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domingo, dezembro 16, 2007

Transposição das águas do rio São Francisco

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Um tema atual, relevante, a respeito do qual pouco se lê: a transposição das águas do rio São Francisco. É muito interessante o texto do Bernardo Kucinski sobre a greve de fome de dom Luís Flávio Cappio, bispo de Barra (BA), publicado no site do PT (originalmente no site www.cartamaior.com.br). Vale a pena ler a pensata, de 11/12/2007, intitulada O bispo de Barra quer morrer.

3 comentários:

Anselmo disse...

Claro que ninguém sabe ao certo os motivos do biscpo. Parece um pouco simplista dizer que o bispo só busca dar sentido a seu bispado. A não ser que o sentido seja o de se dispor a ser mártir numa luta.

Um bispo morto faz ser fácil acusar um governo de assassino. Sobre os "emuladores", é complicado. tem mais gente entrando em greve de fome e não é impossível que outros morram também. "assassino" é um grito mais forte do que "Fora Lula". Meia dúzia de mortes faz desse novo grito-de-guerra mais fácil.

Note-se que não dou razão à estratégia de manifestação, embora não dê plena razão de ser à transposição ("poderá transformar o cenário de toda uma região" é retórico demais pra minha opinião sobre o projeto, principalmente na parte do "toda uma" e não de "partes", o que poderia justificar projetos). E dificilmente vou entender o que leva alguém que querer se tornar mártir.

Glauco disse...

Preconceituoso. Além de inexistir qualquer argumento novo ou mais elaborado em favor da transposição do São Francisco, Kucinski ataca o bispo simplesmente por ele ser religioso. Faz troça de seus motivos e não consegue ir além do lugar comum dos adeptos do governo que defendem a gigantesca obra.

O Estado é laico. E, provavelmente por isso, qualquer tipo de religioso, que também é cidadão, deve ficar quieto em seu canto e tratar de rezar, segundo a visão do artigo. Argumento semelhante era usado pelo regime militar, para barrar as atitudes de gente como Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Paulo Evaristo Arns... Justificou também a aniquilação de Canudos e assemelha-se à condenação das quinze greves de fome promovidas por Gandhi contra o imperialismo britânico. Coaduna com a linha argumentativa da direita da Igreja Católica, que condena a ação do bispo. Que bela companhia.

Talvez Lula, quando preso em 1980, também tenha feito greve de fome para se tornar mártir, mas foi convencido por Dom Cláudio Hummes a abandonar a greve. A greve de fome é uma forma de protesto reconhecida em qualquer lugar do mundo, embora extrema, e qualificá-la fora do seu contexto é no mínimo leviano.

E qual é o contexto? Tive a oportunidade de entrevistar o bispo antes dele se tornar uma "celebridade", em 2005. Conhece a região, sabe da necessidade de quem mora ali, e já teve que salvar pessoas de inundações (pasmem) e de outras situações agudas. Tudo isso enquanto políticos e jornalistas estavam em seus gabinetes e escritórios. Por isso tem o respeito de toda a população da região. Pelo trabalho que fez, e não somente por ser bispo.
Criticar alguém sem saber da sua história, da sua luta, ou mesmo daquilo que se pretende é algo que é criticado duramente por jornalistas "ácidos". Infelizmente, não é exclusividade da grande imprensa.

Anônimo disse...

De acordo com Anselmo e Glauco.
Na realidade, ao se questionar (de maneira bastante primária, diga-se) sobre as verdadeiras razões do bispo, o Kucinski trata o debate sobre a transposição como encerrado, resolvido no mais límpido consenso. Só a última frase é que vai colocar num saco os que estão contra, exércitos de carolas que no fundo são, como quer o jornalista, defensores encruados do imobilismo. Agora o governo Lula é mais progressista que o MST, a CPT, o CIMI...
Cabe questionar qual é o deus a que serve o jornalista. A primeira resposta é "o governo", o que não deixa de ser verdade, mas é dizer pouco. A segunda, a meu ver, é o velho e imutável desenvolvimentismo, que já inspirou tantos stalinistas ao redor do mundo, e que jamais chegou a compreender a radicalidade da causa ecológica. Confundem sumariamente conservacionismo com conservadorismo, sustentabilidade com imutabilidade, e por aí vai. O mesmo deus que faz este governo apoiar transgênicos e praticamente lavar as mãos à devastação ambiental.
Pra terminar, dizer que o projeto do 1 milhão de cisternas é do governo é esquecer que o governo apenas o apoiou (o projeto é da Articulação no Semi-Árido Brasileiro) por algum tempo e agora, com cerca de 200 mil cisternas em funcionamento, suspendeu as verbas. Será que é porque vai direcionar o dinheiro (cada cisterna custa R$ 1.500) às obras no São Francisco? Eu desconfio (e não sou nem de longe o primeiro) que o que faz preferir a transposição às cisternas (pelo menos neste momento) é que essas últimas, embora muito adequadas ao uso da agaricultura familiar, jamais vão poder ser usadas para o agronegócio. Quer dizer, podem "transformar o cenário da região", mas não vão inflar as glórias exportadoras do governo.