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João Guilherme Lacerda
Enviado Especial do Futepoca
O Picolé de Chuchu peidou na farofa e decidiu manter a estação de metrô em Higienópolis, lugar de "gente diferenciada" na capital paulista. Mesmo assim, o churrascão marcado pela internet, como protesto aos preconceituosos habitantes do bairro, foi mantido para o sábado, 14 de maio, com ponto de encontro em frente a um shopping. Não dava para esperar as novas Diretas Já, a queda da Bastilha ou a praça Tahir paulistana. Mas cada cidade uma luta, cada momento histório uma batalha. A primeira imagem que vi pela internet eram de ciclistas levantando suas bicicletas em frente ao sofisticado centro de compras. Munido de uma bicicleta e meu cãozinho de madame, segui rumo à festa. Começou com queima de catraca, que não vi. Mas peguei o panfleto do Sindicato dos Metroviários e a nota de R$ 3,00 do Kassab.
Grande, pequena, profissional ou informal, toda a mídia estava por lá. Tornaram caçamba de entulho puleiro de fotógrafos e cada cartaz ganhou seu clique. Com a rua Higienópolis aberta para as pessoas, a festa popular tomou conta - para grande medo de algumas tradicionais senhoras da região, em estado de choque com a massa de pessoas que lotou de alegria uma rua rotineiramente cheia de automóveis. Uma certa São Paulo que tem tido muito medo de gente. Mais do que a polêmica sobre a estação do metrô, o protesto foi principalmente contra essa "doença" paulistana, cada vez mais perceptível, a "pobrefobia".
Misteriosamente, mesmo sem liderança, a massa seguiu para a frente de um supermercado na avenida Angélica, local da futura estação de metrô. Por lá, o que já era bonito de ver e participar tomou proporções ainda mais épicas. Ficou claro que era uma festa de frequentadores da rua Augusta e muitos outros paulistanos, de coração ou nascimento. Teve a adesão de ativistas do Movimento Passe Livre, sindicalistas, a juventude paulistana mais antenada. Mas fez falta a brigada revolucionária das mães com carrinhos de bebê. Felizmente, os passeadores de cachorro fizeram-se presentes.
Teve quem cuidasse do lixo, teve um mini-elétrico para música e discursos. Teve travesti que só queria aparecer e muita gente que queria só se divertir. Tudo terminou com um varal que cruzou a Angélica. Contra o esnobismo de uma elite retrógrada, a melhor resposta foi a alegria. Um Carnaval, regado a cervejas de marcas estrangeiras, somado a um verdadeiro churrasco popular brasileiro. É nóis! Porque a gente não vive em HIGIENópolis, mas também somos limpinhos!
João Guilherme Lacerda é carioca, jornalista, flamenguista (não necessariamente nesta ordem) e, apesar de não ser Robinho, pedala bastante. Ele se orgulha de ser um "pobre diferenciado", pois leva cachorro de madame pra passear.