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terça-feira, junho 02, 2009

Informação capota em acidente da Air France

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Nada como uma tragédia para mostrar o quanto a imprensa brasileira está despreparada para ir em busca de informações.

Na cobertura do acidente da Air France, sem muitos fatos, são ouvidos pretensos especialistas que ficam o dia todo especulando os motivos do acidentes. Ou são repetidas mil vezes na TV, no rádio e na internet declarações de autoridades que nada dizem.

Na falta do que fazer, tentaram, inclusive, causar intriga, pelo fato de o presidente Lula estar fora do país e não voltar correndo para fazer parte da pantomima. Mas não colou.

Agora, quando parece que foram encontrados os destroços, mais uma vez, os jornalões mostram o quanto estão despreparados para pôr notícias no ar com rapidez.

Veja os incríveis erros na matéria publicada pelo UOL como principal destaque nesta terça-feira:

Nelson Jobim confirma que 5 km de destroços localizados são do Airbus que estava desaparecido
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Atualizada às 17h28


Em entrevista coletiva no Windsor, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, o ministro de Defesa, Nelson Jobim, confirmou que os destroços localizados pela Aeronáutica são do Air France, que desapareceu na noite do último domingo (31) com 229 pessoas a bordo. A própria companhia informou que são 216 passageiros e 12 tripulantes, o que numa simples conta de somar dá 228.

Jobim disse que o navio Hércules da Marinha encontrou por volta das 12h30 desta terça-feira (2) cerca de 5 km de destroços de uma aeronave. Como todo jornalista deve saber, os Hércules são aviões de transporte e reconhecimento, nunca navios. Até porque as notícias do próprio UOL dizem que as embarcações da Marinha só chegarão amanhã ao local.

Os destroços são de fios, objetos metálicos, entre outros elementos, de acordo com Jobim. A investigação das circunstâncias e das causas do acidente serão realizadas pelo governo francês, segundo o ministro Jobim. Caso cheguem navios franceses para auxiliar no recolhimento de destroços, eles integrarão a operação brasileira já em andamento.

Segundo Jobim, as buscas pela aeronave continuam. A área de busca é de mais de 9 milhões de km2. Estranha a informação, já que todo o planeta tem 510 milhões de quilômetros quadrados.

O que for localizado pela Aeronáutica e pela Marinha será transportado, via navios, a até um ponto que fica a 400 km de Fernando de Noronha. De lá, helicópteros transportarão o material até Fernando de Noronha, onde peritos da Polícia Federal e do Instituto Médico Legal (IML) realizarão uma perícia.

O ministro disse que amanhã, às 11h, o navio patrulha da Marinha chegará ao local onde os destroços foram encontrados. Ele justifica a demora alegando que os barcos se deslocam apenas a uma velocidade equivalente a 30 km/h. O navio estará equipado com botes salva-vidas para o caso de sobreviventes serem encontrados. Jobim, entretanto, não quis falar sobre a possibilidade de encontrar sobreviventes. Precisa comentar a redação do texto.

Dois navios mercantes chegaram na tarde de hoje, ao local dos destroços avistados. Um terceiro navio mercante também foi desviado para o local. As três embarcações são de bandeira estrangeira (duas da Holanda e uma da França), e o desvio foi possível devido a acordos internacionais. Os navios mercantes estão no local exclusivamente para encontrar possíveis vítimas. O manuseamento dos destroços será feito somente pelos navios da Marinha. O que é mesmo manuseamento de destroços?

Jobim estava Walvis Bay, na Namíbia, onde se encontraria com autoridades do país. O ministro participaria de uma cerimônia de comemoração do 19º aniversário da Força de Defesa da Namíbia e do comissionamento do Navio-Patrulha Brendan Simbwaye à Marinha da Namíbia.

Com a decisão de suspender sua agenda oficial e retornar ao Brasil, Jobim será representado nas comemorações pelo comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto. Informação realmente relevante e que tem tudo a ver com o caso. O texto, que estava na principal manchete do UOL às 17h30 foi corrigido por alguma alma caridosa às 17h42, mas serve para ilustrar o nível de nossos grandes meios de comunicação. Se alguém duvidar, tenho aqui o texto original copiado no meu computador.

16 comentários:

Victor disse...

Bem...
O mais trash mesmo é essa terminologia:
Jobim disse que o navio Hércules da Marinha encontrou por volta das 12h30 desta terça-feira (2) cerca de 5 km de destroços de uma aeronave.

Que porra de medição é essa?
5km de destroços?

É tão complicado dar a ideia correta para quem não está acompanhando o caso minuto a minuto:

Um rastro de 5 km de materiais metálicos e não metálicos comprova que...

Pior que digitei essa batatada de 5km de destroços no Google e achei um monte de coisa. Alguém escreveu e o CTRL-C CTRL-V imperou.

fredi disse...

Victor, esse é outro problema, o texto é horrível, mal escrito, com informações erradas e mesmo assim é replicado por aí...

Anselmo disse...

não se pode descartar que a terminologia tenha sido usada pelo próprio ministro, em meio à coletiva, repetindo 30 vezes a mesma informação. cogito isso porque não li referência a agencias de notícias (essas assumidamente copiadas e coladas).

entre o ministro se atropelar na linguagem coloquial e isso ser reproduzido na mídia, tem o momento do jornalista checar a terminologia.

Há que se fazer ainda outra ressalva. o post do fredi é das 17h54, ele generosamente menciona a correção das 17h42. Na matéria consta agora um "Atualizada às 18h53". E foram feitas correções significativas. chequei os trechos destacados e houve alteração nos primeiros apontados, exceto os 5 km de destroços. o "manuseamento" continua lá, mas aprendi que a palavra consta do vocabulário ortográfico da lingua portuguesa.

há ainda um monte de parágrafos novos.

é melhor o internauta receber uma informação nova pela metade ou esperar uma hora para tê-la completa? Os editores de internet continuam optando pela primeira.

Anônimo disse...

A qualidade dos nossos jornalistas explica porque Lulla é o favorito nas redações. Um bando de acéfalos que mataram as aulas na faculdade e agora se tecem de"jornalistas" e "politicamente engajados"... e o Nerson da Capitinga Jobim é a "otoridade" modelo da Bananalândia.

fredi disse...

Anônimo, não sei a quais redações você se refere. Se for da grande imprensa, a maioria, pelo menos das chefias, sempre foi tucana, na Folha, no Estado, Globo etc.

Sobre analfabetismo de jornalistas porque mataram aula na faculdade, é estranho, aprende-se o alfabeto, até onde sei, no ensino fundamental.

Agora, o problema, principalmente dos portais, é muito mais embaixo. Colocam estagiários ou freelas fixos, meninos que acabaram de sair da faculdade, por volta dos 20 anos, sem experiência ou preparo para escrever ou editar. Daí acabam publicando essas coisas só pelo velho e bom espírito (e porco) do capitalismo de pagar cada vez menos para os profissionais e aumentar lucros. Daí a credibilidade vai para o espaço (a que já não têm).

P.S. No Futepoca, a maioria é lulista sim, mas garante já ter sido alfabetizada. Matou aula apenas para beber...

Nicolau disse...

Anônimo, a quantidade de preconceitos do seu comentário é impressionante. Tirando só por ele, imagino que você toparia na hora uma proposta de retorno do voto censitário ou da proibição do voto de analfabetos. A sociedade, diria o conselheiro Acácio, é cheia de gente de tudo que é tipo, e todas esse pessoal é afetado pelas decisões de um govenro. Assim, o princípio democrático diz que podem votar e ser votados. Mas a democracia também garante a você e ao deputado Bolsonaro o direito de se expressar, dentro dos limites da boa educação.

celucine disse...

nossa realmente a imprenssa do brasil para transmitir algo é msm muito demorada e quando acha alguma novidade só fica nela e não tem outro assunto. claro q esse é realmente um assunto muito urgente mais até me deu nos nervos hj de manhã pq eu estava assistindo o datena na band e ele estava falando do mesmo assunto desde segunda-feira em quanto em outro jornal ja estava falando dos tal destroços que podiria ser do avião mais que não estava confirmado nada ainda... bem todo nós sabemos sobreviventes é impossível mais vai saber.

olavo disse...

Vou dar uma de advogado do diabo agora... será mesmo que é o caso de malhar o redator dessa notícia? Sim, claro, tá cheio de erros (não discordo de nenhum dos erros apontados), mas não chega a ser nada muito cabeludo, nada que prejudique o efetivo sentido do texto.

Talvez o erro da história seja a pressa em dar a notícia, e nada relacionado a tendências ideológicas.

Mas, de qualquer modo, viva o Lulla!

Glauco disse...

Nem acho que o problema são as tendências ideológicas, mas, na verdade, como ressaltou o Fredi, uma mistura de despreparo e precarização da atividade jornalística. Umas pessoa, mesmo recém-saída da faculdade ou cursando, pode render e muito, mas se for pra trabalhar sob pressão da hard news, de ter que produzir qualquer coisa em tempo recorde, vai escrever de forma tosca mesmo. Mas os erros atrapalham o sentido do texto sim.

Anônimo disse...

Infelizmente nossa imprensa tem um viés golpista infalível e sempre aposta no quanto pior melhor, o bombardeio incessante de boatos, especialistas em qualquer coisa, na busca desesperada de colar algo em Lula, nem que seja ridícula a mais pura suposição. O desgaste é a palavra de ordem...
Mas na verdade quem está se desgastando pra valer é a própria imprensa.
Agora enfrentaremos um mês de bombardeio de 'notícias' do vôo AF, sem descanso, sua mente suportará?

fredi disse...

Olavo, vamos lá, é discutível se muda o sentido da notícia.

Acho que sim, quando se confunde, por exemplo, um avião com um navio. Isso não tem nenhum viés ideológico, mas pode confundir os leitores porque no mesmo texto se diz que nenhum navio chegou ao local. Ou quando se diz que as buscas vão se prolongar por uma área maior que o Brasil.

Mas tudo bem, é discutível.

O que é indiscutível é que um texto com tantos erros e imprecisões não pode estar no maior portal de notícias do país. Se está, tem algo errado.

Principalmente porque as causas são as que conhecemos muito bem, gente despreparada, tendo de trabalhar muito por péssimos salários. Muitas vezes com textos sendo publicados sem nem uma olhada do editor do site. Dá para defender isso?

Olavo Soares disse...

Opa, Frédi. Nesse quesito concordamos plenamente.

Mas a gente que tá na outra ponta do balcão sabe que esse tipo de cagada acontece, infelizmente. E nenhuma publicação - nem aquelas que são revisadas, re-revisadas e re-re-revisadas - tá imune a isso.

Seria até ingenuidade da nossa parte achar que, com gente com melhores salários e texto sendo revisados por editores, a coisa seria perfeita.

Unknown disse...

Oi, então, estava pensando sobre a área informada, posso estar enganado, mas 9 milhões de quilômetros quadrados é a área da china ou do canadá, enfim, de uma nação maior do que o brasil. Sei que os destroços não estão espalhados por toda essa área, mas ou não somos capazes de determinar se um avião está no Acre ou no Rio Grande do Sul, ou então o jornalista não sabe contar zeros.

Glauco disse...

Euclides, a área total do Brasil é de 8.514.876599 km². Ou seja, haja disposição pra procurar destroços, hein?

fredi disse...

Olavo, a coisa nunca será perfeita, sempre sairão erros, mas com profissionais melhores não se escreveria tanta bobagem junta.

É necessário um nível mínimo de qualidade, ainda mais o maior portal do país.

Não estamos falando da padaria da esquina.

E isso serve para mostrar o nível dos jornalistas que são contratados para pagar pouco. E o despreparo para lidar com notícia...

Você acha que qualquer um dos pangarés aqui do Futepoca escreveria tanta bobagem sem ao menos consultar São Google.

O Glauco dá um exemplo santista interessante, o Alex zagueiro não era perfeito, mas jogava um pouquinho mais que o Camilo...

Quer dizer, os dois erravam, mas o Camilo errava um pouquinho mais...

Fabricio disse...

Pior que isso só ler em 21472638952 notícias sobre o Palmeiras na Globo.com que o Palmeiras empatou com a LDU em casa na primeira fase da Libertadores. Mesmo eu mandando mails todas as vezes nenhuma notícia foi corrigida até hoje.

Olavo, alguma alusão ao Collor com esse seu "Lulla"?