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quarta-feira, abril 16, 2008

O "inseticida social" da PM

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"A PM é o melhor inseticida contra a dengue. Conhece aquele produto, [inseticida] SBP? Tem o SBPM. Não fica mosquito nenhum em pé. A PM é o melhor inseticida social". Foi com essa declaração, rindo, que o comandante de Policiamento da Capital, coronel Marcus Jardim, definiu o resultado da operação policial que matou nove supostos traficantes durante incursão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro.

De acordo com reprotagem da Folha de S. Paulo, um dos objetivos era destruir barricadas feitas pelo tráfico, que estariam impedindo moradores de levar familiares a hospitais para tratar de doenças como a dengue. Daí veio a infeliz comparação do coronel, que ainda disse ao jornal: "Amanhã [hoje] o pau na vagabundagem continua". E "alertou" na seqüência: "Quem quiser se render - e deve se render - é preso. Aqueles que resistiram de maneira injusta à atuação da PM, aconteceu o que aconteceu [foram mortos]".

Mas se Jardim quer facilitar o acesso dos moradores a hospitais, no mês passado afirmou que iria dificultar que as pessoas chegassem aos bailes funk, que ele define como "reunião de vagabundos". À época, confessou: "não tenho poder para proibir esses bailes, mas posso dificultar sua realização", falando da intenção de promover batidas no entorno dos locais antes do início dos bailes, para abordar e revistar os freqüentadores

O mesmo coronel já havia aparecido na mídia em novembro do ano passado, quando "presenteou" o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extra-Judiciais, Philip Alston, com uma réplica do Caveirão (foto), veículo blindado da PM que faz incursões nas favelas cariocas. A justificativa dada ao Jornal do Brasil, por conta do presente, foi a seguinte: "Ele [Alston] ficou extremamente surpreso com o presente. Tem a questão das tradições culturais de povos, de etnias. Por exemplo, o nascimento de Jesus Cristo quando os reis magos levaram especiarias como incenso."

Na entrevista, Jardim utiliza argumento parecido com o do Capitão Nascimento, personagem do filme Tropa de Elite, de que se vive na cidade um estado de guerra. "O que nós vivemos é uma guerra urbana. O guerreiro tem que se defender. Os que são contra a utilização do blindado, com todo o respeito, dão a conotação de que não estão familiarizados com a situação ou envolvidos com coisas escusas. É inconcebível ver um policial morrer. O blindado permite se chegar ao objetivo. Quem não gosta do Caveirão gosta de maconha. Quem não gosta do Caveirão, gosta de cocaína."

Democracia é isso aí.

7 comentários:

Marcão disse...

Depois minha filha adolescente não entende quando digo que tenho mais medo da polícia do que dos bandidos.

Como diria Chico "Julinho da Adelaide" Buarque, CHAMEM O LADRÃO!

Rafael Garça disse...

Como todos sabem Romário deu adeus ao futebol. Hoje, o Aureo Ameno, em colaboração ao Blog do Garça, postou um texto sobre o baixinho.

Gostaria de convidar a todos para participar de uma troca de opiniões sobre a participação do Romário no futebol.

O endereço vocês já sabem é: www.blogdogarca.blogspot.com

Abraços!

Nicolau disse...

O que me entristece nessa discussão de segurança pública é que os argumentos a favor da política do "pau-na-vadiagem", além de serem reacionários, preconceituosos e contra os direitos humanos, vão contra os fatos: a polícia mata gente pobre em favelas e periferias há décadas e não melhorou em nada a situação da violência nesses locais. Pelo contrário, só fez aumentar. Por que insistir tanto numa política que já se mostrou ineficaz?

Anônimo disse...

Concordo com cada palavra do coronel.

Para mim, bandito bom é bandido morto!

Thalita disse...

O cara é uma máquina de pérolas preconceituosas. Impressionante

Anselmo disse...

que visão sofisticada do mundo: "Quem não gosta do Caveirão gosta de maconha. Quem não gosta do Caveirão, gosta de cocaína." e chamar gente de inseto que precisa ser exterminado como praga é de péssimo gosto (pra não chamar de nazista).

O marcos rodrigues, por exemplo, concorda com as execuções sumárias por parte da PM, a "Inseticida social"... apoia a ação fora da lei por parte da PM. o comentarista tá longe de estar isolado no país. Isso piora o cenário.

Marcão disse...

Um amigo nordestino que morou em Campinas levava geral da polícia toda vez que saía para tomar um goró - só porque tinha cara de nordestino. Ninguém mais, no bar, levava geral.

No sábado, um grupo do movimento negro fez um evento na viela ao lado da minha casa. De orelhada, ouvi de um cara que discursava que eles iam lançar uma pequena cartilha para que os jovens negros soubessem como manter a calma e não aceitarem as provocações da polícia ao serem abordados. Porque, segundo ele, o negro sofre todo tipo de humilhação e agressão nas abordagens policiais.

Coisas como essa me deixam triste e totalmente descrente na polícia ou numa possível "ordem social".