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segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Feito para você, reacionário

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A suposta agenda do banco Itaú: 'revolução' para designar o golpe militar de 64
Depois de ler que a agenda distribuída como brinde pelo banco Itaú traz, na página do dia 31 de março, o registro do "aniversário da revolução de 1964" (clique para ler aqui), vejo agora, também, que a referida publicação registra, no dia 25 de outubro, o "suicídio de Vladimir Herzog" (clique para ler aqui), jornalista que foi torturado e morto pelo regime militar. Não posso cravar que seja verdade, apesar de muita gente estar reproduzindo na internet a página sobre a "celebração" da "revolução" (foto acima). Procurei, mas não encontrei, a reprodução da página sobre o Herzog. Porém, se a tal agenda "sem noção" for mesmo verdadeira, podemos conjecturar que o Itaú, ao lançar o slogan "Feito para você", teria deliberadamente como alvo um público, no mínimo, "reacionário". Aliás, algumas notícias recentes - e outras nem tanto - sobre o banco dão ainda mais o que pensar sobre o assunto...

O Bope e o assédio moral
Senão, vejamos: em junho do ano passado, vazou uma acusação de que o Itaú teria contratado, no Rio de Janeiro, um oficial do temível Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) para uma palestra denominada "motivação". Segundo a denúncia, "o oficial do Bope enfatizou que os fracos não têm vez no mundo competitivo" (clique para ler aqui). Mais uma vez, concedamos ao banco o benefício da dúvida. Mas que há probabilidade de ter acontecido, ninguém duvida. Afinal, naquele mesmo mês de junho de 2013, a Justiça havia condenado o Itaú por "assédio moral organizacional" em São Bernardo do Campo (clique para ler aqui). Na sentença, o juiz disse que "o banco reclamado imputa carga de estresse aos seus empregados por conta, única e exclusiva, de adoção de política organizacional voltada, primordialmente, para o contingenciamento de custos".

Protesto contra o banco Itaú: campeão nacional de lucros e demissões em 2011
Lucro recorde e o 'amigo' Serra
Essa política de pressão extrema sobre os funcionários para conter gastos e superar metas teria levado o Itaú, em 2011, a ser o campeão de lucros e de demissões no país (clique para ler aqui). Só que o desempenho chamativo dos lucros da empresa não dependia só disso. Um exemplo de que as relações promíscuas entre público e privado rendem bons negócios foi que, em 2005, ao assumir a Prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB) obrigou 210 mil servidores público ativos e inativos a ter uma conta no Itaú, cancelando as que tinham no Banco do Brasil, Banespa/Santander e Caixa Econômica Federal. A Folha de S.Paulo salientou que foi "um dos negócios mais cobiçados do mercado financeiro", com movimentação anual, na época, de R$ 15 bilhões (clique para ler aqui). Se o valor manteve-se neste patamar, o "favor" movimentou R$ 120 bilhões de 2006 pra cá.

'Principal foco' era o PSDB
Digo favor porque, "curiosamente", como observou a própria Folha, "o Itaú foi um dos maiores doadores da campanha de Serra à prefeitura. O banco deu R$ 1 milhão dos R$ 14,8 milhões que o tucano declarou ao Tribunal Regional Eleitoral ter recebido em 2004". A "camaradagem" entre o banco e político, aliás, já era tradicional. Segundo o site UOL, em 2002, o Itaú "contribuiu com cerca de 5,4 milhões de reais" para campanhas eleitorais, mas o PSDB era o "principal foco": "Do volume das doações, um total de 2,2 milhões de reais foram dirigidos ao então candidato tucano à Presidência José Serra, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou 250 mil reais, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral" (clique para ler aqui). Em 2010, Serra voltaria a tentar a presidência da República e o Itaú-Unibanco seria novamente seu maior doador (clique para ler aqui), com R$ 4 milhões.

Roberto Setúbal, presidente do Itaú-Unibanco, e José Serra: 'camaradagens'
Da Redecard à Rede de Marina
Depois da derrocada política de Serra, que perdeu a presidência em 2010 e a prefeitura de São Paulo em 2012, o Itaú começou a ensaiar outra "aliança". Em fevereiro do ano passado, a herdeira do banco, Maria Alice 'Neca' Setúbal, "assinou o cheque para patrocinar a festa dada (...) no evento de lançamento do novo partido de Marina [Silva]" (clique para ler aqui), a Rede Sustentável - de oposição ao governo de Dilma Rousseff (PT). O tal partido terminaria tendo registro negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que obrigou Marina a aceitar ser vice na chapa de Eduardo Campos (PSB). Mas isso não impediu a família Setúbal de mudar o nome da empresa de cartões Redecard para Rede (clique para ler aqui). Sim, claro, é tudo "teoria petista da conspiração" etc etc. Assim como o fato de Luciano Huck, de notória ligação com Aécio Neves e Joaquim Barbosa (leia aqui e aqui), ser garoto-propaganda do Itaú...

Enfim, eu poderia até ter poupado tanto blablablá sobre a postura da empresa, na última década, se lembrasse que o partido político criado para dar sustentação à ditadura militar, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), tinha como uma de suas figuras principais o banqueiro Olavo Setúbal (1923-2008), o dono do Itaú, que foi prefeito "biônico" de São Paulo de 1975 a 1979 - nomeado, sem eleições, pelo então governador Paulo Egídio. Nada mais coerente, portanto, que a agenda distribuída aos clientes na gestão do atual presidente do banco, Roberto Setúbal, seu filho (irmão da já citada 'Neca', amiguinha de Marina Silva), celebre o aniversário da "revolução" de 1964 - e na data mentirosa de 31 de março. Não é a primeira grande empresa nacional que agrada os generais. Tempos atrás, a família Frias amenizou o feroz regime militar como "ditabranda". Mas eu ainda conservo o direito de me espantar.

Se o Itaú foi "feito para você", tenho certeza absoluta que esse "você" não sou eu. E registro meus sinceros sentimentos à família do Vlado Herzog, que, depois de tanto sofrimento, é aviltada publicamente mais uma vez.

Até o macaco sentado no ombro do Huck sabe que ele é chapa do Aécio e do Barbosão

quarta-feira, abril 16, 2008

O "inseticida social" da PM

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"A PM é o melhor inseticida contra a dengue. Conhece aquele produto, [inseticida] SBP? Tem o SBPM. Não fica mosquito nenhum em pé. A PM é o melhor inseticida social". Foi com essa declaração, rindo, que o comandante de Policiamento da Capital, coronel Marcus Jardim, definiu o resultado da operação policial que matou nove supostos traficantes durante incursão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro.

De acordo com reprotagem da Folha de S. Paulo, um dos objetivos era destruir barricadas feitas pelo tráfico, que estariam impedindo moradores de levar familiares a hospitais para tratar de doenças como a dengue. Daí veio a infeliz comparação do coronel, que ainda disse ao jornal: "Amanhã [hoje] o pau na vagabundagem continua". E "alertou" na seqüência: "Quem quiser se render - e deve se render - é preso. Aqueles que resistiram de maneira injusta à atuação da PM, aconteceu o que aconteceu [foram mortos]".

Mas se Jardim quer facilitar o acesso dos moradores a hospitais, no mês passado afirmou que iria dificultar que as pessoas chegassem aos bailes funk, que ele define como "reunião de vagabundos". À época, confessou: "não tenho poder para proibir esses bailes, mas posso dificultar sua realização", falando da intenção de promover batidas no entorno dos locais antes do início dos bailes, para abordar e revistar os freqüentadores

O mesmo coronel já havia aparecido na mídia em novembro do ano passado, quando "presenteou" o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extra-Judiciais, Philip Alston, com uma réplica do Caveirão (foto), veículo blindado da PM que faz incursões nas favelas cariocas. A justificativa dada ao Jornal do Brasil, por conta do presente, foi a seguinte: "Ele [Alston] ficou extremamente surpreso com o presente. Tem a questão das tradições culturais de povos, de etnias. Por exemplo, o nascimento de Jesus Cristo quando os reis magos levaram especiarias como incenso."

Na entrevista, Jardim utiliza argumento parecido com o do Capitão Nascimento, personagem do filme Tropa de Elite, de que se vive na cidade um estado de guerra. "O que nós vivemos é uma guerra urbana. O guerreiro tem que se defender. Os que são contra a utilização do blindado, com todo o respeito, dão a conotação de que não estão familiarizados com a situação ou envolvidos com coisas escusas. É inconcebível ver um policial morrer. O blindado permite se chegar ao objetivo. Quem não gosta do Caveirão gosta de maconha. Quem não gosta do Caveirão, gosta de cocaína."

Democracia é isso aí.