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quarta-feira, abril 23, 2008

Pé redondo na cozinha - O político manguaça

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Marcos Xinef

O ano era 1993 e eu trabalhava em um hotel bem conhecido na cidade de Jaboatão dos Guararapes (foto), em Pernambuco. O dia começou agitado: tínhamos que preparar um jantar para um figurão político da região. Para piorar, nosso excelente cozinheiro Manoel jazia dormindo no estoque do restaurante, desmaiado de pinga.
Mas isso me deu uma idéia.

Ciente de que o político também era chegado na manguaça, assumi os preparativos e, para agradar, avisei que prepararia um espaguete com camarão na cachaça. O político lambeu os beiços e eu mandei buscar um litro da “marvada” para preparar a iguaria.

Depois de refogar o camarão, procurei pela cachaça. Porém, o litro, que há dois minutos estava ali na cozinha, tinha sumido. Desconfiado, fui até o estoque: esparramado no chão, Manoel mamava na garrafa os últimos quatro dedos da bebida. Não sei como, mas seu instinto de pinguço o havia despertado do coma alcoólico para enxugar mais um litro de aguardente.

Desesperado, pois não havia outro litro de pinga no recinto (e nem tempo hábil para mandar buscar), fui até o bar do hotel e peguei a primeira garrafa que vi pela frente, um litrão de uísque. O resultado foi a receita que passo a seguir. Detalhe: com o paladar pra lá de treinado, o político manguaça notou a substituição da pinga pelo uísque. Mas aprovou a receita.

ESPAGUETE AO MOLHO DE CAMARÃO E CREME DE UÍSQUE

Ingredientes (para 6 pessoas):
1,5 kg de camarão médio sem casca
2 colheres de sopa de cebola picada
10 ml de azeite
300 ml de creme de leite fresco
150 gramas de catupiry
150 ml de uísque
Sal a gosto

Preparo:
Refogue bem os camarões, com a cebola, no azeite (até dourar bem). Adicione o uísque e aqueça em fogo baixo (sem flambar, para não perder o álcool – isso é muito importante!). Adicione o creme de leite, aqueça e coloque o catupiry (para dar sabor e textura). Mexa bem até ficar homogêneo. Cozinhe o macarrão, misture ao molho e sirva.


Sugestão do chef Xinef: o resto do uísque pode ser consumido junto com os comensais, enquanto aguardam o prato. Mas não convidem o Manoel!



*Marcos Xinef é chef internacional de cozinha, gaúcho, torcedor fanático do Inter de Porto Alegre e socialista convicto. Regularmente, publica no Futepoca receitas que tenham bebidas alcóolicas entre seus ingredientes.

5 comentários:

Anselmo disse...

como o figurão político é da região, minha primeira hipótese já se descarta. É que o certo barbudo que me veio à mente nasceu em Garanhuns e, ainda que dentro de uma certa "liberdade poética" pudesse ser considerado da terra, não é da região da Jaboatão dos Guararapes. Esta fica nas proximidades da capital Recife, e a cidade natal do digníssimo presidente fica bem mais pro interior. O que mostra que foi pura maldade minha.

mas quanto representa 150ml de uísque em uma garrafa? Não é um fundinho? Se for, os quatro dedos que foram no último gole do Manoel não poderiam ser revertidos? QUer dizer que por 20 segundos a receita virou internacional...

Glauco disse...

De fato, a sugestão "o resto do uísque pode ser consumido junto com os comensais, enquanto aguardam o prato", pode comprometer a degustação do almoço. Se 150 ml de uísque são usados, o resto são 850 ml! Se não for muita gente, a água do macarrão vai secar fácil, fácil...

Nicolau disse...

Caro chef, meus pendores nacionalistas me trouxeram uma duvida: a receita original é a mesma, com exceção da troca do destilado?

Marcão disse...

Tratava-se de um deputado (não sei se estadual ou federal, nem o partido e nem seu nome). Pronto, inconfidenciei.

Maurício Ayer disse...

deve ser muito boa. essa requer um investimento, mas vai ter que rolar.