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Destaques
segunda-feira, abril 13, 2015
Vamos conversar? (mas não conta pra ninguém!)
segunda-feira, abril 19, 2010
Orelhadas de bar (3)
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Quatro da tarde. Sábado. Bar da Graça. Cinco elementos jogam baralho.
- Ô, Valdir, para de tomar conhaque! Vai passar mal.
- Vou nada, rapaz. Aqui é só fortaleza.
Alguém surge com um prato de esfihas, não se sabe de onde. Oferecem, mas declino. A dona do bar aparece com mais uma garrafa de Dreher. Eles alternam com cerveja.
- Sabe que uma vez tomei um porre desse negócio? Quase morri.
- Foi numa pescaria, não foi?
- Não, eu tava no sítio do meu tio. Bebi três garrafas desse conhaque e fiquei passando mal. Não conseguia botar pra fora.
- E aí? Foi parar no hospital?
- Não, eu fui tentar subir no cavalo e caí. Ele me deu um coice na barriga e eu despejei toda a bebida pra fora.
Risadas gerais. Passa um cachorro e jogam um resto de esfiha pra ele. Peço a conta.
segunda-feira, abril 05, 2010
Orelhadas de bar (2)
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Pontal do Maceió, litoral cearense, sábado de aleluia. Na mesa ao lado, cinco mulheres de meia idade bebem (muita) cerveja e conversam animadamente.
- Ela disse que ia fazer um macarrão e que podia levar meus amigos, se quisesse. Eu levei doze pessoas.
- A gente acabou com toda a comida da casa.
- O que eu não gosto de Carnaval é isso, essa gente toda. Tem que ter o espírito da brincadeira, senão vira bagunça.
Desce um menino do morro, correndo, e atrás dele segue uma vaca, chacoalhando o sino no pescoço. A Dona Biteca começa a picar o coentro pra temperar a peixada. O sol bate forte nas pedras do mar.
- Red Bull acaba com a vida de uma mulher. Eu acordei três da manhã, provocando. Quase morri.
- Eu gosto de Campari. Com pedaços de pêssego.
- Ontem eu fiquei bêba que só a peste. E quando fui pegar o mototáxi o homem tava mais bêbo que eu.
- O Ari? Aquilo é um pudim de cana!
- Eu conheço a tia dele. Ela é benzedeira. Você sarou daquela coruba nas costas?
- Sarei na cachaça! Secou tudo!
Chega o prato de camarões e dois caranguejos cozidos. A cerveja esquenta muito rápido. Meus óculos estão cheios de sal. As mulheres dão gargalhadas. São felizes. Ao menos neste momento.
quarta-feira, março 31, 2010
Orelhadas de bar (1)
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Nove da noite de sexta-feira. A moça pede para eu esperar no buteco enquanto vai ao apartamento dar comida para o cachorro. Peço uísque. E minha antena auricular capta os primeiros sinais da mesa ao lado:
- Pede mais uma, larga a mão de ser chato.
- Pode ser. Mas me fala uma coisa, você continua casado?
- Há 24 anos. Casei em 85.
- Tá tudo bem em casa?
- Olha, vou te contar uma coisa... De Reinaldo pra Reinaldo: é foda.
- É. Eu sei. (...)
Baixa um silêncio sepulcral. Passa uma gostosa fazendo cooper. Um ônibus vira a esquina e derruba o cone da parada de táxi. Uma criança aparece vendendo chicletes. O papo anexo reflui.
- Mas você ainda tá jogando tênis?
- Só enganando. Hoje eu ia, mas fui ver meu sogro. Tá em coma.
- Ih, rapaz, nem fale. O meu sogro também tá ruim, teve um AVC.
- É foda.
- O véio não dura seis meses. Mas você já vai? Senta aí!
- Preciso ir. Minha mulher ligou duas vezes.
- Fica aí, rapaz!
- Não dá. Dessa vez não dá, meu irmão.
- Vou pedir a última.
Minha moça volta ao bar. Com o cachorro. A antena se distrai por um momento da frequência alheia. A moça vai ao banheiro e me deixa segurando o cão pela coleira. Tento sintonizar o fim da conversa vizinha. Só silêncio. Resta um na mesa. Calado. O outro Reinaldo arribou.
Sem beber a saideira.