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sexta-feira, maio 27, 2011

Discípulos de Braguinha

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Na década de 1980, muitos dos garotos de Taquaritinga (SP), entre 7 e 17 anos, passaram por uma escolinha de futebol que, se não foi a única, com certeza foi a primeira da cidade. O professor era o ex-jogador Braguinha, que foi campeão paulista da 2ª Divisão pelo Clube Atlético Taquaritinga (CAT), em 1982, garantia de acesso à divisão de elite do estado, que disputaria nos dois anos seguintes. Na foto acima, do elenco campeão, Braguinha é o quarto da esquerda pra direita, sentado.

Nos primeiros tempos, a escolinha funcionou em um campinho anexo ao ginásio municipal. Depois, Braguinha comprou um terreno e contratou meu pai para nivelar e demarcar o campo. Foi assim que, aos 11 anos, ganhei bolsa integral para jogar lá, duas vezes por semana. Como já comentei algumas vezes neste blogue, sempre fui "doente do pé" pra futebol. Gordo, míope, desajeitado, sem habilidade, sem noção. Em resumo: grosso, mesmo. Como a única vantagem era ser alto, virei zagueiro. De muitos vexames, pauladas e algumas pequenas "glórias".

Convocado pra 'seleção'
Dessas "façanhas", lembro de duas. Toda semana Braguinha escolhia os 11 melhores garotos, entre as quatro ou cinco dezenas que lá jogavam, para compor a seleção que, no sábado, enfrentava o time mais forte da escolinha, de garotos na faixa de 14 a 15 anos. Ciente de minha ruindade, nunca sequer considerei a hipótese de ser selecionado. Mas fui! Teve uma semana que eu mandei muito bem na defesa, e até fui pro ataque, fiz um gol de cabeça numa cobrança de escanteio.

No sábado eu estava lá, com um uniforme especial da escolinha, reservado para essas partidas (que depois tive que levar pra casa pra lavar, passar e devolver). Foi um jogo debaixo de muita chuva, com o campo todo enlameado. Acho que perdemos, pois um bando de moleques de 11 ou 12 anos não podia competir com caras de 15 ou 16. Mas deve ter sido um placar apertado, vendemos caro a derrota e fomos elogiados pelo Braguinha. Melhor que isso: joguei bem e, na medida do possível, consegui desarmar um dos atacantes adversários algumas vezes. Lembro de chegar em casa coberto de lama, como o sobrevivente de uma guerra. Como um herói. Orgulhoso.

Outra pequena "glória" foi ter sido escolhido, depois disso, para representar a escolinha numa partida em uma cidade próxima, Catanduva. Dentro do ônibus, na estrada, nos sentíamos como jogadores profissionais, viajando para enfrentar mais uma partida decisiva. Doce ilusão: apanhamos de 4 a 0, ou coisa parecida, de uns moleques baixinhos que driblavam e tocavam a bola de forma alucinada. Mas valeu a aventura. Ontem, fuçando coisas velhas, encontrei minha carteira da escolinha (reprodução acima). Não faço ideia do destino de Braguinha, mas guardarei sempre na lembrança, graças a ele, aqueles dias de "boleiro" mirim.

Ou, como diria Chico Buarque, "ah, que saudades que eu tenho dos meus 12 anos, que saudade ingrata!".

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Momentos históricos (re)vividos

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Quando se vive um momento histórico, é quase inevitável sentir o peso de cada gesto, a força de cada imagem, e aquilo cria um vinco indelével no curso do tempo, um marco ao qual se vai retornar sempre. É o que contam os que viveram os episódios de 68, por exemplo. Lembro também que no dia 12 de setembro de 2001 já se falava no 11 de Setembro.

Assim também foram os inesquecíveis anos 80, com toda a sua profusão cultural, em particular na música pop. Quando Oswaldo Montenegro cantava "Condor", com seus versos fortes e sonhadores, numa voz cheia de arestas, com deslizes desafinados de emoção e acompanhado de um coro negro ad hoc, quem não percebia que se lembraria daqueles momentos por muito, muito tempo?

Ontem, Glauco e eu resolvemos puxar na memória coletiva (Google) alguns dos maiores clássicos desses anos 80 que formaram a nossa geração. Aliás, se os anos 80 servem para alguma coisa é para manter viva na memória a chacota universal. Novas décadas virão, mas duvido que alguma renda tanto. Em busca do melhor do pior da poesia pop nacional, fizemos uma única restrição, considerado-os hors concours de saída: os Engenheiros do Hawaii. Seria fácil demais.

Mas outros gaúchos vieram liderando as lembranças, tabelando Kleiton e Kledir com a clássica dobradinha "Quando eu ando assim meio down / vou pra Porto e, bah!, tri-legal!" e fazendo a assistência mortal para Nenhum de Nós com "O astronauta de mármore". Mas o hoje esquecido Dalto mostra que dá pra chegar muito mais longe no sentimento... Ainda que não tanto quanto o inigualável Fábio Júnior que, com um dos mais belos versos da música brasileira, define — como ninguém mais antes enm depois — nada menos que a felicidade: "uma gota d'água descobrindo que é o mar azul" (não percam esse clipe-slide-show assinado por Gislaine Borba).

Precursor de várias gerações de boyzinhos brasileiros que foram viver amores fugazes nas vibrantes e loucas metrópoles europeias, o já então surpreendente Supla chega com sua "Garota de Berlim". Mas às vezes as viagens mais distantes são feitas na própria alma, em perigosas egotrips. E Guilherme Arantes nos saúda com "Um dia, um adeus".

Dá pra passar uma vida revivendo os 80. Mas um mestre maior nos levou aos 90, mostrando-se a síntese antropofágica de todo esse movimento artístico misturado com a tradição cearense das canções de duplo sentido: ninguém menos que Falcão. A crônica social, psicanálise, teoria do conhecimento, releitura do folclore, poesia lírica, nada escapou à verve do gênio.

Com a ajuda do camarada Paulo Macari (que já me indicou um furo do (então) são-paulino Adriano com o (talvez já) come-traveco Ronaldo), recuperei esta foto, tirada num circo em Maceió, nos idos de 1994 ou 95... O Macari é naturalmente o autor da(s) foto(s).



A cara vermelha não nega, mas não consigo nem calcular quanto eu já tinha bebido naquele momento. Na viagem, basicamente eu bebia e circulava de praia em praia, na bela Maceió. Mesmo assim, lembro como se fosse hoje. O circo pegou fogo. Falcão entrou com seus trajes cuidadosamente escolhidos, o girassol na lapela e uma banda que parecia mesmo uma charanga. O mestre cearense empunhava as mãos em chifres, como um metaleiro, e bradando ao povo com sua voz potente e calma: "ô seus cornudo, é tudo corno", arrancando gargalhadas de outros bêbados.

É, mais engraçado que tudo isso, só mesmo o frangaço do Rogério Ceni, que interrompeu nossas investigações com mais um gesto histórico... e depois o cara de pau (sem trocadalho) pede pra sair... é ridículo. Sentiu uma "velha lesão", dá pra imaginar onde... Hahahahah