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terça-feira, junho 06, 2006

Memória da Copa (1ª edição)

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...................O demônio e o apito amigo

A data escolhida para o início desta série, 6/6/6, não é simpatia pelo demônio (isso é lá com Mick Jagger). Só se fosse, talvez, um demônio de pernas tortas. Porque vamos relembrar, aqui, um momento decisivo da Copa do Chile, quando Mané Garrincha garantiu praticamente sozinho o segundo título mundial para o Brasil.

Após a contusão de Pelé, na partida contra a Tchecoslováquia, o ponta-direita assumiu a responsabilidade pra si e só faltou fazer chover, marcando gol de falta, de cabeça, de fora da área, se deslocando por todo o campo, enfim, um verdadeiro show.

Mas nem só Garrincha foi fundamental para o triunfo canarinho. O árbitro chileno Sergio Bustamante também merece crédito. Sua importante contribuição ocorreu há exatos 44 anos, em 6 de junho de 1962, quando nossa seleção fazia sua terceira partida no mundial – a primeira sem Pelé, substituído por Amarildo. O adversário era a forte seleção espanhola, cujo técnico, Pablo Hernández Coronado, havia bravateado na véspera: “O Brasil, sem Pelé, acabou. Quem é Amarildo?”. Ah, se ele soubesse...

Comandada pelo gênio húngaro Puskas (naturalizado), a Espanha foi mais equipe durante todo o primeiro tempo. Quando Adelardo venceu o goleiro Gilmar, aos 35 minutos, parecia o início de uma vitória fácil. Sem a referência de Pelé, o Brasil parecia perdido em campo. Porém, antes de o primeiro tempo acabar, veio o lance crucial: Nílton Santos fez pênalti em Adelardo e deu um passo para frente. O árbitro caiu no engodo e marcou falta fora da área.

Mais tarde, Puskas ainda faria um golaço de bicicleta, injustamente anulado pelo “mui amigo” Bustamante. Depois disso, Garrincha tomou conta do jogo e Amarildo marcou dois gols (como cartão de visitas para o técnico espanhol), garantindo o Brasil nas quartas-de-final.

Presente ao programa Bem Amigos da SportTV, no início da semana passada, o ex-lateral Djalma Santos esquivou-se dos lances polêmicos: “-Se o juiz não viu, não temos nada com isso!”, exclamou, com as mãos para o alto, para gargalhada geral dos presentes.

Ficha técnica

BRASIL 2 X 1 ESPANHA
6 de junho de 1962

Brasil: Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira.

Espanha: Araguistain; Rodri, Gracia e Verges; Echevarría e Pachin; Collar, Peiró, Puskas, Adelardo e Gento. Técnico: Pablo Hernández Coronado.

Árbitro: Sergio Bustamante (Chile)
Gols: Adelardo (35), Amarildo (72 e 86)
Local: estádio Sausalito, Viña del Mar

3 comentários:

Glauco disse...

Na final da Copa, outra mutreta. Garrincha, que foi expulso na semifinal, acabou "perdoado" e pôde jogar contra a Tchecoslováquia.

Heitor Augusto disse...

Rapaz, história é tudo. Eu NUNCA tinha ouvido falar dessas mutretas, sempre havia ficado na mente "A Copa de 62 foi o Garrincha contra o resto". Pelo jeito esqueceram de mencionar o juiz...
Lembrei dum trem que li hoje de manhã: "Quem, de três milênios,/Não é capaz de se dar conta/vive na ignorância, na sombra,/À mercê dos dias, do tempo".

Ah, em 2002, na qual o Ronaldo saiu como estrela mor. Lembremos, também, que aquele pênalti em cima do Luizão foi uma picaretagem...

Marcão disse...

Heitor, o que não faltou foi mutreta brasileira nos bastidores da Copa de 62: além da garfada explícita em cima da Espanha (tem até imagem do passo à frente do Nilton Santos), o Brasil também contou com a "boa vontade", digamos assim, de outro juiz para ter o gênio Garrincha na decisão contra a Tchecoslováquia.

Na semifinal, contra o Chile, Garrincha foi expulso pelo árbitro peruano Arturo Yamasaki por trocar pontapés com o chileno Landa - e estaria fora, portanto, da finalíssima. Mas "estaria" é o tempo verbal mais apropriado.

Dois dias antes da decisão, três brasileiros - um dirigente, um árbitro e um jornalista - enfiaram num avião para Lima o árbitro Yamasaki (e com ele a súmula da semifinal, Brasil 4 x 2 Chile), evitando assim que Garrincha fosse punido pelo Tribunal da Fifa com a suspensão na final. Ele jogou (gripado, com 39 graus de febre), e o Brasil foi bicampeão.

A Fifa teria feito vistas grossas a esse episódio em retribuição à realização da Copa de 50 no Brasil, quando toda a Europa ainda estava se refazendo da 2ª Guerra Mundial.

Consta ainda que, no início de 1963, o sr. Yamasaki passou o Carnaval no Rio de Janeiro, junto com a esposa, com todas as despesas pagas pela CBF...