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quinta-feira, junho 08, 2006

Memória da Copa (3ª edição)

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Revolução na lateral

Antes de Pelé e Garrincha brilharem na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, um outro jogador surpreendeu a crônica esportiva e os aficcionados por futebol de todo o mundo. O lateral-esquerdo Nílton Santos não era um novato - já tinha disputado as Copas de 1950, como reserva, e de 1954, na Suiça, como titular. Aos 33 anos, brilhava no Botafogo de João Saldanha e era conhecido no Brasil como "Enciclopédia do Futebol". Mas foi na Suécia que ele escreveu defenitivamente seu nome na história, e não apenas por sagrar-se campeão.

Seu lance de gênio ocorreu logo na estréia do Brasil na Copa, diante da Áustria, em 8 de junho de 1958 (há exatamente 48 anos, portanto). Pelé estava machucado e o ataque foi composto por Dida, do Flamengo, e Mazola, do Palmeiras. Na ponta-direita, o também flamenguista Joel ainda não havia perdido o posto para Garrincha. E o volante era Dino Sani, do São Paulo, e não Zito. Com a equipe titular ainda em transição e o nervosismo da estréia, o Brasil não começou bem o jogo. Nem o gol de Mazola, aos 38 minutos do primeiro tempo, fez com que os brasileiros se soltassem em campo.

Foi então que, no início do segundo tempo, Nílton Santos resolveu quebrar as rígidas regras do posicionamento tático da época, que proibia os laterais de passar do meio-de-campo (a tarefa de ir ao ataque pelas beiradas pertencia exclusivamente aos pontas). Para espanto do público presente, da imprensa mundial e da própria comissão técnica da seleção brasileira, Nílton pegou a bola na defesa e começou a avançar. Foi passando tranqüilamente pelo campo do adversário e, da entrada da grande área austríaca, disparou com maestria para o fundo das redes. Golaço!

Mazola fechou o placar no finzinho do jogo, mas ninguém deu importância. O lance mais comentado era o de Nílton Santos, considerado até hoje, simbolicamente, como o nascimento do lateral moderno, que também sobe ao ataque. Diz a lenda que, enquanto o jogador avançava, o gordo técnico Feola berrava, do banco: "-Volta, Nílton! Volta, Nílton!". Mas depois, no vestiário, teria dito ao lateral, cinicamente: "Boa, Nílton!".

Porém, no livro "Estrela Solitária", biografia de Garrincha, Ruy Castro afirma que tal atitude seria improvável, pois Feola era cardíaco e não costumava gritar durante as partidas (a doença o afastaria da seleção nos anos seguintes, impedindo-o de ser bicampeão no Chile, em 1962). O fato é que, com ou sem grito, Nílton Santos partiu para o ataque com total consciência do que ia tentar fazer. E fez.

Brasil 3 x 0 Áustria
8 de junho de 1958

BRASIL: Gilmar; De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazola, Dida e Zagallo. Técnico: Vicente Feola
ÁUSTRIA: Szanwald; Halla, Koller, Hanappi, Swoboda e Happel; Horak, Senekowitch, Buzek, Korner e Schleger. Técnico: Karl Argauer

Árbirto: Maurice Guigue (França)
Gols: Mazola (38), Nílton Santos (49), Mazola (89)
Local: estádio Rimervallen (Uddevalla-Suécia)

3 comentários:

Glauco disse...

O Nílton Santos era a evolução do lateral, já o Feola era o técnico como eles sempre foram e serão...

Heitor Augusto disse...

Linda lembrança!

Glauco, não fala mal do Feola não! Como diria meu pai, ele era "bonachão". Sr. Nelson é apaixonado pelo Feola.

Marcão disse...

O Feola tinha a fama de dormir no banco de reservas, durante as partidas. Mas o Ruy Castro diz em seu livro que na verdade ele não dormia, mas sentia pontadas violentas no coração, que o obrigava a fechar os olhos por alguns instantes.

Mas a CBF preferia não desmentir a fama de dorminhoco, afinal - e com toda razão - era melhor que os torcedores brasileiros acreditasses que o técnico da seleção era bonachão e dorminhoco, em vez de cardíaco à beira de um enfarte.