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segunda-feira, maio 16, 2011

No churrascão da 'gente diferenciada'

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João Guilherme Lacerda
Enviado Especial do Futepoca

O Picolé de Chuchu peidou na farofa e decidiu manter a estação de metrô em Higienópolis, lugar de "gente diferenciada" na capital paulista. Mesmo assim, o churrascão marcado pela internet, como protesto aos preconceituosos habitantes do bairro, foi mantido para o sábado, 14 de maio, com ponto de encontro em frente a um shopping. Não dava para esperar as novas Diretas Já, a queda da Bastilha ou a praça Tahir paulistana. Mas cada cidade uma luta, cada momento histório uma batalha. A primeira imagem que vi pela internet eram de ciclistas levantando suas bicicletas em frente ao sofisticado centro de compras. Munido de uma bicicleta e meu cãozinho de madame, segui rumo à festa. Começou com queima de catraca, que não vi. Mas peguei o panfleto do Sindicato dos Metroviários e a nota de R$ 3,00 do Kassab.


Grande, pequena, profissional ou informal, toda a mídia estava por lá. Tornaram caçamba de entulho puleiro de fotógrafos e cada cartaz ganhou seu clique. Com a rua Higienópolis aberta para as pessoas, a festa popular tomou conta - para grande medo de algumas tradicionais senhoras da região, em estado de choque com a massa de pessoas que lotou de alegria uma rua rotineiramente cheia de automóveis. Uma certa São Paulo que tem tido muito medo de gente. Mais do que a polêmica sobre a estação do metrô, o protesto foi principalmente contra essa "doença" paulistana, cada vez mais perceptível, a "pobrefobia".


Misteriosamente, mesmo sem liderança, a massa seguiu para a frente de um supermercado na avenida Angélica, local da futura estação de metrô. Por lá, o que já era bonito de ver e participar tomou proporções ainda mais épicas. Ficou claro que era uma festa de frequentadores da rua Augusta e muitos outros paulistanos, de coração ou nascimento. Teve a adesão de ativistas do Movimento Passe Livre, sindicalistas, a juventude paulistana mais antenada. Mas fez falta a brigada revolucionária das mães com carrinhos de bebê. Felizmente, os passeadores de cachorro fizeram-se presentes.


Teve quem cuidasse do lixo, teve um mini-elétrico para música e discursos. Teve travesti que só queria aparecer e muita gente que queria só se divertir. Tudo terminou com um varal que cruzou a Angélica. Contra o esnobismo de uma elite retrógrada, a melhor resposta foi a alegria. Um Carnaval, regado a cervejas de marcas estrangeiras, somado a um verdadeiro churrasco popular brasileiro. É nóis! Porque a gente não vive em HIGIENópolis, mas também somos limpinhos!



João Guilherme Lacerda é carioca, jornalista, flamenguista (não necessariamente nesta ordem) e, apesar de não ser Robinho, pedala bastante. Ele se orgulha de ser um "pobre diferenciado", pois leva cachorro de madame pra passear.

2 comentários:

Marcio disse...

Li em algum lugar:

"Solução para o Metrô de Higienópolis, entrada de serviço e social."

Pronto, resolvido o problema!

Abraços,
Marcio

Anselmo disse...

Nunca gostei de Higienópolis, apesar das vias arborizadas e dos prédios antigos e nem tão altos como em áreas de arranha-céus mais recentes.

Uma vez, ouvi uma história de que Higienópolis foi batizado assim para se contrapôr à Bela Vista como área limpinha e livre da varíola. Os doentes, "bexinguentos" ou "bexigas", confeririam, segundo a tese, o apelido da vizinhança que abriga até hoje um monte de restaurantes italianos... Fiquei com mais raiva.

Mas, pesquisando no oráculo, li q a história é outra, mas parecida. Higienópolis considerava-se a "cidade da higiene" realmente pelo asseio das ruas e pela estrutura sanitária pré-instalada no loteamento. Era a publicidade da empresa urbanizadora (q queria atrair moradores, que, ao contrário de outros bairros, se orgulhariam de ser limpinhos).

O wikipedia detalha:

Chamado primeiramente de "Boulevard Bouchard", o loteamento fora lançado em 1895.[3] Porém, futuramente receberia o nome de Higienópolis (cidade ou lugar de higiene) devido às suas características, ressaltadas pela publicidade, tais como o fornecimento de água e esgoto, que na época eram existentes em poucos locais da cidade.[4] Além disso possuiria também iluminação à gás, arborização e seria atendido por linhas de bondes,[2] sendo considerado como o maior loteamento em extenção territorial e em importância social e econômica.[5]

Na parte do Bixiga, a versão e a associação com a varíola também são outras:

"Na década de 20 do século 18, as terras passaram a um outro proprietário, conhecido como Antônio Bexiga - ele levava a alcunha porque tinha cicatrizes de varíola, doença popularmente conhecida como 'bexiga'. A terra 'do Bexiga' acabou virando Bexiga."