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quinta-feira, outubro 09, 2014

Serviço CONSCIENTIZADOR obrigatório

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JOVEM! Sai da internet e VAI SE VIRAR SOZINHO, PÔ!
Texto primoroso - e muito oportuno - do amigo Nikolaos Papadopoulos*:

"Umas das coisas que o próximo presidente poderia fazer era abolir o serviço militar obrigatório. Não desexistir o negócio, mas substituir por uma coisa melhor. Todas as pessoas, homens e mulheres, quando fizessem dezoito anos, deveriam parar o que quer que estivessem fazendo e serem obrigadas a viver por conta própria até fazerem dezenove anos. Nessa idade estariam liberados para voltar para o conforto da casa dos seus pais, o cursinho, a faculdade particular, o videogueime, o carro que ganharam de presente no ano anterior e não puderam usar, o que seja. Mas esse ano seria dedicado a experimentar a vida de milhões de brasileiros e outras pessoas ao redor do mundo que, desde o primeiro dia de vida, estão entregues à própria sorte.

Nesse período, o filho de classe alta largaria seu Playstation 6 (sei lá qual o número que esse treco já chegou) e seu iPhone 12, e seria proibido de receber ajuda de parentes e amigos, assim como trabalhar em empregos cedidos por pessoas próximas. Nada disso. O mundo não é para fracos. Te vira, moleque. 'Mas não se pode abandonar um jovem assim, à própria sorte, isso é desumano!', diriam os pais ricos desses adolescentes. Não se preocupem. Morrer de fome ele não vai. Bolsa Família existe para isso. Como todo brasileiro, o garoto poderia ser beneficiado com os 77 reais por mês do Bolsa Família, que é exatamente o mínimo que o Governo Federal estabelece para que alguém não seja considerado extremamente pobre. Se o moleque for burro ou incompetente, vai ter que se contentar com esses 2,57 reais por dia. Afinal de contas, o mundo é para os bons, e se tem alguém que pode ser culpado pela pobreza, são os pobres. 'Mas e se o menino ficar doente?', perguntariam de novo. Ué, se ele for danado, vai ter dinheiro para pagar um plano de saúde ou um médico particular. Senão, SUS. Pegar fila. A vida é isso, se você não consegue mostrar seu valor no mercado, independentemente da sua história de vida, é o que sobra. Meritocracia, baby.

Ainda durante esse ano, aqueles que não conseguissem se garantir no mercado de trabalho teriam que sair em público com uma braçadeira que os distinguissem como beneficiários de programas sociais. Algo parecido ao que os nazistas faziam com os judeus, só que por uma boa causa: todos ficariam sabendo que aquele inútil custa impostos ao trabalhador honesto. Um impostômetro ambulante. 'Esta pessoa recebe dinheiro do governo', diria a braçadeira. Um relógio eletrônico junto à braçadeira contaria, em tempo real, o dinheiro saído dos cofres públicos para garantir que esses incapazes continuassem a existir. Embaixo, teria escrito também 'Evite dar esmola. Desestimula o trabalho.'

O ódio que nós vemos todos os dias nas redes sociais é falta de empatia. Só sabe o que é ser lixo quem já foi lixo. Eu me pergunto se nesse novo Brasil esse ódio ainda existiria."


*Nikolaos Papadopoulos é esquerda caviar, petralha, comunista, médico terrorista de Cuba. Dá o peixe, não a vara.


quinta-feira, julho 18, 2013

Cavalo arreado

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Terça-feira, duas horas da tarde. Naquela sauna, dois oficiais conspiram - e transpiram. O mais velho tentando impor a "linha dura"; o outro, quase cedendo a uma "abertura ampla, geral e irrestrita". No calor dos acontecimentos, enrolados apenas em toalhas sumárias, confabulam:

- Major, a hora é agora!

- Shhhhh! Tenente, já falei que, aqui dentro, meu codinome é Bilú!

- Perdão, majo..., digo, Bilú. Mas reafirmo: as condições se apresentaram.

- Tem certeza, Tetéia?

- Tetéia? Que Tetéia?

- É o teu codinome, energúmeno!

- Ah, sim! Bem lembrado, majo..., digo, Bilú.

- Exponha suas considerações.

- Maj..., Bilú, tenho observado atentamente as manifestações nas ruas e nas redes sociais. Como o nosso serviço de inteligência já tinha detectado, eles convergem diretamente conosco: querem derrubar o governo e fechar o Congresso. Só que fui além. Identifiquei dezenas deles e, pesquisando seus perfis e publicações na internet, descobri algo ainda mais significativo. Eles nos apoiam! Querem as Forças Armadas de volta ao poder!

- Shhhhh! Cala a boca! Tenente, nunca se esqueça: aqui dentro não existem Forças Armadas! Diga apenas Farofa-fá! Compreendido?

- Às ordens, senhor!

- Também não precisa bater continência! Mas prossiga, Tetéia. O que te faz crer que a juventude quer o nosso retorno?

- Muitos jovens, de boas famílias e íntegra procedência, postam fotos de tropas desfilando e de tanques, senhor, com frases como "É preciso botar ordem na casa", "Ocuppy Brasil" ou "A hora está chegando". E muitos deles dizem claramente, em postagens ou comentários, que querem que as For..., digo, querem que Farofa-fá tome conta da situação!

- Bom, muito bom. E eu que pensava que se tratava de meros baderneiros ou agitadores comandados pela corja vermelha.

- Não, maj... Não, Bilú! São patriotas. Apoiam Farofa-fá! Estão do nosso lado.

- Bem, Tetéia, também não precisa exagerar. Duvido que, se passasse uma lista no meio de qualquer uma dessas manifestações pedindo alistamentos voluntários, a gente arrumasse mais que meia-dúzia...

- É... Com certeza. Por outro lado, isso explica exatamente o motivo de nos convocarem para fazer o que eles querem.

- E o que nós também queremos.

- Exato, maj..., Bilú! Vamos ao golp..., digo, à Nova Redentora!

- Shhhhhhhh! Diabos, Tenente! Digo, Tetéia! Aqui nesta sauna não tem Redentora nenhuma! É Pimenta Malagueta! Pimenta Malagueta!

- Às ordens, às ordens! Perdão. Sem continência. Pois bem, vamos à Pimenta Malagueta! Sem refresco! E com o apoio da juventude manifestante! O gigante acordou!

- Mas será que acordou, mesmo? Quais são as condições? Só com a juventude, não faremos nada.

- Temos tudo na mão, maj..., Bilú. A Platinada, como sempre, promete apoio total. Ainda mais depois que alguns desordeiros resolveram protestar em frente ao seu prédio e que desencavaram uma história caluniosa sobre suposta sonegação de impostos.

- Que é tudo verdade, mas não é da nossa conta. Agora, apoio da Platinada é óbvio, não diz nada. É a mesma coisa que dizer que a revista dos carcamanos nos dá cobertura. Fora a mídia, o que temos de concreto, de sólido, no nosso braço político civil?

- Ótimas notícias. Tomei a liberdade de conversar com o Imortal.

- Que Imortal?

- O Sociólogo, major. Shhhhh! Perdão, perdão. Sem continência. Falei com o Sociólogo, Bilú. É que ele acabou de entrar pra Academia.

- Ah, sei. Mas ele também sempre foi nosso. O pai dele era nosso.

- Sim, sim. Só que eu perguntei se eles ainda têm esperança de vencer nas eleições do ano que vem ou estariam dispostos a compor com a gente para governarmos juntos.

- Governarmos juntos? Explique-se, Tetéia.

- É simples. O Imortal aprovou (e confidenciou que eles não vencem nas urnas nem que o tomate tussa!). É o seguinte: a gente derruba o governo mas dá a posse ao Vice. E aí implanta o parlamentarismo. O primeiro-ministro seria indicado pelo Imortal. No caso, seria o Mineiro. Que é perfeito para o posto de primeiro-ministro. Seu finado avô, inclusive, já tinha nos prestado esse serviço.

- Hummm. Engenhoso. Mas como assim "posse ao Vice"? Você está louco, Tetéia? O partido do Vice já manda no Congresso e, da última vez que mandou no governo, fez três planos econômicos desastrosos e chegou a 60% de inflação ao mês - sem contar o golp..., digo, a artimanha do mandato de cinco anos.

- É. E o homem mandava no Senado até outro dia. Só que o senhor não está atentando para um detalhe: nós vamos fechar o Congresso. E depois vamos extinguir as eleições diretas. Logo, quando acabar o mandato, o Vice, por nós investido de presidente, sairá de cena. E, a partir daí, só tomará o cargo quem nós quisermos. Já a função de primeiro-ministro, como combinado na conversa que tive, deixaremos para o partido do Imortal. Como o senhor disse, "nosso braço político civil".

- E os nossos superiores? Já sabem disso?

- Claro, senhor! Não leu os jornais? Eles andam escutando todo mundo, no mundo todo. Não tem telefone, computador ou informação de qualquer gênero que esteja a salvo. O Grande Irmão sabe de tudo. E, como sempre, também está do nosso lado. Com informações, propaganda, dinheiro ou até armamentos, se preciso for.

- Ah, não será necessário. Golp..., digo, revolução, nesse país, sempre foi pacífica. Reeditaremos a Pimenta Malagueta sem precisar dar um tiro sequer.

- E a Platinada e a revista dos carcamanos estarão a postos para justificá-la como a mais legítima forma de redemocratização. Como em Honduras. Ou no Paraguai.

- Tem razão. Excelente. Tetéia, gostei dessa sua sugestão sobre parlamentarismo. Porque primeiro-ministro não manda nada. Mas, ao mesmo tempo, sacia a vaidade do Imortal e do partido dele. Quem vai mandar, mais uma vez, somos nós! As For..., digo, Farofa-fá! Pode ser interessante, durante um certo período. Dá um ar de modernidade, de renovação, de primeiro mundo. O povo vai gostar. É capaz, até, de comemorar. E, com o tempo, mudaremos gradualmente essa configuração. Editaremos atos complementares, extinguiremos os partidos, concentraremos os mecanismos decisórios. Tenho planos, muitos planos. Está decidido! Vamos agir!

- Muito bem, maj.., Bilú!  Vamos à Pimenta Malagueta! Com Farofa-fá no comando! Vou iniciar as articulações com os Anonymous no Facebook. A Platinada e o Imortal cuidarão do resto. O cavalo está arreado e, mais uma vez, não vamos deixar ele passar.

- Ah, Tetéia, não me fale em cavalo...

- Por que, senhor? Também prefere o cheiro dele ao cheiro do povo?

- Prefiro a massa cheirosa. Mas não é bem isso.

- O que é, então? Que olhar é esse, senhor?

- É que cavalo me lembra montar...

- Bilú, Bilú...

- Ah, Tetéia...

E assim, com a juventude nas ruas e nas redes sociais, a Platinada brilhando e o Imortal operando, Farofa-fá já trama uma nova Pimenta Malagueta.

No do povo, é refresco.

'Anônimos'? 'Apartidários'? Os mascarados sabem muito bem o que querem...

sexta-feira, maio 15, 2009

Necessidade justificada - e atendida

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Outro dia, entre uma cerveja e outra, eu questionava meu pai sobre o ato de dar esmolas ser um bem ou, involuntariamente, um mal. Explico: para mim, quem concede não prioriza a atuação política para fazer com que mais ninguém precise pedir. E, por outro lado, quem recebe pode se acostumar com isso - ou pode se tratar apenas de um espertalhão, que não precisa, mas pede. Reflexivo, meu pai lembrou que pedir sempre é uma coisa muito difícil, um ato desesperado. Por isso, na maioria das vezes, ele atende.

E me contou uma passagem de seus tempos de exército. Nascido em uma vila pequena onde não havia serviço militar, meu pai foi trabalhar em Araraquara (SP), aos 19 anos, crente que havia sido dispensado de forma automática. Mas, um ano depois, um colega o alertou que seu nome estava escrito a giz, em uma lousa, na lista de insubmissos (os que deveriam ter se alistado nos anos anteriores e não o fizeram) lá na Junta Militar daquela cidade. Meu pai foi até o local e constatou que, infelizmente, era verdade.

E pior: não havia mais a possibilidade de fazer o chamado Tiro de Guerra, serviço mais ameno e de meio período mantido nas cidades menores. Ele teria que morar e servir em tempo integral na cavalaria, em Pirassununga (SP), terra da cachaça 51 e de outras marcas populares. Passou um ano e meio lá, período em que disputou o Campeonato Amador do Estado pelo time do exército, como lateral esquerdo, e também a tradicional Corrida de São Silvestre, na capital, na entrada do ano em que se comemorava o quarto centenário da cidade (além de muitas outras aventuras...).

Mas ele conta que, quando era dispensado para passar o final de semana com a família, geralmente não tinha dinheiro para viajar. Por isso, os soldados iam pedindo carona e se aboletando em carros, carroças e caminhões, numa jornada que poderia durar oito horas ou mesmo um dia inteiro, dependendo das oportunidades. Numa dessas, o motorista parou num posto de beira de estrada, para comer, e meu pai foi à caça de algo para o estômago. Havia um rapaz de roupa verde, no balcão, e meu pai, fardado, foi direto ao assunto:

- Companheiro, eu estou com fome, mas não vou te pedir comida. Se você puder me pagar uma pinga, já resolve minha situação.

- Ah, rapaz, deixa disso! Fulano, vê aí uma pinga reforçada pra ele!

O balconista veio com um copão americano quase transbordando e, antes que meu pai pudesse agradecer, o "anjo da guarda" atalhou:

- Eu também fiz o 17° RC (Regimento de Cavalaria) lá em Pirassununga, sei muito bem o que é aquela porcaria. Pode beber tranquilo!

"Abastecido", meu pai conseguiu enganar o estômago e dormir até o destino final. E, até hoje, nunca nega um copo de pinga a quem vier pedir.