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Aquela foi a festa de aniversário de criança mais desanimada que já presenciei. Eu estava vestido todo de preto, mas com sorriso de orelha a orelha. No dia 16 de março de 1990, a equipe econômica do presidente Fernando Collor de Mello, empossado no dia anterior, anunciava um plano econômico que congelava depósitos do overnight, das contas correntes e das cadernetas de poupança que excedessem a 50 mil cruzados novos, o equivalente, na época, a 1.300 dólares (quase 2.300 reais na cotação atual). Dezenas de milhares de pessoas ficaram sem qualquer dinheiro ou fonte de renda, perderam o que tinham, adoeceram ou simplesmente se mataram. Até a Veja assustou (foto). Ainda hoje não fizeram um levantamento documental mais detalhado da extensão daquele desastre chamado Plano Collor.Mas basta dizer que, no segundo semestre de 1990, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro desabaria para -7,8% e, nos dois anos seguintes, a economia perderia 2 milhões de empregos. Muito por causa disso os 35 milhões de eleitores que levaram Collor ao poder não fariam a mínima questão, em 1992, de sair às ruas para defendê-lo quando a sequência da escândalos o levou à renúncia. Uma imagem célebre do engodo que todos os eleitores do Collor se tocaram ter caído foi a inacreditável entrevista da ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, e do presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, aos jornalistas Joelmir Betting e Lilian Witte Fibe. Ali ficou nítido que a equipe econômica do governo não fazia a menor ideia do que se tratava o plano que haviam acabado de impor ao país. Desesperador.
Pois então, foi naquele clima de estupefação geral da nação que eu fui com meus pais a uma festinha de criança na Associação do Banco do Brasil (AABB), na cidade onde nasci, em Taquaritinga (SP). Com 16 anos recém completos, eu havia acabado de tirar o título de eleitor e me preparava para votar em Plínio de Arruda Sampaio para governador. Nas eleições de 1989, Collor havia conquistado quase a totalidade de votos locais. Houve só uma passeata, dos colloridos, com metade da cidade. Eu e um amigo subimos no muro da minha casa para agitar uma bandeira do PT e levamos uns cascudos. Meu pai, que tinha um adesivo do Collor no carro, me deu uma sonora bronca. E todo mundo tirou sarro da gente quando o alagoano derrotou Lula.
Ps.: Quem também deve ter sorrido naquele dia foi o aniversariante José Dirceu, integrante da coordenação da campanha de Lula em 1989.







