Apelido é uma forma
carinhosa (ou jocosa) de tratamento. No caso de uma seleção nacional de
futebol, a alcunha tem elementos históricos. Confira como a mídia ou os torcedores tratam cada uma das seleções.
Alemanha: Mannschaft ou Nationalmannschaft
O quê: literalmente "equipe" ou "equipe nacional"
Por quê: É que… é uma equipe nacional. Né?
Argentina: Albiceleste
O quê: branca e azul-celeste
Por quê: Pelas cores da bandeira e da camisa, estúpido!
Argélia: Fennec, ou Les Guerriers du Désert
O quê: Feneco, ou Raposas-do-Deserto ou Guerreiros do Deserto
Por quê: Consta que
80% do território argelino
é coberto pelo deserto do Saara. O Feneco é uma espécie de raposa
típica do deserto e um símbolo do norte da África. Já os guerreiros são
símbolos autoexplicativos em se tratando de competições esportivas. O
difícil é imaginar que um feneco fofo como o da foto possa um dia vir a
ser um temível guerreiro. (
Foto: Ladypine/Wikipedia-CC BY-SA 3.0)
Austrália: Socceroos
O quê: trocadilho de "Soccer" com "Kangaroos", ou "futebol" e "cangurus", em inglês.
Por quê: O esporte mais popular do país é o críquete. O futebol corre por fora (
Foto: Wikicommons).
Bélgica: Le Diable Rouge
O quê: Os Diabos Vermelhos
Por quê: Alcunha conferida ainda em 1906, quando o
diabo era mais temido do que atualmente (#sqn), após uma vitória
estrondosa sobre a seleção da Holanda em um jogo amistoso. Considere-se
que Bélgica e Holanda, ambas nações dos países baixos, possuem alguma
rivalidade correlata a um Brasil e Uruguai.
Bósnia e Herzegovina: Plavo-žuti ou žuto-plavi
O quê: Azul e amarelos ou Amarelo e azuis
Por quê: Porque assim a gente aprende pelo menos
duas palavras em sérvio. Falta conhecer o restante do idioma dos Balcãs
para poder fazer turismo. A remição às cores dispensa mais explicações.
Brasil: Canarinha, Verde-amarela
O quê: Referência à cor da camisa e da bandeira
Por quê: Até 1950, o time jogava de branco; depois
disso, em um concurso cultura, foi escolhido amarelo-ouro para exorcizar
o Maracanazzo. A cor foi associada pelo radialista Geraldo José de
Almeida, da Rádio Globo, ao simpático passarinho que, muito antes de uma
certa rede social, piava por aí. Se fosse hoje, a depender do topete da
vez adotado como penteado pelo Neymar, alguém talvez associasse a
calopsitas. Melhor não dar ideias (
Foto: Wikicommons).
Camarões: Les Lions Indomptables
O quê: Os Leões Indomáveis
Por quê: Leões são parte da fauna nativa camaronesa.
E, exceto pelos que integram elencos circenses, a maioria dessa espécie
de felinos não está domada (
Foto: Severin Meyer/Flickr).
Coreia do Sul: Os Tigres Asiáticos ou Guerreiros de Taegeuk
O quê: referência a um animal símbolo do continente asiático ou a defensores do símbolo que consta na bandeira sul-coreana.
Por quê: tigres são bravos. Asiáticos, o continente.
Vale lembrar que a associação também se fazia no âmbito econômico para
designar, nos anos 1980 e 1990, países do continente que cresciam à
reboque da economia do Japão, até a crise de 1998. Já o
Taegeuk pede explicações bem mais sofisticadas, tipo
yin-yang, origem das coisas e um papo que não cabe em dois
tweets (
Foto: Wikicommons).
Costa do Marfim: Les Elephants
O quê: Os Elefantes
Por quê: O marfim é material nobre e nada ecológico,
produzido a partir das presas dos elefantes. Na África, poucos países
tiveram sua economia tão marcada pelo material -- e pela caça aos pobres
paquidermes. No
bullying infantil (infantilizado) elefante pode
remeter a alguém muito pesado. Na fala do lugar comum, à memória. O
símbolo do país, porém, tem relação com potência e força de grupo. Fato é
que se recomenda evitar ficar na frente de uma manada de elefantes em
movimento.
Chile: La Roja ou El Equipo de Todos
O quê: A vermelha ou a equipe de todos.
Por quê: Referência à camisa vermelha usada pelo
país. O Chile comumente gosta de jogar ofensivamente. Isso fez da
seleção ser benquista por torcedores de outros países em competições
internacionais. Diferentemente de uruguaios e argentinos, o time do país
de Michelle Bachelet joga pra frente. E se acha bem visto por isso.
Colômbia: Los Cafeteros, La Tricolor
O quê: Os "cafeicultores", em traduçaõ aproximada, ou a tricolor
Por quê: Referência a um dos principais produtos do país, o café. Pela
centralidade até geográfica que o grão possui na economia e na vida
nacionais, o termo “cafetero” é aplicado ao futebol em diferentes
aspectos. Mas o
“Craque-Café” é brasileiro. A tricolor, naturalmente, diz respeito à bandeira.
Costa Rica: Ticos ou La Sele
O quê: Os garotos ou “Selê”
Por quê: Os costa-riquenhos se chamam de ticos e de
ticas. A extensão à seleção nacional é natural. Segundo uns, é porque
todo diminutivo por lá termina em “tico”, em vez de “ito”. Mas, como
isso também acontece no castelhano falado no restante da América
Central, a origem remeteria a
“hermanitico” (em vez de “hermanitos"),
usado em episódios específicos da história. Resta saber se o tamanho da
bola apresentada pelo país será “una pelotica” ou um bolão.
Croácia: Vatreni
O quê: Ardente
Por quê: Apesar de usar uma camisa que, por vezes
remete a toalha de cantina italiana, a seleção nacional se entende
raçuda. Uma pegada meio “Vai, Corinthians!”, mas com chamas.
Equador: La Tri
O quê: A tri(color)
Por quê: Curiosamente é a terceira copa com participação do país de Rafael Corrêa. Mas o
apelido
tem a ver com as três as cores da bandeira equatoriana, amarelo,
vermelho e azul. "Tri", de "tricolor", vai no gênero feminino,
diferentemente dos mexicanos, que usam o masculino.
Espanha: La Fúria
O quê: A fúria
Por quê: Há referências que associam os espanhóis a
atributos furiosos desde o saque de Antuérpia, na Bélgica, um episódio
de 1576 em que a Espanha promoveu a união territorial com os países
baixos. Foi um pouco antes de existir futebol. No contexto do ludopédio,
a primeira aplicação teve a ver com a Olimpíada de 1920, justamente na
referida cidade belga, quando os ibéricos ficaram com a medalha de
prata, mostrando força e agressividade.
Estados Unidos: The Star and Stripes
O quê: Time das Estrelas e Listras
Por quê: Na bandeira estadunidense há estrelas e
listras. Como, em termos de popularidade, o beisebol e o futebol
americano estão muito na frente do nosso
soccer, sobraram para o futebol os marqueteiros mais fraquinhos pra dar
apelido.
França: Le Bleu
O quê: Os Azuis
Por quê: É a cor da camisa. E se aplica a qualquer esporte que use uniforme. Como ensina a trilogia de
Krzysztof Kieslowski,
a bandeira francesa tem também as cores vermelha e branca. Mas a estas
os conterrâneos de Asterix e Obelix não dão muita trela.
Gana: Nsoroma Tuntum
O quê: No idioma Akan, quer dizer Estrelas Negras
Por quê: No centro da bandeira nacional, há uma
estrela negra. Que, na bandeira, representa os 98% de negros que compõem
a nação. A aula de Akan é cortesia da casa.
Grécia: Piratiko
O quê: Navio Pirata
Por quê: Por causa do desempenho como azarão na Euro 2004, por uma piada de um
comentarista grego de TV.
Se ele tivesse alguma vivência futebolística no Brasil, teria falado em
zebra. Mas a afinidade com os helenos ficaria bem pouco clara.
Holanda: Oranje ou Clockwork Orange
O quê: Laranjas (em holandês) ou Laranja Mecânica
Por quê: A cor da camisa é laranja. A "mecânica" é
referência à seleção de 1974 e 1978, em que Cruyff e cia. encantaram o
mundo com o "futebol total", aplicado apenas três anos depois do
lançamento do filme homônimo, dirigido por Stanley Kubrick.
Honduras: La Bicolor ou Los Catrachos
O quê: a bicolor e os Catrachos
Por quê: Referência ao general Florencio Xatruch,
aplicada também a qualquer hondurenho, enquanto seguidores do militar. O
termo "catracho" é uma corruptela do nome do herói pátrio.
Inglaterra: Three lions
O quê: Os Três Leões
Por quê: No brasão da associação de futebol e no do exército real há três simpáticos leõezinhos.
Irã: فدراسیون فوتبال ایران, príncipes da pérsia, leões da pérsia
O quê: Seleção do povo ou da nação (Team melli, em uma transliteração do farsi para o inglês).
Por quê: Os caracteres árabes usados na escrita farsi correspondem ao termo para “seleção nacional”. Alusões aos persas apareceram da
Copa da Ásia de 2011 em diante, em frases-lema adotadas para cada seleção. Vê-se que
não inventaram a moda no Brasil.
Itália: Azzurra, Gli Azzurri
O quê: A Azul, Os Azuis
Por quê: A cor da camisa é azul, embora a bandeira
seja verde, branca e vermelha, escolhida em homenagem aos Savoia,
família real responsável pela unificação no século XIX.Curioso é que, no
bicampeonato de 1938, usaram uniforme inteirinho em preto, por ordem de
Benito Mussolini. Tudo ficou azul de novo, já em 1950.
Japão: サムライ・ブルー
O quê: Os Samurais Azuis
Por quê: Samurais eram os soldados aristocratas do
Japão pré-industrial. Guerreiros são legais. E porque não haveriam de
escolher "lutadores de sumô" como símbolo -- embora certos craques
brasileiros pudessem merecer essa alcunha. Ah, e a camisa é azul.
México: El Tri, La Verde
O quê: O Tri, A Verde
Por quê: De "tricolor", por causa da bandeira. Diferentemente dos equatorianos,o
apelido vai no gênero masculino. La Verde vincula-se à cor da camisa. E não à pimenta jalapeño.
Nigéria: Super Eagles
O quê: As Superáguias
Por quê: A águia está no brasão da associação de futebol nigeriana. O "super" é pela hipérbole.
Portugal: Seleção de Quinas, Os Navegadores
O quê: Símbolos nacionais
Por quê: O brasão da bandeira e da federação de futebol remete à união do cinco reinos promovida por Affonso I, nos
idos
de 1143, e inclui cinco escudos -- ou quinas. Assim como o da
Portuguesa de Desportos, clube brasileiro tradicional de São Paulo.
Rússia: Сборная
O quê: Equipe, em russo
Por quê: Antes, na época da URSS, eram os soviéticos. Agora, só uma equipe. Melhor do que "Seguidores de Putin", vá?
Suíça: Schweizer Nati pelos germanófilos, La Nati pelos francófonos e Squadra nazionale ou Rossocrociati pelos italófilos
O quê: Seleção Nacional ou “da cruz vermelha”
Por quê: A cruz vermelha está na bandeira. E,
poliglotas, os suíços chamam o time no idioma que mais falam. Pelo
jeito, Alpes, bancos e chocolates não ficariam bem como
apelidos.
Uruguai: La Celeste ou Los Charrúas
O quê:A Celeste ou Charrúas
Por quê: Cor da camisa é azul-celeste. E charrúas a
etnia principal de indígenas que habitavam aquelas pradarias, do Rio
Grande do Sul brasileiro ao Uruguai. Os nativos foram exterminados em
1831 no massacre de Salsipuedes (saia se puderes), por tropas de Bernabé
Rivera, sobrinho do primeiro presiente uruguaio. Mesmo assim, a garra
dos indígenas orgulha os conterrâneos de Pepe Mujica. (
Foto: Wikicommons)