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segunda-feira, junho 30, 2008

"O seu paradeiro/ Está no estrangeiro/ Onde está o dinheiro?"

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Os versos do título desse post, presentes na letra de "Onde está o dinheiro?", sucesso de Gal Costa nos anos 1980, caem como uma luva para o novo escândalo do Corinthians. Ao contrário do que escrevi aqui há alguns dias, a venda do atacante Jô, do CSKA para o Manchester City, não é uma notícia tão boa assim para o clube de Parque São Jorge. E tudo por culpa de seu atual presidente, Andrés Sanchez (acima), que eu já havia citado no post anterior por ter vendido porcentagens dos direitos econômicos de três atletas para o Grupo Sonda - o que fez com que a tônica dos comentários fosse principalmente contra a cartolagem brasileira.

Pois os nossos comentaristas tinham toda a razão: matéria de Maurício de Oliveira, do Lance! de hoje, revela que, ao contrário do que se pensava, o Corinthians não vai receber R$ 7,7 milhões pela transação de Jô (ou 13,5% dos R$ 57 milhões da venda, sendo 3,5% como "indenização aos clubes formadores", prevista pela Fifa, mais 10% registrados no contrato de venda para o CSKA, em 2005). Na verdade, o clube paulistano receberá apenas R$ 1,78 milhão do Manchester City. E sabem por que? Os 10% previstos em contrato foram vendidos por Sanchez, no início de maio, por US$ 1,25 milhões (quase R$ 2 milhões). Traduzindo: os R$ 7,7 milhões transformaram-se em R$ 3,78 milhões.

E sabem para quem Sanchez vendeu os 10%? Para uma das empresas de Giuliano Bertolucci, amigo do iraniano Kia Joorabchian, ex-presidente do MSI. Esse comprador conseguiu multiplicar R$ 2 milhões por três no espaço de um mês e meio. Kia, por parte de sua assessoria de imprensa, nega ter ganho qualquer dinheiro nessa transação. Mas o empresário de Jô, Marcelo Djian, joga mais gasolina na fogueira: "-Não sei direito como e qual foi a influência de Giuliano nesse negócio. O que sei é que teve a participação do pessoal de Pini (Zahavi) e de Kia também...". Para quem não se lembra, Pini Zahavi (acima) foi identificado pelo ex-presidente corintiano Alberto Dualib como um dos principais investidores do MSI. E Andrés Sanchez foi vice-presidente de futebol no auge da parceria com o grupo investidor...

"-A divisão do Jô era assim:10% era do MSI, outros 10% do Corinthians e 80% do CSKA. Eu nem sabia que Giuliano tinha comprado os 10% do Corinthians", conta Djian. Em defesa de Andrés Sanchez, que fica numa baita saia justa, o vice de finanças do clube, Raul Corrêa da Silva, soltou a seguinte "justificativa": "-Quem podia imaginar que o Jô valeria tanto?".

3 comentários:

Nicolau disse...

Eu ia escrever sobre sso, mas o Marcão se adiantou e bem. Eis que surgem as cagadas que eu e, literalmente, a torcida do Corinthians esperávamos do Andres desde que seu nome foi escolhido para a presidencia. Fatiar jogador já virou prática corriqueira no futebol brasileiro, mas a falta de noção desse pessoal realmente me impressiona. No mais, o Esporte Espetacular deu números sobre o Jô que demonstram o tipo de frigideira de jovens jogadores que se instalou no Parque São jorge: no Corinthians, em quase 115 jogos, Jô fez 18 gols; no CSKA, em 77, fez 44 (não sei se é preciso, mas era por aí). Não é o primeiro jogador a sair do clube jovem e se dar bem com outra camisa e menos pressão. Além de Jô, o lateral Roger já havia jogado bem pelo Flamengo depois de ser escorraçado do Timão e agora se naturalizou num país do Leste Europeu para jogar na seleção do lugar. Coelho tb saiu do Corinthians e ajudou bastante o Atlético MG no ano passado. Nenhum craque, mas uns caras que poderiam compor um elenco melhor do que o de 2007, no mínimo, e ser vendidos por uma graninha melhor mais pra frente. Isso se naõ fosse a frigideira armada por uma diretoria incompetene, dividia e cheia de interesses, ajudada por uma torcida que adora pedir a cabeça de jogador.

Anselmo disse...

acho que o futepoca poderia liderar uma campanha pela moralização do futebol e garantia de permanência dos craques pelas bandas de cá. Assim: a gente faz uma campanha de arrecadação. os leitores manguaças doam valores a definir, recebem uma dose de bebida a definir (olha o risco), a gente negocia jogador e remunera em doses os nossos financiadores a partir do percentual de valorização do que for sendo vendido. Ok, precisa melhorar essa justificativa, porque assim nem eu colaboraria.

voltando ao normal (sic): como mudar a mentalidade da torcida que pega no pé de alguns jogadores? bom, mudar, não sei, mas lidar com isso pode rolar se a diretoria for firme e técnico não queimar jogador, duas condições difíceis de se assegurar – acho que todo técnico queima jogador, não sei se sempre é de propósito.

Como a diretoria vai ser firme a ponto de não ceder a pressões por jogar um cara fora no meio de uma crise financeira? Não sei responder.

E como lidar com pressões via imprensa? Tem denúncias de jornalistas que recebem grana de empresário pra falar bem de um jogador. Tem algum que "empresta a opinião" pra queimar o cara, ou pra forçar a saída? Que firmeza essa diretoria no meio da crise vai ter?

Mas pegando todos os jogadores "fatiados", a frase do Raul Corrêa da Silva é de uma sinceridade ímpar. lida-se com os jogadores como um sorteio de cartinhas dos telespectadores. Se um cara for pego, é sorte.

Tudo bem que, do universo de jogadores de bola, uma minoria se valoriza, ganha salariões e valem grana pesada. Mas será que os caras que chegam ao corinthians já são um pouco mais garantidos de que vão valorizar? Não.

É um amadorismo que eu não desejaria nem pro corinthians. Mas já que está instalado por lá...

Glauco disse...

Mas o Sanchez era o home do Kia, se Dualib tivesse sido derrubado antes, era capaz do iraniano voltar pro Parque São Jorge à época. De certa forma, os corintianos devem agradecer o fato de Dualib ter durado um pouco mais...

Mas negociações suspeitas acontecem desde sempre no futebol, como escrevi uma vez no Papo de Homem. O "agente" Wagner Ribeiro, por exemplo, começou a sua carreira transferindo o atacante França do XV de Jaú para o São Paulo, seu time do coração.

Na negociação, comprou os direitos federativos do atleta por 2,5 milhões de reais e, quatro dias depois, revendeu ao Tricolor por 4,6 milhões. À época, o diretor-financeiro do clube, Paulo Amaral, disse que não sabia desse “pormenor”, um dos lucros mais espetaculares de um agente em tão pouco tempo (quatro dias!) Um dos empresários de Jaú entrou na Justiça contra Ribeiro, mas não obteve êxito. Quem vendeu, perdeu; quem comprou, também. Quem intermediou, ganhou muito.