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quarta-feira, novembro 27, 2013

O descanso de um gigante: Nilton Santos (1925-2013)

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Enciclopédia. Essa era a alcunha pela qual também atendia Nilton Reis dos Santos, nascido em 16 de maio de 1925 e falecido em 27 de novembro de 2013.Um atleta que atuou em quatro Copas do Mundo, vivendo a tragédia da Copa de 1950, passando pela frustração de 1954, chegando ao triunfo de 1958 e à consagração final em 1962. Foram 18 anos de Botafogo, 792 partidas com a camisa da Estrela Solitária. E olha que ele quase parou no São Cristovão...

A passagem está no livro Recados da Bola (Cosac Naify), organizado por Jorge Vasconcellos. Em 1945, Nilton entrou para a Aeronáutica e atuava no time de lá. No fim de 1947, a equipe fez um jogo-treino contra os titulares do São Cristovão e o técnico rival, Arquimedes, quis levá-lo para o clube. Mas um major da Aeronáutica o aconselhou: “Se for para tentar um clube, que seja um clube grande”, disse o oficial Honório, que tinha um tio, Bento Ribeiro, à época diretor social do Botafogo. E o então meia foi para General Severiano tentar a sorte. Mas quem deu sorte foi o Alvinegro.

Carlito Rocha, presidente do clube carioca, recebeu o aspirante a jogador e perguntou sua altura. “Um metro e oitenta e um”, respondeu Nilton. “Você é do meio pra trás”, vaticinou. E assim nascia um dos maiores – se não o maior – laterais esquerdos da História. Um jogador que tinha a vantagem de ser ambidestro. “Eu usava as duas pernas, saía jogando para onde estivesse virado; se estivesse voltado para dentro do campo, saía com a esquerda; se estivesse virado para o outro lado, saía com a esquerda. Nunca fiz gol contra. Veja o Roberto Carlos, que nem tem tanto tempo de Seleção [a entrevista foi feita em 1994] assim e já fez gol contra. Por quê? Porque vai correndo para dentro da área, bate na perna ruim e entra”, diz, em depoimento retratado em Recados da Bola.

Da tragédia de 1950 à consagração de 1962
Na obra, ele reclama do técnico da seleção de 1950, Flávio Costa, o acusando de autoritarismo. Foi convocado para ser reserva do lateral-direito de Augusto, capitão do time. No lado canhoto, havia o titular Bigode eu reserva Noronha. “Acho que ele só me chamou como justificativa, para não dizer que não chamou ninguém do Botafogo.” Ele atribuía a derrota no Mundial ao treinador. “Se ele fosse para o Botafogo, eu não ficaria o tempo que fiquei no clube, porque ele era muito autoritário, e eu achava (embora não falasse), como acho até hoje, que o técnico precisa mais do jogador do que o jogador do técnico. Eu, na condição de jogador de futebol, se não jogar aqui, jogo ali. A consagração do técnico só acontece quando o time ganha, e quem ganha sou eu e não ele.”

Nilton dizia que o segredo das vitórias em 1958 e 1962 era a união dos jogadores. Ninguém torcia para alguém se machucar e poder entrar. Além disso, o treinador da Copa na Suécia, Vicente Feola, era de “trocar ideias”, sendo que o preparador físico Paulo Amaral, também era merecedor de elogios do Enciclopédia. Aymoré manteve o esquema em 1962 e obteve o sonhado bicampeonato. Na Copa no Chile, aliás, um dos lances que marcou sua carreira: o esperto passo para a frente que fez com que não fosse anotado pênalti a favor da seleção da Espanha, quando o Brasil perdia por 1 a 0, derrota que o desclassificaria na primeira fase.

“Por sorte, dei o tal passo à frente. Foi num contra-ataque da Espanha. Eu fiz um pênalti no ponta-esquerda Collar, mas o juiz estava longe do lance. Então cinicamente levantei as mãos como um gesto de que não tinha feito nada e dei um passo à frente. Quando ele chegou, marcou falta onde eu estava. Naquela hora, valeu a presença de espírito, jogador de pelada tem esses recursos”, explicou em depoimento no livro. “Os espanhóis reclamaram, mas não adiantou. O cara bateu achando que dali faria o gol do mesmo jeito – eles estavam ganhando de 1 X 0, marcaria o segundo e acabaria com a gente. O que passou pela minha cabeça é que se eu desse uns dois passo chamaria muito a atenção.” O lance está em 0:32 do vídeo abaixo.


Nilton Santos. Eterno (Divulgação/Botafogo)
Bicampeão do mundo como titular, aos 38 anos. Feito para poucos. Aos 82, foi diagnosticado com o cruel Mal de Alzheimer. Mas para resumir sua grandiosa jornada, vale o último parágrafo do belo texto de João Máximo e Mascos de Castro em outro belo livro, Gigantes do Futebol Brasileiro (Civilização Brasileira):

“Nilton Santos é, numa palavra, eterno. Entre os troféus e medalhas ganhos, um há de ficar, por sua singeleza, como a mais perfeita definição de uma vida dedicada ao futebol – a bola com que os amigos o presentearam, em 1983, com a seguinte dedicatória: “Mestre Nilton, hoje estou realizando o sonho de felicidade de todas as bolas do mundo: ser só sua para sempre.”

quarta-feira, abril 29, 2009

Há 60 anos, o Brasil conquistou sua terceira Copa América com a linha média Rui, Bauer e Noronha

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Em 1949, o Brasil sediou e venceu sua terceira Copa América. E experimentou pela primeira vez, na equipe titular, a linha média que conquistou quatro Campeonatos Paulistas pelo São Paulo naquela década: Rui, Bauer e Noronha (foto). A campanha, com eles, foi arrasadora: 9 a 1 no Equador, 10 a 1 na Bolívia, 2 a 1 no Chile e 5 a 0 na Colômbia (todos os jogos no mês de abril). Depois disso, porém, o técnico Flávio Costa teve de respeitar a rivalidade bairrista entre cariocas e paulistas e, como as últimas quatro partidas seriam no Rio de Janeiro, escalou os vascaínos Ely e Danilo Alvim, mantendo apenas Noronha. Explica-se: Rui e Bauer eram paulistanos da gema; Noronha, mesmo jogando no São Paulo, era gaúcho. Mas a birra era tão grande que, apesar de o Brasil vencer o Peru por 7 a 1 e o Uruguai por 5 a 1 com Noronha ainda titular, a torcida pressionou e ele foi sacado da partida contra o Paraguai, para dar lugar ao flamenguista Bigode. Resultado sem o sãopaulino: 2 a 1 para os paraguaios. No jogo do título, Noronha voltou e o Brasil goleou o mesmo Paraguai por 7 a 0.

O bairrismo era imenso. A primeira partida, contra o Equador, foi disputada no estádio de São Januário, do Vasco, no Rio. Por isso, a linha média que entrou em campo foi Ely, Danilo Alvim e Noronha. Mesmo com Rui e Bauer entrando durante o jogo, o Uruguai nos goleou por 4 a 2. Nas quatro partidas seguintes, no estádio do Pacaembu, os três são-paulinos foram titulares e vencemos todas (na foto acima, Rui, Mauro, Barbosa, Bauer e Noronha). O trio marcou sua época: em sete temporadas no Tricolor, Rui, Bauer e Noronha fizeram juntos 169 jogos, com 100 vitórias, 34 empates e 35 derrotas. Mas, afinal de contas, que diabos seria, no futebol da época, uma "linha média"? Com a palavra, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo: "Dava a idéia de uma linha de apoio ao ataque, quando nem linha era. Havia um meia apoiador, um meia recuado, que depois seria chamado de quarto zagueiro (volante de contenção só foi inventado mais tarde), e um lateral esquerdo. Podia ser o inverso: um lateral direito, um apoiador e um meia recuado. (...) No São Paulo, o apoiador era o Bauer, o recuado era o Rui, o lateral era o Noronha".

Parecia racional, para o jovem Luís Fernando e para a maior parte dos torcedores brasileiros, que o trio jogasse como titular na seleção. Porém, o Rio de Janeiro seria o palco principal da Copa de 1950, o técnico Flávio Costa tinha forte ligação com o Vasco e, na estreia, contra o México, foi o trio Ely, Danilo Alvim e Bigode que atuou na vitória por 4 a 0. Mas o bairrismo resistia: no segundo jogo, no Pacaembu, em terras paulistanas, Bauer, Rui e Noronha foram os titulares - pela última vez na seleção (na foto acima, do dia, Rui, Barbosa, Augusto, Bauer, Noronha e Juvenal). O empate por 2 a 2 foi o que Flávio Costa precisava para justificar os cariocas no time, mas fez uma concessão: Bauer substituiria Ely. E foi com Bauer, Danilo Alvim e Bigode que o Brasil venceu a Suécia (7 a 1) e a Espanha (6 a 1). Bauer foi o grande destaque da defesa, apelidado, pela própria imprensa carioca, de "gigante do Maracanã". Mas veio a fatídica decisão. Voltemos a Luís Fernando Veríssimo: "No jogo final da Copa de 50 contra o Uruguai, Bauer apoiou, Danilo jogou no meio e Bigode na lateral, onde deixou o Ghiggia passar e marcar o gol da tragédia". Noronha, o outro lateral esquerdo, assistiu tudo de camarote.

O jornalista carioca Pedro do Coutto, da Tribuna da Imprensa, defende Barbosa no lance fatal: "Ele não engoliu frango algum, tenho certeza. Eu estava no estádio superlotado exatamente no ângulo do chute. (...) O fato predominante é que o ataque do Uruguai avançava surpreendentemente livre. Gigghia (à esquerda), ponta direita, vinha passando facilmente por Bigode, nosso lateral esquerdo, em todas as ocasiões. Naquele tempo, meio campo não voltava para ações defensivas, ao contrário de hoje. Se o treinador Flávio Costa tivesse percebido melhor o espaço tático, teria mandado Jair da Rosa Pinto e Danilo Alvim aproximarem-se de Bigode para lhe dar cobertura. Ou então teria recuado o ponta esquerda Chico Aramburu para a tarefa indispensável. Bigode estava mal na partida".

Alfredo Eduardo Noronha (foto à direita) era o mais velho da histórica linha média sãopaulina. Nascido em Porto Alegre (RS) em setembro de 1918, morreria em São Paulo em julho de 2003, aos 84 anos. Começou a carreira no Grêmio, conquistando os Campeonatos Gaúchos de 1935, 1937, 1938 e 1939. No São Paulo, venceu o Paulistão em 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949. Pelo Tricolor, fez 295 partidas e marcou 13 gols. E ainda jogaria num dos maiores times da Portuguesa de Desportos, campeã do Torneio Rio-São Paulo de 1952. Fez 17 jogos pela seleção brasileira, entre 1944 e 1950.

Por sua vez, Rui Campos nasceu na capital paulista em abril de 1922, onde também morreria, em janeiro de 2002, pouco antes de completar 80 anos. Começou no São Paulo, onde venceu quatro dos cinco títulos da década de 1940, e encerrou a carreira no Palmeiras, em 1953. Apesar de ser zagueiro, também jogava como volante ou meia. Tinha um alto nível técnico e orientava os outros jogadores. Sabia arrumar a defesa e municiar o meio campo e armar jogadas de ataque. Pelo Brasil, fez 30 partidas entre 1944 e 1950, marcando dois gols. Cria do São Paulo desde a categoria juvenul, Rui disputou 272 jogos pelo clube como profissional, marcando seis gols.

O último da linha foi o volante José Carlos Bauer, nascido em novembro de 1925 e falecido em fevereiro de 2007, aos 81 anos. Jogou entre 1944 e 1953 no São Paulo, onde conquistou os títulos paulistas de 1945, 1945, 1946, 1948, 1949 e 1953. Passou ainda por Botafogo-RJ, Portuguesa e São Bento. Na seleção, foram 29 jogos entre 1949 e 1954. Pelo São Paulo, fez 398 partidas e 18 gols. Disputou as Copas de 1950 e 1954. Como técnico, Bauer, à frente da Ferroviária de Araraquara, efrentou o Sportivo Lourenço Marques em Moçambique e descobriu o menino Eusébio. Como não podia contratá-lo, indicou o futuro maior jogador de Portugal para o técnico Bella Guttman, ex-São Paulo, que comandava o Benfica.

Somando os jogos pelo São Paulo e pelo Brasil, portanto, Rui, Bauer e Noronha fizeram, entre 1945 e 1951, um total de 175 jogos, com 104 vitórias, 35 empates e 36 derrotas. Mas podem ter feito, ainda, algumas partidas pela seleção paulista (na foto acima, de 1952, Rui, Palante, Oberdan Catani, Mauro, Bauer e Noronha). Porém, não disponho dos dados para acrescentar nas estatísticas do trio. Pelo São Paulo, estrearam em 8 de abril de 1945, na goleada por 6 a 2 sobre o Jabaquara, pelo Campeonato Paulista. E se despediram em 22 de julho de 1951, num amistoso contra a Caldense, em Poços de Caldas (MG). O Tricolor venceu por 3 a 1 e Bauer fez o primeiro gol. Jogando juntos pelo clube, Noronha fez 9 gols, Bauer 8 e Rui 6.

Ps.: Não tem muito a ver com o post, mas, na pesquisa que fiz, encontrei mais uma prova de que, no Brasil, sadismo pouco é bobagem. Depois de terem substituído as traves de madeira pelas de metal no Maracanã, em 1969, dizem que mandaram as antigas (remanescentes da Copa de 1950) para a casa do ex-goleiro Barbosa. Não contentes com a maldade, ainda fizeram o "favor" de reunir no Maracanã, 30 anos após a tragédia contra o Uruguai, todos os traumatizados e estigmatizados jogadores daquele time. Confiram:

16/07/1950, Maracanã com 200 mil pessoas - Em pé: Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo Alvim e Bigode; Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto, Chico e o massagista Mário Américo

16/07/1980, arquibancadas totalmente vazias - Em pé: Barbosa, Augusto, Danilo Alvim, Juvenal, Bauer e Bigode; Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto, Chico e o massagista Mário Américo