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domingo, abril 14, 2013

Sobre jornalismo, tomates e gente

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Por Fabrício Lima

A musa do Cansei e seus tomates: um novo patamar para o ridículo
Diz a Embrapa em seu site institucional sobre olericultura que o semiárido brasileiro tem papel fundamental na cultura do tomate graças a "possibilidade do cultivo durante quase todo o ano, em função do clima seco, com estação chuvosa em dois ou três meses do ano, com produção de excelentes características qualitativas quanto à cor, brix e sanidade dos frutos".

Mas e quando a chuva não vem?

Em alguns dos mais de 1415 municípios afetados por aquela que já é considerada a pior estiagem desde 1958, não chove há mais de 18 meses. A previsão dos técnicos do setor de meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) é ainda pior: o inverno tipicamente chuvoso do semiárido não deve acontecer em 2013. Naquele estado, o Grupo de Apoio a Desastres (GADE) está mobilizado desde o ano passado. Há três dias a Defesa Civil do Piauí disponibilizou mais 250 caminhões-pipa para atender a demanda de água para consumo humano em pelo menos 90 municípios. Apenas em Pernambuco, Minas Gerais e Bahia, mais de 440 municípios estão em estado de emergência desde o segundo semestre de 2012.

Em alguns estados a produção de leite já caiu mais de 70% por causa da morte do rebanho. As safras de chuchu, maracujá, arroz e milho estão severamente comprometidas. Até agora, estima-se em uma década o tempo que será necessário para recuperação da região a estágios anteriores à seca.

Mas voltemos aos tomates.

Durante o mês de abril as redes sociais pareciam o centro de Buñol na ultima quinta-feira de agosto. A festa espanhola da guerra de tomates ganhou uma versão digital do Brasil com tomates de todas as cores e tamanhos esparramados pelas timelines. Tinha maquiagem de tomate, joias feitas com tomates, carros de tomate, tomate nas novelas, no esporte, na música e na política.

Mas é claro que um perfil pessoal nas redes sociais não deve satisfação a ninguém. Cada usuário é responsável pelo que compartilha entre os seus pares. Não vejo pecado algum em externar uma alfinetada bem-humorada consolidada em uma informação parcial, afinal, há uma diferença gritante entre o compromisso de abastecer o público com informações qualificadas e uma piada ou protesto entre amigos.

Eis que entra no ar a eterna musa do “Cansei” Ana Maria Braga ostentando um colar feito de tomates em um canal de concessão pública de alcance nacional. Seria um protesto divertido se não fosse pela subtração de duas informações importantíssimas sobre a questão: a) A pior seca no semiárido brasileiro dos últimos cinquenta anos é fundamental para entender a inflação do preço do tomate; e b) o preço exorbitante do tomate é, de longe, o menor dos problemas provocados ou perpetuados pela seca. E quando a iniciativa parte de uma jornalista de formação e ex-âncora de telejornal, ela torna-se de extremo mau gosto.

Mesmo os canais de comunicação apegados à formalidade, com toda aquela pompa e circunstância teimosa do ofício do jornalismo, negligenciaram um elemento essencial no ato de informar: a apuração do contexto.

Coordenação desse nível só no meio de campo do Barcelona
Enquanto as publicações regionais dos estados afetados pela seca  fazem atualizações catastróficas há meses, os veículos mais robustos de alcance nacional rolam no tomate da Espanha brasileira. A revista semanal de maior circulação do país acusa o governo federal de ter deixado – ainda que por apenas algumas semanas – o preço do tomate alcançar patamares exorbitantes. A cada  linha impressa choram os economistas e as cantinas italianas, sofrem as fábricas de ketchup, definha a instituição brasileira da “salada nossa de cada dia”.

Enquanto isso, pelo menos na zona do semiárido, partidos de situação e oposição fazem coro pedindo por socorro às suas cidades. Além do desespero, partilham a negligência e a impotência diante do poder de ação irredutível que a natureza tem e a humanidade, não.

Baixado o preço do tomate os grandes veículos nacionais começam aos poucos a se voltar para a a mais terrível das secas, publicando notícias com um atraso de quase seis meses em relação aos veículos regionais. Ficou claro que a naturalização da miséria é tão aguda que o flagelo da seca já não vende mais jornais e mal serve como palanque político.


Fabrício Lima é baiano de nascença, jornalista e publicitário de formação, videomaker de ofício, torcedor do Bahia por sina e só bebe Kaiser por falta de opção.


quarta-feira, agosto 15, 2012

A 666 dias da Copa, arquibancada do Estádio Mané Garrincha está a um dedo de completar anel

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Não é efeméride, porque o número não é redondo. Mas é para lá de cabalístico. Faltando 666 dias, um efeito Orloff aplicado ao Estádio Nacional Mané Garrincha.

Quando pus os pés, embalados em sapato social, de mudança para Brasília, as obras do Estádio Nacional Mané Garricha estavam 50% concluídas. Isso quer dizer que, do anel superior, a parte de concreto das arquibancadas, só tinha pilares a meia altura. Muito vergalhão de aço galvanizado, guindastes, operários trabalhando a todo vapor, otimismo de uns moradores, dúvidas e ceticismo de outros tantos.

Faltavam 845 dias para a Copa.

Fotos: Futepoca

 

Fotos de 18 de fevereiro, era um sábado ainda de verão, muito anterior ao período de estiagem. Saudosa memória de seis meses atrás, uma época saudosa em que ainda havia nuvens no céu de Brasília, a relva estava verdejante e o ar, bem mais respirável. A arena nem vislumbrava arquibancada.

Hoje, ao passar por lá, vi que falta praticamente um "dente" para o anel de concreto estar concluído.

Foto: Futepoca

Visão a partir do Eixo Monumental, à altura da Torre de TV. 
Paisagem urbana, fotógrafo preguiçoso. Precisa forçar a vista
 para enxergar o estádio lá no fundo.

Desde fevereiro, o estádio quase perdeu a homenagem ao craque do Botafogo e herói de 1962, matou um trabalhador e deixou outros cinco feridos (em acidentes diferentes). Não me atrevo a propor um cálculo de saldo.

A capital federal recebe pelo menos um jogo da seleção brasileira na Copa de 2014, o terceiro da primeira fase, a de grupos, marcada para 23 de junho daquele ano. Há uma partida de oitavas e outra de quartas de final. Um ano antes, na Copa das Confederações, a abertura será na arena que leva o nome do gênio das pernas tortas.

O prazo de entrega é dezembro de 2012. Falta um tanto ainda, mas está bem rápido o andamento.

Foto de julho do Ministério do Esporte: o ângulo certo faz diferença