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segunda-feira, novembro 18, 2013

No processo kafkiano, delação é premiada com prisão

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Jefferson em 2005 e hoje: delação levou à prisão, mas ele parece tranquilo e satisfeito

A prisão dos condenados pelo chamado "esquema do mensalão" é o desfecho de um processo kafkiano que tem a imprensa como principal condutora dos fatos - e uma "delação premiada" que, curiosamente, teve como "prêmio" a prisão. Voltemos no tempo: dois anos e cinco meses após o início do governo Lula, em maio de 2005, a revista Veja finalmente encontrava um porrete para bater com força no presidente petista, ainda que indiretamente. O alvo da matéria era um partido aliado da base do governo federal (ainda que de menor importância) mas a chamada de capa já prenunciava o chumbo grosso que viria naquele ano pré-eleitoral: "O vídeo da corrupção em Brasília". A reportagem denunciava um suposto esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e, já a partir do título, "O homem-chave do PTB", apontava o dedo inquisidor com a chancela "corrupto" para o deputado federal Roberto Jefferson, presidente do partido. Ato contínuo, toda a imprensa partiu para cima de Jefferson. E o que ele fez? Tudo o que a mídia estava louca para que algum "delator" fizesse: desviou o dedo apontado para ele diretamente para o braço direito de Lula até então, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

No dia 6 de junho daquele ano, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista exclusiva com o deputado petebista, concedida à então editora da coluna "Painel", Renata Lo Prete. Jefferson tirou da cartola a denúncia de que Delúbio Soares, tesoureiro do PT, pagava, a mando de Zé Dirceu, mensalidade de R$ 30 mil a alguns deputados do Congresso Nacional, para que eles votassem junto com o bloco governista, e referiu-se ao pagamento como "mensalão", cunhando o mote que os jornais (e os oposicionistas) tanto precisavam para carimbar a testa do governo Lula e emporcalhá-lo diariamente como "corrupto" e "ladrão", com violência e virulência dignas da imprensa mais udenista e lacerdista dos anos 1950, por todos anos seguintes. Pergunta que ninguém fez: por que a denúncia-bomba foi feita como entrevista, e não em forma de reportagem? Porque o entrevistador não precisa apresentar provas ou dados que confirmem o que o acusador está falando. É só uma entrevista, quem está dizendo é Jefferson, a jornalista e o jornal não têm nada com isso - o que também não os impede de dar manchete e trombetear a denúncia (sem provas) para todo o Brasil. Foi assim que estourou a maior crise do governo Lula, baseada em acusações, ilações, suposições e teorias de conspirações, sempre chanceladas como "verdades absolutas" pela imprensa.

A forçação de barra contra o PT ficou evidente por dois motivos: 1) Jefferson nunca apresentou provas do que disse (o que colaborou para que tivesse o mandato de deputado federal cassado - afinal, "cabe ao acusador o ônus da prova") e contradisse vários pontos de suas denúncias ao depor ao Conselho de Ética da Câmara e em outras ocasiões em que foi questionado sobre o assunto; 2) As investigações caíram no que de fato existe no Brasil, caixa 2 (doações não contabilizadas) em campanhas eleitorais, lavagem desse dinheiro e seus acertos posteriores - coisa que TODOS os partidos fazem, o que a mídia escondeu (o episódio mais constrangedor foi o de Paulo Markun no programa Roda Viva, da TV Cultura) e o que não tem NADA a ver com a denúncia - nunca comprovada - de que o governo federal estivesse dando dinheiro à parlamentares em troca de votos. Bom, o resto, como se diz, "é história". Não há nem espaço para relembrar, aqui, a avalanche de episódios bombásticos do tal "mensalão" que atordoou a população naquele ano de 2005 e que alimentou manchetes diariamente até o julgamento do caso, em 2012, e a ordem de prisão para vários dos acusados agora, no presente mês. Incluindo o "delator" Roberto Jefferson, que está aguardando a Polícia Federal em sua casa. Sim, ele, o "herói" da mídia golpista.

Jefferson diz que aguarda a prisão "com serenidade". Desde o início, ele sempre pareceu satisfeito ao deixar de ser o alvo principal das denúncias de corrupção da mídia e, em troca (talvez num acordo "negociado"), topar ser a voz "em on" da delação contra o governo federal. Pode ser que, se as investigações tivessem focado o esquema nos Correios, muito mais coisa tivesse sido descoberta contra ele, contra o PTB e os governos anteriores de Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor, dos quais Jefferson e seu partido também participaram. Ou seja, tudo leva a crer que o esquema nos Correios vinha de longe. Mas, numa cobertura "jornalística" (e bota aspas nisso!) que sequer se preocupou em checar e confirmar com provas a denúncia central de Jefferson sobre o pagamento de "mensalão", cobrar perguntas racionais e básicas parece tão absurdo quanto o próprio teor das toneladas de matérias sobre o caso. Nem Franz Kafka, em "O processo", chegou a tais requintes de nonsense quanto a imprensa brasileira. E agora temos milhões de pessoas comemorando a prisão dos tais "mensaleiros" como se fosse título de Copa do Mundo. Roberto Jefferson, personagem central dessa ficção, que de acusado passou a "herói nacional" por delatar a "corrupção", hoje já não tem utilidade alguma para a imprensa, nem defensores.

Foi usado e descartado, como tantos outros "inocentes úteis". Porém, nunca foi inocente. E sua "utilidade" à imprensa provocou uma das mais graves distorções jurídicas do planeta, criando um precedente - condenar sem provas - extremamente perigoso, um feitiço que, um dia, pode muito bem virar contra os feiticeiros. De caixa 2 e financiamento público de campanha ninguém fala nada. O que importa é o triunfo do ódio. Viva a imprensa nacional, baluarte da "moral", da "ética" e da "virtude"! E quem falar em controle da mídia também será "esquartejado" exemplarmente.

quarta-feira, setembro 19, 2012

Dirceu não sai da cabeça dos tucanos desde 2006

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A nova peça de propaganda do candidato tucano à prefeitura de São Paulo, José Serra, tenta fazer uma relação direta entre Fernando Haddad e réus do Mensalão, como Delúbio Soares e José Dirceu. O candidato petista aparece ao lado das fotos dos acusados e vem a voz, tétrica, vaticinando: “Sabe o que acontece quando você vota no PT? Você vota, ele volta”.



Tudo bem que o marqueteiro-mór da campanha de Serra, Luiz Gonzales, é o mesmo que fez sua campanha em 2010 e a de Kassab em 2008. Mas falta de criatividade tem (deveria ter) limite. De verdade, o que essa peça tem de diferente de uma das que foram usadas (aparentemente apócrifa) contra Dilma, em 2010? Naquela propaganda, uma foto da atual presidenta ia aos poucos sendo transformada em... José Dirceu! E a narração dizia: “Ela [Dilma] vai trazer de volta todos os petistas cassados ou que renunciaram. Dilma vai trazer de volta inclusive aquele que o procurador-geral da República chamou de chefe da quadrilha [José Dirceu]”.



Bom, não se sabe se Dilma nomeou de ontem pra hoje algum daqueles ao que o vídeo acima faz referência, mas até agora nenhum deles tinha sido nomeado para qualquer cargo. A propaganda de rádio também fazia referência à associação com Zé Dirceu. “Toc toc toc, bate na madeira. Dilma e Zé Dirceu, nem de brincadeira”, dizia a música abaixo. Aliás, além da temática repetida (em 2006 um jingle ditava “Não pro mensalão/pra dólar na cueca e mentiroso eu digo não”), a música também era readaptada de outra, usada na campanha de Kassab em 2008 (aqui).



Parece que anda faltando assunto na campanha tucana. E criatividade para os marqueteiros...

quarta-feira, setembro 28, 2011

José Dirceu, a cachaça e Merval Pereira

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Durante a festa de aniversário de dez anos da revista Fórum, o ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu, esteve presente e o Futepoca conversou rapidamente com ele. Dirceu mostrou conhecimento na área de cachaça, tema caro a este blogue, e também comentou o caso Veja e a regulação da mídia, sobrando para o o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira. "Agora, vamos esperar o livro que ele vai publicar", ironizou. Confira a entrevista abaixo:


Futepoca - Esse é um blogue de política, futebol e cachaça, mas vamos começar por um assunto sobre o qual o senhor fala menos: gosta de cachaça? 
José Dirceu - Estou acostumado e acabo sempre tomando as mesmas, como a Germana, Boazinha, Indaiazinha etc. Mas existem muitas cachaças boas no Brasil, menos conhecidas, como Serra Limpa, Rainha, da Paraíba. Vale lembrar a Maria da Cruz, do ex-vice-presidente José Alencar. Hoje, também, as empresas não querem mais dar relógios de brinde e fabricam  cachaças exclusivas para presentear, como a que faz a Odebrecht, é uma cachaça de qualidade, como muitos empresários produzem. Lógico que ela fica um pouco mais cara, o ideal é que toda a população tivesse acesso, porque a cachaça comum tem metais pesados.

Futepoca - Você falou que muitos empresários dão cachaça de presente, qual cachaça Veja daria?
José Dirceu - Com alto teor alcoolico e alto índice de contaminação por metais pesados.


Futepoca - Neste último episódio, o repórter queria tomar cachaça no seu apartamento?
José Dirceu - É um episódio grave porque ele tentou invadir meu apartamento, depois se passar por um assessor da prefeitura de Varginha para me entregar um documento... O que ele queria fazer no meu apartamento? Fotografar, ver o apartamento ou colocar uma prova contra mim? É grave o que aconteceu e mais grave são as imagens ilegais, que são invasão de privacidade, de intimidade, foram subtraídas ou entregues ilegalmente à Veja, tanto que eles não dão crédito para as imagens. A construção de toda a matéria é uma tentativa de me linchar de novo, me prejulgar e de influenciar o Supremo Tribunal Federal. O que a Veja busca, e a matéria desta semana mostra isso, é influenciar ou tentar forjar uma prova para que se abra um novo processo contra mim, ou criar um clima de constrangimento, mobilizando a opinião pública para pedir minha condenação, já que, na avaliação deles, eu vou ser absolvido, até porque sou inocente.

Antonio Cruz/ABr
Futepoca - Mas a ação do repórter, que é um jovem formado há dois anos, de onde veio isso?
José Dirceu - É o editor, tem os responsáveis... Ele responde a quem em Brasília? Ao Mário Sabino, que responde ao Victor Civita. A Veja é responsável, até porque o advogado que defendeu o jornalista é da Veja e ele é réu confesso. É a quarta matéria que fazem, fizeram uma sobre reforma política agora e dizem que sou eu que estou conduzindo.

Futepoca - O seu caso é um caso extremo, mas há vários outros abusos cometidos pela imprensa cotidianamente. Você registrou ocorrência...
José Dirceu – Quem registrou ocorrência foi o hotel. A camareira que comunicou à segurança, a segurança comunicou à gerência e o hotel achou por bem fazer o boletim de ocorrência. A Veja vaza que as imagens da câmera do hotel foram fornecidas pra ela garantindo o sigilo da fonte, gratuitamente, não houve compra, não houve contratação de araponga. Agora, começam a vazar que foi um serviço paralelo da Abin. Pra mim não interessa quem foi, sei que a Veja cometeu um crime.

Futepoca - Mas pra você interessa o esclarecimento do caso. Você acha que falta um pouco dessa mesma disposição da parte de outras pessoas, dentro e fora do meio político, que são alvo de leviandades e crimes da imprensa? Até a discussão sobre regulação da mídia fica interditada.
José Dirceu - O [Luís] Nassif relatou aqui o calvário que é você processar um veículo de comunicação por crimes contra a honra e a imagem. Tudo porque, ao se revogar a Lei de Imprensa, se revogou o direito de resposta que estava regulamentado. Dependemos de uma nova lei de comunicação e a mídia faz campanha pra não ter regulamentação nenhuma. Não é pra não ter regulação não, mas pra não ter nem direito de resposta, porque em tese ele já estaria contemplado no Código Penal... E não tem nada, em todos os países do mundo existe o direito de resposta, que e é rigorosíssimo. No Brasil, começa a se ter a consciência de que tem que ter. Além disso, precisa regular a mídia, e regular não tem nada a ver com censura, todos os países do mundo têm.

Futepoca - O Merval Pereira assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras ontem (23 de setembro) e fez um discurso contra a regulação da mídia, dizendo que era censura...
José Dirceu - Ele está falando dos EUA, de Portugal, da Austrália, do Canadá, da Espanha, da França, da Grã Bretanha – que é rigorosíssima em relação à comunicação. Ele está dizendo que esses países são ditaduras e que têm censura. Ele sabe o que está fazendo, sabe que não é verdade, está defendendo o poder político, partidário. 
Já falei que a piada do ano é o Merval Pereira ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. Ele ficou indignado comigo, mas é ele que toda hora me chama de chefe de quadrilha, corrupto. Até fiz um elogio pra ele... Realmente, a Academia Brasileira de Letras fez um grande ato ao escolhê-lo.  Agora, vamos esperar o livro que ele vai publicar.

(Por Frédi Vasconcelos, Moriti Neto e Glauco Faria)

Nota da redação: Futepoca também faz um apelo: leitor, ajude a encontrar alguém que já leu um livro de Merval Pereira.  

sexta-feira, setembro 02, 2011

O que veja fará nesta semana?

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Não deveria perder o tempo dos futepoquenses com essa ex-revista, mas ficaram algumas perguntas sobre a "matéria" que fez sobre José Dirceu na edição passada e a expectativa se eles vão continuar ou o assunto "morrerá".


Para quem não perde tempo com a ex-revista, a síntese é que acusa o Zé Dirceu de receber autoridades do governo Dilma no hotel em que se hospeda em Brasília para trabalhar contra a própria Dilma.

Tese essa sem nenhum fato, nenhuma declaração em "on", nenhum documento etc. Ou seja, o de sempre de Veja.

Mas desta vez houve o agravante de ter cometido pelo menos dois crimes. A tentativa de invasão do quarto de Dirceu e as imagens surrupiadas da segurança ou, mais provável, a colocação de câmara-espiã no andar em que Dirceu estava hospedado.

Bem, isso é sabido.

Minha questão é outra. Para que correr tantos riscos para fazer uma "matéria" tão inócua?

Como também tenho o direito de especular sem ter nenhuma prova, como faz a revista, a única hipótese válida para mim é que a tentativa do "repórter" era colocar câmara de vídeo ou áudio para grampear o que as pessoas falavam no quarto.

Esperar que alguém falasse demais e depois dizer que recebeu o "áudio" de uma fonte secreta, da comunidade de informações... e que não revelaria a fonte por conta do direito ao sigilo etc...

Como o "repórter" não conseguiu entrar no quarto e foi denunciado à polícia e o caso ganhou repercussão, a revista não podia voltar atrás e não dar a matéria. Fez com a única coisa que tinha, as imagens sem áudio e um monte de especulação sem prova.

Como este texto já está longo, só para encerrar.

O que aconteceria se alguém pusesse uma câmara para gravar as visitas que os Civitas recebem em quartos de hotel quando viajam? Ou mesmo se câmeras fossem postas nos quartos dos diretores de Veja, ou mesmo na redação. Sabe-se lá onde fazem mais sacanagens.

E pergunta, diante da repercussão negativa em vários lugares e da falta de repercussão dos veículos-irmãos do PIG, o que Veja vai fazer? Continua com a matéria tão importante para os destinos do país (oh, ironia) ou esquece o assunto, faz de conta que não houve nada?

E o que os donos da revista vão fazer? Demitem os diretores/editores que fizeram a bobagem ou assinam junto o boletim de ocorrência dos crimes cometidos?

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Wikileaks e Mensalão: Boatos, palpites e muito Zé Dirceu

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Os diplomatas dos Estados no Brasil acompanharam de perto as denúncias de corrupção e as crises políticas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O escândalo do Mensalão (ou "Big Monthly", na tradução deles) foi relatado passo a passo, com descrições sobre trocas de ministérios, perfis dos expoentes das investigações no Congresso Nacional e visões peculiares sobre a vida política brasileira. José Dirceu é personagem central nesta.


Nuvem de palavras dos 34 telegramas. Dá-lhe Lula e Dirceu. Feito no Wordle.

O terceiro lote de telegramas vazados pelo Wikileaks e divulgados por blogues brasileiros trata de corrupção. Ou melhor, a forma como a embaixada dos Estados Unidos no Brasil assistiu aos escândalos de corrupção do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O caso foi acompanhado de perto pela embaixada, inicialmente, em junho, com relatórios diários e, depois, semanais ou mensais. A crise política dos sucessivos escândalos que acometeram o primeiro mandato de Lula de fato foi profunda.

No conjunto de 34 telegramas, dos quais três já haviam sido publicados, Lula é mencionado 450 vezes, o PT, 248. José Dirceu aparece 229. A demissão do cargo de ministro-chefe da Casa Civil e a cassação de seu mandato, ainda em 2005, foram relatadas em detalhes. O segundo desses episódios, aliás, é tratado como um "divisor de águas", apesar do reconhecimento de que não havia provas contra ele.

A ampliação e o aprofundamento da crise, com três comissões parlamentares de inquérito (CPIs) simultâneas e a imobilidade do Congresso eram a receita para um fracasso eleitoral de Lula em 2006. Em janeiro daquele ano, conforme as pesquisas mostravam o presidente à frente na corrida eleitoral, essa capacidade foi definida como "totalmente inesperada", a despeito de a economia mostrar sinais de crescimento robusto.

Logo no início da crise, por conta de mudanças no ministério de Lula, a análise era de que o PMDB ganhava espaço e que o PT poderia ter tornado-se refém da coalizão. É que "o amplo PMDB particularmente nunca está tímido para tomar sua parte do bolo (demand the pork, no original)".

Tradução

Além do já citado "Big Monthly", é divertida a tradução do nome de Carlinhos Cachoeira (o "Charlie Waterfall"). O banqueiro do jogo do bicho estava envolvido com o escândalo de Waldomiro Diniz.

Sem gasto eleitoral

Ao final de 2005, em meio à crise, um telegrama especula sobre os efeitos de uma eventual saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. Consta que, pela falta de aprovação do orçamento de 2006 aliada à dificuldade da intricada burocracia brasileira para gastar o dinheiro liberado pelo Tesouro, haveria dificuldade para uma gastança pré-eleitoral. Ou seja, a política de "austeridade" estaria garantida.

Herança da ditadura

Como várias das personagens do cenário político brasileiro advêm da militância contra a Ditadura Militar, esse aspecto sempre aparece nos telegramas. Para descrever Dirceu, aparecem termos como "soldado", preso político trocado por embaixador e alguém dedicado ao PT e a suas ambições. Tudo bem, aparece também "maquiavélico", cínico e sem ideologia, definições que guardam nenhum vínculo com o passado.

Para Fernando Gabeira, ex-deputado federal e candidato derrotado às eleições do Rio de Janeiro em 2010, usa-se o termo "sequestrador de embaixador", em alusão a seu envolvimento no rapto de Charles Elbrick em setembro de 1969.

No caso de Dilma Rousseff, ela é descrita como a "Joana D'Arc da subversão", como já divulgado anteriormente.

Boatos sem provas

Apesar de não lerem Caras, como bem observou a MariaFrô, os embaixadores gostam de incluir boatos sem provas. Eu juro que não considero neste rol os elogios ao "trabalho investigativo" da revista Veja (isso é opinião deles).

Houve já certo burburinho quando noticiou-se, com mais sensacionalismo do que o devido, que os EUA consideravam que Dilma tinha sido a mentora do assalto ao cofre do Adhemar de Barros e a bancos. O telegrama coloca isso como um boato, parte do folclore político brasileiro.

Outro episódio sem comprovação incluído no relato é o de que o líder da oposição, Jorge Bornhausen (então no PFL, atualmente no DEM), estaria inquieto com os rumos da crise política. Nenhuma menção à alegria de se ver "livre dessa raça por 30 anos", mas a uma suposta reunião entre o então senador catarinense e diretores do Grupo Globo. O encontro teria ocorrido no Rio de Janeiro, mas tampouco há como ter certeza de que isso ocorreu.

Curioso também que o fato de o presidente do segundo maior partido de oposição ir pedir a benção da maior rede de televisão do país desperta nenhuma linha nos telegramas.

Tudo bem, eles não são analistas políticos, estão só relatando o que leem. Poderiam selecionar melhor essas leituras.

Leia também:
Escândalo do mensalão: oposição e governo temiam impeachment de Lula
O público pediu – telegramas sobre o mensalão

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Se fosse no Brasil, derrubaria ministro

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Deu no blog do Wikileaks no Brasil.

Em 2002, depois da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu era visto como "discreto", em contraposição ao "radical" Aloízio Mercadante.

Foto: Reprodução


A moderação e proporcional elogio ao então futuro ministro-chefe da Casa Civil tem virtualmente nenhum efeito prático. Mas se fosse no Brasil, era capaz de derrubar ministro. Qualquer denúncia ganha "fôlego" na imprensa se incluir o nome daquele que despertava os instintos mais primitivos em Roberto Jefferson e que é acusado de ser "chefe de quadrilha" no inquérito do Mensalão.

O mais curioso é que a sentença sobre quem seria quem na equipe de transição mostra que Dirceu se "safou" do veredicto da embaixada no Brasil. Em reunião com o subsecretário de estado americano Otto Reich, Mercadante explicava com eloquência a prioridade do Mercosul, quando foi interrompido por Dirceu lembrando que os acordos bilaterais também eram importantes.

Foto: Reprodução
Reich descreve Mercadante como radical e alguém que quer convencer os outros, com o dedo em riste em direção ao interlocutor. Dirceu se comportava como "o primeiro entre os iguais", em uma telegráfica referência à máxima de George Orwell em Revolução Animal – "Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros".

O terceiro membro da conversa, Antonio Palocci, que agora é futuro ministro da Casa Civil, é o dono de um canto de sereia voltado ao mercado.

Picuinha internacional
Em uma reunião de meia hora, impressões em telegramas. Mudou muito pouca coisa na relação entre os dois países. E agora todo mundo fica sabendo. Pena que não tinha espaço no telegrama para comentários sobre o bigode do Mercadante, o cacoete do Palocci e o erre puxado do Zé Dirceu.

terça-feira, março 16, 2010

20 anos do plano que calou os eleitores de Collor

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Aquela foi a festa de aniversário de criança mais desanimada que já presenciei. Eu estava vestido todo de preto, mas com sorriso de orelha a orelha. No dia 16 de março de 1990, a equipe econômica do presidente Fernando Collor de Mello, empossado no dia anterior, anunciava um plano econômico que congelava depósitos do overnight, das contas correntes e das cadernetas de poupança que excedessem a 50 mil cruzados novos, o equivalente, na época, a 1.300 dólares (quase 2.300 reais na cotação atual). Dezenas de milhares de pessoas ficaram sem qualquer dinheiro ou fonte de renda, perderam o que tinham, adoeceram ou simplesmente se mataram. Até a Veja assustou (foto). Ainda hoje não fizeram um levantamento documental mais detalhado da extensão daquele desastre chamado Plano Collor.

Mas basta dizer que, no segundo semestre de 1990, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro desabaria para -7,8% e, nos dois anos seguintes, a economia perderia 2 milhões de empregos. Muito por causa disso os 35 milhões de eleitores que levaram Collor ao poder não fariam a mínima questão, em 1992, de sair às ruas para defendê-lo quando a sequência da escândalos o levou à renúncia. Uma imagem célebre do engodo que todos os eleitores do Collor se tocaram ter caído foi a inacreditável entrevista da ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, e do presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, aos jornalistas Joelmir Betting e Lilian Witte Fibe. Ali ficou nítido que a equipe econômica do governo não fazia a menor ideia do que se tratava o plano que haviam acabado de impor ao país. Desesperador.

Pois então, foi naquele clima de estupefação geral da nação que eu fui com meus pais a uma festinha de criança na Associação do Banco do Brasil (AABB), na cidade onde nasci, em Taquaritinga (SP). Com 16 anos recém completos, eu havia acabado de tirar o título de eleitor e me preparava para votar em Plínio de Arruda Sampaio para governador. Nas eleições de 1989, Collor havia conquistado quase a totalidade de votos locais. Houve só uma passeata, dos colloridos, com metade da cidade. Eu e um amigo subimos no muro da minha casa para agitar uma bandeira do PT e levamos uns cascudos. Meu pai, que tinha um adesivo do Collor no carro, me deu uma sonora bronca. E todo mundo tirou sarro da gente quando o alagoano derrotou Lula.

Mas aí veio aquele 16 de março fatídico. Na festinha, só as crianças brincavam e eu sorria, degustando cerveja. Os convidados, em sua maioria médicos, conservadores e eleitores do Collor, nada falavam. Os semblantes eram de velório. Meu pai não perdeu nada, pois não tinha dinheiro guardado. Mas travou seu discurso político conservador por mais de dez anos. E eu, alertado previamente para não tocar no assunto, só podia sorrir. Mas sorri bastante.

Ps.: Quem também deve ter sorrido naquele dia foi o aniversariante José Dirceu, integrante da coordenação da campanha de Lula em 1989.

segunda-feira, abril 07, 2008

Os incomodados que fundem outro partido

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Essa é a proposta política de Heloísa Helena (foto), a queridinha da imprensalona brasileira para vociferar discursos contra o Lula, o PT, o José Dirceu, o Chávez e o que mais a pauta da Folha e da Veja estiver precisando. Durante megaevento de filiação de 127 pessoas ao PSol na Câmara de São Bernardo do Campo (SP), no domingo, a presidente da sigla foi bem objetiva:

"-Nenhum partido é dono da bandeira dos trabalhadores. O PT traiu as nossas reivindicações e, por isso, a gente fundou outro partido. Se acontecer de os companheiros do PSol se venderem para o capital e traírem os trabalhadores, a gente funda outro partido".

Tradução livre: se a bola não for minha, eu tiro o time de campo.

Ps.: Assediada por "fãs" para posar para dezenas de fotos, Heloísa Helena foi questionada por um repórter, em tom de brincadeira (um tanto séria), se isso não daria munição ao PT para acusá-la de stalinismo/ culto à imagem. Resposta da líder psolista: "-É mesmo. Dizem que a foto rouba a alma das pessoas". E continuou posando.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Quanta maldade...

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Reproduzo na íntegra post do Blog do Mino Carta sobre a acusação feita por José Dirceu contra Heloísa Helena (foto) em entrevista à revista Piauí. Muita maldade, a do jornalista...

Dos encontros bíblicos na savana planaltina
Na reportagem publicada pela Piauí sobre José Dirceu, ele comenta que Heloísa Helena votou contra a cassação de Luis Estevão “por motivos impublicáveis”. Quais seriam? Certo é que a savana planaltina, a cidade oficial de concepção mussoliniana, ou stanilista, e sua invencível distância do Brasil e do mundo, ao propiciarem as melancolias da solidão, oferecem a oportunidade de estranhos encontros, às vezes bíblicos. Se os motivos impublicáveis forem aqueles que imagino, louve-se a virilidade de Luis Estevão.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Zé Dirceu aposta em Dilma ou Marta para 2010

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O ex-ministro José Dirceu comandou uma palestra em São Bernardo na terça-feira (11/12), a convite do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Falou basicamente sobre o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mas, inevitavelmente, acabou analisando o cenário para as eleições de 2010. Para Dirceu, as ministras Dilma Rousseff (da Casa Civil) e Marta Suplicy (Turismo) são os nomes mais cotados para o PT. Mas, em sua opinião, a prioridade do partido deve ser a aliança com o PMDB. (Foto: Luciano Vicioni)

Futepoca - Como o senhor avalia, hoje, o cenário da próxima disputa presidencial?
José Dirceu - O PCdoB e o PDT estão evoluindo, com alguns partidos, para a candidatura do Ciro Gomes (PSB). O DEM, o PSDB e o PPS vão acabar construindo uma candidatura comum, é a tendência. O PTB talvez não dê apoio ao PT e lance o Fernando Collor como candidato. O PR é um partido que já tem uma aliança mais estreita com o PT, o José Alencar foi duas vezes vice do Lula. E o PP, vai depender muito do desenvolvimento, não sabemos. Mas a prioridade do PT, no meu entendimento, tem que ser o PMDB.

Futepoca - Por que?
José Dirceu - Nosso governo se consolidou, se estabilizou e venceu as eleições, de 2005 para 2006, muito em torno da aliança com o PMDB. É o maior partido, tem uma cultura desenvolvimentista, nacionalista, com bases populares no Brasil e que tem o número suficiente de deputados e senadores, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores para, junto com o PT, formar uma maioria no país. Precisamos de uma maioria na Câmara Federal e no Senado para impulsionar as reformas que o Brasil precisa, como a tributária, por exemplo. E o país precisa de uma maioria para o próximo governo, que não terá o Lula como presidente. E é preciso eleger esse presidente. É evidente que, se o PT e o PMDB estiverem juntos, e o presidente da República apoiar um candidato desses dois partidos, haverá uma grande possibilidade de ele estar no segundo turno e vencer. Porque, de certa maneira, o PT terá candidato. Pode não ser o candidato final da aliança, da coalizão, mas o PT tem que ter um candidato até pela dimensão, pela importância do partido e porque é o partido do presidente.

Futepoca - Quais seriam os nomes mais cotados no PT?
José Dirceu - Quem tem voto hoje, ainda que seja em torno 8% a 12%, é a Marta Suplicy. Nenhum outro candidato tem. Lógico que você pode ter o nome do Jaques Wagner, do Eduardo Suplicy, do Marcelo Déda, do Tarso Genro, do Patrus Ananias. Mas os dois nomes que eu vejo, hoje, são o da Marta e o da Dilma Rousseff. A Dilma pela história dela, pela posição que ela tem hoje. Agora, isso depende muito do PT e do presidente. O PT tem que definir. Não temos um candidato que se imponha pelo apoio popular e eleitoral. E um candidato do presidente, ele não tem manifestado uma opção. Então, 2008 é ano de eleição e nós vamos ter que tomar essa decisão. Para nós não interessa antecipar a sucessão, vamos deixar isso para 2009. Agora, no PT, mais de 90% dos petistas querem um candidato - que pode ser apresentado numa frente ou pode ser o candidato. Se tiver o apoio do PMDB e do presidente, eu digo que tem grande chance de ir para o segundo turno. Mas isso depende muito, também, de como vamos construir isso com os outros partidos. E como o presidente vê isso.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Dirceu e o super-vilão 2 - uma resposta

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A campanha para criminalizar a esquerda e os partidos e políticos que a ela se alinham, no Brasil, ganhou um capítulo sui generis com as afirmações do autor de novelas televisivas Aguinaldo Silva, que, como já foi tema de post neste blog, disse que a história do ex-deputado José Dirceu no interior do Paraná, nos anos 1970 (ele se disfarçou de outra pessoa para enganar a ditadura militar), teria inspirado a criação de um personagem fictício. Só que esse personagem, nada mais nada menos, foge com o dinheiro da mulher e faz plástica para mudar de vida.

A primeira resposta não partiu de Dirceu, mas de Clara Becker, que foi casada com o político quando ele estava disfarçado de "Carlos". Ela pretende enviar uma carta para o autor de novelas mas, antes disso, tornou público seu conteúdo na Folha de S.Paulo. Clara vai direto ao assunto: "Se o senhor não gosta do político José Dirceu, se tem uma impressão negativa dele, esse é um direito sagrado que respeito integralmente. Agora, por favor, não extravase sua raiva ou preconceito contra ele, falando de coisas que não são de seu conhecimento, como a relação que tivemos".

E pontua: "Realmente, acredito que existe um José Dirceu de duas caras. A cara verdadeira, de quem o conhece, com suas falhas e virtudes, com seus acertos e erros, com suas qualidades e imperfeições. Há, porém, uma outra cara: uma cara inventada pelos seus adversários e por aqueles que, cegos pelo preconceito ou pela discordância, acabam produzindo uma imagem estapafúrdia".

Não vou reproduzir a íntegra (está na Folha Online), mas gostaria de reforçar, aqui, os pontos que Clara considera "cruciais" nesse entrevero:

1) O autor da novela "Duas Caras", Aguinaldo Silva, desconhece a verdade em relação à vida de José Dirceu em Cruzeiro do Oeste, cidade que ele escolheu para morar e trabalhar diante da perseguição movida pela ditadura militar, sendo obrigado a usar outra identidade e modificar sua aparência.

2) É caluniosa a comparação, feita pelo autor da novela, entre José Dirceu e um personagem que se casa por interesse e foge com o dinheiro da esposa. Nos anos em que vivi com José Dirceu nós dividíamos todas as contas. Era tudo anotado em um caderno e cada um pagava as suas contas. José Dirceu pagava a empregada e o aluguel e eu pagava as despesas de casa e a comida. Ele nunca me roubou e nunca dependeu do meu dinheiro, pois tinha a sua loja e eu a tinha a minha. Tanto que quando José Dirceu voltou para São Paulo, sua loja ainda tinha dinheiro para receber aqui em Cruzeiro do Oeste e ele me pediu que recebesse e ficasse com o dinheiro.

3) Quanto à omissão da sua identidade na época, todos, agora, sabem que era uma necessidade, pois a vida de José Dirceu estava em perigo. Certa vez fui chamada pelo então prefeito para uma conversa na Prefeitura. O prefeito e outras pessoas desconfiavam daquele homem recém-chegado à cidade e que tinha um estilo diferente. Em casa, conversei com José Dirceu e perguntei se ele escondia alguma coisa, se era casado ou se era bandido. A resposta foi imediata: não era casado e nem era bandido, mas havia algo, sim, que não podia revelado naquele momento. Senti sinceridade. Ele era bom, vivíamos bem e continuamos juntos, mesmo sem saber todos os detalhes da vida dele. Foi uma opção minha.


4) Afirmo que nunca conheci um homem tão íntegro e honesto como José Dirceu e considero que a omissão de sua real identidade foi uma necessidade naquelas circunstâncias.

5) É preciso esclarecer ainda que, ao contrário do que insinua a reportagem, não fui abandonada por José Dirceu. Com a anistia, ele pediu que eu e meu filho fossemos com ele para São Paulo. Chegamos a viver algum tempo juntos na capital paulista, mas eu tinha aqui em Cruzeiro do Oeste uma família que dependia de mim (pai, mãe, duas irmãs e meu filho) e a vida em São Paulo era muito dura. Eu tomei a iniciativa de voltar para Cruzeiro do Oeste.

6) Por fim, reafirmo que o José Dirceu foi um companheiro ideal. Mesmo depois de nossa separação mantém contato, preocupa-se com meu bem-estar e vem a Cruzeiro do Oeste, cidade hoje administrada por nosso filho.

Não sei se o José Dirceu também vai responder alguma coisa ao Aguinaldo Silva. Essa carta da Clara Becker, para mim, coloca um ponto final no assunto. Não só nesse caso específico da associação de Dirceu com um vilão de determinada novela, mas também, e principalmente, na tentativa raivosa de consolidá-lo, na mídia e na sociedade, como a pior espécie de gente que já nasceu nesse planeta. Algo parecido com o que a Veja tenta fazer, na seqüência, com o Che Guevara. Defeitos pessoais e erros políticos, um tinha e o outro tem. Daí a serem eternizados como "bandidos", vai uma distância enorme.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Dirceu e o super-vilão da novela

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Só nesta quarta-feira, 3, é que li a entrevista de Aguinaldo Silva, autor da novela Duas Caras, à Folha de S.Paulo (só para assinantes) de domingo, 30 de setembro.

O vilão que, aparentemente, dá nome ao folhetim, é inspirado em José Dirceu, um dos chefes da quadrilha segundo a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, parcialmente aceita pelo Supremo Tribunal Federal, em agosto.

FOLHA - A história do protagonista de "Duas Caras", que se casa por interesse, foge com o dinheiro da mulher e faz plástica para mudar de vida, é inspirada na de José Dirceu? SILVA - Não posso negar que ele tenha me inspirado, assim como outros, como o ex-chefe de censura militar [Antonio] Romero Lago. [Juan Carlos Ramirez] Abadía [traficante que fez plásticas para fugir da polícia] veio depois, mas tem muito a ver também. E a história do Zé Dirceu sempre digo que é uma lenda urbana, como a dos jacarés que vivem no esgoto, e essa comparação é bem interessante... O fato é que essa história – casamento, vida dupla, abandono da segunda vida para voltar à política – já ouvi centenas de vezes, mas toda vez ela me faz muito mal, porque sinto uma crueldade muito grande. Uma pessoa que faz isso é capaz de qualquer coisa. Tenho medo dele. Confesso que quando ele era chefe da Casa Civil, sempre pensava nisso. Tenho horror.
O blogueiro ex-ministro chefe da Casa Civil, todo mundo conhece, é personagem da vida política brasileira. Abadia, ficou conhecido em 7 de agosto, ao ser preso em um condomínio de luxo na Grande São Paulo.

Antônio Romero Lago é curiosamente chamado pelo entrevistado de "ex-chefe de censura militar", como se esse posto ainda existisse. O dado que o aproxima é descrito pelo jornalista Mauro Malin, em seu blogue no Observatório de Imprensa, a título de desancar Diogo Mainardi, em maio deste ano. Ele conta que Lago foi o nome adotado por Hermelindo Ramirez Godoy, um foragido da Justiça a partir de 1944, quando foi condenado como mandante de assassinato. Na base da falsidade ideológica, o cidadão transformou o carimbo de sua assinatura-fajuta em sinônimo de aprovação pela Divisão de Censura de Diversões Públicas em filmes nacionais durante a ditadura militar, a partir de 1966.

Eis que Dirceu é promovido ao estatuto de super-vilão.

E como fica aquela história de "qualquer semelhança com personagens ou fatos da vida real é mera coincidência"?


Na montagem, José Dirceu, à esquerda, e Abadía, à direita,
com as respectivas fotos no ostracismo