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A Federação Piauiense de Futebol está tentando promover jogadores formados nas divisões de base dos clubes do estado. Para tanto, promoveu uma medida no mínimo polêmica: as equipes da primeira divisão são obrigadas a relacionar em todo jogo pelo menos três atletas dos times de baixo.
A medida foi adotada após a mesma federação tentar limitar a contratação de "estrangeiros" (jogadores vindos de outros estados, algo tido como inviável pelos clubes piauienses. Enquanto a medida agradou aos times da capital, as equipes do interior que, em geral, contam com a ajuda das prefeituras e têm conseguido boas colocações nos estaduais, chiaram bastante, sentindo-se prejudicados. Para entender melhor a situação, o Futepoca entrevistou por e-mail o jornalista esportivo Severino Filho, do AcessePiauí.
Futepoca - Qual sua opinião a respeito medida tomada pela federação? Isso melhora ou piora o nível do futebol do Piauí?
Severino - Entendo que é uma ótima iniciativa. O problema não é que piore ou melhore. Acho que o atleta piauiense precisa da oportunidade. E o número de 3, entre 18 relacionados para uma partida, percentualmente não significa uma imposição contundente. Acredito, inclusive, que o pequeno número exigido de 3 atletas da casa pode ser uma forma do clube filtrar e inscrever realmente grandes valores revelados aqui mesmo. Acho que a sugestão (a Federação não impôs, apenas sugeriu, e os clubes aprovaram no Arbitral) deve ser vista por este lado.
Futepoca - Você acha que a medida tem como objetivo beneficiar os times da capital,
como acusou um dirigente do Parnahyba [atual tricampeão do estado]?
Severino - Em absoluto. Ela beneficia todos os clubes. Se já fosse adotada há muito mais tempo, era bem provável que o próprio Parnahyba, para ser campeão, não precisasse gastar tanto dinheiro com atletas de outros estados. Por muito menos estaria valorizando o jovem que surge no futebol amador da cidade e que, agora, com a política que adotam, não têm oportunidade para ir adiante na carreira que escolheram.
Futepoca - As prefeituras do interior do estado de fato usam o apoio a times de
futebol como forma de lucrar politicamente?
Severino - As prefeituras fazem um trabalho sem maiores conseqüências. Tudo bem, que se invista pesado no esporte. A própria Constituição Federal prevê esse tipo de ação em seu artigo 217. Mas somente contratando e não criando um Centro de Treinamento, incentivando escolinhas de futebol e outros projetos do gênero, tudo que ela planta morre quando um outro candidato ganha a eleição. Um dos grandes exemplos está na cidade de Picos. Enquanto o José Néri foi o prefeito, Picos teve um grande representante no futebol profissional, que ganhou quatro títulos de campeão, esteve no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil, revelou Leonardo [ex- Sport, Palmeiras e Corinthians], e movimentou a economia da cidade. Com a saída dele da Prefeitura, o time também foi esquecido e hoje não consegue sequer passar da 2ª divisão.
As prefeituras devem apoiar o futebol profissional, mas, ao mesmo tempo, criar os mecanismos para o permanente surgimento dos valores da terra. Quanto ao aproveitamento no campo político, isso é conseqüência. Se existir um bom trabalho, os votos também virão naturalmente.