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quarta-feira, novembro 26, 2008

Chico Mendes encontrou Che Guevara no bar

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Não, caro leitor, o título acima não é fruto de nenhum delírio ou ressaca mal curada. Pesquisando e realizando entrevistas para um material que será publicado na revista Fórum, em razão dos vinte anos da morte de Chico Mendes, surge uma revelação fantástica: o líder seringueiro encontrou um dos ícones da esquerda mundial em um estabelecimento etílico.

Após ter tido participação decisiva na Revolução Cubana, Che Guevara queria "exportar" o modelo para outros países. Teria mirado a Bolívia como um dos seus alvos mas, com a CIA no seu encalço, escolheu caminhos tortuosos para chegar ao país, daí sua estada no Acre. Não são poucos os acreanos que afirmam terem cruzado com Guevara, que teria abordado algumas pessoas para chegar até a fronteira com o país vizinho. E o encontro com Chico, narrado pelo próprio ao professor Pedro Vicente em história confirmada pelo jornalista Élson Martins, se deu desta forma:



"Naquele momento se falava no Guevara, mas eu não conhecia. Nunca havia visto seu retrato nos jornais, até porque não tinha nem revistas ou jornais no seringal. Tinha ouvido seu nome através da Rádio Central de Moscou, não me recordo bem o ano, creio ter sido nos meados de 65 ou 66, eu estava caminhando do seringal para a cidade. As pessoas costumavam fazer longas caminhadas pela BR-317, na estrada velha, em direção a Brasiléia ou a Xapuri. Passava muita gente. Eu estava cansado e parei no bar, no entroncamento, a 12 quilômetros de Xapuri. Naquele instante chegou um cidadão vindo das bandas de Rio Branco.

Demonstrava ser uma pessoa muito educada, encostou-se no bar e puxou conversa comigo e com outros que estavam próximos. Falou que tinha interesse em conhecer a selva amazônica, principalmente os seringais e a selva boliviana. Indagou se eu era seringueiro, respondi que sim e já há muitos anos. Perguntou se não gostaria de acompanhá-lo até os seringais da Bolívia, pois não tinha costume de caminhar na selva. Precisava de uma pessoa que conhecesse os varadouros e o levasse na direção da fronteira. Dava para identificar que não era brasileiro, misturava um pouco de português com o espanhol.

Ele conduzia uma mochila, falou que tinha jóias e aproveitava a viagem pra vender e sobreviver durante o percurso. Não dispunha de muito dinheiro, mas perguntou quanto eu queria por dia para ir com ele até onde pudesse. Não aceitei o convite. Alguém me disse que era perigoso, podia ser um bandido. Não acreditei, mas não podia ir. Alguns meses depois, em Xapuri, passei diante da delegacia de polícia e um retrato me chamou a atenção. Havia um cartaz, nele anunciava-se um prêmio de 50 milhões de pesos a quem entregasse o terrorista Che Guevara, vivo ou morto. Dizia que Che se encontrava em território boliviano para organizar o terror na região. Fiquei abalado. Lembrei-me que havia visto e conversado com aquela pessoa no entroncamento. Nunca pude imaginar, pensei comigo mesmo, que aquela pessoa fosse um terrorista. Olhei várias vezes a fotografia. Não tive a curiosidade de pegar uma propaganda, um cartaz e guardar comigo.

Tempos depois, ao ler o livro sobre a guerrilha do Che na Bolívia, reafirmei a convicção de que cruzei com ele. Posso afirmar com certeza, era o Che.

Che entrou na Bolívia como Ramón Benítez, comerciante uruguaio

Já no quarto do Hotel Copacabana, em La Paz, fez esse auto-retrato

9/10/67: Félix Rodríguez, da CIA, posa com Che em sua última foto vivo

13 comentários:

Marcão disse...

Só uma correção: Guevara foi morto na Bolívia em outubro de 1967 e, portanto, não chegou ao mítico ano de 1968.

Glauco disse...

Correção feita.

Marcão disse...

Aliás, a ida de Che para a Bolívia, no início de 1966, é cercada de mistério até hoje. Sabe-se que, antes de ir, ele passou um tempo na Tchecoslováquia, escondido (sua segunda esposa, Aleida, confirma que passou mais de um mês com ele lá). Depois disso, com passaportes falsos, ele passou por um sem número de países, numa rota insana, para despitar a CIA.

Sabe-se que esteve em São Paulo e que encontrou Carlos Lamarca. Dizem que pegou o famoso "trem da morte", com destino à Bolívia, e esteve na estação ferroviária de Campinas e de Bauru (calvo, com mechas grisalhas e dentadura, disfarçado como Ramón, um comerciante uruguaio). Em maio ou junho, já estava num hotel em La Paz, onde fez um auto-retrato apontando a câmera fotográfica para o espelho de um guarda-roupa.

Porém, há relatos de amigos e conhecidos garantindo que o viram em Santiago, no Chile. Cuba mantém absoluto sigilo sobre tudo isso, ainda hoje. Porque muitos guerrilheiros fiéis a Che - incluindo "Pombo", seu guarda-costas - sustentam que Fidel mandou Guevara para a morte, sabotando todo o plano de guerrilha.

A fazenda, que devia ser comprada no Norte da Bolívia, foi comprada no Sul, a área mais deserta (sem camponeses para serem cooptados) e vulnerável, cheia de militares; os aparelhos de comunicação nunca funcionaram; e, por último, Fidel leu em público as cartas de Che para os filhos e para o líder cubano, provocando um acesso de fúria em Guevara, que quebrou vários objetos a pontapés.

Marcão disse...

Explico: as cartas só deveriam ser divulgadas se confirmada a morte de Guevara. Quando Fidel leu, praticamente "avisou" Che de que, da Bolívia, ele não escaparia vivo. Prova disso é que Cuba nunca mandou guerrilheiros como reforço e também não trabalhou uma rota de fuga.

Fidel estava sendo pressionado pela União Soviética a acabar de vez com a "exportação" da guerrilha, para evitar um novo e fatal conflito como tinha sido a "crise dos mísseis", em 1961. Os russos ameaçavam cortar a compra de cana-de-açúcar e parar de investir na ilha caribenha.

E Che estava batendo forte no "imperialismo" russo, tendendo cada vez mais para os chineses. Por isso, muitos dizem que, entre rifar a revolução e rifar Guevara, Fidel teria ficado com a última opção.

Anselmo disse...

impressionante!

Anônimo disse...

"Marcão...um poço de cultura!!! rsrsrsr" Adorei a aula de História!

Nicolau disse...

Geial o post, Faria! Vou aguardar o resto da história na Fórum.

Marcão disse...

Se bobear, o Che deve ter aparecido no Bar do Vavá também...

fredi disse...

Parabéns pelo furo universal, Glauco

Anônimo disse...

Falando em Che, o novo número da Recorde (Revista de História do Esporte) tem uma boa foto dele com o time do Madureira. Isso mesmo: o Madura, do Rio.

http://www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde

ALTINO MACHADO disse...

Voce cita erroneamente um artigo publicado originalmente em meu blog e não em outro blog desonesto que não menciona a fonte: http://altino.blogspot.com/2008/03/che-guevara-fez-barba-no-acre.html

Glauco disse...

Corrigido, Altino. Infelizmente, tem muita gente na internet que ainda não aprendeu a citar fontes... Abraço!

Anônimo disse...

Eu sei que quando foi condecorado pelo Janio Quadros em 61 depois antes de ir embora pra Cuba Che Guevara em uma motocicleta passou pelas ruas a noite em Maricá Paraná ao qual ficou encantado com o local.