Começando a ler "O reino que não era deste mundo", do historiador Marcos Costa (Editora Valentina, 2015), sobre o período imperial brasileiro no século XIX, me deparo com três expressões populares que resistiram ao tempo e ainda hoje usamos:
Maria vai com as outras - "[A] Rainha D.Maria I (...) vivia praticamente em estado de loucura no Brasil, completamente senil e para tudo dependente de suas amas, daí o surgimento da expressão 'maria vai com as outras'." A partir de então, o povo passou a usar esse termo para designar "uma pessoa que não tem opinião, que segue o comando dos outros, que se deixa convencer com facilidade" (leia aqui).
É um 'caxias' - "Filho do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, regente do Império (...), [o Duque de] Caxias (...) aprendeu, sobretudo, a cultivar a sua fidelidade à Monarquia. Com a família elevada à cúpula do Exército brasileiro, além do pai regente, os tios José Joaquim de Lima e Silva e Manoel da Fonseca de Lima e Silva, respectivamente elevados à condição de Comandante de Armas da Corte e do Ministério da Guerra, em 1832, Luís Alves de Lima e Silva assume o posto de comandante das Guardas Municipais Permanentes (...), a tropa de elite do imperador. (...) Papel que desempenhou com extrema competência." Não por acaso, portanto, passamos a chamar de "caxias", desde aquela época, "pessoa que cumpre com extremo escrúpulo as obrigações do seu cargo, ou que exige de seus subordinados o cumprimento rigoroso das leis, regulamentos e determinações de serviço" (leia aqui).
Pra inglês ver - "O fim do trabalho escravo no Brasil e a sua substituição pelo assalariado, ambicionavam os ingleses, criariam no país um amplo mercado consumidor para os seus produtos industrializados. (...) O tráfico negreiro, no Brasil, depois da pressão dos ingleses, fora proibido desde 1831. Essa lei declarava livres todos os escravos vindos de fora do Império. (...) [Só que] Os interesses ligados à lavoura eram tão poderosos, que a lei, como tantas outras ainda em nossos dias, simplesmente... não saiu do papel, não pegou. A lei imposta foi responsável pela criação no vocabulário brasileiro de um jargão, reproduzido até hoje: 'pra inglês ver'." Estavam batizadas popularmente, a partir de então, as "leis ou regras consideradas demagógicas e que não são cumpridas na prática" (leia aqui).
Não é a toa, portanto, que o autor do livro conclui que periodicamente, no Brasil, o cenário político e de poder precisa "mudar para deixar tudo exatamente como estava"...
Ao comemorar seu aniversário de 109 anos na quarta-feira, 16 de setembro, a britânica Grace Jones revelou o segredo de sua longevidade (o grifo é meu):
Antes da fama, da grana, das drogas e das bebidas mais caras e sofisticadas, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, como bons filhos da classe operária inglesa, gostavam mesmo era de encher a cara de cerveja. E quem conhece as "loiras geladas" britânicas sabe que muitas delas têm alto teor alcoólico. Em sua autobiografia (Editora Planeta, 2007), o guitarrista Eric Clapton conta que, no auge de seu alcoolismo, costumava justificar a vida manguaça dizendo que era algo cultural da Inglaterra. "Sou inglês. Todos nós bebemos lá, vocês sabem. Faz parte de nosso estilo de vida, e bebemos cerveja forte, não Budweiser", respondeu, num hospital, ao ser interrogado sobre a quantidade de álcool que estava ingerindo. No caso dos "quatro rapazes de Liverpool", o período de maior bebedeira ocorreu, sem dúvida, quando foram trabalhar em Hamburgo, na Alemanha. Foi lá, também, que descobriram as pílulas anfetamínicas (Preludin) que os mantinham sóbrios e excitados para prosseguir tocando, cantando, pulando e bebendo (muito) por 10 ou 12 horas seguidas, todas as noites.
Pub em Hamburgo: Stuart Sutcliffe, Lennon, um garçom, Harrison, McCartney e Pete Best
Mas foi pouco antes de ir pra Alemanha que eles inventaram o nome da futura banda mais famosa do planeta. Lendo o livro "John", escrito pela primeira esposa de Lennon, Cynthia Powell (Larousse, edição brasileira de 2009), descobri como foi o "processo de criação" do nome Beatles, um trocadilho entre beat (batida) e beetles (besouros). Criatividade impulsionada por muita cerveja, segundo Cynthia:
"(...) os rapazes decidiram que era hora de adotarem um novo nome. Nós tivemos uma sessão hilária de ideias sentados a uma mesa cheia de cervejas no bar Renshaw Hall, onde bebíamos com frequência. John amava Buddy Holly e os Crickets [Grilos], então eles ficaram brincando com nomes de insetos. Foi John quem teve a ideia de Beetles [Besouros]. Ele mudou o nome para Beatles porque disse que, se nós invertêssemos, teríamos 'les beats', que soava francês e legal. Eles se decidiram por Silver Beatles [Beatles Prateados]."
Pub 'Renshaw's', em Liverpool, provável local onde Lennon teve a ideia do nome da banda
Tal fato teria ocorrido no início de 1960 (e é interessante observar que, a exemplo de Clapton, Lennon amava Buddy Holly, e não Budweiser...). Só que, dois anos mais tarde, quando surgiu em Liverpool o jornal especializado em música "Mersey Beat", John publicaria nele uma versão surreal sobre a escolha do nome da banda: "Sonhei com um homem [que veio voando] numa torta flamejante, dizendo: Vocês são Beatles com A". Porém, a versão de Cynthia revela que, em vez de torta, a verdadeira inspiração foi a velha e boa cerveja. Que, curiosamente, nunca seria citada em uma letra dos Beatles - embora eles tenham gravado "Rock Andd Roll Music", de Chuck Berry, que contém o seguinte verso: "They're drinkin' homebrew from a wooden cup" ("Eles estão bebendo cerveja caseira de um copo de madeira"). Mas fica aqui registrada, portanto, a devida contribuição do "suco de cevadis" no batizado da mítica banda de Liverpool. Cheers! Ou melhor, saúde!
Pub City Barge, em Londres, numa das locações do filme 'Help!': uma oportuna 'happy hour'
P.S.: Quando perguntarem se você vai beber a saideira, responda "YEAH, YEAH, YEAH!".
Uma das surpresas na convocação para a seleção brasileira divulgada hoje pelo técnico Dunga é Firmino, do Hoffenheim (Alemanha). Confesso que, até maio deste ano, eu nem suspeitava de sua existência. O que levou a um episódio tenso...
Passeando por alguns países europeus naquele mês, minha esposa e eu pegamos um voo de Amsterdã para Londres. Muita gente havia nos dito que os agentes da imigração inglesa costumam ser implicantes - e especialmente com brasileiros. E se nos barrassem?
No aeroporto londrino, depois de preencher formulários, caminhamos para os guichês como sentenciados que caminham para o cadafalso. Notamos que, justo na nossa vez, o oficial, um rapaz branco e jovem, terminou seu turno e foi substituído por um negro, mais velho.
Ele pegou os documentos, nos olhou com calma e detidamente, e, antes de qualquer coisa, perguntou: "Vocês são do Brasil?" Com a confirmação, perguntou nossa profissão. "Jornalistas?", ele se entusiasmou. "Cobrem esportes? Futebol? E a Copa do Mundo?"
A Copa brasileira teria início no mês seguinte. Percebendo o interesse do oficial, afirmei que já tinha trabalhado como repórter de esportes, cobrindo futebol, e que inclusive escrevia para um blog sobre o assunto (esse aqui). Daí, veio a pergunta fatídica: "E o Firmino?"
Aliás, com o sotaque, ele disse "Fâr-mee-noo". Por saber que conheço alguma coisa de futebol, minha esposa suspeitou que eu não estivesse entendendo o que o homem dizia. E pediu para ele escrever. O nome, no papel, só confirmou a incógnita. FIRMINO. (???)
Quem é Firmino?!? O QUE é Firmino? Comecei a gaguejar, tentando puxar algo da memória. Seria um jogador inglês? Um brasileiro atuando na Inglaterra? Um time? Um agente da Fifa no Brasil? Uma modalidade de futebol? O fiscal franziu a testa, desconfiado.
No rosto dele, dava pra ler a perigosa dúvida: como é que duas pessoas, brasileiras, e mais ainda, jornalistas (tendo uma delas, inclusive, dito que já trabalhou cobrindo futebol), podiam desconhecer o Firmino?!?!? Futuros clandestinos costumam mentir...
Numa fração de segundo, me joguei no abismo: "Ah, sim, o Firmino! Com certeza! Não estava entendendo o nome!" E o fiscal mordeu a isca: "Sim, ele é fantástico! Eu adoro seus gols. Grande jogador brasileiro!". Sorrimos todos, aliviados. Grande Firmino!
O oficial da imigração abriu o sorriso e elogiou Firmino ainda mais, sem me dar chance de dizer alguma coisa (graças a Deus!). Para ele, Firmino deveria ser titular do Brasil na Copa. Concordei. "Firmino! Great soccer player!" E carimbou os passaportes.
Ainda tensos, mas já no corredor que nos levava para fora do aeroporto, onde um amigo nos aguardava, minha esposa comentou: "Nossa! Ainda bem que você conhece esse tal Firmino!" Dei uma gargalhada, olhei pra ela e disse: "NUNCA OUVI FALAR!"
Beatles no Ed Sullivan Show: 73 milhões de espectadores
No dia 9 de fevereiro de 1964, os Beatles tocaram ao vivo no programa televisivo Ed Sullivan Show, nos Estados Unidos, para uma audiência estimada em 73 milhões de espectadores. Estava consolidada definitivamente, ali, a "conquista do planeta" pela banda inglesa. Mas poucos poderiam imaginar que, apenas 26 meses antes, eles tinham enfrentado uma situação exatamente oposta. A primeira tentativa de ampliar seu público e o mercado de trabalho na Inglaterra, saindo da provinciana Liverpool para explorar o rico mercado de Londres e região metropolitana, foi constrangedora. Em 9 de dezembro de 1961, na cidadezinha de Aldershot, a 60 km da capital inglesa, os Beatles fizeram um show para... 18 pessoas. E nenhuma delas fazia ideia de quem eles eram.
Depois de duas temporadas tocando para bêbados, prostitutas, marinheiros e estudantes de arte na zona boêmia de Hamburgo, Alemanha, a proposta era voltar para a Inglaterra e tentar um destino mais promissor. Assim que retornaram, em outubro de 1961, iniciaram uma temporada na boate subterrânea Cavern que chamou a atenção de Brian Epstein, dono de uma cadeia de lojas de disco. Ele vislumbrou antes de todos o potencial da banda e decidiu empresariá-los. No entanto, mesmo com o contrato já firmado com Epstein, em dezembro, os Beatles ainda faziam "bicos" por conta própria. E foi assim que aceitaram um convite do promotor de eventos Sam Leach para se apresentarem pela primeira vez nos arredores de Londres - tudo o que eles mais queriam naquela época.
O anúncio do show, que nunca foi publicado
Para promover o show, Leach inventou que o público veria um "duelo" entre duas bandas e escolheria a melhor: uma representando o "som de Londres", Jay and The Jaywalkers, e outra "o som do Norte" (ou "Mersey Sound", som do Rio Mersey, em Liverpool), The Beatles. A divulgação principal - e fundamental - seria feita em bombástico anúncio no jornal Aldershot News, para o qual o promotor do evento enviou um cheque de 100 libras. Porém, ele não sabia que o periódico só aceitava pagamento em cheque de anunciantes antigos; os novos tinham que pagar em dinheiro vivo. Como não conseguiram entrar em contato com Leach, simplesmente não publicaram o anúncio. E quase ninguém ficou sabendo que o tal show aconteceria...
Na manhã do fatídico sábado, 9 de dezembro, os quatro beatles - os guitarristas George Harrison (18 anos) e John Lennon (21), o baixista Paul McCartney (19) e o baterista Pete Best (20) - saíram de Liverpool às 9 da manhã para uma viagem de quase 300 km, no rigoroso inverno inglês, apertados em uma van dirigida por Terry McCann, amigo de Sam Leach (que viajou em outro veículo). Ao chegarem a Aldershot, a surpresa: as portas do Palais Ballroom, local do show, estavam trancadas. Foi então que descobriram que a a população da cidadezinha desconheica que haveria alguma coisa ali naquela noite. Mesmo decepcionado, Leach decidiu honrar o compromisso e pagar os músicos, ainda que eles não se apresentassem.
As 18 'testemunhas' e, no palco, os constrangidos rapazes de Liverpool
George e John dançam: esculhambação
Mas eles decidiram ir em frente. Encontraram alguém para abrir a porta do clube, fizeram a passagem de som e depois saíram pela cidadezinha para convidar qualquer um que passasse na rua para assistir a apresentação. O bizarro show foi feito para apenas 18 "testemunhas". Em determinado momento, desanimado pela minúscula plateia, Pete Best abandonou o palco e passou as baquetas para que o motorista Terry McCann tocasse a bateria (!). John e George, por sua vez, decidiram se divertir e passaram a tocar acordes errados e trocar as letras das canções por paródias infames. Logo depois, os dois desceram do palco e começaram a dançar valsa como se fossem um par. E a esculhambação virou festa quando Sam Leach trouxe garrafas da cerveja Watneys Brown Ale para todos.
McCartney também entrou na bagunça
A bebedeira descambou para um jogo de futebol improvisado, usando bolas de bingo. Por volta de uma hora da manhã, a gritaria e a bagunça fizeram com que um vizinho chamasse a polícia. Os Beatles foram convidados a deixar Aldershot e não voltar nunca mais. A única coisa que "salvou" a noite foi a bebedeira com Watneys Brown Ale. Poucos imaginariam naquele momento, sequer a própria banda, que dali a seis meses eles seriam contratados pela gravadora EMI, dois meses depois trocariam o baterista por Ringo Starr, lançariam um compacto de sucesso ("Love me do") e pavimentariam o caminho para dominar Londres, a Inglaterra e a Europa em 1963, partindo dali para conquistarem os EUA e o mundo. Os 18 de Aldershot devem ter deixado o queixo cair...
Leach, em 1º plano, George e John enchendo a cara: consolo
A cerveja que 'salvou' a desastrosa noite em Aldershot
Lennon entornando a saideira: 'só tomando (mais) uma!'
Diz uma das mais sábias das Leis de Murphy: "Toda vez que se menciona alguma coisa, se é bom, acaba; se é ruim, acontece". O técnico da seleção inglesa, Roy Hodgson, devia ter lembrado da última parte dessa máxima ao afirmar, na véspera do sorteio dos grupos para a Copa do Mundo de 2014: "O clima tropical de Manaus é o problema. Manaus é o lugar ideal para se evitar e Porto Alegre o lugar ideal para jogar" (leia aqui). A declaração pegou mal e mereceu resposta indignada do prefeito da capital amazonense, Arthur Virgílio Neto (PSDB): "Nós, amazonenses, também preferimos que a Inglaterra não venha. Torcemos pra que venha uma seleção melhor, com mais futebol... e com técnico mais sensível, culto e educado" (leia aqui).
'Trapiche 15 de Novembro', estrutura flutuante apelidada de 'Porto de lenha'
Pois é. Pela já citada Lei de Murphy, não deu outra. O sorteio definiu que a Inglaterra estreará na Copa contra a Itália, em 14 de junho, justamente na "indesejável" Manaus. Tudo isso acabou por reavivar o brio dos amazonenses. Um sentimento que é embalado, há mais de 30 anos, por uma música local que, curiosamente, cita os ingleses. A canção, chamada "Porto de lenha", é considerada um hino extra-oficial da cidade de Manaus. Seu nome tem origem no antigo tablado de madeira, batizado de "Trapiche 15 de Novembro", que deu origem ao porto da cidade, na margem do Rio Negro. Tratava-se de uma estrutura flutuante construída propositadamente desta forma para acompanhar as cheias e vazantes do rio, sem ser submersa. Esse cais foi projetado por ingleses e inaugurado quando a cidade vivia o apogeu
da época áurea da borracha. Mais tarde, quando a economia amazonense entrou em decadência, a obra tornou-se um símbolo da pretensão ridícula, por parte daquela elite da época, de ostentar uma "superioridade europeia" que, na verdade, era só verniz "pra inglês ver".
Música batizou um disco de Zeca Torres
Muitos anos depois, no fim da década de 1960, o poeta nativo Aldísio Filgueiras se inspirou em uma tema instrumental dos músicos e compositores amazonenses Zeca Torres (o Torrinho) e Wandler Cunha para escrever um extenso poema. Ao saber disso, a dupla resolveu musicar alguns trechos do texto. “A intenção era transformar em uma suíte com vários movimentos. Devem ter saído quatro ou cinco canções e ‘Porto de lenha’ foi uma delas", diz Torrinho. Nem Zeca nem Aldísio imaginavam, mas a música se tornou um sucesso em Manaus já no fim dos anos 1970, quando fez parte da peça "Tem piranha no pirarucu", dirigida por Márcio Souza. Seus versos iniciais conclamam o orgulho dos nativos contra a "europeização" dos gostos e costumes: "Porto de lenha/ Tu nunca serás Liverpool/ Com uma cara sardenta/ E olhos azuis". Outros trechos desdenham os artistas locais que sonham com o "sucesso sulista" e também a invasão das "quadrilhas de turistas" (veja a letra e o vídeo com a gravação abaixo).
A identificação dos habitantes de Manaus foi tão forte que, desde então, a música passou a ser entoada como um hino. Em 2012, o jornal "A Crítica" fez uma enquete para que elegessem a música que melhor identificasse a cidade, nas comemorações de seus 393º aniversário. "Porto de lenha" venceu com 41,2% dos votos (leia aqui). E é curioso pensar, como bem observa o colega jornalista Diego Sartorato, que a canção cai como uma luva para ser entoada na Arena Amazônia, após as declarações do técnico Roy Hodgson. Ainda mais se pensarmos que o Liverpool, time da cidade portuária citada na letra, está prestes a ser campeão na Inglaterra...
O sonho de muito manguaça pode ser, na verdade, um pesadelo. O inglês Mathew Hogg sofre da síndrome de fermentação intestinal, na qual um excesso de levedura preso ao intestino delgado cria álcool, que é absorvido diretamente pela corrente sanguínea. Ou seja, ele é uma espécie de "cervejaria ambulante": toda vez que come açúcar ou carboidratos, seu corpo converte em etanol e ele acaba meio bêbado ou de ressaca (portanto, para ele, aquela conversa de "pão líquido", apelido de cerveja, é literalmente verdadeira!). Pode parecer interessante, mas não é. A síndrome é ininterrupta e, muito mais do que sentir o alegre torpor da embriaguez, Hogg sofre constantemente com fadiga, dores musculares, dor de cabeça crônica, diminuição da capacidade mental e oscilações de humor, entre outros sintomas ruins.
Confira trechos de uma entrevista do "Homem-Cervejaria" ao site vice.com:
Quando você percebeu que seu intestino produzia álcool?
Matthew Hogg - Sofri de problemas estomacais durante toda a infância. Fui diagnosticado inicialmente com síndrome do intestino irritável, no entanto, na adolescência, experimentei uma piora severa dos sintomas, como inchaço e gases depois das refeições — eram tão fortes que eu conseguia sentir a fermentação borbulhar no meu baixo abdômen.
E você ficava de ressaca?
Sim, no final da adolescência, experimentei ressacas alcoólicas severas, geralmente nas manhãs depois de comer refeições ricas em carboidratos. Eu tinha dores de cabeça terríveis, náusea severa, às vezes com vômito, desidratação, boca seca, suores frios e mãos trêmulas. Era como se eu tivesse saído na noite anterior e bebido o bar inteiro, mas eu não tinha consumido nada de álcool.
E quando você foi diagnosticado com síndrome de fermentação intestinal?
Me indicaram um especialista em Londres. Os exames confirmaram que meu intestino produzia grandes quantidades de etanol de levedura, além de quantidades significativas de outros álcoois associados ao metabolismo de várias bactérias.
Como a doença afetou sua vida?
Ela teve um impacto devastador em minha vida. Até os 16 anos, eu era um aluno nota A, e achava o trabalho acadêmico divertido e recompensador. Eu era um bom atleta também, e tinha uma vida social ótima. Conforme a síndrome de fermentação intestinal começou a se estabelecer, tudo mudou. Eu me vi sofrendo na escola quando, na minha cabeça, eu sabia que não devia estar tendo problemas. Também tive que abandonar os esportes, porque me sentia exausto depois de uma corrida curta, e me vi lutando para conseguir levantar de manhã. Fiquei apavorado, eu não sabia o que estava acontecendo, eu ficava frustrado e nervoso por não ser mais capaz de funcionar no mesmo nível de antes. Minha vida social degringolou, eu me sentia sozinho e deslocado, e não tinha energia e motivação para fazer parte das coisas.
Ao ingerir carboidratos, Hogg sente-se como se tivesse 'bebido o bar inteiro'
Com que frequência você se sente bêbado ou de ressaca? É uma coisa diária?
Se eu tivesse uma dieta normal contendo grãos, frutas e comida processada com a adição de açúcar, eu experimentaria os sintomas que descrevi todo dia, mas aprendi a adaptar minha dieta para minimizar a fermentação em meu intestino. Há muito tempo venho fazendo algo parecido com uma dieta da Idade da Pedra, baseada em carne, vegetais, nozes e sementes. Apesar disso, a causa principal de minha condição não está sendo tratada com sucesso, então, ainda sofro com os sintomas crônicos como fadiga, dores, intolerância a exercícios e stress e disfunção cognitiva, mas não os sintomas de uma ressaca aguda e severa.
Você já comeu um monte de alimentos açucarados para ficar bêbado, por razões recreativas?
Francamente, às vezes, em situações sociais — ou quando não tenho mais nada disponível, se estou longe de casa — sou forçado a comer doces ou alimentos ricos em amido. Mas, como regra, prefiro manter a dieta de baixo carboidrato porque as consequências negativas superam o prazer momentâneo. Na maioria das vezes, eu me sinto mais de ressaca do que bêbado como resultado da síndrome de fermentação intestinal, então, apesar de as pessoas acharem que essa condição é um jeito barato de ficar bêbado para propósitos recreativos, essa, infelizmente, não é a realidade.
Enquanto sua namorada bebe vinho, Matthew 'bebe' pães
Mas você pode ficar bêbado comendo açúcar e carboidratos, certo?
Sim. Muitas vezes, especialmente nos últimos anos no colegial, tive momentos de embriaguez sem ter consumido nenhum álcool. Eu descreveria mais como períodos do que como momentos, já que eles duravam algumas horas de cada vez. Esses períodos sempre vinham depois de uma refeição e após algumas horas — que é o período de tempo típico para a digestão e absorção — os efeitos passavam e eu sentia minha consciência normal retornar.
Qual seu conselho para pessoas que sofrem de síndrome de fermentação intestinal?
Eu gostaria que seus leitores que suspeitam ter a síndrome de fermentação intestinal saibam que existem tratamentos efetivos por aí, ainda mais se a condição for diagnosticada logo no começo. A síndrome era algo completamente desconhecida quando fiquei doente, e passei os primeiros dez anos fazendo tudo errado e tornando a situação muito pior e mais difícil de recuperar depois. Espero que minha história ajude as pessoas a reconhecer essa condição, em si mesmo ou em pessoas próximas, e que elas procurem ajuda profissional o quanto antes.
Morreu hoje na Inglaterra o ladrão confesso Ronald Biggs, que participou com 16 comparsas do célebre "assalto ao trem pagador", há 50 anos. Tratava-se de um trem postal que fazia o trajeto entre Glasgow, na Escócia, e Londres. Naquele 8 de agosto de 1963, exatamente o dia em que Biggs completou 34 anos, a quadrilha dividiu um butim de 2,6 milhões de libras, uma montanha de 120 sacolas com 2,5 toneladas de dinheiro em espécie. Dizem que o valor nunca foi recuperado, mas isso tem toda pinta de ser aquela conversinha clássica da polícia... Além do roubo, Biggs era acusado de ter ferido gravemente o maquinista Jack Mills, que morreria seis anos depois. Concluído o assalto, os bandidos se reuniram em seu esconderijo, uma fazenda, para dividir a grana e planejar o futuro.
Tabuleiro que está no museu
Lá, eles comemoraram o sucesso e o aniversário de Biggs com charutos, bebidas e uma partida de Banco Imobiliário com as notas recém-roubadas. Mas os caras deixaram uma "brecha" comparável com a da Portuguesa no Brasileirão de 2013 (que escalou jogador irregular e, por isso, pode ir pra Série B): na manhã seguinte, deixaram o local após pagarem 28 mil libras a um cúmplice, para que limpasse qualquer vestígio, mas o manguaça fez um serviço beeeem porco. Assim, a polícia encontrou digitais de quase todos eles nas peças do jogo, em revistas e talheres utilizados no local (o tabuleiro do Banco Imobiliário usado por eles virou peça de arte no Museu Thames Valley Police). Preso rapidamente e condenado a 30 anos de reclusão, Biggs escapou do presídio de Wandsworth em 1965, ao pular o muro com uma corda de pano e fugir em uma caminhonete. Depois, fugiu para Paris, comprou um passaporte falso e fez uma cirurgia plástica - o que indica explicitamente que, para conseguir fazer tudo isso, ele ainda detinha (boa) parte do dinheiro roubado e meios para movimentá-lo.
Biggs e Mike, o filho brasileiro
Dizem que, nesse meio tempo, passou ainda por Bélgica e Panamá. Em 1970, mudou-se para Adelaide, na Austrália, com a família que havia formado antes do assalto - mulher e três filhos. Tranquilamente, trabalhou na montagem de cenários no Channel 10, até que um repórter o reconheceu. Daí, fugiu para Melbourne, permanecendo ali por algum tempo antes de escapulir para o Brasil no mesmo ano - e deixando toda a família para trás (em 1971, seu filho Nicholas, de 10 anos, morreria em um acidente de carro). Em 1974, Biggs foi flagrado por um repórter do jornal Daily Express no Rio de Janeiro, a partir de informações da Scotland Yard. Porém, não havia compromissos ou tratados de extradição firmados entre Brasil e Inglaterra e a então namorada do assaltante, Raimunda de Castro, estava grávida, situação que impedia a expulsão, segundo nossa legislação. O filho brasileiro, Michael, ficaria famoso no início da década seguinte como Mike, um dos integrantes do grupo musical infantil Balão Mágico, junto com Simony, Tob e Jairzinho.
Compacto dos Pistols gravado no Brasil
Até 2001, Biggs viveu incólume em terras brasileiras, até que, aos 72 anos, resolveu viajar voluntariamente à Inglaterra e se entregar à polícia (dizem que estava gravemente doente e não tinha recursos para se tratar). Porém, nos 30 anos de exílio em nosso país, o ex-assaltante se tornou uma "celebridade", temperando ainda mais sua biografia digna de enredo fictício. Proibido de trabalhar legalmente, ganhava a vida no Rio, nos anos 1970, vendendo xícaras e camisetas com sua foto e cobrando alguns dólares para almoçar e bater papo com turistas. Em 1978, foi visitado por dois dos Sex Pistols, Steve Jones e Paul Cook, que gravaram aqui uma música com letra e vocais de Biggs, a hilária "No one is innocent" - "Ninguém é inocente". O vídeo abaixo mostra os punks ingleses batendo na porta do famoso assaltante, no Rio, que sai da casa sem camisa e com uma garrafa na mão. Na sequência, sempre enchendo a cara, eles vão ao Cristo Redentor, a um bar, ao estúdio de gravação, à praia e a um baile repleto de mulatas seminuas sambando:
Bebendo, no clipe dos alemães
Mas nem tudo foi farra: em 1981, Biggs foi sequestrado e levado até Barbados por um grupo que esperava alguma recompensa da polícia britânica. Porém, o assaltante fez uso de artifícios na lei para ser mandado de volta ao Brasil. Voltou à vida de "artista", formou uma banda e gravou o disco "Mailbag Blues" (novo sarcasmo: "Blues da Mala Postal") e participou ainda, em 1991, da gravação da faixa "Carnival In Rio (Punk Was)", da banda alemã Die Toten Hosen. No vídeo abaixo, também gravado no Rio de Janeiro, Biggs canta e, no final, aparece rapidamente tomando cerveja (o inglês era manguaça!). Além de aproveitar muito bem a boa vida tupiniquim, o inglês também defendeu uns trocos no livro que conta a história do assalto, autorizado mediante pagamento pelos criminosos, "The great train robbery", e com seu próprio livro, "Odd man out" - "Um estranho no ninho".
Drake: 'queridinho' da realeza
OSSOS DO ORIFÍCIO - Apesar da vida fantástica e inacreditável, Ronnie Biggs foi um criminoso e, como tal, não deve ser louvado. Mas é engraçado que tenha sido uma das maiores e mais famosas pedras no sapato da polícia inglesa. Sua prisão era vista como "justiçamento moral". E é engraçado porque a própria Inglaterra, no século 16, adotou oficialmente uma política que incentivava a pirataria marítima (invasão, roubo e pilhagem) para engordar suas divisas, tendo como principais vítimas os espanhóis - que, aliás, saqueavam os índios e as terras latino-americanas. Naquele tempo, o roubo (o grifo é nosso) de navios, com incentivo oficial da rainha Elizabeth I, era prática corriqueira. Francis Drake, o pirata mais famoso, ganhou da realeza os títulos de capitão e vice-almirante, depois de saques espetaculares, violentos e muito lucrativos. Por essa ótica, visto como um inglês entre os ingleses, Ronald Biggs poderia até justificar o dito popular de que "ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão". Ou, no mínimo, como diz o título de sua música gravada com os Sex Pistols, "ninguém é inocente"...
Antes dos Beatles surgirem, a cidade portuária de Liverpool era mais conhecida, na Inglaterra, pela sua profusão de comediantes e pelo fanatismo de sua classe operária (formada principalmente pela massa de descendentes de irlandeses) por futebol. Cada vitória dos clubes Liverpool e Everton representava um "cala boca" dos nortistas sobre os habitantes do resto do país, especialmente os arrogantes londrinos, que os desprezavam como "caipiras" e provincianos. Muitas vezes, a defesa desse orgulho do "povo do Norte" ultrapassava fronteiras e fazia com que os scouses (apelido dos operários liverpudianos) torcessem para qualquer clube da região - como o Blackpool e o Leeds United, entre outros - contra os times de Londres, como o Chelsea, o West Ham etc.
'George' Robledo, herói do título
Foi o que aconteceu na decisão da Taça da Inglaterra, em 1952. O poderoso Arsenal, da capital, enfrentaria o Newcastle, campeão da edição anterior. Como a cidade de Newcastle upon Tyne fica no extremo Norte do país, perto da fronteira com a Escócia, os torcedores de Liverpool ficaram naturalmente a favor do time local. A partida disputada no dia 3 de maio daquele ano, no lendário Estádio de Wembley, paralisou todos os ingleses fanáticos por futebol. Mas foi um chileno o protagonista do jogo: aos 39 minutos do segundo tempo, Jorge "George" Robledo Oliver marcou de cabeça o gol do título para o Newcastle, levando o "povo do Norte" à loucura (clique aqui e veja vídeo sobre a conquista histórica).
O garotinho John, aos 11 anos
Em Liverpool, um garotinho talentoso de 11 anos, que gostava muito de ler, escrever e desenhar, ouviu a partida épica pelo rádio e também se entusiasmou. Neto de um irlandês legítimo e muito orgulhoso por ser um scouse, John Winston Lennon morava com os tios Mimi e George, pois seus pais não puderam criá-lo. É possível que, menos por gostar de futebol do que por defender a honra do "povo do Norte" contra os odiados londrinos do Sul, ele tenha decidido exaltar o grande feito do Newcastle em um desenho. E talvez este enraizado sentimento bairrista possa ter ressurgido 22 anos depois, em 1974, quando, já como um famoso ex-beatle, John Lennon escolheu o mesmo desenho para ilustrar a capa de um de seus discos.
O ex-beatle Lennon, em 1974
"Walls and bridges" ("Muros e pontes") traz, como sucessos, as músicas "Whatever gets you thru the night" e "#9 Dream". Foi um dos três trabalhos que Lennon gravou no período de um ano e meio em que esteve separado de sua segunda esposa, Yoko Ono. A ilustração na capa do disco mostra dois jogadores de futebol com camisas listradas preto e branco, à direita, disputando a bola com um defensor de uniforme vermelho e branco e um goleiro com camisa azul. Está escrito: "John Lennon, junho de 1952, idade 11, futebol". Ou seja, um mês após a vitória do Newcastle sobre o Arsenal. E o desenho mostra o gol do chileno Robledo, que decidiu a Taça da Inglaterra. Vejam:
Desenho que ilustra o disco "Walls and Bridges", de 1974, feito 22 anos antes
Lance do gol de Robledo, que é observado pelo colega Jackie Milburn (camisa 9)
Estátua do 'herói' Milburn
Notem que, assim como na foto, Lennon fez questão de preservar destaque para o camisa 9 do Newcastle, o lendário Jackie Milburn, que observava o gol do colega Robledo. Isso tinha um conteúdo simbólico para John: ele nasceu no dia 9 de outubro e considerava este como seu número de sorte, o que o levou a batizar canções com títulos como "Revolution 9" e a já citada "#9 Dream". E vejam que coincidência: John Edward Thompson "Jackie" Milburn, o tal camisa 9, que era idolatrado no Norte da Inglaterra como "Wor Jackie" (algo como "Nosso Jackie", no dialeto local), faleceria justamente num dia 9 de outubro, em 1988, quase oito anos depois de Lennon ter sido assassinado. Assim como John na música, Milburn foi um "Herói da classe operária" ("Working class hero", título de outra canção do ex-beatle) no futebol.
Robledo, pelo Chile, na Copa de 50
Mas o jogador mais festejado, naquela conquista do Newcastle, foi mesmo "George" Robledo. Nascido em Iquique, no Chile, em abril de 1926, era filho de um chileno e uma inglesa. Por problemas políticos, a família emigrou para a Inglaterra quando ele tinha 5 anos. Foram morar em Brampton, cidade famosa pelas minas de carvão. Robledo trabalhava exatamente como mineiro quando começou a jogar futebol. Chegou ao time do Newcastle em 1949 e se destacou a ponto de ser convocado pela seleção chilena para a Copa de 1950, no Brasil, mesmo sem saber falar espanhol. Jogou apenas a terceira e última partida do Chile naquele Mundial, 5 a 2 contra os Estados Unidos, em Recife (clique aqui e veja o vídeo) - e foi Jorge Robledo quem abriu o placar. Mas os chilenos já haviam perdido para a Espanha e justamente para a Inglaterra e foram eliminados.
Robledo (à direita) escora a bola e abre o placar contra os Estados Unidos, em Recife
John em 1961, rumo à glória
Em 1953, um ano depois de marcar o gol que deu o título da Taça da Inglaterra ao Newcastle, Robledo voltou para o Chile, para jogar no Colo-Colo. Mais tarde, em 1959, passou para o Club Deportivo O'Higgins, onde encerrou a carreira dois anos depois. Naquele momento, lá no Norte da Inglaterra, uma banda de rock'n'roll formada por quatro scouses liverpudianos começava a trilhar sua trajetória rumo à glória mundial, os Beatles (trocadilho entre beat, batida, e beetles, besouros). E o líder e fundador do grupo era ninguém menos que John Lennon, o garotinho que havia orgulhosamente registrado em desenho o gol do título do Newcastle de 1952. Domingo agora, 8 de dezembro, completam-se 33 anos de sua morte. Já Robledo morreu em abril de 1989, no Chile, seis meses depois do ex-colega de equipe Jackie Milburn.
A entidade beneficente inglesa Mind, dedicada a questões ligadas à saúde mental, ouviu 2 mil pessoas e concluiu em um estudo que a tensão provocada pelo trabalho pode levar ao abuso no consumo de álcool e de outras drogas. Sim, claro, não há qualquer novidade nisso. Mas sempre é bom reforçar uma obviedade dessas com a chancela de um estudo sério, para que os patrões não condenem, maltratem ou demitam aqueles supostos "vagabundos", "bêbados" e "irresponsáveis" que não conseguem suportar o "pau alado" sóbrios - afinal, já avisava Chico Buarque, na letra de "Meu caro amigo": "Porque senão, sem a cachaça/ Ninguém segura esse rojão".
E, apesar dos diversos males causados pelo álcool, a manguacice, muitas vezes, serve como válvula de escape para coisa pior. O estudo alerta, por exemplo, que o ambiente de trabalho seria responsável por
7% dos pensamentos ligados ao suicídio, subindo para 10% nas pessoas com
idades entre 18 e 24 anos. Mais de um terço dos adultos ouvidos apontam o trabalho como o aspecto mais estressante, mais do que preocupações com o dinheiro e saúde. Por isso, 57% desses pesquisados não dispensam um ou mais drinques após o expediente e 14% afirmaram beber mesmo durante a jornada de trabalho ("Opa! Traz mais meia dúzia!").
Cigarro e remédios para dormir também são consumidos como maneiras de lidar com o problema, segundo o estudo - embora nós, futepoquenses, continuemos priorizando o buteco (onde fumar geralmente é proibido). Tanta pressão e vício levam muitos a desistir: 9% dos pesquisados já pediram demissão de algum trabalho alegando estresse e 25% admitiram ter vontade de fazer o mesmo. "Um entre seis trabalhadores vive quadro de depressão, estresse e ansiedade. A maioria dos administradores não se sentem capacitados para dar apoio", diz Paul Farmer, diretor da Mind.
Agora chega, que isso já está me deprimindo. Melhor pedir a saideira...
Em um dia 17 de junho como hoje o Brasil defendia seu
primeiro título mundial de futebol, conquistado quatro anos antes na Suécia. A base titular daquela seleção
era praticamente a mesma de 1958, inicialmente, apenas com
duas mudanças: os zagueiros, Mauro e Zózimo,
no lugar de Bellini e Orlando. Nílton Santos, mesmo com 37 anos e já
atuando como zagueiro pelo Botafogo por conta da idade, foi escalado
como titular, barrando Rildo, do Santos, que fazia parte da primeira
lista de 41 convocados mas acabou cortado. Já Coutinho, que vinha
jogando no time de Aymoré Moreira, foi para a reserva e cedeu lugar
para Vavá no Mundial, pois o treinador privilegiou a experiência
dos campeões de 58.
Dos 22 atletas que
foram ao Chile, sete eram do Santos, cinco do Botafogo, três do
Palmeiras, três do Fluminense e dois do São Paulo. Ainda havia
Zózimo, do Bangu, e o jovem Jair da Costa, da Portuguesa. O grupo da
seleção no torneio contava com México, Tchecoslováquia e Espanha.
A estreia foi contra os mexicanos e o Brasil venceu por 2 a 0, mas
não jogou um futebol convincente. Pelé fez o cruzamento para
Zagallo marcar o primeiro gol da partida, que só surgiu aos 11 do
segundo tempo e o próprio Dez marcou o segundo, depois de driblar
dois adversários, aos 28.
Mas se a desconfiança
pairava sobre a seleção, que muitos viam como uma equipe
envelhecida, a situação ficaria ainda pior na segunda partida. O
jogo entre Brasil e Tchecoslováquia terminou em zero a zero, mas a notícia ruim foi a contusão de Pelé, que, aos 27 minutos, depois de
finalizar de fora da área, sentiu a virilha esquerda. Sem condições
de atuar, ficou em campo até o final, já que não eram permitidas
substituições. No dia seguinte, o diagnóstico de distensão no
músculo adutor da coxa esquerda confirmava os temores do time e da
torcida: Pelé estava fora da Copa.
Na partida que fechou a
primeira fase, o Brasil precisava somente do empate para ir às
quartas de final do Mundial, mas a Espanha era um time forte, que
tinha praticamente o ataque do Real Madrid campeão europeu. E
contava com um expediente que depois seria proibido: a naturalização
de atletas, mesmo daqueles que já tinham disputado jogos por outras
seleções. Assim, a Fúria vinha com o húngaro Puskas e o argentino
Di Stefano, que chegou ao Chile contundido, além do uruguaio
Santamaría e o paraguaio Martínez. Após a Copa, a Fifa proibiu a
“naturalização por atacado”, que estava virando moda, como
mostrava a seleção da Itália, que também tinha os seus: os
brasileiros Sormani e Altafini e os argentinos Sívori e Maschio
O time inteiro jogava
mal e a Espanha chegou ao gol aos 35, com Adelardo. Tudo poderia
ter sido ainda pior se não fossem dois grandes erros da arbitragem. O
primeiro, em um lance que já se tornou lenda, no qual Nílton Santos
derrubou Collar na área mas, espertamente, deu um passo à frente,
ludibriando o árbitro chileno Sergio Bustamante. Na sequência, após
a cobrança de falta de Puskas, Peiró marcou de bicicleta, mas o gol
foi anulado por Bustamante ter entendido o lance como “jogada
perigosa”, ainda que Peiró estivesse a mais de um metro de Zózimo.
O vídeo abaixo mostra dos dois lances. Amarildo e Garrincha
marcariam a virada brasileira.
E Garrincha apareceu
Vieram as quartas de final
foram contra a Inglaterra e, finalmente, brilhou a estrela de
Garrincha. O ponta havia sido muito criticado pelo seu desempenho na
primeira fase e, sem Pelé, o Brasil apostava no talento do craque
das pernas tortas. Ele marcou o primeiro tento da partida, de cabeça,
mas os ingleses empataram oito minutos depois, com Hitchens. A
igualdade persistiu até os 8 do segundo tempo, quando Vavá escorou
após rebote do goleiro Springett em cobrança de Garrincha. O ponta
faria ainda o terceiro, em chute de fora da área. Naquele dia,
Garrincha só seria driblado por um cachorro que entrou em campo
paralisando a peleja. Outro cão provocou uma segunda paralisação e
sumiu debaixo das arquibancadas.
A semifinal seria
contra os donos da casa e a seleção tentou se precaver contra
qualquer imprevisto. Tanto que a refeições do dia da semifinal
foram providenciadas pela própria comissão técnica brasileira, que
tinha medo de algum “problema” com a comida servida aos jogadores
no hotel. Na partida, o infernal Garrincha assegurou a vantagem logo
aos 9, com um chute de fora da área que foi parar no ângulo
esquerdo de Escuti. Ele marcaria novamente aos 31, de cabeça, com o
Chile descontando em cobrança de falta aos 41 ainda do primeiro
tempo.
Logo no início da
segunda etapa, Vavá não deixou os anfitriões se animarem, e marcou
após escanteio. Leonel Sanchez descontou de pênalti e Vavá
fez o quarto, aos 33. Depois do último gol, o jogo sairia do
controle do árbitro peruano Arturo Yamazaki. Landa foi expulso após
falta dura em Zito e Garrincha, caçado durante todo o tempo, revidou
em cima de Rojas, agredindo o chileno. O juiz não viu o lance, mas
foi cercado pelos chilenos, que apelaram para o testemunho do
auxiliar uruguaio Esteban Marino, que confirmou a agressão. Como não
havia suspensão automática, ficava a dúvida: Garrincha poderia
jogar a final pelo Brasil?
E daí surge mais um
episódio “estranho” a favor dos brasileiros. Em sessão
extraordinária do Tribunal da Fifa, o árbitro disse não ter visto
a agressão, mas que o uruguaio Marino havia confirmado que ela tinha
existido. Convocado para depor, Marino não compareceu, pois já teria
deixado o Chile àquela altura. Sem o depoimento, Garrincha foi
liberado para atuar contra a Tchecoslováquia. À época, dizia-se
que a CBD teria pago a viagem de Marino, que estaria no Brasil.
Um mês após a Copa, o uruguaio foi contratado pela Federação
Paulista de Futebol.
No dia da final,
Garrincha amanheceu com febre e não teve a destacada atuação dos
dois jogos anteriores. Os tchecos aproveitaram e abriram o placar aos
15. Mas somente dois minutos depois do gol de Masopust, Amarildo
empatou, em um lance no qual o arqueiro Schroif fez um fatídico golpe de
vista.
Na etapa final, a
seleção veio melhor, mas poderia ter encontrado mais problemas se o
árbitro Nikolai Latchev tivesse marcado pênalti quando Djalma
Santos tocou a bola com o braço dentro da área, em cruzamento de
Jelinek. Como o juizão interpretou “bola na mão”,
o jogo seguiu e, aos 24, Amarildo fez grande jogada pela esquerda e
cruzou para Zito, que marcou. Algo raro, já que, por ser volante, o santista costumava chegar pouco à área e na sua trajetória com a camisa do Brasil foram apenas três gols. Um deles, este, que pode ser considerado o do título.
Após nova falha, mais grotesca, de Schroif, Vavá fez
o terceiro aos 33 e selou a vitória brasileira. O país que tinha
complexo de vira-latas no futebol antes do Mundial de 58, vencia pela
segunda vez a Copa do Mundo. E como perguntar não ofende, será que algum jogador, desses que costumam imitar João Sorrisão e quetais, na rodada do Brasileirão de hoje vai lembrar de homenagear os grandes de 1962?
Boa parte das
informações contidas neste post estão no ótimo livro de Lycio
Vellozo Ribas, O
mundo das Copas. Mais que recomendável.
Isso sim é que é "quilometragem" manguaça: aos 66 anos, o inglês Bruce Masters (foto) garante que já visitou 45 mil pubs (bares) no Reino Unido. O maluco teve a manha de contar cada vez e lugar onde foi exercitar sua bebedeira, desde o início da "maraToma", em 1960 - ou seja, cabalisticamente, há 51 anos (uma boa ideia). Isso dá uma média de mais de 882 bares por ano, mais de dois por dia! Segundo as contas do bêbado, ele já consumiu mais de 14 mil litros de cerveja, ou 25 mil pints, copo padrão de cerveja em terras britânicas, com capacidade para mais ou menos 570 ml - Bruce aparece segurando um deles na imagem ao lado. Esse consumo significa 274,5 litros por ano - ou cerca de 750 ml diários. Sim, mais do que um pint, religiosamente, todo santo dia, em mais de meio século! Esse é bão!
Se considerarmos um preço médio de 5 euros por pint (pelo menos era o que eu costumava encontrar, quando morei na Irlanda), o pingão gastou cerca de 158,9 mil reais só em cerveja nestas cinco décadas, pela cotação de hoje (R$ 2,27 o euro). E Bruce não desiste: "Ainda há um grande número de pubs que não visitei. Se vale a pena fazer uma coisa, vale a pena fazê-la muito bem!". O último pub pelo qual passou foi o Hole in the Wall (Buraco na Parede), na cidade de Portsmouth. O cachaça quer seguir marchando pelos pubs para beliscar uma vaga no Livro dos Recordes, o Guinness Book (Guinness, aliás, que é marca de uma tradicional cerveja irlandesa). Porém, enquanto muitos de nós admiramos Bruce pelo seu desempenho, sua mulher obviamente não está muito feliz com o recorde. "Ela não inveja o que tenho feito, ela simplesmente prefere ficar em casa", revelou o manguaça. É justo.
A BBC informa que sete pessoas foram submetidas ao "sacrifício" de permancerem presas por oito longos dias dentro de um pub no Norte da Inglaterra, pois a saída do estabelecimento foi soterrada por uma grande quantidade de neve (foto). O acesso ao pub Lion Inn, na cidade de Blakey Ridge, condado de North Yorkshire, foi interrompido na sexta-feira da semana passada, após mais de seis metros de neve terem caído na região. Somente na noite de sábado, com a reabertura da estrada, foi que os manguaças puderam sair do local - ou apenas os que ainda não estavam em coma alcoólico, talvez.
O cozinheiro Daniel Butterworth entregou que os funcionários aguentaram os primeiros dias de confinamento graças à bebida e que todos "riram muito" durante os dias em que estiveram isolados dentro do pub. Motivo não faltou: "Os patrões não estavam aqui, não puderam chegar por causa da neve", comemorou Butterworth. Além de manter os manguaças vivos e felizes, a bebida ainda ajudou no resgate, pois eles só conseguiam sair ao jardim com trenós improvisados com caixas de cerveja. Taí, se um dia eu viajar à Inglaterra nessa época do ano, vou considerar a possibilidade de incluir Blakey Ridge no meu roteiro...