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quinta-feira, julho 05, 2007

Os 25 anos do desastre do Sarriá

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Era um dia 5 de julho e o palco o estádio do Sarriá, na Espanha, que hoje não existe mais. Um embalado Brasil pegava uma confusa Itália, que sequer falava com a imprensa e tinha amargado três empates na primeira fase com Camarões, Polônia e Peru.
Tinha sete anos na ocasião e foi a primeira vez que chorei por causa de futebol. O clima era de otimismo geral, a seleção parecia já campeã antes do tempo, bastava um empate para ir à semifinal. Um simples empate.
A verdade, vista de longe, é que o Brasil penou pra ganhar seu primeiro jogo da União Soviética. E só o fez com a ajuda da arbitragem, sempre companheira da seleção em Copas do Mundo, que não marcou um pênalti escandoloso de Luisinho quando os soviéticos ganhavam por 1 a 0.
Nas partidas seguintes, duas goleadas: 4 a 1 na Escócia e 4 a 0 na Nova Zelândia. A primeira seleção, habitual saco de pancadas em Copas; a segunda dá graças a Deus quando chega a uma, algo que não ocorre há muito tempo.
Tirando a vitória com apito amigo e as duas surras em bêbado ladeira abaixo, sobra a partida com a Argentina, uma vitória por 3 a 1. E o jogo com a Itália.
De fato, vendo os melhores momentos do time na Copa, gols bonitos. Vários de fora da área, outros com jogadas bem trabalhadas por talentos como Sócrates e Zico. Mas rever os lances da partida contra a Itália (no vídeo acima), dá para ver que uma equipe que deixa um atacante sozinho como em dois dos três gols de Paolo Rossi, não merece vencer.
Falhas individuais? No gol que Cerezo entrega, sim. E os outros dois? Falta de treino? Deixar um atacante sozinho em um escanteio é algo crível para um time que quer ser campeão? Ou que já se acha campeão.
Fala-se muito da declaração de Zagallo na Copa de 1974 de que iria "espremer a Laranja Mecânica". Mas o técnico de 1982, Telê Santana, também tinha como referência aquela seleção holandesa. "Nossa maneira de jogar está parecida com a Holanda em 74, com a diferença que contamos com jogadores mais habilidosos e não perdemos tantos gols", assegurava Telê após o fim da primeira fase da Copa.
Isso significava salto alto?
Para o técnico italiano, Enzo Bearzot, sim. "Acredito que os jogadores brasileiros tiveram a presunção de que poderiam ganhar da Itália até com alguma facilidade, o que talvez tenha sido um erro tremendo. O time do Brasil deixou a impressão de certa inocência em alguns momentos, ao contrário de nossos jogadores, que têm experiência", disse depois do jogo.
Daí entra a discussão sobre a responsabilidade de um técnico na condução de um time. Se é verdade o que alguns aqui acreditam, que "não se faz limão sem limonada", Telê teve os melhores que se poderia obter em um espaço de 37 anos no futebol brasileiro. Venceu? Não. Culpa da "ofensividade"? Vejam a disposição dos atletas nos gols da Itália, não é uma equipe desvairada que vai pra frente e não fica ninguém atrás. Errou naquela partida, não conseguiu segurar o "já ganhou"? O mais provável, mas admitir isso seria quase uma heresia contra o saudoso "mestre".
Custo a entender porque alguns são intocáveis.

13 comentários:

luis augusto simon disse...

Eu acho que o Telê nunca foi um estrategista, alguém que mudasse o jogo no intervalo...Ele foi sempre um treinador. Treinava, treinava, treinava e fazia os erros técnicos dos jogadores desaparecerem. Não é lenda que tenha ensinada Cafu a cruzar. Eu vi isso, em muitos treinos do São Paulo naqueles anos gloriosos. Não creio que Telê tenha errado em escalar uma dupla de volantes com Cerezo e Falcão. Não creio que tenha errado em abrir mão de pontas. (Hoje, acho que está na hora de voltarem). Mas Telê perdeu. É um "looser" segundo Dunga e a ótica atual de ser ver as coisas. Para mim, apesar de suas limitações, foi o futebol que perdeu naquele dias.
Um campeão mundial com Cerezo e Falcão seria um avanço sensacional na história do futebol. Não haveria dunga, mazinho, mauro silva e zinho em 94. Esses, sim, é que derrotaram o futebol.

Anônimo disse...

No caso do Telê, acho curioso. Me lembro que, depois da derrota de 86, ele foi quase execrado, tinha fama de pé frio etc. Comandou o time vitorioso do São Paulo e se tornou intocável e além das críticas.

não me lembro da época. Mas o clássico bordão do Zé Galera, personagem do Jô Soares em 1982, "Bota ponta Telê" mostra que o time não era ofensivo nos termos da época.

a comparação é sempre difícil, e um time com Zico, Falcão e Sócrates é, no papel, incrível.

mas é muito engraçado pensar que a seleção de 82 tinha menos atacantes do que a de Dunga de hoje.

Claro que o time do Dunga é tão desorganizado que só merece o bordão "Fora Dunga!"...

Anônimo disse...

a referência é questionável, do blog do Armando Nogueira -- figura com quem não simpatizo e, em geral discordo, mas que tem espantosa capacidade de adaptação.

é uma esquete do Zé Galera, citado a cima...

Sobre o "treinar, treinar, treinar", acho que é uma dica pra um monte de técnicos que reclamam por tomar gols de bolas paradas, que não conseguem tocar a bola bem ou que finalizam terrivelmente.

Anônimo disse...

Caramba, texto corajoso. E eu concordo com quase tudo.

Não entendo como se deu essa mitificação do Telê. E é algo bem espantoso. Um tempo atrás, a Placar fez uma votação para escolher qual o melhor técnico brasileiro em Copas do Mundo: deu Telê.

Vejam isso: com quatro títulos (a pesquisa foi antes de 2002), os votantes conseguiram eleger o único brasileiro que disputou e PERDEU duas Copas.

Acho que é uma romantização, uma tentativa de se considerar acima dos outros - "eu vejo além do simples placar" - e é algo que acho bem babaca.

Marcão disse...

Legal esse post sobre Sarriá, a edição do Lance! de hoje também recuperou a história - com uma retranquinha curiosa em que Cerezo diz que foi sua melhora atuação com a camisa da seleção. Imaginem como deve ter sido a pior...

Essa derrota só encontra um paralelo em termos de tragédia para o torcedor da seleção: o "maracanazo" de 1950. E o motivo é simples: as duas seleções jogaram muito e estavam fazendo belas campanhas até a derrota inesperada.

Em 2002, quando a vitória da Itália completou 20 anos, o programa Grandes Momentos do Esporte, da TV Cultura, reprisou o jogo inteiro e fez um super documentário sobre o tema, ouvindo a maior parte dos envolvidos (jogadores, principalmente).

Fiquei com a impressão de que a coisa foi muito mais complexa do que "azar" ou "incompetência". Mais do que tudo, a Itália jogou melhor, não se pode simplesmente subestimá-los. Segundo, que havia muitos problemas na seleção brasileira - no time e nos bastidores. Os craques e o show de bola esconderam isso por um tempo. Em Sarriá, tudo ruiu.

Tinha panelinha, tinha salto alto, tinha "já ganhou", tinha bebedeira, enfim, tinha de tudo. O que não significa que, mesmo assim, o Brasil poderia ter ganho a Copa. Mas crucificar só o Telê ou só o Cerezo ou só o Valdir Peres ou só o Luisinho ou só sei-lá-mais-o-quê é uma forma muito simples de analisar o destino daquela seleção. Como os próprios italianos disseram, se jogassem 20 partidas contra o Brasil, só conseguiriam ganhar uma. E isso aconteceu justamente em 5 de julho de 1982...

Para mim, foi a maior decepção que tive na vida, em termos de futebol. Nem o São Paulo perdendo o tri da Libertadores em pleno Morumbi, em 94, contra o Vélez, machucou tanto. Eu tinha 8 anos em 82 e começava e estava consolidando o vício futebolístico. E aquela seleção era um show, independentemente do fato de ter uma estratégia equivocada ou um ataque inoperante.

O Júnior lembrou outro dia que, na coletiva de imprensa após a partida, mais de 100 jornalistas de vários países receberam Telê aplaudindo de pé - um fato único em Copas, por se tratar de um derrotado.

Não o considero nem mestre nem néscio. Guardo apenas respeito.

Anônimo disse...

Não foi o Brasil que perdeu em 5 de julho de 82, foi o futebol. Assim como nas copas de 54 e 74, o futebol deixou de evoluir com a derrota do Brasil de 82, não que o futebol fosse revolucionário como foi a Holanda em 74, mas, pelo menos havia desejo de vencer jogando futebol pra frente, sem esses montes de volantes que só sabem jogar com a bunda no chão, como os filhos da era Dunga.
Só uma coisa ajudou esses times que eu os classifico como medíocres a ganharam estas copas e esse jogo em especial de 82, "o imponderável".
É inegável que a Itália teve méritos nesse jogo, já o revi despido de qualquer paixão, e o placar foi pouco inclusive,mesmo assim, aquele time da Itália era medíocre, jogou nos erros do Brasil, naquele jogo o Brasil errou muito, e em jogo de mata-mata, especialmente em copas, erros são fatais.
Daqui à pelo menos 200 anos irá surgir um meio campo como aquele, Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates e cia, quem sabe os que ousam criticar aquela seleção de 82, encontre argumentos para fazê-lo.
Quem não viu aquela seleção jogar, tem mesmo que se contentar com Gilberto Silva e cia, é o supra sumo da medíocridade.
Torço para o futebol por esses momentos; A seleção da Hungria de 54(não vi jogar, só algumas imagens), a Holanda de 74(vi algumas imagens daquela copa), BRASIL de 82, Corinthians(democracia corinthiana, 82/83)e Flamengo dos anos 80.
A propósito sou Corinthiano, e deixei de torcer para o Brasil no desastre do Sarriá, abri exceção apenas em 86, por que tinha jogadores remanescentes de 82, depois parei, nem vibrei com o títulos de 94 e 2002, nem sei se são esses anos mesmos, nem me lembro, não costumo lembrar de medíocridades.

Viva o futebol, e lembranças eternas à Seleção de 82

Arnaldo

Anônimo disse...

Muito bom o artigo e os comentários.

Telê começo a ser endeusado não apenas pelos títulos com o timaço que ele montou no São Paulo, mas também como antítese ao treinador da Seleção Brasileira nas Eliminatórias para a Copa de 1994, Parreira.

Fato é que no Brasil x Equador (acho que foi isso) no Morumbi, foi o auge da histeria pró-Telê de volta à Seleção.

****

Concordo com praticamente tudo o que foi escrito aqui, mas reluto a aceitar dois lugares comuns que ouço sobre o assunto:

1) O futebol mudou para pior PORQUE O BRASIL PERDEU AQUELE JOGO.

Bobagem. Todo treinador deve querer ter um time que domine as ações e jogue para frente, mas essa porra é complicada. Conta-se nos dedos as Seleções que conseguiram fazer isso. Não foi porque o Brasil perdeu que os times jogam recuados. Eles jogam assim porque é o que dá para fazer. Parece que antes daquele jogo todo mundo jogava o fino da bossa.

2) A Seleção de 82 perdeu para a Itália porque era ofensiva

É a bobagem 1) no sentido inverso. Ora bolas, será que não dá para justificar essa derrota com a boa atuação do time da Itália, que era bom, ter jogado melhor.
E além do mais, os gols que o Brasil levou nada tem a ver com a ambição ofensiva da Seleção Brasileira. Foram gols de: falaha individual, falta de marcação e bola parada. Todos com a defesa inteiramente recomposta. Nada de contra-ataques e coisa e tal.
Em suma, não houve aquele caso de puxar o cobertor para cobrir a cabeça e descobrir os pés. A Itália buscou seus gols com o Brasil inteiro na defesa.

Anônimo disse...

a seleção de 82 deu uma aula de futebol, inclusive o que se deve fazer para não perder.
tinha 11 anos, não fazia nem noção do que era futebol mas nunca mais vi futebol jogado daquela maneira.
a itália ganhou da mesma forma que o brasil ganhou em 2002. tava escrito.

Anônimo disse...

alguem sabe por que o reinaldo do atletico mg não foi para aquela copa?

Sidarta Martins disse...

Gostei do texto, está citado (linkado) numa postagem sobre o choque que um corinthiano velho de guerra teve com a queda - http://nacal.blogspot.com/2007/12/manuscrito-numa-garrafa.html

Abraços,

Anônimo disse...

Gente todos falam de Socrates, Zico,Falcão, mas a estrela dessa copa foi Éder, aquele chute dele conta a URSS chegou a 175 Km/h, era um time fantástico se ganha ia entrar pra história do futebol como o melhor de todos, Tele foi o melhor treinador que já existiu, ganhando ou não, enchia os olhos ver jogar qualquer equipe que ele treinava, na época tinha 11 anos e até hoje me dá um nó na garganta lembrar daquela derrota da
seleção, que tinha metade dos jogadores e técnico vindos do meu Galo,

Daniel disse...

Estava bem atrás do gol de Vladir Perez quando Rossi fez os dois gols ainda no primeiro tempo. A marcação italiana foi implacável e os jogadores nossos sentiram a diferença. Além do mais, eles vieram para cima da gente e, essa atitude colheu nossos jogadores de surpresa. Tanto é verdade que, logo aos 5 minutos iniciais, já estava um a zero para eles. Faltou calma, muita calma...,isto sim, faltou, porque ao empatar pela segunda vez, com o gol de Falcão, poderiamos ter classificado se tivessemos só um pouco de calma. Eles é que precisavem da vitória e, por isso, deveriamos ter mais cautela. Me lembro que o Eder recebeu uma bola recuperada e tenhamos a oportunidade de um contra-ataque mortal, poderimaos ter matado a partida ali e celado a vitória. Pois Sócrates passava livre pela direita. Ao invès de Eder dar o passe e puxar o contra-ataque no qual Socrates ficaria de cara-a-cara com Zoff, na verdade, Eder tentou dribrar o já falecido Scirea que, tomou-lhe a bola. No terceiro gol da Italia, não vi diretito lá no estádio porque estava no gol oposto. No último minuto, na cebeçada de Oscar, nem se quer chanou minha tenção porque minha posição atrás do gol era perfeita que, vi com meus olhos que a bola não entrou. Depois disto foi só choros, e dores. E, por fim, ainda me lembro em meus a tantas lágrimas o grito de Gentile ao abraçar Zoff " É finita...,É finita" Isto levarei para meu tumulo.

Anselmo disse...

Daniel, que depoimento incrivelmente triste!