Destaques

terça-feira, janeiro 30, 2007

'Mulherizar' ou não a cerveja, eis a questão

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Materinha interessante de Fabiane Leite (Folha de S.Paulo), intitulada "Cervejarias descumprem veto a erotismo", lembra que a indústria voltou a abusar do apelo sexual em anúncios de bebidas alcoólicas. O texto conta que o próprio superintendente do sindicato das cervejarias, Marcos Mesquita, reconheceu "algumas irregularidades sob o conceito ético" na nova safra de comerciais, sem citar nomes.
Segue o texto: "A Folha apurou que o Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) já recebeu denúncias contra a Antarctica (Ambev) em razão do anúncio em que a atriz Juliana Paes atua como dona do Bar da Boa. O Conar tem poder para tirar um comercial do ar. Em um dos comerciais, Juliana ameaça 'botar para fora' os clientes que batem os pés para ver os seios dela balançar - eles respondem 'bota, bota', em referência aos seios." A justificativa do gerente de comunicação da Ambev, Alexandre Loures, é cínica: "Boa é a cerveja e ela [Juliana Paes], a dona do bar. Não há relação entre êxito com as mulheres e tomar cerveja".

A matéria da Folha lista ainda a propaganda da Kaiser, com o "baixinho", em que garotas tiram as roupas umas das outras em uma disputa pelo garoto-propaganda até ficarem de biquíni, e a da cerveja Cintra, em que a modelo Dani Lopes abaixa para pegar uma cerveja e expõe a tatuagem "tô dentro" na altura do cóccix. "Não há sutileza, as mulheres estão ali para serem consumidas. Os anúncios revelam que a mulher é algo para servir ao homem e mostram como estamos longe de uma sociedade com eqüidade de gêneros", diz à Folha Berenice Bento, doutora em sociologia e pesquisadora da Universidade de Brasília.

O jornal ouviu também Ilana Pinsky, coordenadora do Ambulatório de Adolescentes da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas), da Unifesp. Para ela, "as propagandas utilizam linguagem simplista, associações diretas entre beber e conquistar mulheres, parte de uma estratégia muito mais pesada de marketing." O texto lembra que o anexo sobre bebidas alcoólicas do Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária, publicado em 2003 pelo Conar, diz que os anúncios "não se utilizarão de imagens, linguagem ou idéias que sugiram ser o consumo do produto sinal de maturidade ou que contribua para o êxito profissional, social ou sexual".

Entre nós, cachaceiros homens (e heterossexuais), é claro que esse tipo de comercial apelativo agrada e rende comentários maliciosos. Mas concordo plenamente com as companheiras manguaças que se sentem ofendidas. A propaganda de bebida com mulher pelada é mais uma forma de lembrar a todos que "o mundo é dos homens". Algo parecido com o "Dia Internacional da Mulher", quando subentende-se que os outros 364 dias são, naturalmente, do homem - e que a efeméride não passa de um espasmo de sua benevolência.

15 comentários:

Pennelope disse...

Tudo isso porque????????

para agradar aos rapazes..:@

Olavo Soares disse...

Acho que passar nervoso com isso é meio perda de tempo, sei lá.

Engraçado é ver como as duas coisas se interagem: nas propagandas das casas noturnas, não raro vemos coisas como "chopp grátis", "cerveja na faixa" e por aí vai.

Ou seja: também se faz propaganda de mulher apelando pra cerveja.

Marcão disse...

É verdade, Olavo. Cansei de ver eventos em que "mulher não paga" ou "homem, com mulher, paga meia". No cúmulo do absurdo, tem uma foto que circula pela internet de um puteiro bem miserável, em algum remoto rincão desse país, onde, na parede, está escrito: "Na compra de 5 cervejas, grátis uma mulher". Mas tudo isso só corrobora a crítica contra o machismo velado (ou descarado), mas, definitivamente, institucionalizado.

Nicolau disse...

1. Olavo, dizer que passar raiva com isso é perda de tempo é desqualificar uma vida de lutas do movimento feminista. É como dizer que ficar puto com piada de preto é perda de tempo. Devagar como andor.
2. Ao mesmo tempo, marcão, o ia Internacional da Mulher é uma conquista desse mesmo movimento, creio eu. É exatamente, na minha visão, um lembrete de que os outros 364 dias do ano são dos homens e que as mulheres e homens que queiram se envolver devem lutar para mudar isso. Naõ adianta naõ ter a data e imaginar qeu todo dia é dia de índio.
3. Brilhante a frase do marketeiro da AmBev. A dona do Bar da Boa não é a Boa. Boa é a cerveja. Ridículo.
4. "Código de Auto-regulamentação" é bem interessante...

Anselmo disse...

publicitários: sou contra.

Contra propagandas apelativas também, claro, com mais força. O certo seria boicotar os produtos que fazem propaganda apelativa (assim como os que usam mão de obra infantil na produção, que são racistas, escrotos etc.).

Gostaria de poder boicotar as cervejas que fazem propagandas apelativas e só tomar Xingu, Original e Bohemia. Mas depois da 3a, quando a conta já passou dos doze pilas, qualquer cinquenta centavos por garrafa começam a fazer diferença...

Apesar de minha notória brimice, começo a reconsiderar...

fredi disse...

Relaxa, Nivaldo, vamos tomar uma no Bar da Boa. Afinal, qual a chance de conquistar a Juliana Paes por 3 "real"? Ou até menos?

Sr. Vizzatti disse...

Cerveja, mulher e boa vida, o que mais um homem quer?
Enfim, quando nem a vida nem a mulher é boa nos resta a cerveja, depois de algumas garrafas a vida fica boa e qualquer mulher fica aceitável (rs).
Agora falando sério (irônicamente dizendo), se formos começar a censurar comercial de cervejas o que virá depois, não vejo tanto mal assim nesses comercias, acho que esse falso moralismo extremista é o que faz dos Norte Americanos o que eles são hoje, recalcados cheio de moralidades e perturbações sexuais (umas bichonas enrustidas).
Tem tanta coisa pior rolando por ai, vou me preocupar com a gostosa da Juliana aparecendo num comercial de cerveja. "Ai meu Deus, pensa nas criancinhas, como isso influência a cabecinha delas". Alguém presta atenção no teor educativo dos desenhos que são exibidos pelas manhãs? Desliga a televisão meu senho e minha senhora e vai ler um livro com seu filho, jogar banco imóbiliário, até truco.
Enfim gosto de Itaipava.

Glauco disse...

Gosto de Skol. Se tiver mais dinheiro, Original e Serramalte. Mas, sinceramente, não curto ver mulheres como objeto sexual na publicidade, aliás, como o Anselmo, não curto publicidade. Mas, como diria Marx, "Tudo que é sólido, desmancha no ar. tudo que é sagrado deve ser profanado. Porque tudo é mercadoria". Não saber que a coisa é assim, até vá lá. Aceitar isso como normal, acho complicado...

Nicolau disse...

Pois é, acho complicado aceitar essas coisas. Não sei se não gostar de ver mulher tratada como coisa é "falsomoralismo extremista". Eu sou dos caras menos moralistas que conheço e adoro mulher, mas penso nelas como gente, não como acompanhamento da cerveja. E a questão não é o que as criancinhas vão pensar, mas as moças lutando por respeito. É fácil pra esse bando de machos que somos nós achar que tá tudo bem, que é assim mesmo e que é moralismo.

Anônimo disse...

Ps.: A partir do momento que vocÊ vende horas da sua vida, no meu caso 8hrs da minha vida valem muito pouco, você está se vendendo.
O ser humano, tanto homem quanto os não-homens(mulheres) são objetos sim. Como diz na música da Elza Soares "A carne mais barata do mercado é a carne negra" acrescento que a carne humana em geral é muito barata, mas a carne feminina é muito valorizada apesar de seu preço baixo. Não sou machista, talvez tenha um ponto de vista meio conturbado, enfim...
Mulher é produto sim e vende bem.
As coisas que foram ditas aqui são geniais, mas são idéias e ultimamente todo mundo tem idéia ótimas mas ninguém coloca em prática pois são idéias nada funcionais.
Ah, "Grauco" também gosto de Skol...

Anselmo disse...

Opa,

(só pra constar, A Carne, citada, é composição do Seu Jorge, Marcelo Yuca e Ulisses Cappelletti. A interpretação da Elza Soares está no Do cóccix ao pescoço e de fato é marcante, talvez definitiva, a ponto de um monte de gente creditar-lhe a canção.)

agora, realmente não acho extremismo achar publicidade ruim e de mau-gosto. E nao li ninguém propondo censura nos comentários. No máximo boicote. Assim como propus boicote a produtos que, na produção, usam mao de obra infantil, que discriminam trabalhadores etc. etc. O que não me impede de descumprir esses boicotes eventualmente em toda a minha incoerência, claro.

Marcão disse...

A discussão principal não é gostar ou não gostar de mulher pelada (acho que todo homem gosta). Mas é a questão do respeito, como resumiu bem o companheiro Nivaldo. Resolvi postar essa notícia porque temos muitas amigas manguaças que, visivelmente, se sentem mal ao entrar num buteco e ficarem permanentemente cercadas por mulher pelada por todos os lados. Óbvio que nós não nos importamos, mas imaginem se os cartazes tivessem homens musculosos e seminus também. Ninguém ia gostar. Esse é o ponto: a sexualização da propaganda (seja do produto que for), com homens ou com mulheres, é vulgar, fútil e incomoda. Apelar para o sexo é o último estágio da falta de inteligência e de criatividade, além de ofender, agredir e constranger. Pessoas têm sentimentos e me recuso a fazer o joguinho consumista de transformar tudo em mercadoria. Meu trabalho pode ser mercadoria. A cerveja é mercadoria. Mas eu não. Nem as mulheres.

Nicolau disse...

Bravo ao Marcão pela diferenciação: meu trabalho é mercadoria, não eu. Nessas propagandas, a coisa muda. Tá errado.

Anônimo disse...

Primeiramente obrigado ao anselmo por me informar a verdadeira autoria da música "carne".
Acabamos de provar aqui que mulher pelada dá audiência pois de todos os tópicos deste blog este foi sim um dos mais polêmicos.
Não tenho problemas com mulher pelada, nem com bebida estarei citando a mim mesmo aqui quando digo que "a bebida me ajudou a resolver muitos problemas".
Enfim determinada cerveja pel sabor e não porque a gostosa do comercial me agradou.
Modéstia parte a Juliana Paes muito me agrada.

Marcão disse...

Olhaí:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=419OPP001