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quinta-feira, março 08, 2007

Solidariedade manguaça no "dia das mulé"

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Mesmo sob o risco de achincalhe, escrevo.

Depois de chegar em casa, nos dois dias anteriores, com aquele bafo que só o bar permite ao manguaça, era hora de compensar. O Dia Internacional das Mulheres era um pretexto. Embora a data não pudesse passar em branco, era um motivo a mais. Também era hora de checar o ibope com a mulher. Ainda na véspera, além de manter a sobriedade (façanha nem tão simples sob as altas temperaturas da capital paulistana), resolvi que era o caso de levar "fulores" pra casa.

Desci do ônibus direto para a barraca de flores. O botão de rosa já estava inflacionado. O floricultor queria R$ 3 cada. Ou melhor, disse que era esse o preço, mas, de cara, faria por R$ 2. Só pra mim.

— É da colombiana, bonita pra caramba essa daqui... — explicou aproximando-se, meio de lado, quase como quem cochicha.

Claro que não tinha nenhum outro cliente por perto, e ninguém saberia da "barganha" ainda que ele gritasse. As aspas no período anterior se explicam pela subnutrição das flores (que saltava aos olhos até do mais distraído dos bêbados). Mas era parte de seu jogo de cena. É só nesse momento que o manguaça-leitor entende por que esse post entra no glorioso Futepoca.

A aproximaçaõ fez o hálito do ébrio vendedor atingir em cheio meu olfato com um vigor que quase faz recuar. Ele provavelmente passara a tarde e o começo da noite dedicado à tarefa com a qual eu gostaria de ter me ocupado. O hálito exalava álcool. Na sequência, percebi que a substância já lhe saía até pelo suor.

Em minha lábia de brimo tentei explicar que era véspera do Dia das Mulheres, que precisava fazer bonito em casa.

— É dia das mulé, dotô... — contra-argumentou o manguaça-vendedor, com um risinho meio irônico. E prosseguiu, com direito a caretas e tudo: — Fui no Ceasa cedinho, já tá tudo caro...

Na mais profunda sinceridade que a sobriedade permite, apelei:

— Amigo, passei o dia sem ir pro bar pra juntar esses seis pilas pras fulô... Se eu me apareço duas rosas na mão, como eu fico?

Comovido, cada botão saiu por R$1.

7 comentários:

Marcão disse...

Que história é essa de "é da colombiana"? Tem certeza que era flor que cê tava comprando?

Anselmo disse...

garanto apenas que era vermelha e não branca, como o sr. está pensando...

Sr. Vizzatti disse...

Foi a melhor história que eu já li aqui nesse blog.
Muito bem escrita mesmo, parabéns.

Anselmo disse...

jocosidade, ironia ou sensibilidade à flor da pele? Paranóia ou mistificação?

Glauco disse...

A solidariedade manguaça é uma das coisas mais bonitas de se ver em um mundo tão repleto de iniquidade.

Anônimo disse...

comovente, anselmo, só espero que as pobres rosas não tenham chegado murchas pelos bafos manguaças a que foram submetidas durante a barganha.

Sr. Vizzatti disse...

Carmem,
o que valhe é a intenção.
Pode ser até mentira tudo isso ou alcinações causadas pelo alcoól mas só de ter pensado tudo isso já valeu o esforço.