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quarta-feira, setembro 02, 2009

Cerveja, uísque, história e política em Belfast

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Em visita a Belfast, capital da Irlanda do Norte, eu e o camarada mineiro Ricardo Otoni perguntamos por um pub tradicional e um cidadão local nos indicou o Whites Tavern (foto acima), o mais antigo da cidade. Seguimos as instruções, viramos à esquerda, na Winecellar Entry, e nos deparamos com um bequinho bem estreito. Pronto, lá estava o bar, fundado em 1630 e onde, segundo a inscrição sobre a porta de entrada, os irlandeses se reuniram por séculos enfrentando pragas, cólera, fome, duas rebeliões, os ataques aéreos alemães e a guerra entre católicos e protestantes. Lugar mágico. O teto é feito com toras de madeiras ancestrais, há uma lareira e uma sala para fumantes. Pequeno, simples, rústico, aconchegante - tudo o que um veredadeiro pub deve ser. Tomamos umas das melhores Guinness das Irlandas. E é claro que o bar tem ligação com os jornalistas, esses bêbados atemporais: o jornal Mercury foi fundado dentro do Whites, na década de 1850.

Bom, saindo de lá, passamos pelo palácio do governo, a imitação em escala menor do Big Ben (que, como a Torre de Pisa, está torto) e lavamos as mãos na Calder, a fonte mais antiga de Belfast (à direita). Trata-se de um monumento, digamos, ''ecologicamente correto''. Está escrito lá: ''Erguida como memorial a Francis Anderson Calder, fundador da Sociedade de Prevenção da Crueldade com Animais''. A data: 1859. A fonte fica próxima a uma agência de um banco chamado First Trust, o que nos levou a pensar que pode até ser a ''primeira confiança'', mas, se o banco quebrar, pode ser a última...

Depois demos umas voltas pelos bairros católicos e protestantes. Esses grupos não se misturam e, apesar de terem parado de se matar já há um bom tempo, ainda cultivam muito ódio religioso, com inscrições e bandeiras. O clima é de enfrentamento. Nos muros, os católicos exaltam o IRA (Irish Republic Army) e líderes como Bobby Sands (veja muro local abaixo), que morreu em greve de fome há 28 anos. O bairro parece uma cidade à parte.


Já no lado protestante, onde toda casa, prédio, loja ou bar ostenta solenemente uma ou várias bandeiras do Reino Unido e às vezes, como complemento, grafites e inscrições saudando a rainha Elizabeth, da Inglaterra (tem orgulho disso), o exército cultuado é o UVF (Ulster Volunteer Force), como na parede abaixo. Como estávamos em um ônibus com placa de Dublin, o ambiente, definitivamente, não nos parecia muito amistoso.



Pra arrematar, passamos pelos estaleiros onde onde o Titanic foi construído, há quase um século (à esquerda). Numa lojinha local, vi uma camiseta na qual estava escrita uma das melhores provocações jamais vista, ''Titanic: construído por irlandeses, afundado por ingleses''. Sensacional, pois trata-se da mais pura verdade! Outra camiseta mostrava o navio deixando o porto de Belfast com destino a Liverpool, com a seguinte legenda: ''Estava tudo certo quando saiu daqui''. Até pensei em comprar uma e mandar para a Thalita usar em Londres, mas pensei bem e não quis comprometer sua integridade física.

Antes da volta, passamos num supermercado para conferir que, realmente, o goró (principalmente destilado) custa bem mais barato no Reino Unido. Comprei uma lata de Jack Daniel's misturado com Coca-Cola (à esquerda) e trouxemos a cerveja inglesa Black Sheep Ale (à direita). Deliciosa - o que me estimula a apostar nesse tipo (ale) quando decidir, finalmente, produzir minha própria cerveja. Bom, essa foi uma pequena pitada de Belfast, com cerveja, uísque, história e política. Ficou faltando o futebol, mas o histórico irlandês não me animou a procurar alguma coisa por lá, não. Porém, se é por falta de link, não seja por isso: confiram o post que fiz sobre George Best, um dos maiores jogadores (e bebuns) de todos os tempos, legítimo filho da terra. Tanto que dá nome ao aeroporto de Belfast. É isso. See you!

sábado, junho 06, 2009

Cerveja ajudou músico a impressionar McCartney

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Outro dia escrevi sobre o único show que os Beatles fizeram em Dublin, Irlanda, em 1963. Curioso sobre o assunto, acabei encontrando na livraria pública "The Beatles and Ireland" (à esquerda), de Michael Lynch e Damian Smyth, sobre todas as possíveis relações da banda inglesa com o país vizinho - a comecar pelos antepassados de John, Paul e George, todos irlandeses. Depois de descrever os shows em Dublin e em Belfast, o livro fala sobre visitas esporádicas de cada beatle à Irlanda até 2003 e narra fatos pitorescos como a compra de uma pequena ilha do litoral irlandês por John Lennon, em 1967, chamada Dorinish. O local funcionou como acampamento hippie por dois anos, até 1971, e acabou sendo vendido pela viúva Yoko Ono em 1985.

Lá pelas tantas, os autores enveredam pela simpatia declarada de John e Paul, em 1972, pelo grupo paramilitar católico e reintegralista IRA (Irish Republican Army), que luta pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido e reanexação à República da Irlanda. Na época, Lennon lançou as canções "The Lucky of the Irish" ("A sorte dos irlandeses") e "Sunday Bloody Sunday" ("Domingo Sangrento Domingo") e McCartney, "Give Ireland Back to the Irish" ("Deem a Irlanda de volta para os irlandeses"). Foi exatamente nesta época que o guitarrista irlandes Henry McCullough foi chamado para a primeira formação dos Wings, a banda de Paul pós-Beatles.

E ele conta um segredo sobre seu teste para admissão: "Recebi um telefonema de Ian Horne, meu roadie, pedindo para eu ir a um ensaio no dia seguinte. Eu tinha bebido um monte de pints [copo padrao de 500ml] de Guinness [cerveja irlandesa] antes de ir lá pela primeira vez. Isso ajudou muito!". Segundo McCullough, depois de tocar alguma coisa do velho rock'n'roll, como "Blue Moon of Kentucky" (um dos primeiros hits de Elvis Presley) e "Lucille" (de Little Richard, ídolo de Paul), o teste partiu para o reggae e musicas de McCartney daquela época. Foi então que o ex-beatle comecou a tocar uma música inédita. "Eu perguntei a Paul o que fazer e ele apenas disse 'Estamos só tentando alguma coisa' - e continuou tocando. Nos o seguimos e, pouco depois, uma nova canção estava escrita. Ela foi feita naquele teste", lembra McCullough. Para ele, foi literalmente uma "prova de fogo", pois conseguiu improvisar e compor com "um monte de Guinness" na cabeca.

Wings, 1972. A partir da esquerda: McCullough, Denny Laine (guitarrista), Denny Seiwell (baterista), Linda (teclados) e Paul McCartney (baixo)