Destaques

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Futebol e Cachaça

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Reproduzo aqui um post que está no blog Dia de Jogo. Como o texto se refere a temas abordados aqui de forma interdisciplinar e transversal, cabe não apenas a republicação como um desafio aos futepoquenses - em especial o companheiro Marcão - para que continuem com nesta seara em posts subseqüentes que justificam dois terços desse minifúndio internético.

Garrincha não era craque, era gênio. Infelizmente pouco aproveitou da grande genialidade e morreu pobre no Rio de Janeiro. Deixou-se levar pela boemia e acabou de forma até trágica pelo futebol exuberante que tinha. Seus últimos dias no futebol foram tão medíocres que até no Coritiba jogou.

Aqui em Curitiba , ninguém nunca esqueceu da genialidade do atacante Zé Roberto. Seus porres e suas noitadas eram famosas em toda Curitiba. Todos torcedores sabiam das festas no antigo Moon Light. Quantos diretores do Atlético e depois do Coritiba tinham que o buscar na boate para colocar o Zé Roberto em ordem para o jogo? Uma ducha de água fria e algumas horas de um bom sono e o Zé Roberto estava pronto para nos brindar com as suas jogadas extraordinárias.

Pouco tempo depois também nos tempos das vacas magras, magérrimas, todo cuidado era pouco com as contas nos hotéis para um dos diretores do Atlético. Os jogadores eram obrigados a assinar todos os seus pedidos à cozinha ou ao bar do hotel para que o diretor tivesse certeza do que foi consumido e aí efetuasse o pagamento. Mas, um detalhe chamava-lhe a atenção: a quantidade crescente de ovos cozidos que os jogadores consumiam na concentração. E o atacante Liminha era o que mais consumia. Quando a conta de ovos cozidos chegou a um número totalmente absurdo o diretor não teve outra alternativa senão de chamar o Liminha em particular pedindo explicações para 36 ovos em uma única noite. E o garoto com seu jeito simplório não teve como negar que eram "cubas" que o garçom do hotel anotava como se fossem ovos cozidos.

E isto não é só coisa de país do terceiro mundo pois o maior jogador da história do futebol da Irlanda do Norte e grande ídolo do Manchester United nos anos 60 e 70, o ex-atacante George Best foi internado em estado grave num hospital de Londres nestes dias. Alcoólatra desde os tempos de jogador, Best, hoje aos 59 anos, passou por um transplante de fígado em 2000. Na época, o atacante, considerado o melhor da Grã-Bretanha na história, chegou a ganhar comparações com Pelé.

Quem não ouviu historias do que aprontava quase todo o time atleticano de 1997 que tinha como líder o Paulo Miranda? O Lidô e o Metrô que contem as histórias. E foi um time vitorioso...

Daqueles tempos pra cá quase nada mudou. Sempre vai ter um "pudim de cachaça" no meio de outros atletas. Em 2001 o atacante Alex Mineiro e o Nem eram os que mais fama tinham. Alex Mineiro quando emprestado ao Atlético Mineiro ouviu o Mineirão lotado gritar : Alex Mineiro - 100% cachaceiro. Mas, não podemos esquecer que foi com Nem e Alex Mineiro que o Atlético dos paranaenses conquistou o título de campeão brasileiro em 2001. Até Rogério Correa sofreu perseguição implacável da Tribuna do Paraná (Rodrigo Sell) o indispondo com a torcida pela sua vida noturna.

Quantas histórias de jogadores que pulam muros das concentrações para descarregar o estresse no bar mais próximo? Tem historias até de garotos que recém iniciaram como profissionais. E o Jadson garoto prodígio, dono de um futebol espetacular? Será que tudo o que contam é verdade? Eu acredito que sim.

Interessante é que quando um Romário pula do primeiro andar de um hotel pra fugir no dia anterior de uma decisão de título mundial pela Seleção brasileira isso é motivo de muitas risadas. Ele pode! Se o torcedor encontra o baixinho sábado antes do jogo em uma das boates cariocas ainda vai pedir autografo e quer foto com ele abraçado. Mas, se o torcedor enxergar um Jancarlos (só pra exemplificar) tomando uma cerveja numa noite de segunda feira isto seria motivo para denuncias em rádios, ofensas no estádio...

Mas, o que mudou é que hoje os jogadores tem muito mais consciência de quando eles podem aprontar, tomar um porrete, ou fazer uma "festa". Eles são conscientes que sua vida profissional é extremamente pequena comparada a outras profissões. O Atlético controla seu rendimento e desempenho físico.

Se coloque no lugar deles após uma concentração de 3 dias e um jogo desgastante; Você iria ou não se refazer , tirar todo o estresse , tentar esquecer torcedores que te vaiaram e sair pra relaxar enfim se descontrair ? Um porrete no domingo após um jogo seja com uma vitória ou mesmo numa derrota queiram ou não é um direito do jogador que assim o quiser. Mesmo em dia da semana sair com a amada e tomar umas cervejas não tem nada demais.

A média de idade dos jogadores do Atlético é de 22 anos. Vocês já imaginaram que esses garotos também gostam de dançar? Que eles também precisam conhecer garotas pra não ficar no "5 por 1"?

O jogador de futebol normalmente de idade igual ou menor que a sua, não tem a sexta ou o sábado para ir à baladas. Você leitor tem essa possibilidade. O jogador de futebol não pode numa festa dar um tapa na macaca porque aparece no exame anti-doping. O jogador de futebol não pode dar uma cafungada no baygon porque aparece no exame anti-doping. Eles, jogadores, só tem a possibilidade de descontrair com uma cerveja gelada ou um bom uísque. E quem não gosta? Agora é justo chamar eles de bêbados? E se eles chamassem torcedores de chapados? Por tudo isso acho que qualquer comentário os censurando é hipocrisia. (Grifo meu)

A torcida tem que ficar atenta aos excessos, mas não pode perseguir jogadores como foi feito com Nem, Rogério Correa, Flavio, Ilan, Kleber, e vários outros. Não pode ter excessos nem dos jogadores com seguidas bebedeiras e muito menos dos torcedores desestabilizando e prejudicando o grupo.

6 comentários:

Anselmo disse...

excelente... mas por que o garrincha foi boêmio e os jogadores de hoje cometem "excessos" e participam de "bebedeiras" e o George Best era "alcóolatra"? Seria a manguaça de antigamente sinônimo de boemia? Se sim, seria o caso de trabalharmos em sambas e composições valorizando a manguaça ao estatus que tinha a boemia de outrora? Ou seria apenas o caso de pedir mais uma?

Edu Maretti disse...

Anselmo, essa confusão conceitual-filosófica é um sinal dos tempos. Por exemplo, quando eu ouvi pela primeira vez alguém falar "se pá, eu tô dentro", quantas interpretações não fiz! No fim, era algo simples, como dizer: "se der tudo certo, eu vou à festa", por ex. Eu, que prezo a tradição, não me considero um manguaceiro, e sim um boêmio... Não me considero também um cachaceiro, e sim um bom bebedor.
E assim caminha a humanidade!

Edu Maretti disse...

E, Glauco, creio que bebida alcoólica (como é conhecida por alguns) é algo até importante para mortais como nós...
Mas... dizem que o Robinho foi chamado hoje pela diretoria do Real Madrid para dar explicações sobre o (s) porquê (s) de seu atual baixo rendimento. Podem ser vários os motivos, mas parece que o moleque anda caindo nas baladas adoidado (já ouvi isso várias vezes)....

Anselmo disse...

Manguaça sim, manguaceiro nunca. Cachaceiro só quando o estômago e o fígado (juntos e nao um de cada vez) permitem.

Marcão disse...

Ué, não entendi. O que eu tenho com isso? (além do fato de ser manguaceiro e futepoquense? - rsrs). Não entendi o grifo, acho que toda essa conversa é chover no molhado. Afinal, que os jogadores bebem, tamo carecas de saber. Se cumprem seus papéis dentro de campo, aí são outros 500. O livro do Ruy Castro mostra que a torcida do Botafogo nunca reclamou dos porres do Garrincha - enquanto ele resolvia os jogos. Depois que a cachaça cobrou seu preço, foi cuspido, como sempre acontece. A mesmíssima coisa aconteceu com Canhoteiro no São Paulo. De minha parte, se o time estiver ganhando, que bebam até morrer!

Anselmo disse...

considero muito pior o jogador ser dono de bares, fazer um monte de propagandas e ficar disputando espaço entre celebridades na Ilha de Caras ou similares do que manguaçar. O "jogador profissional" é assim qualificado porque ganha a vida com a bola. Se ele conseguir outras fontes de renda, vai deixando de depender da atividade, deixando de ser profissional. O interessante do post é lamentar o patrulhamento que existe contra os atletas manguaças. Na minha opinião, faltam reclamações quanto a outras atividades extra-campo que, se não são tão nocivas fisicamente quanto uma ressaca, são terríveis do ponto de vista profissional. Em suma, acho muito mais fácil ele "perder o foco" por causa de "negócios" do que por causa da manguaça. Agora, caso as duas coisas aconteçam simultaneamente...