Depois que o atacante Flávio Caça-Rato foi apelidado como CR 7 pela torcida do Santa Cruz, pois, além de ter as mesmas iniciais, também usava o número de camisa do atual melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, os nordestinos voltaram a aplicar sua inesgotável criatividade no futebol. No fim de semana, foram definidos os semifinalistas da Copa do Nordeste: o Bahia enfrentará o Sport, e o Ceará, o Vitória. Mas o melhor é que esse torneio, habitualmente conhecido como Nordestão, foi apelidado agora, pelos torcedores, de Lampions League (Liga do Lampião), que brinca com o nome da principal competição europeia.
Lampião, o 'Rei do Cangaço'
A frescagem repercutiu lá fora e, numa reportagem do correspondente Tales Azzoni para a Associated Press, os estrangeiros foram informados que o apelido do torneio nordestino faz "referência a Lampião, um conhecido e popular herói local da década de 1920, que permanece simbólico à região". Ao lado do cearense Padre Cícero e do pernambucano Luiz Gonzaga, o também pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, completa a tríade de nordestinos míticos. Considerado o "Rei do Cangaço", seu apelido deriva da lenda espalhada por seus comandados de que ele era capaz de atirar tão rápido que o cano da espingarda se "iluminava", de tão aquecido.
Camiseta criada pelos torcedores
Voltando à Copa do Nordeste, o apelido Lampions League pegou de tal forma que, além do gibão de couro na cabeça, muitos torcedores estão indo ao estádio com camisetas ostentando o nome fictício da competição. E, para completar a (maravilhosa) "esculhambação", foi composto e gravado até um tema para a "Liga", com típicos instrumentos nordestinos, cuja versão emenda o hino oficial da competição Europeia. Até me lembrei da paródia de "Quero voltar pra Bahia", de Paulo Diniz, que um cunhado meu cantava nos anos 1970: "Eu já falei pra minha tia/ Eu vou jogar de beque no Bahia". Bahia que pode conquistar a sensacional Lampion's League.
Quando era adolescente na portentosa São Vicente (onde nasceu o Brasil e Mauro Beting), era crooner de uma banda "xovem" cujo objetivo era "fazer música pop, pra quem sabe algum dia ficar rico e xarope" (by Mulheres Negras). No entanto, algumas músicas exigiam mais do que a técnica e a habilidade vocal do infante pretenso tenor permitiam. Assim, a tática usual era, no momento agudo (ou grave) da canção, expor a o microfone para o "público" (mirrado, obviamente) "cantar junto". Assim, escapava-se do vexame.
Mas nem mesma essa tática utilizada durante todo o Baião nº 1, de Luiz Gonzaga, deivadamente ofendido pela performance sinistra do governador paulista José Serra (PSDB), fez com que o tucano se livrasse do sentimento de vergonha alheia. A presença de palco do moço é algo de fazer corar freiras que vivem em clausura, que talvez tivessem mais intimidade com semelhantes. Dominguinhos, que já se prestou ao papel de fazer a música de FHC em sua campanha presidencial ("levante a mão", dizia a letra, talvez prevendo algum tipo de assalto), fez a dupla com o presidenciável.
Em tempo: esse vídeo está no Twitter do governo de São Paulo. Poderia até ser classificado como propaganda eleitoral antecipada, mas como o mesmo submete o governador ao ridículo, nenhum juiz eleitoral aceitaria tal tese...
Pra quem quiser conferir, o vídeo está abaixo. Tirem crianças, idosos e portadores de gripe suína da sala.
Não posso respirar não posso mais nadar A terra tá morrendo Não dá mais pra plantar Se planta não nasce, se nasce não dá Até pinga da boa é difícil de encontrar
Cadê a flor que estava ali? Poluição comeu E o peixe que é do mar? Poluição comeu E o verde onde que está? Poluição comeu Nem o Chico Mendes sobreviveu
(Do LP "Vou te matar de cheiro", 1989, Copacabana)