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sexta-feira, julho 17, 2009

Time de Mano bate o do Leão

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Não deu para o Leão do Norte, que bem que deu trabalho no Pacaembu, e o Corinthians garantiu mais três pontos no Brasileirão. Mas diferente da campanha do Paulista e da Copa do Brasil, em que o Corinthians conquistou uma regularidade marcante – que lhe valeu a pecha de "frieza" –, o campeonato está mostrando que vai acontecer na modalidade "com emoção".

Mais ou menos aos dez minutos de jogo, eu estava no carro a caminho da casa de um amigo que acionou o Pay Per View, quando chega a mensagem no meu celular: "cadê você? o Sport já fez 1x0". 20 minutos depois, enquanto eu me perdia nas ruelas da Praça da Árvore, toca o telefone: "E aí, desisitiu? O Gordo já fez dois de cabeça! E o goleiro do Sport ainda fez um milagre".

Cheguei no intervalo, a tempo de assistir os melhores momentos. O gol do Sport foi um belo cruzamento, mas uma marcação totalmente falha no meio da área, e o atacante colocou de cabeça, no canto esquerdo do gol (esquerdo de quem entra, que fique claro), com perfeição. O primeiro gol do Ronaldo foi de um cruzamento perfeito de André Santos para o Gordo que estava no segundo pau (sem qualquer insinuação, hein). Aliás, posso queimar a língua, mas aposto que ainda vou ver futepoquenses elogiarem nosso lateral esquerdo, ele está evoluindo muito, a olhos vistos – e talvez seja o mais forte candidato a ser vendido ao final da temporada. O segundo gol foi um cruzamento da direita; o mais impressionante do gol foi a maneira como o Gordo se desmarcou, como bem apontou meu camarada Macari: um movimento e se colocou atrás do zagueiro, totalmente livre para concluir o lance.

O segundo tempo, que começou com pressão e muitas jogadas perigosas do Timão. Quem fez o terceiro foi Cristian, com um torpedaço de meia distância, daqueles que ele costuma engavetar, mas desta vez desviou na zaga e matou o goleiro no lance.

Com 3x1 e o Corinthians sobrando em campo, e empolgados pelas performances de meu filho Chico – aquele que viveu o episódio com o palmeirense no ônibus –, que dançava e pulava alucinadamente ao som de "Aqui tem um bando de loucos, loucos por ti Corinthians", entoado por nós mesmo, velhos amigos que há muitos anos não se juntavam para um jogo, subimos nos saltos da arrogância. Nosso papo era "vai ser 8 a 2", "eu aposto 7 a 2", "só não vai ser 8 a 2 porque o Felipe não vai deixar passar o segundo" e por aí fomos. E o Chico pulando e pulando, e correndo de um lado pro outro.

Sentindo o clima que emanava da Praça da Árvore, Mano Menezes decidiu pôr reservas pra jogar – coisa que ele vai ter mesmo que fazer, para esse pessoal sentir a aspereza do gramado. Entrou, por exemplo, o Moradei, para os protestos dos manguaças, que unanimemente o consideram uma negação. O fato é que não éramos os únicos a perder o foco em nosso delírio. O time em campo também dispersou. E em duas falhas da marcação o Sport empatou (CORREÇÃO SÓBRIO: NO SEGUNDO GOL, FELIPE BATEU ROUPA FEIO, NÃO FOI TANTO FALHA DA MARCAÇÃO).

Puta merda, começamos a tomar pressão, num jogo que parecia fácil, fácil. Um jogador do Sport foi expulso por um segundo amarelo, uma "braçada" na cara do Marcelinho, outro reserva que entrou. (Olha gente, posso estar enganado com um nome ou outro, mas ver jogo, apostar e cuidar de um molequinho pilhado ao mesmo tempo dá nisso. CORREÇÃO SÓBRIO: QUEM LEVOU A BRAÇADA FOI MORADEI, QUEM FOI EXPULSO FOI O GUTO) O sportista tinha tomado o primeiro amarelo no início da partida.

Pouco depois, lá pelos 35 minutos, foi a vez de Moradei fazer o seu "gol cala-a-boca". Num perigoso ataque do Corinthians, sobrou uma bola na meia direita. Moradei ajeitou e bateu com muita curva, e a bola foi perfeita para o canto esquerdo do goleiro. Chico pulando de novo, nós gritando e agora apostando no "9 a 3". Faz parte, torcida brasileira...




A defesa desfalcada

Tanto neste jogo quanto no outro contra o Grêmio, o Corinthians mostrou como depende da segurança de sua defesa. É na defesa que o Timão impõe a sua "frieza" e mostra que o osso é duro. Dominando as jogadas por ali, tira a virilidade do ataque adversário, e aí começa as séries de bons passes que também caracterizaram esse time em outras partidas. No jogo anterior, faltaram os dois titulares da zaga, neste, estava Chicão, mas não William.

O bom deste jogo é que o Corinthians mostrou que pode ser um time que faz mais gols do que leva. Ou seja, mesmo com maior fragilidade na defesa, é capaz de criar e concluir lances de gol. Contra o Grêmio, aconteceu que nem Douglas, nem André Santos, nem Elias, nem Dentinho fizeram uma boa partida. O Timão não criou e Ronaldo ficou isolado. Mas os 3x0 em Porto Alegre foram, a meu ver, uma ensacada perdoável, pois não deixou de seu um jogo pra viver a ressaca após o título da Copa do Brasil, que havia sido passado adiante depois da grande apresentação diante do Fluminense.

Mas, não adianta, o Corinthians tem que fortalecer sua zaga reserva, para que possa substituir com dignidiade a titular e não abalar o esquema de Mano Menezes. Mas não é fácil repor a destreza da dupla Chicão e William – muito bem apoiados por Alessandro, André Santos e Cristian. Todos esses atletas estão jogando muita bola.

Fofoca

No final da partida, Leão saiu reclamando da arbitragem e espalhando uma história de que o Mano Menezes teria dito a ele que o juiz segurou o jogo, o que para o Leão seria quase uma confissão de que houve favorecimento. Mano desmentiu a versão e disse que isso de ficar passando adiante conversa é "coisa de lavadeira".

OBS.:
Como viram, fiz algumas correções agora de manhã, digo, no início da tarde, em pleno estado de sobriedade, mas mantive o texto original pra não desdizer quem tenha lido antes.

quinta-feira, junho 04, 2009

A insustentável leveza do desarme

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Um zero a zero justo.

Será que posso descrever assim um jogo em que no segundo tempo um time praticamente só atacou e o outro se defendeu, com alguns poucos contra-ataques que, embora perigosos, não romperam a virgindade das traves do adversário? Depois de um primeiro tempo bastante equilibrado, o Corinthians viveu um segundo tempo de pressão constante, com o Vasco da Gama no ataque buscando obstinadamente o gol. Nossa natural e cultivada admiração pelo jogo ofensivo nos levaria a dizer que o time carioca merecia o gol e a classificação à final da Copa do Brasil. Mas isso seria impreciso, pois deslocaria os méritos a quem também não foi capaz de marcar.

Na realidade, os maiores destaques em campos foram esses dois artistas do desarme, Chicão e William. Poucos times suportariam tanto tempo de jogadas incisivas nas franjas de sua área sem fazer faltas, sem aceitar provocações e sem deixar que a bola efetivamente ameaçasse o gol de Felipe. O arqueiro alvinegro fez uma grande defesa – numa cabeçada de Elton, se não me engano – e teve que sair do gol em mais um momento decisivo.

Fiquei pensando em como descrever a atuação dessa zaga, e me vieram à mente ideias do escritor italiano Italo Calvino.

"Logo dei-me conta de que entre os fatos da vida, que deviam ser minha matéria-prima, e um estilo que eu desejava ágil, impetuoso, cortante, havia uma diferença que eu tinha cada vez mais dificuldade em superar. Talvez que só então estivesse descobrindo o pesadume, a inércia, a opacidade do mundo – qualidades que se aderem logo à escrita, quando não encontramos um meio de fugir a elas." (Cia. das Letras, 1990, trad. de Ivo Barroso)

É a leveza do toque, da movimentação, a não-violência de seus zagueiros que mais admira neste time do Corinthians. Em nenhum momento o time vascaíno conseguiu impor o seu peso, fazer valer a força de sua pressão. Ao contrário, quem se impunha, não pela força mas pela precisão do desarme, foram os zagueiros. O ataque do Vasco foi criativo e veloz, mas a arte do desarme está aí, em superar a qualidade do atacante sem agredir, jogando com chuteiras de pelica. Pois, lembra Calvino, "A leveza (...) está associada à precisão e à determinação, nunca ao que é vago ou aleatório".

Que me acusem de comemorar um empate. O ataque do Corinthians foi medíocre, o meio campo não criou nada. A defesa, porém, fez por merecer, e não só pela garra, mas por sua qualidade. Ainda haveria que mencionar a garra do restante time, em particular de Alessandro e Cristian, e até os momentos de brilho de Dentinho. Mas quis falar dos zagueiros.

A inércia do mundo


Do lado oposto, o do peso e da inércia, poderia comentar a pança do Ronaldo. Muito acionado, perdeu gols feitos, errou nas decisões sobre chutar ou tocar a bola em momentos decisivos, criou jogadas pseudogeniais, na verdade pequenos delírios – penso no toque de calcanhar que deu pro Cristian "chegar chutando" quando o volante estava lá do outro lado, na frente do Ronaldo... Nada disso é o que se espera dele.

Acontece que, quando é "poupado", Ronaldo inexoravelmente ganha peso, e isso deveria ser levado em conta. É como jogar na altitude. Precisa de um tempo de adaptação. Sem dúvida, o centro de gravidade se deslocou, e Ronaldo precisa de um tempo de jogo para reencontrar seu equilíbrio. Atenção para esta dica, Mano.

Mas para mim, o mundo mostra seu peso, sua inércia, sua incapacidade de se renovar quando sabemos da notícia de que um torcedor corintiano foi morto a pauladas e facadas por torcedores do Vasco (segundo notícias, reforçados por torcedores do Palmeiras). Não quero com isso insinuar que "a torcida" corintiana seja uma vítima e os vilões, os seus adversários. O torcedor assassinado sem dúvida é vítima. Mas o que eu quero é só lembrar que passam os anos e não conseguimos reinventar nossas vidas e transformar em "uma fase do passado" a realidade de brutal violência das torcidas. Ao final do jogo, corintianos queimaram um ônibus vascaíno, na saída do Pacaembu. Aqui a reportagem do Globo.com.



Com uma visão cada vez mais opaca, esses jovens não conseguem ver o óbvio, que estão se matando por nada – não é pelo time, não é pela honra nem pela glória: é por nada. É bonito e emocionante sentir a vibração de um estádio que canta que seu time é "sua vida, sua história, seu amor". Mas quando isso se torna literal e completamente verdade, quando o time toma todos os ínfimos espaços da vida e da história de um bando de jovens, uma estranha "ética" se forma, de índole religiosa ou militar: a ética do homem-bomba, que se mata e morre por fidelidade cega a um símbolo – neste caso, até o símbolo está ausente, o que há é um distintivo que deveria significar outra coisa que não uma bandeira de guerra, um valor absoluto...

Seria preciso entender mais a fundo esse fenômeno, não sei se alguém realmente o fez. Comportamento de massa, desconsolo, falta de praia... tudo isso me parece perfumaria na compreensão do sentido essencial da violência que faz com que milhares de jovens joguem fora aqueles que deveriam ser os melhores e mais inventivos anos de suas vidas.