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Capa desta sexta-feira (28/11/2014) do jornal Lance! Futepoca publicou isso ontem |
A Agência Pública realiza, até dia 21 de setembro, uma campanha para levantar R$ 47,5 mil para financiar o projeto Reportagem Pública. As valentes Natália Viana e Marina Amaral comandam a ação de crowdfunding, para juntar o recurso necessário para custear 10 microbolsas que permitam que jornalistas realizem reportagens sobre temas variados. São coberturas que, se não existirem por uma iniciativa como essa, de uma organização social desvinculada de empresas privadas e mesmo de órgãos de governo, dificilmente poderiam entrar na pauta.
Por meio da plataforma de crowdfunding Catarse, qualquer dois reais são bem-vindos. Mas todos que injetarem R$ 20 ou mais transformam-se em corpo editorial da Agência Pública, tendo direito a voto entre os concorrentes.
Pensando em meios objetivos de poupar R$ 20 ou mais e mantendo uma tradição do Futepoca, listamos:
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(Luiz Filipe Barcelos/ UnB Agência) |
Por Fabrício Lima
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A musa do Cansei e seus tomates: um novo patamar para o ridículo |
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Coordenação desse nível só no meio de campo do Barcelona |
Essa chegou via Vinicius Souza e eminência parda
Carminha. A ideia é cheia de ironia, de duplo sentido e também um
reflexo dos novos tempos da comunicação e do jornalismo no mundo.
Joan Campbell, um jornalista estadunidense desempregado, resolveu
criar uma cerveja para seus iguais. Assim, surgiu a artesanal
Unemployed
Reporter Porter (Repórter
Desempregado) que,
de acordo com a definição do autor, é “a primeira cerveja
fabricada por jornalistas da mídia impressa, para jornalistas da
mídia impressa" ”.
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Jornalista: senta e chora... |
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Jornal não hesitava em invadir o telefone alheio. Foto de http://www.flickr.com/photos/eklektikos/ |
Engraçado eu ter feito ontem um post sobre insônia (abaixo) e, depois, sem vinho nem qualquer outro aditivo alcoólico, ter dormido muito bem e sonhado situações dignas de registro. O futebol foi o tema central do sonho, embora a bebida tenha sido citada na primeira situação. Talvez por ter iniciado minha carreira jornalística como repórter de esportes, foi nessa condição que meu inconsciente me jogou.Cena 1 - A tristeza de Adriano
Eu era um repórter iniciante e tinha a missão de escrever sobre atletas de origem humilde que causam muitos problemas depois de ricos e famosos (os chamados bad boys). De cara, me mandaram procurar Adriano, o (ex) Imperador. O ambiente do sonho era um bairro de periferia, não chegava a ser uma favela, tinha ruas asfaltadas e calçadas, com casas muito simples. Adriano estava na casa de algum parente, uma tia ou algo do gênero. Eram umas 11 horas da noite, horário que tornava tudo estranho, e ele me recebeu na rua, descalço, de bermuda e com uma camiseta velha. Falou sobre a infelicidade da contusão atual, que o afastará do gramado por cinco meses, e depois passou a comentar seus problemas extra campo, como noitadas, bebedeiras etc. Falava baixo, quase inaudível e muito calmo, ou melhor, resignado. Havia uma tristeza indescritível em sua maneira de agir. Um conformismo, um fatalismo. Apareceram uns malandros num carro, com som muito alto, e gritaram qualquer coisa pra ele - acho que combinavam um programa para a madrugada. Adriano disse que ia.
Perguntei se não era melhor evitar mais confusões desse tipo e ele disse que o mundo dele funcionava assim: não se pode desprezar nem contrariar os antigos amigos, os parceiros. E que ninguém nunca ia entender isso, a não ser quem vinha de onde ele vinha. Depois, ele me deu uma carona de carro e, no caminho, parecia ainda mais triste e abatido. A última coisa que disse foi: "Droga é besteira. Mas a bebida é necessária. Ela 'dilata' a cabeça". Pelo o que entendi, o 'dilata' teria o sentido de abstração, de "desanuviar" o pensamento.Cena 2 - O ódio de Pingo
Na sequência de minha missão jornalística, fui atrás da molecada que ainda não tinha alcançado o sucesso. O local era outro bairro de periferia bem pobre, onde um grande clube (o uniforme dos garotos sugeria que era o São Paulo) mantinha um projeto para descobrir talentos. Não sei ao certo, mas parecia que a faixa etária era de 13 a 15 anos. O campo era precário e o treinador era um cara bem caipira, muito simples. Os moleques jogavam como náufragos que enxergam um navio de resgate, se atiravam na direção da bola como a última chance de sobrevivênvia possível. Quando perguntei ao treinador se tinha algum "problemático", ele disse que sim, e (não) por acaso, era o maior craque e mais talentoso. E estava de castigo, treinando separado. Era um rapaz alto e esquelético, muito mais magro que o santista Neymar. Seu nome era Augusto, ou Guto, mas no futebol era chamado de Pingo. Estava batendo bola sozinho, num campo esburacado e sem grama. Afastado do elenco por indisciplina.
Fui falar com ele e só o que recebi foram piadas, gozações e escárnio. O moleque era o ódio em estado bruto - de mim, do treinador, do clube, da sociedade, de tudo. Comportava-se como se fosse um delinquente. Ria sem parar, me sacaneando. Me chamava de "burguês". Mas tinha um controle de bola absurdo. Levantava a pelota na altura do joelho esquerdo e, com o pé direito, chutava forte para manter a bola no ar, girando. Quando decidia, chutava forte, mas não pra frente. Chutava para o alto e, a certa altura, a bola caía numa velocidade impressionante (algo como a "folha seca", do saudoso Didi). Depois de muito insistir, ele respondeu apenas que tinha herdado a habilidade do pai, que já tinha morrido. Não falou mais nada, virou as costas e se foi. Dias depois, vi a molecada disputando a decisão de um torneio, sob muita chuva. O time ganhou no sufoco, no fim da prorrogação, com um gol de um tal de Batista, sem querer (num escanteio, o goleiro adversário rebateu na nuca dele e a bola entrou). Pingo não havia sido relacionado nem para o banco. Soube mais tarde que, por isso mesmo, tinha abandonado definitivamente o clube.
Carlos Lacerda (1914-1977) foi jornalista e político de destaque entre as décadas de 1930 e 1960, quando chegou a governar o extinto Estado da Guanabara e, não fosse o golpe militar de 1964 (que ele próprio apoiou e insuflou), teria grandes chances nas eleições presidenciais do ano seguinte. No jornalismo, acabou criando no Brasil um tipo de atuação que ainda hoje presenciamos e lamentamos, de total falta de escrúpulos e da falta de cerimônias em difamar, caluniar, distorcer, mentir e insuflar a população contra regimes democraticamente constituídos. Sua campanha virulenta contra Getúlio Vargas no jornal Tribuna da Imprensa fez com que sofresse um atentado à mando do capanga presidencial, Gregório Fortunato, o que aceleraria a crise política e desembocaria no suicídio de Vargas, na tentativa de golpe para impedir a posse de Juscelino Kubitschek após as eleições de 1955, na renúncia de Jânio Quadros em 1961, no golpe do parlamentarismo contra João Goulart e, finalmente, na ditadura militar que assolou o país por mais de 20 anos.
Por tudo isso, Lacerda ganhou o apelido de "Corvo", alusão à sua figura sinistra que sobrevoava ameaçadoramente o panorama político do país naqueles tempos (como na charge à esquerda). Mas a história por trás desse apelido tem uma curiodade jornalística - e "cachacística", por assim dizer. No conturbado ano de 1954, que culminaria na tragédia do suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto, uma outra morte causou comoção nacional. O livro "Histórias de um repórter" (Editora Record, 1988), do excepcional - e já falecido - jornalista cearense Edmar Morel, recorda o desenrolar daqueles acontecimentos no Rio de Janeiro, então capital federal: "O repórter Nestor Moreira, de A Noite, em seu natural estado de embriaguez, teve uma discussão com um motorista de táxi. Ambos foram parar no 2º Distrito Policial, em Copacabana. Horas depois, Nestor se internou no Hospital Miguel Couto, entre a vida e a morte. O que acontecera?".
Prossegue o livro: "Estava apurando o assunto na delegacia quando um preso me confidenciou: 'Foi o Coice de Mula'. Consegui penetrar no hospital e tive a sorte de encontrar Nestor Moreira num momento de lucidez. O moribundo confirmou. Estourava o escândalo, que ganhou todos os jornais. 'Coice de Mula' era o sugestivo apelido do policial Paulo Peixoto, que agredira o jornalista a pontapés, causando grave hemorragia. Nestor Moreira morreu a 22 de maio em consequência dos ferimentos, causando comoção nacional. O enterro foi uma verdadeira consagração. Mais de duzentas mil pessoas acompanharam o cortejo". E, segundo o livro escrito por Morel, foi justamente nessa ocasião que Carlos Lacerda ganhou seu apelido indesejado, criado por outro jornalista presente ao velório, seu ferrenho inimigo Samuel Wainer (foto acima), dono do jornal getulista Última Hora.
No livro de memórias "Minha razão de viver" (Editora Record, 1988), Wainer relembrou o episódio: "Lacerda estava vestido de preto dos pés à cabeça, aspecto solene, rosto compungido, ar sofredor. Era o retrato da revolta humana à violência cometida contra um humilde jornalista, vítima da arbitrariedade política. Quando vi a cena, senti-me enjoado. '-Vou embora', disse a Octávio Malta. 'Não aguento ver a cara desse corvo na minha frente'. Sempre que ocorria alguma morte interessante, lá estava Carlos Lacerda. Era um corvo". "Nesse momento", relatou Edmar Morel, "surgia o apelido de 'Corvo', que passaria a ser largamente usado pelos inimigos de Lacerda". E foi assim, no enterro de um jornalista cachaceiro (pleonasmo), que um das figuras mais nefastas do jornalismo e da política no Brasil ganhou sua alcunha definitiva. Infelizmente, porém, seu estilo carniceiro e mau caráter de fazer "jornalismo" ainda é praticado em alguns dos "grandes" jornais e revistas do país...
Muita gente não entende o motivo de a maioria dos jornalistas beber tanto. Já elocubrei sobre isso aqui no blogue, mas vejo que o assunto gerou até análises acadêmicas. No livro "Jornalismo freelance - Empreendedorismo na Comunicação", de João Marcos Rainho (Summus Editorial, 2008), o autor afirma que três caminhos surgem quando um jornalista está desempregado. Primeiro, óbvio, é procurar e arrumar outro emprego. Segundo, profissionalizar-se como freelance. E, terceiro, continuar desempregado e mudar de ramo - e Rainho observa que "esta última possibilidade está se tornando muito comum nos últimos anos!" (e deve ser, mesmo, ainda mais depois que acabaram com a necessidade de diploma para exercer a profissão). Pois bem, mais algumas páginas à frente há um trecho interessante sobre os que renegam ou pretendem renegar o ofício (os grifos são nossos):
"Pesquisando sobre o modo de vida dos jornalistas para sua tese de mestrado, Isabel Siqueira Travancas entrevistou dezenas de profissionais no Rio de Janeiro [trabalho publicado no livro 'O mundo dos jornalistas']. Ela descreve que o sonho da maioria dos jornalistas dos grandes centros urbanos é ser dono de um jornal - ou ter um bar, para se libertar do esquema empresarial do grandes jornais e do próprio anonimato."
Taí: na impossibilidade de ter um bar, o jornalista vira cliente. Ou melhor: verdadeiro devoto e militante da causa! E o problema do anonimato acaba quando ele passa de alcoólatra anônimo para bêbado conhecido...