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sexta-feira, abril 25, 2008

"Revolução dos cravos" derrubou 48 anos de ditadura

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Portugal comemora hoje 34 anos da chamada "Revolução dos Cravos". Nessa mesma data, em 1974, um golpe militar derrubou a ditadura que vigorava desde 1926, comandada, em sua maior parte, por Antônio Oliveira Salazar (à esquerda). O ditador havia falecido em 1970, dois anos depois de dar lugar, no governo, a Marcelo Caetano. A queda do regime autoritário foi precipitada pelas guerras nas colônias portuguesas na África. Durante a década de 1960, surgiram em Moçambique, Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde guerrilhas pró-independência.

Com exceção de Guiné, os movimentos foram sufocados. Mas esses conflitos forçaram Salazar e o seu sucessor Caetano a gastar a maior parte do orçamento do país com a administração colonial e despesas militares. Assim, a guerra colonial tornou-se motivo de discussão nacional e bandeira das forças anti-regime. Milhares de estudantes e manifestantes foram forçados a abandonar Portugal para escapar da prisão e tortura.

No dia 24 de abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa. Às 22h55 foi transmitida a canção "E depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados da capital portuguesa - um dos sinais previamente combinados pelos golpistas. O segundo sinal foi dado às 0h20, com a transmissão de "Grândola Vila Morena", de José Afonso, pelo programa Limite, da Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.

Dizem que o símbolo do golpe surgiu porque uma florista, contratada para levar cravos para a abertura de um hotel, foi abordada por um soldado, que pôs uma dessas flores em sua espingarda. Em seguida, todos os outros do pelotão o imitaram (foto ao lado). Após a derrubada do governo ditatorial, Portugal passou por um período conturbado que durou cerca de 2 anos, comummente referido como PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado pela luta e perseguição politica entre as facções de esquerda e direita. Em 25 de abril de 1975, ocorreram as primeiras eleições livres para a Assembléia Constituinte, vencidas pelo PS (Partido Socialista). Durante o PREC, as colónias africanas e o Timor-Leste tornaram-se independentes.

Em homenagem à "Revolução dos Cravos", o brasileiro Chico Buarque compôs "Tanto mar", cuja letra original, posteriormente censurada e modificada, dizia o seguinte:

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim


(Letra original, gravação editada apenas em Portugal, em 1975)

9 comentários:

Glauco disse...

O García Marquez foi a Portugal logo após a Revolução dos cravos e descreve o clima do país como uma grande festa. As perspectivas eram excelentes, havia uma liberalização inclusive de costumes, e a esquerda também se fortalecia e Portugal era um farol para os latino-americanos, mergulhados em ditaduras. Mas, pelo jeito, algo se perdeu no meio do caminho...

Marcão disse...

Só como complemento, a letra de "Tanto mar" ficou assim, após a censura:

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente nalgum canto de jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho de alecrim

Nicolau disse...

A letra modificada continuou muito boa e dá pra identificar bem as referências a Portugal e à Revolução dos Cravos. Sobre músicas, aliás, é poético os caras usarem canções no rádio como sinais para o levante, bem como o gesto de colocar cravos nos fuzis. Bonito pacas...

Anselmo disse...

o filme capitães de abril é interessante...

fredi disse...

Só não entendi a legenda da foto, Salazar à esquerda, como? onde? quando?

Impossível

Anônimo disse...

Como eu sou o tiozinho dos comentaristas do Futepoca, vou contar uma passagem curiosa. No dia 25 de abril de 1984 eu fui a um evento no centro da cidade, promovido por um grupo de portugueses que comemoravam os 10 anos da Revolução dos Cravos e, obviamente, o fim da ditadura salazarista. Saí de lá com o espírito elevado e com um cravo vermelho na lapela da minha jaqueta jeans. Dali, fui diretamente à Praça da Sé, onde havia um ato público em prol das eleições diretas no Brasil. As tais Diretas-Já, que uniam Lula, FHC, Brizola, Covas, Montoro, Ulysses Guimarães... (seria bom se eles continuassem unidos, ao invés de terem se aliado a partidos de direita, né não??). Bem, voltando aos fatos. Na Praça da Sé, encontrei vários companheiros e camaradas durante o evento e, sem saberem que havia estado na cerimônia lusa, todos me elogiavam pela grande "sacada" de estar vestido com o cravo da revolução numa noite que fazia, também, parte da história democrática do Brasil. Foi legal, galera, foi bem legal. Ainda me emociono com essas coisas.

Anônimo disse...

Marcão, só pra complementar o seu comentário com a segunda versão da música do Chico. Nesta segunda versão, que foi feita três anos depois da primeira, o Chico já mosta a decepção com os rumos da revolução dos cravos ("já murcharam tua festa, pá"). Mas o Chico não perde a esperança nas revoluções de uma forma geral, e também porque, no Brasil daquela época, em plena ditadura, "cá estou carente" e ainda guardo "renitente um velho cravo para mim". Grande Chico!!

Glauco disse...

Bela lembrança, Benedito. O triste é não se ensinar nada da Revolução dos Cravos nas escolas brasileiras. Nas bandas de cá, por muito tempo, "revolução" era sinônimo de um certo golpe... Quando, citando Chico de novo, "dormia a nossa pátria-mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações".

Marcão disse...

Foi de propósito, Fredi, só pra provocar. Tá esperto, hein?