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terça-feira, agosto 18, 2015

'Nossa vida no teu seio mais AMORES...'

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"A lhaneza no trato, a hospitalidade, e generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro." - Sérgio Buarque de Holanda


segunda-feira, março 16, 2015

Tomaram conta

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Bolinha voa sobre Serra: ódio
O triste "espetáculo" que tomou as ruas ontem, em todo o país, confirma que, ao contrário do que comemorava a campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores, a esperança NÃO venceu o ódio quando a presidente Dilma Rousseff foi reeleita. Muito pelo contrário. "Nunca antes", desde que Lula tomou posse, em 2003, este sentimento de ódio irracional e violento esteve tão forte, palpável e amedrontador. Em post escrito em novembro de 2010, comentei: "A campanha de esgoto que o tucano José Serra fez (...) nas eleições presidenciais conseguiu trazer para os holofotes os setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira e acentuou à tensão máxima o ódio, o preconceito e a divisão raivosa entre nós". Me enganei. Não havíamos, na época, chegado à tensão máxima. Aquele clima de "vamos fazer justiça com as próprias mãos, vamos matar e esquartejar esses petistas desgraçados" detonado por Serra - e a "grande" imprensa - com a lamentável e constrangedora farsa da bolinha de papel era apenas o início da escalada do ódio. E, depois de ontem, tenho medo só de imaginar quando a tensão máxima de fato for atingida...

"Deus" e "militares": como em 1964
Esse ódio, que sempre foi insuflado pela elite e a mídia golpistas contra o citado Partido dos Trabalhadores, seus integrantes e militantes, agora passou a um outro nível. Ao receber todos os palanques, holofotes e espaços possíveis, estes "setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira" ultrapassaram a fase de negação (dos "petistas", dos "sem-terra", dos "comunistas", "cubanos", "bolivarianos", "chaviztas" etc etc etc etc) e partiram para a afirmação pública, explícita e orgulhosa de todas as suas bandeiras (as piores possíveis). Depois de ontem, o impeachment ao governo Dilma Rousseff, o ódio ao PT, a Petrobras, a "corrupção generalizada", a "crise" econômica e outros quetais passaram a ser apenas o granulado do bolo. A verdadeira massa deste quitute é o fim da democracia partidária e das eleições diretas, a defesa do retorno à ditadura militar, a criminalização dos trabalhadores organizados, o combate a todo e qualquer movimento dos excluídos, dos negros, dos nordestinos, das mulheres, dos homossexuais.

Janine: ataque aos direitos humanos
Mesmo em minoria (pois perderam as últimas quatro eleições presidenciais), os conservadores e extremistas tomaram conta não apenas das ruas, mas do cenário político e midiático, da internet e de todos os locais onde alguém se atreve a falar sobre algo que eles odeiam. Dá discussão. Dá briga. A sem-cerimônia com que os "líderes" do tal movimento "Revoltados Online" faz propaganda do execrável Jair Bolsonaro (PP) como seu preferido na disputa presidencial de 2018 dá ideia de onde o ódio disseminado pela oposição e pela imprensa irresponsável nos levou. Como bem observou o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor da cadeira de Ética e Filosofia Política da USP, em palestra recente, "A extrema-direita está se distinguindo do restante por um ódio cabal aos direitos humanos. (...) Atacam o homossexual, a igualdade de gênero, os direitos das mulheres. (...) O perigoso no Brasil, de certa forma, é a extrema-direita ir se aproximando da direita e contaminando, a ponto de seu apoio se tornar essencial. (...) Estamos tendo no Brasil uma tolerância, que é grande, com condutas antidemocráticas que deveriam ser tipificadas como criminosas… Pregar a volta dos militares deveria ser crime, deveria levar a pessoa para a cadeia". EXATAMENTE.

Cômico, se não fosse trágico: brincadeira na Internet reflete bem do que se trata o post



quarta-feira, outubro 29, 2014

Bebês mimados

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Mainardi: injustificável e inaceitável
No rescaldo das eleições presidenciais, continuamos presenciando o fluxo e refluxo de ódio, racismo, preconceito, agressões gratuitas e comportamentos injustificáveis e inaceitáveis. Leio hoje sobre as (abomináveis) declarações do (abominável) comentarista da Globonews, Diogo Mainardi:

"O Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi governista, sempre foi bovino (...). É uma região atrasada, pouco educada, pouco construída, que tem uma grande dificuldade para se modernizar na linguagem. A imprensa livre só existe da metade do Brasil para baixo. Tudo que representa a modernidade tá do outro lado."

Hulk defende sua região de origem
O ponto positivo dessa estultice foi que, comprovando que "um filho teu não foge à luta", o nordestino Givanildo Vieira de Sousa, jogador de futebol apelidado de Hulk, titular da seleção brasileira na última Copa e que atua no Zenit, da Rússia, respondeu à altura tal desaforo:

"Infelizmente o Mainard [sic] demostra ignorância e arrogância quando crítica o Nordeste. Nossa população tem dificuldades e luta com humildade para melhorar sua condição de vida. As maiores dificuldades foram impostas pelos diversos Governos ao longo dos anos. Mainard, respeite o Nordeste!"

Eu detalharia: ignorância que motiva Mainardi a espumar de raiva contra uma região que não foi a responsável pelo resultado das eleições (veja quadro abaixo) e exemplo de uma arrogância sem limites que está sendo demonstrada por brasileiros de Norte a Sul, verdadeiros "bebês mimados".


Minas e Rio derrotaram Aécio, mas o paulistano Mainardi vocifera contra o Nordeste

A atitude e a postura de Mainardi disseminam o mesmo ódio de seu "mentor intelectual", (o mais abominável ainda) Paulo Francis. Ídolo-mor de gente como Arnaldo Jabor, Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo, que, assim como Mainardi, colaboram para disseminar o ódio, o preconceito e a agressividade mimada. O tão superestimado e festejado "intelectual" Paulo Francis escrevia coisas como essas:

"É pouco provável que um filho do Nordeste, região mais pobre do país, vergonha nacional, saiba alguma coisa, pois vive no século XVI."

Em junho de 1994, Francis descreveu o senador pernambucano Ronaldo Aragão como:

"Um ...mulato, feijão mulatinho... que parece descender do macaco certo (isto é, não de Lula)."


Paulo Francis criou escola na 'grande' imprensa 'carente de qualquer referencial ético'

Tais frases são destacadas em texto do jornalista Bernardo Kucinski que observa precisamente:

"Esses exemplos, em sua maioria já da década de 90, revelam não apenas um Paulo Francis doentio, mas um país doentio e uma grande imprensa carente de qualquer referencial ético. Os insultos de Paulo Francis eram passíveis de processos na Justiça, inclusive pela implacável lei Afonso Arinos. O fato de que poucas vezes tenha sido processado denota a descrença do brasileiro na Justiça, em especial quando se trata de crimes de imprensa, injúria, calúnia e difamação."

Kucinski vê descrença na Justiça
Exatamente. O que presenciamos hoje, boquiabertos, não só na imprensa mas nas manifestações grosseiras, aviltantes e nauseantes de todos os que gritam contra o resultado democrático das eleições, é justamente o reflexo de "um país doentio e uma grande imprensa carente de qualquer referencial ético", e "se trata de crimes de imprensa, injúria, calúnia e difamação". Mas, para além disso (ou melhor, antes de tudo isso), é resultado do comportamento de "bebês" que foram mimados excessivamente pelos pais, como bem resume o cientista social Antônio Ozaí da Silva:

"Vejo crianças e jovens aborrecentes mimados, arrogantes e autoritários. Pais endividados e perdulários tudo fazem para atender os desejos dos pequenos reizinhos e princesinhas despóticos. Sentem-se culpados se não conseguem saciá-los. Acostumam os filhos a um padrão de consumo muitas vezes acima das possibilidades. Não conseguem voltar atrás, cortar gastos e os pequenos prazeres."

Antônio Ozaí: 'reizinhos despóticos'
O texto de Ozaí, intitulado "Meninos e Meninas Mimados", ajuda a entender por que pessoas como Mainardi se acham no direito de ficar "bravinhos" com uma adversidade (a derrota de seu candidato/grupo político nas eleições) e preferem jogar a culpa nos outros em vez de fazer a autocrítica da situação (no caso, reconhecer que o tal candidato/grupo político perdeu em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, na região Sudeste, e não no odiado Nordeste). São os pais que os "amestram" assim:

"Quando os filhos mimados não correspondem ao esperado, por exemplo, quando o desempenho escolar, apesar de tudo, não vai bem, eles têm dificuldades em superar a situação pelos próprios meios. Creditam a culpa à escola, aos professores."

Neste ponto fica nítido que a característica de comportamento tem origem social. Pobres não podem fugir de ser responsabilizados por tudo (até pelo o que não são responsáveis, como os nordestinos nessa querela eleitoral), enquanto os mais favorecidos socialmente sempre jogam a culpa nos outros. Antônio Ozaí da Silva chega ao cerne dessa questão em seu artigo (os grifos são meus):

"Os filhos tornam-se apêndices dos seus desejos e frustrações. Mas sob o preço de mantê-los sob tutela e gerar adultos sem condições emocionais para enfrentar as adversidades da vida. Filhos que se acostumam a tudo possuir sem ter noção sobre o valor exato das coisas, e me refiro não apenas ao valor monetário, tendem a ver a vida como uma coleção de bens adquiridos sem grandes esforços. São fortes candidatos a pequenos ditadores que vêem os demais como objetos a serem manipulados."

É o que estamos vendo, repito, nas manifestações infantis e grotescas, em todo o país, e notadamente nas redes sociais, sobre a eleição presidencial e o preconceito contra o Nordeste. Ódio de classe. Voltemos ao Diogo Mainardi: filho do (bem sucedido) publicitário Enio Mainardi, estudou na Inglaterra e viveu na Itália, para onde retornou (leia aqui). Agora comparem com Givanildo Sousa, o jogador Hulk, que rebateu Mainardi: dificuldades o levaram a trabalhar na infância, em Campina Grande (PB), ajudando os pais a venderem pedaços de carne. "Como eu chegava cedo à feira, por volta de quatro, cinco horas da manhã, aproveitava para ajudar as pessoas das outras bancas. No fim do dia isso me rendia uns 15 reais. Eu dava tudo para a minha mãe", diz o atleta (leia aqui).

Postagem anônima em rede social demonstra como 'bebês mimados' lidam com adversidades


Ou seja, a história de vida do menino Givanildo, e da maioria dos nordestinos, é uma realidade que Mainardi (e quem mais vomita besteiras nesse pós-eleição) nem sequer imagina que exista. Nem sem importa. Uma responsabilidade que Mainardi nunca teve. Uma dificuldade que jamais o ameaçou. Por isso ele e muitos se sentem no direito de odiar tanto quem odeiam. Por isso ele e muitos se acham na razão e na superioridade de dizerem o que dizem. Mas acabam ouvindo o que não querem.

Por isso mesmo, a vitória de Dilma Rousseff representa, mais do que tudo, a vitória contra os arrogantes, os prepotentes. Os bebês mimados. E também a vitória daqueles que mais precisam do governo federal e do amparo público - e que, não por acaso, são o objeto de um dos maiores despejos de ódio no Brasil. Ódio de classe.


quinta-feira, outubro 09, 2014

Serviço CONSCIENTIZADOR obrigatório

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JOVEM! Sai da internet e VAI SE VIRAR SOZINHO, PÔ!
Texto primoroso - e muito oportuno - do amigo Nikolaos Papadopoulos*:

"Umas das coisas que o próximo presidente poderia fazer era abolir o serviço militar obrigatório. Não desexistir o negócio, mas substituir por uma coisa melhor. Todas as pessoas, homens e mulheres, quando fizessem dezoito anos, deveriam parar o que quer que estivessem fazendo e serem obrigadas a viver por conta própria até fazerem dezenove anos. Nessa idade estariam liberados para voltar para o conforto da casa dos seus pais, o cursinho, a faculdade particular, o videogueime, o carro que ganharam de presente no ano anterior e não puderam usar, o que seja. Mas esse ano seria dedicado a experimentar a vida de milhões de brasileiros e outras pessoas ao redor do mundo que, desde o primeiro dia de vida, estão entregues à própria sorte.

Nesse período, o filho de classe alta largaria seu Playstation 6 (sei lá qual o número que esse treco já chegou) e seu iPhone 12, e seria proibido de receber ajuda de parentes e amigos, assim como trabalhar em empregos cedidos por pessoas próximas. Nada disso. O mundo não é para fracos. Te vira, moleque. 'Mas não se pode abandonar um jovem assim, à própria sorte, isso é desumano!', diriam os pais ricos desses adolescentes. Não se preocupem. Morrer de fome ele não vai. Bolsa Família existe para isso. Como todo brasileiro, o garoto poderia ser beneficiado com os 77 reais por mês do Bolsa Família, que é exatamente o mínimo que o Governo Federal estabelece para que alguém não seja considerado extremamente pobre. Se o moleque for burro ou incompetente, vai ter que se contentar com esses 2,57 reais por dia. Afinal de contas, o mundo é para os bons, e se tem alguém que pode ser culpado pela pobreza, são os pobres. 'Mas e se o menino ficar doente?', perguntariam de novo. Ué, se ele for danado, vai ter dinheiro para pagar um plano de saúde ou um médico particular. Senão, SUS. Pegar fila. A vida é isso, se você não consegue mostrar seu valor no mercado, independentemente da sua história de vida, é o que sobra. Meritocracia, baby.

Ainda durante esse ano, aqueles que não conseguissem se garantir no mercado de trabalho teriam que sair em público com uma braçadeira que os distinguissem como beneficiários de programas sociais. Algo parecido ao que os nazistas faziam com os judeus, só que por uma boa causa: todos ficariam sabendo que aquele inútil custa impostos ao trabalhador honesto. Um impostômetro ambulante. 'Esta pessoa recebe dinheiro do governo', diria a braçadeira. Um relógio eletrônico junto à braçadeira contaria, em tempo real, o dinheiro saído dos cofres públicos para garantir que esses incapazes continuassem a existir. Embaixo, teria escrito também 'Evite dar esmola. Desestimula o trabalho.'

O ódio que nós vemos todos os dias nas redes sociais é falta de empatia. Só sabe o que é ser lixo quem já foi lixo. Eu me pergunto se nesse novo Brasil esse ódio ainda existiria."


*Nikolaos Papadopoulos é esquerda caviar, petralha, comunista, médico terrorista de Cuba. Dá o peixe, não a vara.


terça-feira, outubro 15, 2013

O ódio que Rogério Ceni atraiu para si

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Ceni paga com juros e correção sua empáfia
Decidido a encerrar a carreira em dezembro (segundo reafirmou em abril), o goleiro Rogério Ceni jamais imaginou que esta seria a pior temporada enfrentada em 20 anos como profissional. Se pelo menos conseguiu chegar à semifinal do Paulistão e às oitavas-de-final da Libertadores no primeiro semestre, o São Paulo "desandou a maionese" completamente a partir de junho e, atualmente, vive talvez a pior fase de toda a sua história, ameaçado seriamente de rebaixamento no Brasileirão. No olho do furacão está exatamente Rogério Ceni, o capitão, o maior ídolo. Pagando todos os pecados de sua carreira, com uma sequência inédita de quatro pênaltis perdidos (inclusive o que daria uma crucial vitória sobre o rival Corinthians), criando caso com o ex-técnico Ney Franco, brigando inutilmente com juízes. Ceni pena, principalmente, por sua empáfia.

'Não tive como retribuir' em lugar de 'Errei'
Mesmo entre sãopaulinos, há quem o considere arrogante e prepotente. Entre torcedores de outros clubes, então, nem se fale! O ódio que o goleiro atrai é unânime. Porque, além de falar besteira sobre os adversários - "Eles não têm estádio, têm que gritar aqui, né? Se eles tivessem estádio gritariam em outro lugar." (sobre a torcida do Corinthians)/ "Garanto que nem 50% das entradas são faltosas, nem 50%. Agora, que ele é o melhor jogador do Brasil não se discute. Mas em 50%, é simulação." (sobre o então santista Neymar) -, Rogério Ceni tem um defeito renitente: dificuldade em admitir que erra. Reparem que, ao perder o pênalti contra o Corinthians, ele diz: "Não tive como retribuir aos meus companheiros tudo o que eles se entregaram em campo." Belo exercício de retórica. Mas cadê as palavras "ERREI", "FALHEI"?

Gol esquisito do Palmeiras: 'Fiz o que pude'
Em 2008, no famoso "jogo do gás", semifinal do Paulistão entre Palmeiras e São Paulo, no Parque Antarctica, Léo Lima arriscou um chute do meio da rua e Rogério Ceni tomou um gol esquisito, perfeitamente defensável. E, pra (não) variar, disse que não falhou: "Fiz o que pude, mas não deu. A bola balançou demais, eu caí para um lado e ela foi para o outro." Bom, existem muitas outras ocasiões em que o capitão sãopaulino não assumiu seus erros. E talvez a mais emblemática delas, em 1999, tenha sido o estopim da fama de arrogante e prepotente - não só entre corintianos, palmeirenses e santistas, mas entre a maioria dos torcedores de todo o país. Porque, naquela ocasião, o goleiro defendia a seleção brasileira. E, num amistoso disputado contra o Barcelona, na Espanha, falhou "clamorosamente" (como diriam os antigos locutores) nos dois gols que tiraram nossa vitória, praticamente garantida:

Careca, em 97, com Roberto Carlos e Rivaldo

Questionado sobre as falhas, Rogério Ceni reclamou, sem qualquer modéstia: "Nao aceito ser chamado de culpado pelo resultado. Se os dois erros não tivessem originado os gols, teria sido umas das melhores atuações de um goleiro na seleção brasileira." No primeiro gol, quando soltou a bola no pé do espanhol Luís Enrique, Ceni afirmou impassível que a culpa foi da chuva e do vento. No segundo, quando "bateu roupa", "justificou": "Se a bola tivesse caído nos pés de um brasileiro estaria tudo bem." A falta de humildade pegou mal. O treinador do Brasil, Vanderlei Luxemburgo, já estava dando uma chance ao sãopaulino depois de ele ficar afastado da seleção por quase dois anos, sem clima com o técnico anterior, Zagallo, que não gostou de sua postura no episódio das cabeças raspadas na Copa das Confederações de 1997.

Foi ali, naquelas "justificativas" dispensáveis após as falhas contra o Barcelona, que Rogério Ceni começou a atrair o ódio generalizado que sofre atualmente. Tanta gente secando e torcendo contra deve contribuir, de alguma forma, com a energia negativa que vem pressionando o goleiro e favorecendo seus erros nessa crise do São Paulo - o que prejudica, por extensão, o time e seus companheiros. Nem assim, no entanto, o jogador desce de seu pedestal (imaginário). Parece que o universo conspira para novas falhas, como se elas fossem oportunidades de Rogério Ceni se redimir e demostrar um pouco de humildade publicamente, antes de fechar a cortina de sua carreira. Mas não. Cada falha acaba puxando nova postura infeliz do goleiro e, talvez por isso mesmo, novas falhas. Como diria Muricy Ramalho, "a bola pune"...

segunda-feira, setembro 09, 2013

'Um jeito ianque/ De São Paulo...'

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 Vaga-bundando pela rede social Fêicibúqui no fim de tarde desta segunda-feira, me deparo com um depoimento surpreendente do músico, cantor e compositor Alceu Valença (foto):
"Mais uma vez me disponho a escrever sobre um assunto que pela rapidez com que as notícias se tornam caducas em nossos tempos, não deveria voltar a comentá-lo. Acontece que ontem, conversando numa roda de amigos em um bar em São Paulo sobre a espionagem americana no Brasil, eis que sou surpreendido por um vizinho de nossa mesa que entrou no nosso papo sem ser chamado e tentou justificar a arapongagem americana como algo necessário e fundamental para o resto do mundo, argumentando que o que levava a interferência do governo Obama, era evitar possíveis ataques terroristas no Brasil e no resto do mundo. Sabemos que a rede privada da Petrobrás foi invadida, lhe perguntei sorrindo: '- Você acredita que haja terroristas nos quadros na nossa empresa de petróleo?' E o rapaz, imediatamente, me respondeu: '- Os terroristas estão infiltrados em todas as nossas empresas públicas!!!' E acrescentou, fechou seu raciocino: '- Nossa presidenta não foi terrorista!? Logo, o serviço de inteligência americano está de olho no Brasil, e com toda razão, por causa dela.' Gostaria de saber a opinião de vocês. Comentem o caso de acordo com suas crenças." - Alceu Valença
Tudo bem que, como já disse ao Futepoca o ator José Dumont (neste post aqui), "O bar é o grande ato politizador. Porque, se eu não escuto opinião, como vou mostrar a minha?" Ou seja, todo mundo tem o direito de pensar e se expressar como quiser (se bem que invadir conversa alheia seja falta de educação). Mas me parece sintomático que tal cena, descrita pelo nordestino Valença, tenha acontecido na cidade de São Paulo. É óbvio que gente conservadora, reacionária, paranóica e americanófila existe em qualquer ponto desse Brasil varonil. Mas é a capital paulista justamente a mais decantada como "cosmopolita", "miscigenada", "aberta", "progressista", "moderna" etc etc. São Paulo, capital, onde nordestinos, negros e pobres sofrem um preconceito atroz, onde homossexuais são espancados em plena região da Avenida Paulista, onde os moradores de Higienópolis tentam recusar uma estação do Metrô para não atrair "gente diferenciada", onde a Polícia Militar do PSDB bate, prende, atropela, atira e joga bombas contra manifestantes. Por esse prisma, os simpatizantes de Obama e da espionagem institucionalizada acabam sendo o menor dos problemas...

E o episódio narrado me lembrou uma música do Premeditando o Breque:

"O clima engana/ A vida é grana/ Em São Paulo (...)
Gatinhas punk/ Um jeito ianque/ De São Paulo..."


segunda-feira, maio 02, 2011

Osama Bin Laden ou Emmanuel Goldstein - tanto faz

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"Mais um instante e um guincho horrendo, áspero, como de uma máquina monstruosa funcionando sem óleo, saiu do grande televisor. Era um barulho de ranger os dentes e arrepiar os cabelos da nuca. O ódio começara. Como de hábito, a face de Emmanuel Goldstein, o Inimigo do Povo, surgira na tela. Aqui e ali houve assobios entre o público. (...) O programa dos Dois Minutos de Ódio variava de dia a dia, sem que porém Goldstein deixasse de ser o personagem central cotidiano. (...) Nalguma parte do mundo ele continuava vivo e tramando suas conspirações: talvez no além-mar, sob proteção dos seus patrões estrangeiros; talvez até mesmo - de vez em quando corria o boato - nalgum esconderijo na própria Oceania.

No mesmo momento, porém, arrancando um fundo suspiro de alívio de todos, a figura hostil fundiu-se na fisionomia do Grande Irmão, de cabelos e bigodes negros, cheio de força e de misteriosa calma, e tão vasta que tomava quase toda a tela. Ninguém ouviu o que o Grande Irmão disse. Eram apenas palavras de incitamento, o tipo de palavras que se pronunciam no calor do combate, palavras que não se distinguem individualmente mas que restauram a confiança pelo fato de serem ditas. Então o rosto do Grande Irmão desapareceu de novo e no seu lugar apareceram as três divisas do Partido, em maiúsculas, em negrito: GUERRA É PAZ; LIBERDADE É ESCRAVIDÃO; IGNORÂNCIA É FORÇA."

Trechos extraídos do livro "1984", de George Orwell (Inglaterra, 1949).

"Os ataques de 11 de setembro deram não só credibilidade e legitimidade ao presidente como também permitiram a ele renascer politicamente sem sofrer o custo político da mudança. 'Bush tornou-se um presidente integralmente legítimo, não só para governar, mas também para reinventar-se como político', afirmou Andrew Kohut, diretor do instituto de pesquisas Pew Research Center for the People. (...) Depois dos atentados, Bush definiu o terrorismo como principal inimigo da humanidade e condicionou qualquer apoio financeiro e diplomático dos EUA ao engajamento de outros países à guerra contra o terror. Bush propôs a substituição da 'contenção' e da 'dissuasão', princípios da Guerra Fria, pela realização de ataques preventivos, inclusive com armas nucleares, contra grupos terroristas ou Estados hostis aos EUA."

Matéria da Folha de S.Paulo de 8 de setembro de 2002, um ano após os atentados em Nova York (a íntegra está aqui).

"O anúncio da morte do fundador da rede extremista Al Qaeda, Osama Bin Laden, em uma operação das forças americanas, deverá fortalecer a imagem do presidente Barack Obama como líder, diz a imprensa dos Estados Unidos. (...) A morte de Bin Laden também poderá dar novo fôlego à popularidade de Obama, neste início de campanha para um segundo mandato na Casa Branca e no momento que enfrenta uma oposição acirrada do Partido Republicano, desde novembro passado no comando da Câmara dos Representantes (deputados federais). Analistas já preveem que as divergências partidárias no Congresso sejam colocadas de lado diante da vitória, assim como ocorreu logo após os atentados de 11 de setembro de 2001."

Matéria da BBC Brasil de 2 de maio de 2011 replicada pela Folha de S.Paulo (a íntegra aqui).

Lembrem-se todos vocês: "O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI!".

Foto divulgada de Osama Bin Laden morto e outra dele vivo. Photoshop?

terça-feira, abril 26, 2011

Tristeza e ódio no futebol do inconsciente

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Engraçado eu ter feito ontem um post sobre insônia (abaixo) e, depois, sem vinho nem qualquer outro aditivo alcoólico, ter dormido muito bem e sonhado situações dignas de registro. O futebol foi o tema central do sonho, embora a bebida tenha sido citada na primeira situação. Talvez por ter iniciado minha carreira jornalística como repórter de esportes, foi nessa condição que meu inconsciente me jogou.

Cena 1 - A tristeza de Adriano
Eu era um repórter iniciante e tinha a missão de escrever sobre atletas de origem humilde que causam muitos problemas depois de ricos e famosos (os chamados bad boys). De cara, me mandaram procurar Adriano, o (ex) Imperador. O ambiente do sonho era um bairro de periferia, não chegava a ser uma favela, tinha ruas asfaltadas e calçadas, com casas muito simples. Adriano estava na casa de algum parente, uma tia ou algo do gênero. Eram umas 11 horas da noite, horário que tornava tudo estranho, e ele me recebeu na rua, descalço, de bermuda e com uma camiseta velha. Falou sobre a infelicidade da contusão atual, que o afastará do gramado por cinco meses, e depois passou a comentar seus problemas extra campo, como noitadas, bebedeiras etc. Falava baixo, quase inaudível e muito calmo, ou melhor, resignado. Havia uma tristeza indescritível em sua maneira de agir. Um conformismo, um fatalismo. Apareceram uns malandros num carro, com som muito alto, e gritaram qualquer coisa pra ele - acho que combinavam um programa para a madrugada. Adriano disse que ia.

Perguntei se não era melhor evitar mais confusões desse tipo e ele disse que o mundo dele funcionava assim: não se pode desprezar nem contrariar os antigos amigos, os parceiros. E que ninguém nunca ia entender isso, a não ser quem vinha de onde ele vinha. Depois, ele me deu uma carona de carro e, no caminho, parecia ainda mais triste e abatido. A última coisa que disse foi: "Droga é besteira. Mas a bebida é necessária. Ela 'dilata' a cabeça". Pelo o que entendi, o 'dilata' teria o sentido de abstração, de "desanuviar" o pensamento.

Cena 2 - O ódio de Pingo
Na sequência de minha missão jornalística, fui atrás da molecada que ainda não tinha alcançado o sucesso. O local era outro bairro de periferia bem pobre, onde um grande clube (o uniforme dos garotos sugeria que era o São Paulo) mantinha um projeto para descobrir talentos. Não sei ao certo, mas parecia que a faixa etária era de 13 a 15 anos. O campo era precário e o treinador era um cara bem caipira, muito simples. Os moleques jogavam como náufragos que enxergam um navio de resgate, se atiravam na direção da bola como a última chance de sobrevivênvia possível. Quando perguntei ao treinador se tinha algum "problemático", ele disse que sim, e (não) por acaso, era o maior craque e mais talentoso. E estava de castigo, treinando separado. Era um rapaz alto e esquelético, muito mais magro que o santista Neymar. Seu nome era Augusto, ou Guto, mas no futebol era chamado de Pingo. Estava batendo bola sozinho, num campo esburacado e sem grama. Afastado do elenco por indisciplina.

Fui falar com ele e só o que recebi foram piadas, gozações e escárnio. O moleque era o ódio em estado bruto - de mim, do treinador, do clube, da sociedade, de tudo. Comportava-se como se fosse um delinquente. Ria sem parar, me sacaneando. Me chamava de "burguês". Mas tinha um controle de bola absurdo. Levantava a pelota na altura do joelho esquerdo e, com o pé direito, chutava forte para manter a bola no ar, girando. Quando decidia, chutava forte, mas não pra frente. Chutava para o alto e, a certa altura, a bola caía numa velocidade impressionante (algo como a "folha seca", do saudoso Didi). Depois de muito insistir, ele respondeu apenas que tinha herdado a habilidade do pai, que já tinha morrido. Não falou mais nada, virou as costas e se foi. Dias depois, vi a molecada disputando a decisão de um torneio, sob muita chuva. O time ganhou no sufoco, no fim da prorrogação, com um gol de um tal de Batista, sem querer (num escanteio, o goleiro adversário rebateu na nuca dele e a bola entrou). Pingo não havia sido relacionado nem para o banco. Soube mais tarde que, por isso mesmo, tinha abandonado definitivamente o clube.

terça-feira, novembro 16, 2010

Mortes em rodovias no feriado: a culpa é do Lula

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A campanha de esgoto que o tucano José Serra fez este ano, nas eleições presidenciais, conseguiu trazer para os holofotes os setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira e acentuou à tensão máxima o ódio, o preconceito e a divisão raivosa entre nós. Como nunca antes na História desse país, a xenofobia entre compatriotas esteve tão explícita, orgulhosa e falando em tão alto e bom som.

Depois do revelador manifesto "São Paulo para os paulistas", que diz muito sobre o PSDB perpetuar-se no Palácio dos Bandeirantes desde 1995 (ou desde 1983, considerando que é praticamente o mesmo grupo que chegou ao poder com Franco Montoro), presenciamos a lamentável sequência de barbaridades no Twitter e a escalada oficial do preconceito em plena mídia de informação.

O mais recente (e triste) exemplo vem de Santa Catarina. No jornal da RBS, retransmissora da TV Globo no Sul do país, o comentarista Luiz Carlos Prates afirmou, sobre a alta incidência de mortes nas estradas no feriadão que se estendeu até segunda-feira (grifos nossos): "Antes de mais nada, a popularização do automóvel. Hoje, qualquer miserável tem um carro. O sujeito jamais leu um livro, mora apertado numa gaiola que hoje chamam de apartamento, não tem nenhuma qualidade vida, mas tem um carro na garagem".

Depois de dizer que o tal "miserável" ainda tem problemas matrimoniais e por isso desconta suas frustrações abusando da velocidade no trânsito, o comentarista volta à carga: "Popularização do automóvel, resultado deste governo espúrio, que popularizou pelo crédito fácil o carro para quem nunca tinha lido um livro. É isso".

Ou seja, o Lula é culpado por ter distribuído renda e dado o direito ao consumo e ao lazer aos "miseráveis analfabetos", culpados por todo e qualquer acidente de automóvel. Pelo o que dá a entender, os ricos, esses iluminados, nunca morrem nem matam ninguém no trânsito. Será?

Parabéns, José Serra. Colha com prazer o que você semeou:



Ps.: É sintomático que os lamentáveis comentários tenham vindo de Santa Catarina, estado que, a exemplo de São Paulo ("dos paulistas"), de Minas Gerais e do Paraná, também elegeu governador do PSDB. Vejam aí mais um exemplo da xenofobia que a campanha repulsiva dos tucanos fez emergir: