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quarta-feira, março 09, 2011

Wikileaks: Para cônsul, crise econômica e eleições ampliaram influência de sindicatos no Brasil

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Na análise da estrutura diplomática dos Estados Unidos no Brasil, os sindicatos viram sua influência crescer nos oito anos de governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A superação da crise econômica de 2008-2009 e a perspectiva das eleições presidenciais indicavam expansão dessa ascendência, ainda na visão dos estadunidenses em missão no país.

Em telegrama do quinto lote vazado pelo Wikileaks para blogues, Thomas White, cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, relata encontros entre Ron Kirk, representante comercial do governo Barack Obama, e membros de sindicatos e centrais sindicais. O documento é datado de 13 de outubro de 2009, pouco menos de um mês depois da visita de Kirk ao país, em 16 de setembro.

Apesar dos atuais desafios econômicos globais e de uma rodada de greves recentes nos bancos, indústria automotiva e nos Correios, o sentimento expresso pelos sindicalistas no contato com Kirk e em reunião posterior (de follow-up) no consulado, demonstrou que, sob o governo Lula os sindicatos organizados tiveram sua voz sendo ouvida em questões sociais, políticas e econômicas. "À medida que o Brasil sai da crise econômica e move-se para eleições nacionais em 2010, os sindicatos terão maiores oportunidades para expandir sua influência", diz o texto.

Quem participou da reunião, na ordem elencada pelo telegrama, foi

  • Ivan Gonzalez, coordenador político da Confederação Sindical das Américas (CSA) – à qual são filiadas CUT, Força Sindical e UGT
  • Braz Agostinho Albertini, presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de São Paulo (Fetaesp)
  • Joao Carlos Goncalves, o Juruna, secretário geral da Força Sindical
  • Ortelio Palacio Cuesta, secretário de assuntos internacionais da Força Sindical
  • Lourenco Ferreira do Prado, vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT)
  • Caninde Pegado, secretário Geral da UGT
  • Maria Silvia Portela de Castro, assessora internacional da CEntral Única dos Trabalhadores (CUT) – "Sole Center of Workers", na tradução livre; e
  • Brian Finnegan, diretor para o Brasil do Centro de Solidariedade da AFL-CIO.

Protecionistas mas limpinhos
A imagem não é fácil de ser imaginada, sindicalistas na mesma mesa com um representante comercial dos Estados Unidos. Sem nenhuma reivindicação nem qualquer belicosidade no ar. Mas é assim que é descrito o encontro.

Os sindicalistas no Brasil têm, na definição de White, "visões protecionistas/pró-política industrial". No entanto, ainda segundo o cônsul, eles mostraram-se dispostos a encontrar e se envolver com o representante comercial – "um sinal que vemos como positivo", relata White.

Na perspectiva da embaixada, o contato entre o membro do governo dos EUA e os sindicalistas foi quase toda positiva, com exceção de algumas demandas por saber mais sobre a política de Obama para a área comercial.

De olho na cana
A inclusão do representante da Fetaesp, um dos sindicatos relacionados a trabalhadores rurais do setor sucroalcooleiro, pode indicar interesse comercial dos Estados Unidos sobre a questão. As denúncias internacionais de superexploração dos boias-frias são motivo de preocupação dos usineiros, a ponto de a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única) ter assinado um protocolo com garantias de fim da intermediação de mão de obra.

O etanol produzido do milho é um concorrente internacional do obtido a partir da cana. O impacto social do cultivo da cana (além do dano relacionado às queimadas para permitir a entrada dos trabalhadores no corte) sempre aparece entre os aspectos negativos do álcool combustível produzido no Brasil. Em telegrama divulgado anteriormente, há menção à informalidade na contratação dos boias-frias.

No telegrama em questão, relata-se que Albertino considera que a forma preferida por empregadores para a remuneração, o pagamento por peso cortado – e não por hora trabalhada –, é um dos vilões. O texto cita leis estaduais e acordos entre usineiros comprometendo-se a mecanizar toda a produção até 2014 e a consequente onda desemprego de trabalhadores de baixa qualificação profissional.

"Expressando a frustração de alguns dos cortadores (de cana), ele (Albertino) reclamou: 'há mais leis regulando a proteção dos animais criados na pecuária do que dos cortadores de cana'", completa o cônsul.

Parceria
No final da conversa, tanto Juruna quanto Silvia Portela teriam cogitado a possibilidade de a estrutura consular dos EUA oferecer, em algum tipo de parceria com os sindicatos ou com as centrais sindicais, cursos de inglês ou programas de intercâmbio para jovens em cursos profissionalizantes. Nenhuma resposta consta no documento. Mas mostra que o pessoal não perde tempo.

Leia também sobre o quinto lote de telegramas:

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3 comentários:

Maurício Ayer disse...

É impressionante como o mundo é visto com muito mais clareza por detrás da cortina de fumaça de nossa imprensa. Daí a necessidade de uma liberdade de expressão muito mais forte que a de imprensa.

Glauco disse...

"Cursos de inglês ou programas de intercâmbio para jovens"... Sem comentários.

Anselmo disse...

parceria, ô.