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quinta-feira, março 11, 2010

O cerco aos manguaças continua

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Ser um manguaça, no Brasil, está ficando cada vez mais complicado. Ter uma infinidade de estabelecimentos que oferecem bebida e um bom papo não significa, necessariamente, que você pode frequentar todos. Antigamente, o bebum podia selecionar seu reduto por questões ideológicas: sempre evitava bares com "aquela velharada tucana dos infernos" ou "aqueles estudantes petistas insuportáveis". A escolha podia ser futebolística: "como tem corintiano chato naquele buteco", "mas que barzinho bambi, não vou lá de jeito nenhum!" etc etc. Tinha aqueles que não bebiam em lugares que só vendiam Kaiser ou Nova Schin. Que não tinham nenhuma comida "segura". E outros que não suportavam bar com karaokê, ou muito iluminados, ou onde não vai mulher, ou muito lotado, enfim, havia critérios plausíveis e para todos os gostos. Hoje não há opção, há cerco. Exclusão.

Numa cidade do tamanho de São Paulo, buteco longe é problema. É caro chegar lá, o trânsito emperra e, se depender de transporte público, meia-noite é o limite. Por isso, os manguaças começaram a se afeiçoar por bares no caminho do trabalho ou de casa (e vice-versa). E nem sempre são bons ou agradáveis - apenas é menos complicado ir até eles. Essa é uma das exclusões. As outras começaram há alguns anos, com uma ofensiva conservadora que lembra regimes fascistas. Em 2008, o desgovernador de São Paulo, José Erra, digo, Serra (PSDB), proibiu o cigarro no bar. Não vamos discutir o mérito da questão, apenas concluir que, se tinha quatro bares no caminho do trabalho ou da casa para o pinguço, agora ele se obriga a ir só naquele em que é possível fumar sentado, na calçada (no meu caso, só conheço dois: o Gaspar e o da esquina da Benedito Calixto, ambos no bairro Pinheiros).

Não importa se o cachaça fuma ou não; com certeza, conhece muitos amigos (e principalmente amigas...) que fumam. E ficar levantando toda hora pra acender cigarro e interromper a conversa é, para citar o filósofo Emerson Leão, desagradável. Somando com as tradicionais idas ao banheiro, não há tempo para falar nada. E agora a seleção de bares vai ficar ainda mais trabalhosa. Além de ficar perto e de liberar a fumaça na calçada, vai ter que ser do tipo que não cobra porcentagem para o garçom ou que funcione no esquema self service (você vai até a geladeira e pega sua cerveja, como no saudoso Bar do Vavá). Porque a Comissão de Assuntos Sociais do Senado acaba de dar parecer favorável ao projeto de Marcelo Crivella (PRB) instituindo gorjeta de 20% para o garçom, após as 23h, em bares, restaurantes e similares. Ou seja: se você gastar R$ 50, por exemplo, vai ter que desembolsar mais R$ 10. O preço de duas saideiras.

Já saquei, o sistema quer nos obrigar a beber e fumar só em casa. De preferência, assistindo novela ou Big Brother. E, no país da piada pronta, a comissão que deu o tal parecer é de "Assuntos Sociais". Mas tá ficando cada vez mais difícil para nós, manguaças, se socializar...