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(...) Desde a ida de um chefe de Estado ao leste europeu e, lá, em um campo de extermínio, ajoelhar-se e pedir perdão, o ato tornou-se corriqueiro, até banal.
(...) No pedido de perdão dos tempos contemporâneos, falta o ato de contrição e a consciência profunda de que se praticou efetivamente uma ofensa. Tudo é cenografia televisiva. Nada é interiorizado.
Ignora-se, nesta inflação de pedidos de perdão, que o ato de perdoar é unilateral. Cabe ao agredido agir de acordo com sua consciência e oferecer o seu esquecimento, se assim achar conveniente.
Não pode o juiz de futebol anular um gol e, depois, solicitar perdão. Agrediu milhares de torcedores. Humilhou jogadores. É exemplo chulo, mas aconteceu nestas terras tropicais na última semana. (...)
Personalidades religiosas não escapam a este surto de perdões. Ferem a Lei Eterna e, depois de uma penitência, um pedido de perdão. Solene, se possível, trivial se assim exigirem as circunstâncias.
O último perdão vai além dos limites plausíveis. Os controladores de vôo há meses tumultuam o transporte aéreo nacional. Quando querem, param todos os aeroportos. Não se preocupam com as conseqüências. Prejudicados e prejuízos não importam. (...)
Nestas terras tropicais, todos querem ser Raskolnikov, a personagem dostoievskiana que recobra o gosto da vida após arrependimento de seu crime. Não dá. Só com muita vodca. Cachaça é pouco.