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“Foi negro, sul-americano e pobre, o
primeiro ídolo do futebol internacional”.
Era assim que o escritor uruguaio
Eduardo Galeano se referia, em
Futebol ao Sol e à Sombra, ao
seu conterrâneo, José Leandro Andrade, campeão olímpico em 1924 e
1928 e campeão mundial na primeira Copa em 1930. Muito antes dos
brasileiros, que deram ao mundo alguns dos maiores jogadores da
História – a maioria negros e mestiços – o meia platino
apresentou aos países vizinhos e ao Velho Mundo uma nova forma de
praticar o futebol.
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Homenagem a Andrade no Museu do Centenário (Montevidéu) |
Nascido em 1901 na cidade de Salto, no Uruguai, Andrade era filho
de uma argentina com um brasileiro, que não participou de sua
criação. Aliás, o pai do atleta havia fugido do Brasil ainda como
escravo e teria, na época do nascimento de seu filho,
incríveis
98 anos. Mudou-se ainda jovem para o bairro de Palermo, em Montevidéu, onde passou a viver com uma tia. Trabalhou
como engraxate, vendedor de jornais e começou a tocar tamborim,
apaixonado que se tornou pelo carnaval. Sim, a festa não é
exclusividade dos brasileiros.
Com 1,80 m de altura e 79kg, seu porte lhe dava uma vantagem
sobre os concorrentes. Aliado ao físico privilegiado, sua técnica o fez se destacar em sua primeira equipe, o
Misiones. O primeiro contrato profissional foi no então forte Bella
Vistal, onde atuou como meia direita. Sob as bênçãos do
companheiro de time
José
Nasazzi, mítico
capitão da primeira seleção campeã mundial, passou a ser
convocado para a seleção uruguaia.
Após suas aparições
nos Jogos Olímpicos de Paris e de Amsterdã, Andrade foi celebrado
na Europa como o "jogador de futebol com os pés de ouro".
Na Inglaterra, pátria do futebol e país mais importante do
ludopédio até então, o atleta foi chamado de "o maior de
todos os grandes uruguaios", por conta de suas façanhas
olímpicas.
O
lendário jogador alemão Richard Hofmann descrevia
Andrade desta forma: “O Uruguai era então o melhor time do
mundo. Sua estrela era Andrade. Um artista futebol que poderia
simplesmente fazer qualquer coisa com a bola. Era um cara alto, com
movimentos elásticos, que sempre preferia o jogo direto, elegante ,
sem contato físico e estava sempre à frente com seus movimentos e
sua agilidade mental. Andrade era um jogador visivelmente justo.
Nunca imitava os interlúdios teatrais de seus companheiros de
equipe, que rolavam no chão depois de faltas, a fim de conseguir
uma vantagem com os árbitros. Mesmo durante amistosos,
Andrade sempre irradiou sorrisos”.
Contudo,
após um choque com a trave em uma das partidas disputadas nos Jogos
de Paris, Andrade começou a ter problemas de visão, que avançaram
pouco a pouco. Mesmo assim, disputou a Copa de 1930 e integrou a
seleção dos melhores do Mundial. Ali, quem ainda não o conhecia
passou a apreciar o futebol daquele que foi apelidado de “A
Maravilha Negra”.
Depois
da Copa, atuou na Argentina, por Atlanta e Lanús, no Wanderers de
Montevidéu e se aposentou pelo Argentinos Juniors. A partir daí,
enquanto seu companheiros de seleção conseguiram encontrar outras
ocupações, Andrade não achou mais nenhum emprego fixo, e sua
vida entrou em declive.
Em 1956, o jornalista
germânico Fritz Hack
viajou
ao Uruguai para encontrá-lo e, depois de três dias de busca, o
encontrou em um sótão, alcoolizado e quase cego por conta do choque
ocorrido em Paris. Pouco tempo depois, aos 56 anos, José Leandro
Andrade faleceu e seus pertences se resumiam àquela altura a uma
caixa de sapatos com medalhas, além de alguns troféus.
Teve
ainda um sobrinho,
Victor Rodríguez Andrade, campeão
mundial com a seleção uruguaia na Copa de 1950.