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sexta-feira, julho 17, 2015

Coincidência macabra: Ghiggia morre num 16 de julho

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O adeus do último atleta que entrou em campo em 16/07/1950
Se 52 milhões de brasileiros choraram no dia 16 de julho de 1950 (principalmente os 200 mil que estavam no recém-inaugurado estádio do Maracanã), quando sua seleção de futebol perdeu a Copa do Mundo em casa, de virada, dependendo de um mero empate para ser campeã, 3,5 milhões de uruguaios também choraram ontem, exatos 65 anos após a inacreditável conquista de sua seleção no Brasil, com a morte daquele que fez o gol consagrador da vitória na ocasião: Alcides Edgardo Ghiggia, o herói do "Maracanazzo". A coincidência macabra leva muitos céticos a reconsiderarem seu desprezo pelo tal "destino". Foi num 16 de julho que Ghiggia, 23 anos, virou celebridade eterna do futebol mundial; e foi na mesma data, aos 88 anos, que morreu. E morreu, simbolicamente, de ataque cardíaco. Quantos brasileiros devem ter sofrido esse mesmo colapso no momento do segundo gol uruguaio, aos 34 minutos do segundo tempo, naquela decisão no Maracanã?

Um chute forte, de perna direita, e a bola passou entre Barbosa e a trave: 'Maracanazzo'

Mais simbologia: Ghiggia, justamente o protagonista, era o último atleta vivo dos 22 que entraram em campo naquela fatídica decisão. Além dele, o Uruguai jogou com o goleiro Máspoli (morto em 2004), Andrade (1985), Gonzalez (2010), Tejera (2002), Gambetta (1991), Obdulio Varela (1996), Julio Pérez (2002), Schiaffino (2002), Míguez (2006) e Morán (1978). Pelo Brasil, os infortunados que disputaram a partida foram o - mais infortunado de todos - goleiro Barbosa (morto em 2000), Augusto (2004), Juvenal (2009), Bigode (2003), Bauer (2007), Danilo Alvim (1996), Zizinho (2002), Jair Rosa Pinto (2005), Friaça (2009), Ademir de Menezes (1996) e Chico (1997). O regulamento da época não permitia substituições, portanto só estes jogadores pisaram o gramado naquele jogo.

A Roma indispôs Ghiggia com o Uruguai
O que muita gente não sabe é que, apesar de herói máximo do título uruguaio de 1950, Ghiggia fez a última partida pela seleção de sua pátria logo em seguida, em 1952, aos 25 anos. É que naquele ano ele se transferiu para a Roma, da Itália, e, para a Copa de 1954, a Associação Uruguaia o chamou, mas, surpreendentemente, o clube italiano não o liberou - mesmo o Mundial sendo disputado na vizinha Suiça. Apesar da responsabilidade ter sido do clube, o episódio fechou as portas para Ghiggia na seleção de seu país. Por isso, aproveitando sua ascendência italiana (a pronúncia original de seu sobrenome é "Guídja", ao contrário de "Jíjia"), decidiu jogar pela Squadra Azzurra. Curiosamente, como companheiro, teria o outro uruguaio que também marcou gol na decisão de 1950: Schiaffino, que fez sua última partida pelo Uruguai na Copa da Suiça, transferiu-se para Milan e Roma e também decidiu atuar pela seleção italiana. Porém, mesmo com ambos na linha de ataque, a Itália não conseguiu se classificar para a Copa da Suécia, em 1958.

Vã esperança: imprensa tupiniquim tentou forçar um 'tapetão' pra anular título uruguaio

Polêmica: uruguaio ou argentino? - Outra coisa que caiu no esquecimento foi a tentativa da mídia esportiva brasileira (ah, a mídia esportiva brasileira!) de usar Ghiggia e outro uruguaio campeão, Morán, para "anular" a partida que decidiu a Copa de 1950. Três dias após a tragédia brasileira no Maracanã, o Jornal dos Sports, do jornalista Mário Filho (que depois daria nome ao estádio), insinuou que os dois atletas, na verdade, teriam nascido na Argentina - o que tornaria irregulares suas atuações pelo Uruguai.  "Ontem as últimas horas da tarde”, dizia o jornal, “foi divulgado que o encontro Brasil x Uruguai seria anulado, em virtude de não ser uruguaio o ponteiro direito Ghiggia, por sinal fator preponderante na vitória dos 'celestes'. Segundo as aludidas versões, Ghiggia seria argentino de nascimento e estaria portanto em situação irregular na seleção oriental. O mesmo se daria com Morán, seu companheiro da ponta oposta." Como MUITAS coisas publicadas ainda hoje pela imprensa tupiniquim, comprovou-se depois que nada disso era verdade.

Frame do vídeo no exato momento da mentira
Talvez para se vingar, Ghiggia acabaria topando, em 2013, uma brincadeira proposta por uma editora uruguaia e levada a cabo por quatro jornalistas locais: publicar que Obdulio Varela, o mítico capitão da conquista no Maracanã, era na verdade brasileiro. "Quatro meses, milhares de reuniões e mais de milhares de cervejas depois, o livro estava pronto. E o título também: 'Obdulio era brasileiro'. Impactante", conta Héctor Mateo, no texto de contratapa do livro "Obdulio era brasilero – Cuentos de fútbol". Para sua surpresa e de todos os envolvidos, ao entrevistarem Ghiggia e contarem sobre a molecagem, o herói de 1950 topou na hora - e gravou um vídeo atestando categoricamente a mentira sobre Obdulio, que, postado na internet, gerou repercussão avassaladora. "Foi uma loucura. Diário, canais de televisão, rádios, ATÉ A GLOBO, sabe a alegria que tinha minha mãe quando saímos na Globo? Éramos maiores que o Rei do Gado!". Temerosos das consequências, os mentores da brincadeira teriam ainda mais uma surpresa."Teríamos que saber até quando aguentaria Ghiggia sem nos mandar à prisão. Ligaram quinhentas vezes ao velho. E quinhentas vezes mais também. E bancou a história. Bancou como um duque", acrescenta Héctor Mateo.

Com Jairzinho, 'Furacão da Copa' de 1970: 'Amo o Brasil e torço pelo país', disse Ghiggia

Credencial de Ghiggia para a Copa de 2014
De toda forma, mesmo tendo sido o "carrasco" da maior tragédia futebolística brasileira, Ghiggia dizia ter apreço pelo país vizinho. "Amo o Brasil e torço pelo país. Se o Uruguai não puder ganhar, quero que ganhe o Brasil. Depois do que fiz, sou 'hincha' (torcedor) brasileiro. É uma terra linda, abençoada", comentou, ao jornal Lance!, às vésperas da classificação da Celeste para a Copa de 2014. "Sou sempre muito bem tratado e penso: se tratam assim quem lhes fez mal, imagine como tratam quem lhes fez bem?", completou. Ano passado, por ocasião da Copa, Ghiggia veio ao Rio de Janeiro como um dos convidados de honra da inauguração da Casa Coca-Cola, instalada ao lado do estádio do Maracanã. Junto dele, o ex-atacante da seleção brasileira Jairzinho, tricampeão em 1970. Na coletiva de imprensa, Ghiggia declarou: "Ganhamos, eu e meus companheiros, aquela Copa e demos alegria ao nosso país. Mas lamento que tenha deixado o Brasil inteiro triste". Uma grandeza que permite que nós, brasileiros, também fiquemos tristes, agora, com a morte dessa lenda do futebol.


segunda-feira, abril 27, 2015

Obdulio Varela uniu o time campeão mundial de 1950 em bar uruguaio - e se arrependeu em bares brasileiros

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No cartaz do filme, o chute de Ghiggia
Ontem assisti, finalmente, o documentário "Maracanã" (ou "Maracaná", como grafam e pronunciam os uruguaios), sobre a Copa do Mundo de 1950, de autoria de Sebastián Bednarik e Andrés Varela. Foi uma revelação, para mim, descobrir o quanto Obdulio Varela, capitão da Celeste, foi absolutamente determinante em toda a campanha vitoriosa dos portenhos, da fase preparatória ao título. Até então, eu achava que ele tinha sido fundamental apenas na partida decisiva, considerada uma das maiores "zebras" da história do futebol mundial em todos os tempos, quando comandou como um leão raivoso seus companheiros a uma virada absurdamente improvável. Mas o documentário narra uma responsabilidade muito mais significante e abrangente desse mulato, filho de uma lavadeira negra, na maior conquista futebolística (e, por que não, patriótica) do Uruguai.

Obdulio usava sobrenome materno
Aliás, o orgulho que o jogador tinha de sua mãe e do sacrifício que ela fez em sua infância miserável era tão grande que ele não usava o sobrenome do pai, Muiños, mas o materno, Varela. Criado nas ruas de Montevidéu, Obdulio tinha um temperamento "chucro", zangado e determinado, com cara "de poucos amigos", que impunha temor e respeito. Caráter determinante para que liderasse, em 1948, uma inédita greve dos jogadores de futebol no Uruguai, que durou mais de sete meses, até que os clubes concedessem as reivindicações que extinguiram um regime profissional quase que escravocrata imposto até então. Porém, como era de se esperar, o líder grevista Obdulio ficou marcado - e foi afastado da seleção. Só que, às vésperas do Mundial do Brasil, a Celeste estava muito mal, com jogadores fora de forma, desunidos, sem comando e sem dinheiro. A ressaca da greve de 1948 era forte - e eles iam passar vexame.

O então presidente Luis Batlle Berres
Todos imploraram para que Obdulio voltasse à seleção, mas, orgulhoso, ele negou. Foi preciso que o próprio presidente do Uruguai na época, Luis Batlle Berres, fosse atrás dele para convencê-lo. "Tenho 36 anos e não tenho nada. Só peço um emprego", impôs Varela. "Terá", garantiu Batlle. E a primeira tarefa do "jefe" (chefe), como era chamado, foi extinguir de uma vez por todas as desavenças no elenco que iria à Copa. Muitos dos atletas tinha furado a greve de 1948, e eram desprezados e evitados pelos outros. Um deles era Matías Gonzales, o zagueiro que seria peça crucial e considerado um dos melhores jogadores do torneio. Obdulio Varela chamou todo mundo para um bar, em Montevideu, e, no meio dos "inimigos", sentenciou: "Chega disso. Nós somos todos uruguaios e vamos ganhar a Copa juntos. Agora, cerveja pra todos, amigos". O grupo se uniu e criou um vínculo patriótico ali.

Diário do Rio: 'O Brasil vencerá!'
O resto é mais ou menos conhecido. Obdulio comandou reações "impossíveis" como o empate em 2 x 2 com a forte Espanha e a virada heróica na vitória por 3 a 2 sobre a Suécia (ambos os jogos no Pacaembu), e praticamente "obrigou" seus colegas a virarem o jogo contra o Brasil no Maracanã lotado com mais de 200 mil pessoas, sendo que o anfitrião tinha a vantagem do empate e abriu o placar. Na véspera da decisão, o jornal carioca Diário de Notícias havia estampado um pôster da seleção brasileira com o título: "Eis os campeões do mundo!" No local onde estavam hospedados, os jogadores uruguaios aguardavam a partida já com uma sensação de dever cumprido, de que "fomos longe demais, está muito bom; se o Brasil ganhar será apenas a lógica". Obdulio abriu a porta do quarto onde estavam e jogou o jornal violentamente contra a parede. "Leiam!", ordenou.

Augusto (à esquerda) e Obdulio Varela
Naquele momento, os defensores da Celeste ficaram "com o sangue nos olhos", como se diz atualmente. Aliás, dizem que, segundos antes de começar o jogo, ao cumprimentar o capitão brasileiro, Augusto, e notar seu sorriso de "campeão", Obdulio teria dito a ele, rangendo os dentes: "Vais llorar lágrimas de sangre"" ("[Você] Vai chorar lágrimas de sangue!"). Depois que o Brasil fez 1 x 0 no início do segundo tempo, com o atacante Friaça, o capitão uruguaio resolveu intervir diretamente. Berrou aos companheiros: "Nós, uruguaios, entramos em campo para ganhar ou ganhar!" Até ali, o lateral-esquerdo brasileiro Bigode vinha fazendo marcação implacável sobre os atacantes da Celeste que caíam pelo seu setor, com entradas duras. Depois de mais uma delas, recebeu um "tapinha" intimidador de Obdulio, que vociferou em sua cara, com os olhos faiscando: "Calma, muchacho!"

Bigode levou 'tapinha' e murchou no jogo
Bigode murchou completamente e Ghiggia passou voando por ele duas vezes, primeiro para dar a assistência ao empate uruguaio, num chute forte de Schiaffino, e depois para marcar o gol que ficará entalado eternamente na garganta e na alma de toda uma nação. A vitória uruguaia era tão estapafúrdia e inacreditável que o presidente da Fifa (e idealizador das Copas do Mundo), Jules Rimet, ficou parado com a taça na mão, no meio do campo, sem saber o que estava acontecendo nem o que fazer. Quando ele deixou as tribunas para pegar o túnel que o levaria ao gramado, o Brasil vencia o jogo e a multidão brasileira urrava em delírio. Ao subir para a premiação, viu jogadores do Uruguai pulando, brasileiros chorando e os 200 mil torcedores em absoluto - e assustador - silêncio. O documentário mostra Obdulio literalmente arrancando a taça das mãos de Rimet, que permaneceu mudo e abestalhado. Nada daquilo estava no script.

Tragédia: brasileira chorando no Maracanã
Sem dinheiro e abandonados (porque, prevendo derrota, metade dos dirigentes da seleção uruguaia tinha embarcado de volta ao seu país antes da decisão!), os heróis da Celeste não tiveram direito nem a um jantar da vitória. Precisaram fazer uma "vaquinha" do próprio bolso para comprar salgadinhos e cervejas para a modesta comemoração em um quarto de hotel. Mas houve uma ausência: de temperamento completamente diferente dos companheiros, Obdulio Varela saiu pela noite do Rio de Janeiro, sem ser reconhecido, para tomar cerveja sozinho nos bares cariocas. Conforme relataria em seu país, ficou assombrado com o tamanho do desespero dos brasileiros que afogavam as mágoas naquela noite. Porque, para ele, tinha sido apenas um jogo de futebol, e haveria outros, para possível desforra. "Se eu soubesse a dor que causaria a essa gente tão boa, não teria ganhado o jogo", diria mais tarde, ao recordar que, em muitos bares, abraçou bêbados e chorou junto com eles.

ASSISTA O DOCUMENTÁRIO:

 


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segunda-feira, maio 12, 2014

Jogos da Copa que quase ninguém viu

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Muito antes dos mundiais se tornarem grandes fenômenos comerciais e televisivos, algumas partidas contaram com públicos dignos de campeonatos estaduais

Estima-se que o Mundial de 2014 deva ter uma audiência de 3,2 bilhões de espectadores em todo o planeta. A última edição, de 2010, teve uma média de público de 49.674 torcedores em cada uma das 64 pelejas disputadas na África do Sul. São números grandiosos, mas bem distintos do que acontecia nos primórdios do evento.
Laurent, autor do 1º gol das Copas
Entre os cinco piores públicos de uma partida disputada em Copa, dois aconteceram no primeiro Mundial, em 1930, no Uruguai. Ambas as pelejas aconteceram em Pocitos, um estádio de Montevidéu que tinha capacidade para 8 mil pessoas – o Centenário, que podia abrigar mais de dez vezes este número de pessoas, só ficou pronto para estrear cinco dias depois do início do torneio.
Assim, o campeão negativo de público em Copas foi a peleja Romênia 3 X 1 Peru, que contou com 2.549 espectadores, de acordo com a Fifa. O quinto jogo menos assistido in loco foi justamente a partida de abertura do torneio. Somente 4.444 torcedores viram, no dia 13 de julho de 1930, o francês Lucien Laurent marcar o primeiro tento da história dos mundiais, aos 19 minutos do primeiro tempo. A França bateu o México por 4 a 1.
Em 1958, País de Gales e Hungria terminaram empatados em pontos no Grupo 3 e jogaram uma partida-desempate, como previa o regulamento à época. O jogo entre os galeses, três empates na competição, e os húngaros, uma vitória (que valia dois e não três pontos), um empate e uma derrota, não atraiu os suecos. Compareceram ao Rasunda Stadium 2.823 pessoas, segundo pior público em Copas.
A terceira pior marca ocorreu na Copa de 1950, disputada no Brasil. A Suíça bateu o México por 2 a 1 no Parque dos Eucaliptos, em Porto Alegre. Inaugurado em 1931, o estádio era a sede do Internacional e, para o Mundial, foi construído um pavilhão de concreto com dinheiro arrecadado junto à torcida colorada. O clube também recebeu uma ajuda financeira da administração municipal da capital gaúcha e 5% da renda bruta dos dois jogos realizados lá (o outro foi México e Iugoslávia).
Como os dois times já estavam eliminados do torneio quando disputaram a partida, os gaúchos não se empolgaram e 3.580 pessoas foram ao estádio. Quem não foi, perdeu a chance de ver um fato, no mínimo, curioso. Como ambas as equipes entraram em campo com uniformes vermelhos – então vestuário preferido dos mexicanos –, a esquadra dos hermanos atuou com um jogo de camisas emprestado do Cruzeiro-RS.
O quarto pior público da história dos mundiais aconteceu na Copa de 1954, disputada na Suíça, e foi uma tremenda goleada. A Turquia superou a Coreia do Sul por 7 a 0 e conseguiu o direito de disputar um jogo-desempate do grupo contra a Alemanha, no qual foi também goleada por 7 a 2. Para o embate contra os turcos, aliás, os sul-coreanos trocaram oito jogadores em relação ao jogo de estreia, quando foram derrotados por nada singelos 9 a 0 para a Hungria. A chuva de tentos foi vista por 4 mil torcedores.
Todas as cinco partidas acima tiveram um público mais baixo que a média do campeonato paulista de 2014, de 5.675 pagantes. Para aqueles que penam ao tentar obter um ingresso de jogo da Copa de 2014, deve bater um certo saudosismo destes tempos idos...

quarta-feira, junho 26, 2013

Para entender o futebol do Uruguai

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O jornalista Andrés Reyes, autor de um livro que pretender ser o ‘guia ideal para compreender o futebol mais incompreensível do mundo’, fala sobre o momento atual da Celeste

Por Glauco Faria


"Inequivocamente o [futebol] com maior densidade de futebolistas profissionais bem sucedidos e Copas ganhas por habitante”. É assim que o jornalista Andrés Reyes define o futebol de seu país no livro El Propio Fútbol Uruguayo – Una guía ideal para coprender el fútbol más incomprensible del mundo, ainda sem edição em português. “A única coisa que nos faz diferentes é que nossos pequenos recebem uma bola antes de aprender a caminhar”, sugere, tentando explicar o sucesso celeste no mundo da bola.

Mas se engana quem acha que se trata de um livro laudatório. Com um texto bem humorado, Reyes trata o futebol de seu país de forma bastante sarcástica por vezes, criticando sua organização e mesmo fazendo ressalvas a conquistas importantes como o quarto lugar na Copa de 2010, lembrando que a seleção enfrentou nas oitavas e quartas de final adversários que ele considera mais fracos, Coreia do Sul e Gana. Nada parecido com o que se vê em parte da mídia brasileira em relação à seleção...

Na entrevista abaixo, concedida por e-mail, o jornalista fala sobre a história da seleção e do atual momento da equipe, comenta a respeito de jogadores conterrâneos seus que foram ídolos por aqui, como Rodolfo Rodríguez e Lugano, e também dá seus pitacos sobre a bola que rola no Brasil, ressaltando que o futebol daqui pouco chega a seu país. “São transmitidas ao vivo para o Uruguai todas as partidas na Argentina, Espanha, Inglaterra e Itália. As pessoas mais ou menos sabem que na Argentina foi campeão o Newell's; na Espanha, o Barcelona; na Inglaterra, o Manchester; na Itália, a Juventus. Mas não se tem muito claro quem ganhou os estaduais, nem o último Brasileirão.”


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terça-feira, maio 24, 2011

O porre de Juvenal - que não era o Juvêncio

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Semana passada consegui encontrar, num sebo, um livro que sempre quis dar uma olhada: "Barbosa - Um gol faz cinquenta anos", de Roberto Muylaert, lançado em 2000 pela Editora RMC. Porque sou daqueles que, mesmo não tendo vivido aquela época e reconhecendo que as imagens disponíveis são pouco conclusivas, não culpo o nosso goleiro na fatídica e trágica derrota na Copa de 1950. Para mim, e para o autor do livro, o campineiro Moacir Barbosa do Nascimento (foto à direita) sofreu durante meio século por um crime que não cometeu. Afinal, no Brasil, a culpa sempre é do goleiro. Ainda mais se for negro. Ainda mais se não faz o milagre de evitar o gol da derrota da nossa seleção, numa decisão de Copa do Mundo disputada em pleno Maracanã.

"Uma vez, eu tomava um limãozinho num bar de um amigo, quando entra uma senhora com um menino que não tinha nem dez anos, aí a mulher vira e fala 'olha, meu filho, vem cá, está vendo esse homem aí, é ele que fez todo o Brasil chorar'", contou Barbosa, no livro. "O garoto ficou olhando fixo para a minha cara, com um ar entre condenação e consternação, então eu não aguentei e respondi 'escuta aqui, minha senhora, se eu fosse seu filho queria ver se a senhora teria coragem de dizer isso, é porque eu não sou seu filho, senão a senhora também estaria sofrendo na pele'. Ela também não tinha nascido na época da Copa, então já eram duas gerações que não estavam neste mundo no dia daquela final, me acusando", lamentou o ex-goleiro.

O livro de Muylaert aponta para possíveis falhas de dois outros jogadores brasileiros que estavam em campo: o ponta-esquerda Chico e o zagueiro Juvenal (foto à esquerda). Convencido de que o Brasil seria campeão de qualquer jeito, o ponta queria marcar um gol e entrar para a História, por isso, não cumpriu o combinado de voltar para ajudar o lateral-esquerdo Bigode, que viu Gigghia escapar duas vezes às suas costas - uma cruzando para o empate de Schiaffino e outra fazendo o inpensável gol da vitória e do título. Já Juvenal, que chegou a culpar Bigode e Barbosa pela derrota, estava nervoso e mal posicionado em campo. Além disso, segundo o ex-goleiro, estaria de ressaca.

"O Juvenal estava na minha frente, só senti o vento quando a bola passou, e ele estava mesmo na minha frente, no primeiro gol. Ele tinha é que estar na frente do Schiaffino. (...) No segundo gol ele tinha que estar na frente do Ghiggia, mas tinha ficado para trás de novo", observou Barbosa. "O Juvenal me acusou, falou com um jornalista da Bahia que o culpado foi o Barbosa, respondi que o Juvenal estava abaixo do meu nível, por isso não falei nada (...). Mesmo antes da final, se o Nena, reserva do Juvenal, não estivesse machucado, Juvenal nem teria jogado, já que na noite anterior tomou um porre homérico no Dancing Avenida, da rua Santa Luzia, o que deixou nosso técnico maluco de raiva".

Hoje, tanto Barbosa quanto Juvenal estão mortos - e procurar culpados para aquela derrota não faz o menor sentido. Mas como o goleiro foi o mais condenado e execrado, nunca é tarde para contemporizar a "versão oficial", de que teria falhado no gol de Gigghia. Segundo Barbosa, quando o ponta adversário alcançou a bola, outros três uruguaios estavam livres na área brasileira (Schiaffino, Míguez e Julio Pérez), prontos para receberem o passe e estufarem as redes, sem qualquer marcação. Todos no estádio tinham certeza de que Gigghia iria cruzar a bola para eles, como havia feito no lance do primeiro gol.

Por isso, Barbosa permaneceu no meio da meta até o último momento. Quando percebeu que o ponta chutaria direto, saltou e ainda conseguiu roçar com os dedos a bola. Tarde demais. Mesmo sem culpa no lance, Barbosa seria apontado, até o final da vida, como o grande vilão daquela tragédia futebolística.



Churrasco das traves
O livro de Muylaert ainda confirma uma lenda surreal, a de que as traves de madeira do gol onde os uruguaios marcaram foram entregues a Barbosa, em 1963, ao serem substituídas pelas mais modernas, de metal. Aposentado havia menos de um ano, o ex-goleiro recebeu o "presente" de Abelardo Franco, diretor da então Administração dos Estádios do Estado da Guanabara (Adeg). A inteção não foi de escárnio, pelo contrário: Franco queria dar a Barbosa a oportunidade de exorcizar seus demônios. E foi o que ele fez. Queimou os três paus em uma enorme fogueira, no quintal de sua casa no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, e aproveitou o braseiro para fazer um lauto churrasco. Chamou toda a vizinhança e serviu muita comida e bebida. Parece realismo fantástico, mas esse ritual pirotécnico diz muito sobre até onde chega, no Brasil, a loucura pelo tormento de uma derrota apoteótica.

quinta-feira, julho 15, 2010

Após seis décadas, 'Maracanazo' ainda sangra

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Amanhã serão completos 60 anos daquela fatídica e inesquecível partida entre Brasil e Uruguai, o chamado "Maracanazzo", em que nossa seleção, precisando de um mísero empate para conquistar sua primeira Copa do Mundo, em seu próprio país, saiu na frente do placar mas conseguiu levar uma virada improvável e calou 200 mil torcedores que assistiam in loco, assombrados, aquela tragédia futebolística. Aqui, ali e acolá , já falamos sobre o assunto. Mas a ferida não cicatriza e, como uma espécie de Vietnã para os Estados Unidos, aquela derrota nunca deixará de pertubar o sono dos fanáticos torcedores brasileiros. Nem dos uruguaios, que podem ter vibrado muito na época, mas, como uma espécie de maldição, nunca mais ganharam nada com a seleção celeste depois daquele feito histórico. Só neste ano ressurgiram com um surpreendente quarto lugar na Copa da África do Sul.

Muito já foi dito sobre o que aconteceu naquele 16 de julho de 1950 no gramado do Maracanã - e muito ainda será especulado. O melhor esforço de reportagem, até o momento, foi o livro "Dossiê 50 - Os Onze Jogadores Revelam Os Segredos Da Maior Tragedia Do Futebol Brasileiro" (Editora Objetiva, 2000), de Geneton Moraes Neto. Reproduzo abaixo alguns dos depoimentos colhidos pelo autor, e, na sequência, um vídeo sobre a Copa de 1950 e o "Maracanazo", sob a ótica uruguaia. Pra lamber as feridas...

"Ghiggia diz que só ele, o Papa e Frank Sinatra calaram o Maracanã. Eu também fiz o Brasil calar, fiz o Brasil chorar: não é só ele que tem esse privilégio não." - Barbosa, goleiro

"A cena já estava toda pronta, na minha imaginação. O jogo terminava. O Brasil, absoluto, ganhava fácil do Uruguai. A gente se perfilava no gramado, em frente à tribuna de honra do Maracanã. Depois de cantar o Hino, a gente veria chegar o velhinho Jules Rimet com taça na mão. Eu pegaria a da taça das mãos dele. Todo feliz, ergueria a taça lá para o alto." - Augusto, zagueiro

"Vim para o Rio para ser campeão do mundo. Voltei a São Paulo no chão do trem." - Bauer, meio-campo

"Como a Copa de 50 marcou a inauguração do Maracanã, a derrota do Brasil ficou gravada para a eternidade. O próprio time do Vasco, base da Seleção Brasileira, derrotou o Peñarol, base da Seleção Uruguaia, em Montevidéu, logo depois. Mas os uruguaios diziam: 'A gente não queria ganhar essa aqui em Montevidéu, não. Queríamos ganhar aquela, no Maracanã'." - Danilo, meio-campo

"Deve ter morrido gente de enfarte. Se o Brasil fosse campeão, morreria muito mais gente. O povo é exagerado. O Maracanã ia vir abaixo. Iam quebrar tudo nos bailes. O futebol é um fenômeno que ninguém explica. Futebol incomoda mais que problema de família…" - Bigode, lateral-esquerdo

"Fiz 1 x 0 na final da Copa. Ali nós já éramos deuses." - Friaça, atacante

"Meu sonho era assim: a gente ainda iria jogar contra o Uruguai. Aquilo que aconteceu era mentira." - Zizinho, atacante

"Sempre antes de dormir, eu pensava no gol que não fiz, aos 45 do segundo tempo. Eu sonhava assim: o Brasil com um time daqueles não ganhou a Copa do Mundo? A derrota é que tinha sido um sonho. Acordava espantado, olhava ao redor - e o Maracanã estava ali, na minha frente." - Jair Rosa Pinto, atacante

"Tive um pressentimento estranho. Quando o Brasil entrou em campo, a derrota já estava escrita." - Chico, ponta-esquerda

"Estava muito confiante ao entrar no gramado, senti uma forte vibração nas veias, olhei para os lados e a festa estava praticamente pronta. Só bastava fazer a nossa parte, e aí se deu o detalhe: quando a bola rolou, nem notei. Só percebi quando Jair me gritou: '-Acorda, Juva, agora é com a gente!'. Friaça fez o gol no início do segundo tempo e só caiu na real depois que o Uruguai empatou o jogo, aí ele voltou a si. Danilo Alvim chorava feito uma criança ainda no gramado. Ao vê-lo aos prantos, já nos vestiários, tive uma crise de choro também. Todos choraram, menos Chico. Foi uma barra terrível.", Juvenal, zagueiro




(Observação: Ao contrário do que dizem os uruguaios no vídeo, o Maracanã não recebeu 250 mil torcedores e o técnico brasileiro não era Feola, mas Flávio Costa)

quarta-feira, abril 29, 2009

Há 60 anos, o Brasil conquistou sua terceira Copa América com a linha média Rui, Bauer e Noronha

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Em 1949, o Brasil sediou e venceu sua terceira Copa América. E experimentou pela primeira vez, na equipe titular, a linha média que conquistou quatro Campeonatos Paulistas pelo São Paulo naquela década: Rui, Bauer e Noronha (foto). A campanha, com eles, foi arrasadora: 9 a 1 no Equador, 10 a 1 na Bolívia, 2 a 1 no Chile e 5 a 0 na Colômbia (todos os jogos no mês de abril). Depois disso, porém, o técnico Flávio Costa teve de respeitar a rivalidade bairrista entre cariocas e paulistas e, como as últimas quatro partidas seriam no Rio de Janeiro, escalou os vascaínos Ely e Danilo Alvim, mantendo apenas Noronha. Explica-se: Rui e Bauer eram paulistanos da gema; Noronha, mesmo jogando no São Paulo, era gaúcho. Mas a birra era tão grande que, apesar de o Brasil vencer o Peru por 7 a 1 e o Uruguai por 5 a 1 com Noronha ainda titular, a torcida pressionou e ele foi sacado da partida contra o Paraguai, para dar lugar ao flamenguista Bigode. Resultado sem o sãopaulino: 2 a 1 para os paraguaios. No jogo do título, Noronha voltou e o Brasil goleou o mesmo Paraguai por 7 a 0.

O bairrismo era imenso. A primeira partida, contra o Equador, foi disputada no estádio de São Januário, do Vasco, no Rio. Por isso, a linha média que entrou em campo foi Ely, Danilo Alvim e Noronha. Mesmo com Rui e Bauer entrando durante o jogo, o Uruguai nos goleou por 4 a 2. Nas quatro partidas seguintes, no estádio do Pacaembu, os três são-paulinos foram titulares e vencemos todas (na foto acima, Rui, Mauro, Barbosa, Bauer e Noronha). O trio marcou sua época: em sete temporadas no Tricolor, Rui, Bauer e Noronha fizeram juntos 169 jogos, com 100 vitórias, 34 empates e 35 derrotas. Mas, afinal de contas, que diabos seria, no futebol da época, uma "linha média"? Com a palavra, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo: "Dava a idéia de uma linha de apoio ao ataque, quando nem linha era. Havia um meia apoiador, um meia recuado, que depois seria chamado de quarto zagueiro (volante de contenção só foi inventado mais tarde), e um lateral esquerdo. Podia ser o inverso: um lateral direito, um apoiador e um meia recuado. (...) No São Paulo, o apoiador era o Bauer, o recuado era o Rui, o lateral era o Noronha".

Parecia racional, para o jovem Luís Fernando e para a maior parte dos torcedores brasileiros, que o trio jogasse como titular na seleção. Porém, o Rio de Janeiro seria o palco principal da Copa de 1950, o técnico Flávio Costa tinha forte ligação com o Vasco e, na estreia, contra o México, foi o trio Ely, Danilo Alvim e Bigode que atuou na vitória por 4 a 0. Mas o bairrismo resistia: no segundo jogo, no Pacaembu, em terras paulistanas, Bauer, Rui e Noronha foram os titulares - pela última vez na seleção (na foto acima, do dia, Rui, Barbosa, Augusto, Bauer, Noronha e Juvenal). O empate por 2 a 2 foi o que Flávio Costa precisava para justificar os cariocas no time, mas fez uma concessão: Bauer substituiria Ely. E foi com Bauer, Danilo Alvim e Bigode que o Brasil venceu a Suécia (7 a 1) e a Espanha (6 a 1). Bauer foi o grande destaque da defesa, apelidado, pela própria imprensa carioca, de "gigante do Maracanã". Mas veio a fatídica decisão. Voltemos a Luís Fernando Veríssimo: "No jogo final da Copa de 50 contra o Uruguai, Bauer apoiou, Danilo jogou no meio e Bigode na lateral, onde deixou o Ghiggia passar e marcar o gol da tragédia". Noronha, o outro lateral esquerdo, assistiu tudo de camarote.

O jornalista carioca Pedro do Coutto, da Tribuna da Imprensa, defende Barbosa no lance fatal: "Ele não engoliu frango algum, tenho certeza. Eu estava no estádio superlotado exatamente no ângulo do chute. (...) O fato predominante é que o ataque do Uruguai avançava surpreendentemente livre. Gigghia (à esquerda), ponta direita, vinha passando facilmente por Bigode, nosso lateral esquerdo, em todas as ocasiões. Naquele tempo, meio campo não voltava para ações defensivas, ao contrário de hoje. Se o treinador Flávio Costa tivesse percebido melhor o espaço tático, teria mandado Jair da Rosa Pinto e Danilo Alvim aproximarem-se de Bigode para lhe dar cobertura. Ou então teria recuado o ponta esquerda Chico Aramburu para a tarefa indispensável. Bigode estava mal na partida".

Alfredo Eduardo Noronha (foto à direita) era o mais velho da histórica linha média sãopaulina. Nascido em Porto Alegre (RS) em setembro de 1918, morreria em São Paulo em julho de 2003, aos 84 anos. Começou a carreira no Grêmio, conquistando os Campeonatos Gaúchos de 1935, 1937, 1938 e 1939. No São Paulo, venceu o Paulistão em 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949. Pelo Tricolor, fez 295 partidas e marcou 13 gols. E ainda jogaria num dos maiores times da Portuguesa de Desportos, campeã do Torneio Rio-São Paulo de 1952. Fez 17 jogos pela seleção brasileira, entre 1944 e 1950.

Por sua vez, Rui Campos nasceu na capital paulista em abril de 1922, onde também morreria, em janeiro de 2002, pouco antes de completar 80 anos. Começou no São Paulo, onde venceu quatro dos cinco títulos da década de 1940, e encerrou a carreira no Palmeiras, em 1953. Apesar de ser zagueiro, também jogava como volante ou meia. Tinha um alto nível técnico e orientava os outros jogadores. Sabia arrumar a defesa e municiar o meio campo e armar jogadas de ataque. Pelo Brasil, fez 30 partidas entre 1944 e 1950, marcando dois gols. Cria do São Paulo desde a categoria juvenul, Rui disputou 272 jogos pelo clube como profissional, marcando seis gols.

O último da linha foi o volante José Carlos Bauer, nascido em novembro de 1925 e falecido em fevereiro de 2007, aos 81 anos. Jogou entre 1944 e 1953 no São Paulo, onde conquistou os títulos paulistas de 1945, 1945, 1946, 1948, 1949 e 1953. Passou ainda por Botafogo-RJ, Portuguesa e São Bento. Na seleção, foram 29 jogos entre 1949 e 1954. Pelo São Paulo, fez 398 partidas e 18 gols. Disputou as Copas de 1950 e 1954. Como técnico, Bauer, à frente da Ferroviária de Araraquara, efrentou o Sportivo Lourenço Marques em Moçambique e descobriu o menino Eusébio. Como não podia contratá-lo, indicou o futuro maior jogador de Portugal para o técnico Bella Guttman, ex-São Paulo, que comandava o Benfica.

Somando os jogos pelo São Paulo e pelo Brasil, portanto, Rui, Bauer e Noronha fizeram, entre 1945 e 1951, um total de 175 jogos, com 104 vitórias, 35 empates e 36 derrotas. Mas podem ter feito, ainda, algumas partidas pela seleção paulista (na foto acima, de 1952, Rui, Palante, Oberdan Catani, Mauro, Bauer e Noronha). Porém, não disponho dos dados para acrescentar nas estatísticas do trio. Pelo São Paulo, estrearam em 8 de abril de 1945, na goleada por 6 a 2 sobre o Jabaquara, pelo Campeonato Paulista. E se despediram em 22 de julho de 1951, num amistoso contra a Caldense, em Poços de Caldas (MG). O Tricolor venceu por 3 a 1 e Bauer fez o primeiro gol. Jogando juntos pelo clube, Noronha fez 9 gols, Bauer 8 e Rui 6.

Ps.: Não tem muito a ver com o post, mas, na pesquisa que fiz, encontrei mais uma prova de que, no Brasil, sadismo pouco é bobagem. Depois de terem substituído as traves de madeira pelas de metal no Maracanã, em 1969, dizem que mandaram as antigas (remanescentes da Copa de 1950) para a casa do ex-goleiro Barbosa. Não contentes com a maldade, ainda fizeram o "favor" de reunir no Maracanã, 30 anos após a tragédia contra o Uruguai, todos os traumatizados e estigmatizados jogadores daquele time. Confiram:

16/07/1950, Maracanã com 200 mil pessoas - Em pé: Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo Alvim e Bigode; Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto, Chico e o massagista Mário Américo

16/07/1980, arquibancadas totalmente vazias - Em pé: Barbosa, Augusto, Danilo Alvim, Juvenal, Bauer e Bigode; Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto, Chico e o massagista Mário Américo

terça-feira, janeiro 13, 2009

Ghigghia tirou duas vezes o título de 50 do Brasil

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Pesquisando para fazer o post em homenagem à morte de Friaça, descobri uma informação que, com certeza, poucos aficcionados por futebol conhecem. A campanha do Brasil na Copa de 1950 foi tão espetacular (até a decisão, 5 jogos, 4 vitórias, 1 empate, 21 gols pró e só 4 contra), com goleadas de 7 a 1 sobre a Suécia e 6 a 1 sobre a Espanha, que todos sabem que o time só precisava de um empate com o Uruguai para ficar com o título. Mas um fato esquecido - e absolutamente fantástico - é que o trágico jogo de 16 de julho, o "Maracanazo" que nos tirou o título, poderia nem ter sido disputado.

Nossa seleção poderia ter levantado o troféu no dia 13, quando ensacolou os espanhóis com a torcida cantando "Touradas de Madri", do compositor João de Barro, no Maracanã. Para isso, bastava que Suécia e Uruguai empatassem no Pacaembu, em São Paulo. A partida, que foi disputada simultaneamente à do Rio, ficou em 2 a 2 até os 40 minutos do segundo tempo. Mais 5 minutinhos e o Brasil seria campeão antecipado. Mas eis que, nesse momento, o camisa 7 Alcides Ghigghia disparou na lateral direita, invadiu a área e fez 3 a 2, levando o Uruguai à final.

E o mais curioso é que seu gol foi praticamente idêntico ao que faria na decisão, aos 34 minutos da etapa final (fotos acima), selando a vitória de nossos adversários. Dizem que, naquele momento, o idealizador da Copa do Mundo, Jules Rimet, já havia saído de seu camarote, no Maracanã, para atravessar o túnel no subsolo a tempo de entregar a taça para os brasileiros assim que o juiz desse o apito final. Quando partiu, o clima era de festa, com fogos e gritos, pois o placar de 1 a 1 nos garantia o título. Só que, ao subir para o gramado, Rimet não entendeu nada: os uruguaios pulavam e 200 mil brasileiros observavam em silêncio. Ele não viu o gol de Ghigghia.

Pois esse episódio esquecido, de que o Brasil já poderia ter sido campeão contra a Espanha, evitando a partida contra o Uruguai, reforça a devida importância do camisa 7 naquela conquista. Por muito tempo, o falecido capitão Obdulio Varela (à direita, levantando Ghigghia após a vitória) foi apontado como principal figura da decisão, pois teria empurrado sua seleção à virada com berros e pressão nos companheiros. Mas os gols decisivos contra a Suécia e Brasil apontam mesmo Ghigghia como o grande herói uruguaio. O ex-jogador tem hoje 82 anos e vive em Montevidéu. Em 2006, o governo de seu país lançou um selo comemorativo com seu rosto e a frase "Ghigghia nos hizo llorar" ("Ghigghia nos fez chorar"). É, os brasileiros também choraram...

Naquele mesmo ano, o uruguaio recebeu o prêmio "Golden Foot", um molde de ouro de seu pé direito, em cerimônia celebrada em Monte Carlo, na França. Para construir uma casa para sua atual esposa, que tem 35 anos, Ghiggia leiloou esse troféu em julho do ano passado. Quem arrematou foi o Banco de la República Oriental del Uruguay, único participante do leilão, por cerca de 510 mil pesos (R$ 41 mil). "Por sorte não tenho apertos econômicos, mas ter um troféu tão valioso em minha casa é perigoso e quero deixar algo para a minha esposa, que é muito jovem", afirmou Ghiggia, na ocasião. De fato, um craque dentro e fora do campo.


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