dizer" a canção, em vez de soltar um vozeirão que não tinha. E Mário Reis, ao ouvi-lo cantar, adaptou para si essa forma "suave" de interpretação.



A entrevista que virou porre
Determinante no início, a cachaça também marcou presença no retiro de Mário Reis. Em 1971, quando lançou o último disco e fez três shows de despedida da vida artística no Golden Room do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, o veterano cantor foi entrevistado pelo jovem repórter Silio Boccanera, do Jornal do Brasil (que mais tarde ficaria conhecido pelo público como repórter do programa Fantástico, da TV Globo, com uma barba comprida - o que inspiraria o personagem Túlio Bocanegra, no programa humorístico Chico Anysio Show). Boccanera tinha 23 anos e não sabia absolutamente nada sobre Mário Reis, que vivia recluso e longe da mídia desde os anos 1930. O encontro, como não poderia deixar de ser, aconteceu num bar. "Fomos enchendo a cara juntos: esvaziamos uma garrafa de Vat 69 [uísque], calibrado com Oppenheimer Goldenberg, um destilado alemão", contou o repórter.

Segue o livro: "Repórter e entrevistado estavam no maior porre. Silio, que na época era fã de rock, lembrava de Mário falando algo como: 'Há muito barulho por aí. Muita música de neurose'. À medida que a noite avançava, os dois foram ficando, além do garçom. 'Ele me deixou muito à vontade e, para mim, a qualidade do restaurante do Country [Club, no Rio de Janeiro] era uma novidade'. E Mário não parava de falar. A impressão de Silio foi de a conversa não mais terminava. 'Saí de lá trocando as pernas e ele me acompanhou até meu Fusca. Era um gentleman'.", finalizou Boccanera. A gravação feita em cassete naquele dia é o depoimento mais importante de Mário Reis jamais documentado. O cantor faleceria em 1981, aos 73 anos. No vídeo abaixo, um dos únicos registros filmados de uma interpretação sua, nos anos 1930:



Ps.: Ah, e quase ia esquecendo de incluir o futebol: Mário Reis jogou pelo América, seu time do coração, e foi vice-campeão do Torneio Juvenil Interclubes do Rio de Janeiro, em 1924. Foi o artilheiro da competição, com seis gols.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Panelinha

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Lendo "Memórias de um cafajeste" (Geração Editorial, 1996), do emblemático, polêmico e recém-falecido ator/diretor Jece Valadão, encontrei considerações curiosas sobre o chamado Cinema Novo, movimento vanguardista dos anos 1960 que trouxe uma leva de novos cineastas. Valadão teve um pé nessa história, quando idealizou, financiou e produziu, com direção de Ruy Guerra, o clássico "Os cafajestes" (foto), com Daniel Filho e Norma Bengel, que conquistou a admiração mundial a partir de um festival na Alemanha.

Mas, depois disso, se sentiu excluído por uma "panelinha" que passou a dar as cartas no cinema brasileiro. Algo parecido com o que aconteceu com muitos cantores e compositores após o Tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, figuras que ainda "organizam o movimento e orientam o Carnaval" no mercado pop do país. Tal postura, algo como "somos gênios, o resto não presta", me remete à figura patética de Arnaldo Jabor comentando política na Rede Globo, como um "iluminado", um "farol", um "sábio", um "especial". Pela análise de Jece Valadão, parece que foi sempre assim:

Exclusão
Surgiram diretores como o Bruno Barreto, o Cacá Diegues, o Jabor, o Domingos de Oliveira, entre vários outros. Eles fizeram uma panelinha e eu simplesmente fui excluído por não concordar com o tipo de filme que eles faziam: um cinema político, de protesto, de contestação. Eu sempre quis fazer cinema-arte, cinema-cultura; ou então, um cinema para ganhar dinheiro.

Cu de touro
Depois dos "Cafajestes", enquanto eu produzia filmes como "Boca de Ouro", "Navalha na Carne" e "Dois Perdidos Numa Noite Suja", o pessoal do Cinema Novo fazia um cinema que mais parecia o Cu do Touro. Mais sério que cu de touro não existe.

Atuação
A minha exclusão da panelinha do Cinema Novo tinha um lado engraçado, porque eu atuava, ao lado deles, no meio político cinematográfico, mas não era aceito no meio cultural. E cultural, aqui, eu coloco entre aspas...

Discriminação
Fui discriminado por toda a panelinha do Cinema Novo durante muito tempo, apesar de ter feito filmes como "Rio, Zona Norte", com o Nelson Pereira dos Santos; um filme respeitado pelos intelectuais até hoje. O que havia realmente era uma desinformação, pontos de vista políticos diferentes; mas puramente políticos. Eles não entendiam a minha postura de não querer fazer política e eu não entendia a postura deles de fazer política através do cinema.


Pois é. Que Jece Valadão não era santo, parece óbvio. Mas, pelo menos, ele assumia a intenção de fazer cinema "para ganhar dinheiro", o mesmo que todos os "iluminados", "políticos" e "intelectuais" do Cinema Novo passaram a fazer assim que ganharam notoriedade com o movimento. E um deles ganha dinheiro até para distribuir sua "sapiência" e "iluminação" como "comentarista político", em rede nacional. Eu preferia a cafajestice assumida e sincera do Jece...

quinta-feira, julho 08, 2010

Tava bêbado

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No meu retiro forçado, culpa de uma bronquite-quase-pneumonia (ou coisa que o valha), saboreio o livro "Chico Buarque - Histórias de Canções", de Wagner Homem - editora Leya, 2009. Lá pelas tantas, no comentário sobre a música "Um chorinho", feita em 1967 para a trilha sonora do filme "Garota de Ipanema", de Leon Hirszman (no qual o próprio Chico aparece interpretando-a), Homem salienta que o artista pouco se lembra daquele trabalho. E o próprio Buarque explica:

- Tinha uma história de que a gente bebia muito - e, de fato, bebia. Então aproveitavam, e já que bebia mesmo, bebia em cena... Davam uísque pra gente, e quando rodava você já tava bêbado, e quando assistia acho que também tava bêbado - por isso não lembro como era esse filme.

Abaixo, a participação (bêbada) de Chico no filme, com outras observações do próprio (ébrio):

quarta-feira, maio 26, 2010

Festival de cinema de futebol: 22 filmes em campo no Rio

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Responda rápido: cinco filmes brasileiros sobre futebol produzidos nos últimos anos? Então, cinco filmes de qualquer origem a respeito do ludopédio? Talvez estendido a qualquer época fique mais fácil, mas essas produções existem também no Brasil. Não são tão numerosas, mas o bastante para dar origem a um festival que precisaria mesmo ser inaugurado em ano de Copa do Mundo.

Começa nesta quinta-feira, 27, o primeiro Festival de Cinema de Futebol (Cinefoot) no Rio de Janeiro (RJ). Os mesmos 22 filmes selecionados para a mostra competitiva na capital carioca serão exibidos em junho em São Paulo.
Foto: Gazeta Esportiva/Flapedia

Rondinelli é 
tema do curta
O Deus da Raça,
de Pedro Asbeg
e Felipe 

Nepomuceno




Às vésperas da Copa do Mundo da África do Sul, inscreveram-se 60 curtas e longas-metragens produzidos no país. Desses, 14 curtas e 8 longas foram selecionados para a mostra, segundo relata Antonio Leal, organizador do Cinefoot.

Em entrevista ao Futepoca, Leal explica que acompanhava, em outros festivais brasileiros, produções que se enquadrassem na proposta. "Fizemos um levantamento prévio para ter um primeiro leque de filmes, mas as 60 inscrições surpreenderam", revela.

"O processo de seleção foi importante porque chama a atenção para a existência de filme de futebol produzidos no país", destaca. Entre os selecionados, há curtas inéditos.

Uma parceria com o festival 11 mm de Berlim traz os dois vencedores da sétima edição da mostra futebolística alemã para o encerramento do Cinefoot. Em contrapartida, os ganhadores brasileiros vão ser exibidos em 2011 na terra de Michael Ballack. Portas do mercado europeu abertas.

A proposta é repetir a ação anualmente. "Os organizadores de festivais de cinema até brincam que realizar um evento assim é como desfile de escola de samba, termina um e tem de estruturar o seguinte", diverte-se Leal. A diferença é que, a partir de 11 de julho, quando o Mundial sul-africano for encerrado, a próxima disputa é no Brasil.

A cinematografia de futebol no Brasil, rumo à Copa de 2014, é tema de um debate no dia 31 de maio. Isso porque a produção de longas-metragem é bastante irregular do ponto de vista da consistência, na visão dos organizadores.

Cinefoot
Rio de Janeiro
De 27 de maio a 1º de junho
Arteplex-Praia de Botafogo
- Mostras competitivas de curta e longa-metragens

São Paulo
De 4 a 6 de junho
Museu do Futebol
- Mostra não competitiva

A programação está aqui.

Destaques para João, documentário sobre o Saldanha e Faltam 05 minutos, de Luiz Alberto Cassol, sobre o ascenso do Inter de Santa Maria no Gauchão. E tem também o Telê Santana - Meio Século de Futebol Arte e Um Craque Chamado Divino, mais um monte.

domingo, abril 18, 2010

Rita Cadillac, futebol, política e cachaça

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Na sexta-feira, 16, chegou a salas de São Paulo e Rio de Janeiro o documentário Rita Cadillac, lady do povo. Em Belo Horizonte e outras praças, foi na semana anterior. O longa de Toni ventura foi produzido em 2007, teve uma versão preliminar exibida no SBT, e agora recebeu um novo corte para ir às telonas.

Foto: Divulgação


A ex-chacrete foi a única que se manteve no universo das celebridades, como cantora e dançarina, além de algumas pontas como atriz. Ela protagonizou situações incríveis, como shows sensuais para garimpeiros de Serra Pelada na década de 1980, e para detentos do Carandiru nos 1990. Uma mulher, ou uma bunda, em meio a mil ou 50 mil homens.

Todas as resenhas a respeito destacaram a tentativa de se desmistificar ou desconstruir a personagem, mostrar Rita de Cássia Coutinho como alguém diferente de Rita Cadillac.

Toni Ventura, o diretor, conseguiu depoimentos surpreendentes e uma empatia enorme com a protagonista. O resultado são muitas histórias divertidas, algumas assustadoras, e umas poucas sobre futebol, política e cachaça.

Do ludopédio, uma envolve Edson Arantes do Nascimento. Incentivada pela travesti Rogéria, ela teve um caso com Pelé na década de 1970. "Duas noites e foi só", ela revela.

Foto: Reprodução Cartaz
Outra diz respeito ao papel de Rita em Asa Branca, um sonho brasileiro, de 1981, um longa-metragem nacional que tem Edson Celulari no papel do personagem que dá nome ao filme. O diretor Djalma Limongi Batista colocou a ex-chacrete como esposa do presidente do clube, que tem um caso com o herói do filme.

Aliás, é Limongi Batista quem define Rita Cadillac como "lady do povo", embora ela deixe claro que é mais povão do que chique.

De cachaça, valem duas menções. A primeira é a opção de Ventura por começar o documentário com cenas de Rita Cadillac preparando um almoço que parece ser uma feijoada ou alguma versão do clássico culinário nacional, em que despeja uma latinha de Bavária Classic (afe!) no cozido, pretensamente para amolecer a carne.

A segunda relaciona-se com a avó da protagonista, que a criou no Rio de Janeiro. A mãe deixou a recém-nascida com a avó paterna, depois que o pai de Rita havia morrido. A senhora Coutinho "bebia uma garrafa de uísque por dia", o que gera uma empatia imediata com qualquer leitor do Futepoca.

Outro dado sobre a avó agrada mais à ala esquerdinha do Futepoca. Rita revela que a avó era uma militante de esquerda que, durante a ditadura militar, escondia "amigos" em casa. A adolescente Rita recebia orientações expressas de não comentar sobre os visitantes barbudos com ninguém. Sem entender nada à época, só descobriu depois do que se tratava.

A outra referência à política não está no documentário. Em 2008, Rita de Cássia Coutinho candidatou-se pelo PPS em Praia Grante (SP). A candidatura não emplacou, foi uma campanha de R$ 6 mil e poucos votos. Em entrevista, ela se sentiu usada pelo PPS.

Curioso é que o ressentimento que ela demonstrou a respeito do universo político, em debate após uma pré-estreia, em São Paulo, assemelha-se à relação que ela mantém com outro evento. Ao descrever a incursão no cinema pornô, com A primeira vez de Rita Cadillac, ela narra uma experiência mais sofrida do que ela achava que seria para ganhar dinheiro suficiente para comprar um apartamento.

Nem na política, nem no cinema pornô ela pretende repetir a experiência.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Separados no inferno

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quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Várzea – a bola rolada na beira do coração

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Imagem: Reprodução da Agenda Cultural da Periferia

É no terrão mesmo que rolam os verdadeiros campeonatos brasileiros. O futebol de várzea alimenta os sonhos da molecada, que joga nas ruas pensando em um dia vestir a camisa do time do coração, da seleção brasileira ou só do time do bairro mesmo. É o palco das festas no finais de semana de muito marmanjo e garante emoção e diversão nos espaços da periferia brasileira.

A várzea não é só o lugar onde a grama não resiste à chuva, é o samba, a poesia, hip-hop, o churrasco, a cervejada e, claro, o cenário de muitas histórias do futebol. E ao menos as da periferia paulistana estão agora presentes no documentário independente “Várzea – a bola rolada na beira do coração”, do poeta e arte-educador Akins Kinte. O documentário estreia no dia 8 de fevereiro na galeria Olido, centro da metrópole chuvosa, e contará com um circuito de exibição periférica, que pode ser conferido aqui.
Se eu estivesse pelas terras alagadas, certamente iria! A dica tá dada..